16 de novembro de 2011

Aniversário do EE - Principais Posts do Blog (até Novembro 2011)

16 Novembro 2010: Primeiro post do blog! Bem vindo à Era do Espírito.

Segue abaixo uma lista dos principais posts do blog em 1 ano de trabalho.

A maioria dos 'posts' segue mais a estrutura de artigos, com vários links para outras referências que você pode utilizar para conhecer mais sobre um determinado assunto. As palavras-chave também servem para orientar, além da busca (pesquisa de postagens).

Os três artigos mais acessados até Novembro 2011
  1. Crenças Céticas X - Positivismo lógico e indutivismo: as duas bases do ceticismo dogmático.
  2. Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitos físicos.
  3. Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier.
Artigos

  1. Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier (1/3)Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier (2/3)Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier (3/3).
  2. II/1 - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.II/2 - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.II/3 - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.;
  3. I/2 - Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos.II/2- Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos.
  4. Novo Jornal de Estudos Antropológicos
  5. Nova Edição de Paranthropology (Vol. 2, Número 1) - Destaque: ectoplasmias recentes no FEG.
  6. Anomalias nos sinais elétricos do Cérebro com a morte do corpo;
  7. Fim da Religião ou do Irracionalismo Religioso?
  8. Usos e mal usos da palavra 'energia' entre espiritualistas.
  9. Kardec sobre o Ceticismo.
  10. Pragmática e intenção nas cartas psicografadas de Chico Xavier.
  11. Uma abordagem estatística para a determinação do tempo de vida entre encarnações sucessivas.
  12. Usos e mal usos da palavra 'energia' entre espiritualistas.
  13. Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitos físicos.
Entrevistas
Sobre o ceticismo dogmático: Série Crenças Céticas

XIV- "Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias."
XVI - O ceticismo dogmático como charlatanismo intelectual.
XVII - Teoria das evidências fotográficas e de outros tipos.

Comentários sobre Livros

I - Introdução à Ciência Espírita de Aécio P. Chagas

9 de novembro de 2011

Crenças Céticas XVII - Teoria das evidências fotográficas e de outros tipos.


Não há dúvida que vivemos numa época de grandes inovações tecnológicas. A começar pelo uso de recursos de imagem e som e de manipulações de elementos desse tipo, o que é hoje parte da grande indústria cinematográfica. Mas, poderiam imagens serem usadas como evidência da realidade de fenômenos insólitos?

Nossa principal tese neste texto é demonstrar que a alegação cética que rejeita a proposição de fotos ou imagens para demonstrar a existência de fenômenos paranormais (transporte de objetos, telecinese, materializações etc) também pode ser usada com objetivo oposto: a de negar a validade da argumentação cética que consideram tais fenômenos como fraude. Nesse assunto, a solução não é tão simples como proponentes ou críticos frequentemente imaginam. A base ou fundamento de nossa tese é uma concepção apropriada de imagens, filmes e sons  no contexto em que são muitas vezes apresentados. 

Veja que não estamos a propor que não existem fraudes. Mas, diante da complexidade que a Natureza exibe, com uma diversidade de fenômenos e interações, será que o 'método cético' é realmente eficiente? Será que ele realmente leva a conhecer a verdade? Será que devemos apenas acreditar naquilo que nossos sentidos aprovam? Reiteramos que não é razoável insistir em teorias de fraude com certas evidências para desqualificar fenômenos considerados insólitos, que requerem condições especiais de ocorrência. Justamente por ser muito fácil 'fraudar' uma evidência, esse tipo de prova não pode ser usada para se negar um determinado fenômeno, embora seja possível usá-las para se afirmar dentro de determinadas circunstâncias. 

Do ponto de vista lógico, assim, muitos céticos não percebem que as condições que pregam para 'validar' o que considerariam contra-evidências, extrapola certos aspectos lógicos não explícitos em cada caso, tornando-se uma tentativa condenada desde o princípio. 

Prova fotográfica

Para começar, analisemos o que é uma 'prova' fotográfica. Uma vez que recursos técnicos podem ser usados para múltiplas imagens, as mesmas considerações que fazemos aqui para fotos também valem para filmes. A fig.1 abaixo mostra uma imagem razoavelmente compreensível de um evento singular.

Trata-se da imagem de um avião 'tentando' decolar mas demonstrando certa dificuldade, talvez na iminência de um desastre total. Se nos perguntarmos sobre a 'validade' dessa imagem, uma pesquisa feita com a maioria das pessoas não demonstraria nenhuma dificuldade em aceitar que se trata, realmente, de um avião tentando decolar com dificuldade, com parte de sua asa quebrada etc. Em suma, um flagrante de um acidente.
Fig. 1 Um avião na iminência de um desastre?
Entretanto, essa imagem é uma fotomontagem (isto é, uma fraude). Ela é o produto de alterações feitas por um programa de computador que é capaz de manusear parcelas da imagem e integrá-las de forma a constituir um todo final convincente.  

Uma imagem está assim longe de ser uma evidência autosuficiente. Há algo mais, externo à foto que deve existir para que seja considerada verdadeira. O que é isso? Uma pista para conhecer esse algo mais é se questionar sobre onde esse algo fica. A resposta simples é que ele fica na cabeça de quem vê a imagem. Por causa disso, uma imagem ou reprodução fotográfica de um objeto externo não existe por si mesma:
I) Uma imagem ou filme é, em essência, uma representação de um objeto que só existe na mente de quem o contempla.
É importante que esse 'algo' realmente 'exista', onde por 'existir' entendemos a noção interna de quem observa, que obrigatoriamente teve uma experiência sensorial com o objeto representado. Podemos clamar sobre a existência de outros tipos de entidades não sensoriais, que existem sem nenhuma relação com nossos sentidos. Mas, então, o que seria uma imagem ou foto de uma entidade desse tipo? Quanto mais próximo a representação dessa 'coisa' estiver da experiência sensorial, tanto mais realística será a impressão causada, tanto maior será a 'força' expressiva da representação, tanto maior será a crença na validade da representação. 

Alguns fatos validam essa noção:
  • Uma vez que as crianças - principalmente com menos de 5 anos de idade - ainda não tem experiência sensorial plenamente formada, elas tendem a ver o mundo de forma diferente dos adultos. A 'representação da realidade' para as crianças não precisa ter os mesmos detalhes de um adulto. Desenhos simples ou bonecos já são suficientes para se manipular conceitos e idéias na mente infantil;
  • A busca pelo realismo incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias, como a do cinema ou televisão 3D;
  • Ilusões de óptica: a existência de imagens dúbias e mutantes sugere que o que se vê está mais dentro da mente do que fora;
Exemplo de Ilusões de óptica: o que se vê depende do que estamos acostumados a ver. Esta imagem não é um 'gif' animado.
Onde está a verdade então sobre a foto que analisamos? Sendo a representação de um objeto externo, não temos dificuldades em identificar do que se trata. Ainda que não tenhamos contemplados fisicamente decolagem de aviões, já os temos visto muitas vezes em outras ocasiões, seja na tv ou e filmes de cinema ou internet que também são representações assertivamente válidas no contexto em que são apresentadas.

Surge assim o segundo elemento importante em nossa análise:
II) O contexto de uma imagem ou filme é o segundo elemento que determina a escolha que o observador faz internamente sobre a validade da representação (imagem ou vídeo).
Em outras palavras, não é razoável que duvidemos de toda e qualquer foto ou filme de desastre de avião só porque mostramos um exemplo forjado. Nosso princípio I não é suficiente para garantir a validade da representação apresentada como imagem. Desastres de avião são eventos raros e mais rara ainda é a chance de se registrar um evento desse tipo. O fato de ser fácil forjar imagens de desastres de avião utilizando tecnologia de ponta não significa que tais desastres não ocorram ou que seja impossível registrá-los. 

Esse é um exemplo clássico que demonstrar a dificuldade de se utilizar evidências de foto ou filme em determinados casos. Imagine que, se para 'demonstrar' que desastres de aviões existem, tivéssemos que reproduzir essa ocorrência em seus mínimos detalhes para convencer os céticos desses desastres.

Aplicação para fenômenos insólitos

Fig. 2  'Raio verde'. Fenômeno raro que pode
ocorrer durante o ocaso ou nascer do sol. 
No que segue, por 'fenômenos supostamente insólitos' não nos referimos apenas aos fatos registrados na fenomenologia psíquica. Um fenômeno supostamente insólito parece ter as seguintes características:
  1. Uma ocorrência imprevisível (condições de ocorrência desconhecidas);
  2. Uma ocorrência rara (a frequência com que ela ocorre é muito pequena);
  3. De difícil registro fotográfico ou filmagem (no sentido de não serem frequentes as oportunidades de registrá-lo, ou porque ele ocorre sob condições em que não é possível usar com facilidade métodos de registro fotográfico ordinário);
  4. Diz respeito a um objeto ou coisa para o qual não existe uma 'representação local e privada' para a maioria dos observadores;
  5. Não existe um contexto estabelecido que apoie a aceitação de sua ocorrência.
Fig. 3 Raríssimas nuvens do tipo 'mamatus' .
O objetivo de toda evidência parece ser a característica 5, ou seja, reunir 'provas' que ajudem a criar o contexto de aceitação. Uma 'prova fotográfica' é, assim, uma peça ou material que pretende formar uma opinião, um contexto, a respeito de um determinado fato. A tarefa é simples com eventos ordinários. Por exemplo, no caso do uso de uma filmagem como testemunho de um crime: aqui é fácil ver que não obstante se cumpram quase todos os quesitos, um crime de difícil solução não tem a característica 4, ele não se refere a objetos ou coisas para as quais a imensa maioria não dispõe de uma 'representação local e privada'. Um crime é uma ocorrência suficientemente ordinária para que essa característica não se aplique.   

O que distingue um fenômeno supostamente insólito de outras ocorrências raras mas ordinárias é sua causa considerada insólita. A característica 4 implica que não existe um objeto conhecido que possa ser usado como referência. Por causa disso, para os céticos sobre determinados fenômenos, o mais próximo que se chega para cumprir a exigência 4 é imaginar que uma fraude está envolvida. Uma fraude é uma ocorrência ordinária, facilmente concebível que torna nulo o requisito 4 e que, portanto, desqualificá-lo o fenômeno no discurso do cético dogmático.

Entretanto, há uma imensa classe de fenômenos naturais que se enquadram nesse tipo de fenômeno. Com são eles justificados? A partir de teorias ou modelos científicos que permitem prever sua ocorrência. A Fig. 2, por exemplo, traz um registro fotográfico do 'raio verde' ou 'flash verde' provocado pela refração excessiva, assim como absorção de comprimentos de onda longos de raios solares durante o nascer ou ocaso do sol. Trata-se de um fenômeno raro que dura somente alguns instantes. Para alguém que desconheça totalmente o fenômeno, esta imagem pode ser resultado de alguma edição digital, já que é fácil preencher digitalmente com cores variadas determinadas porções de uma imagem. Já a Fig. 3 trás uma foto das núvens tipo 'mamatus'. Para quem nunca contemplou o fenômeno, pode se tratar de uma montagem fotográfica feita com superposição de um fundo de algum líquido ou fumaça sobre uma imagem ordinária de uma paisagem. Mas, a existência dessas nuvens é validada pela fluidodinâmica aplicada a condições meteorológicas especiais (anda que o mecanismo exato de sua formação  seja presentemente desconhecido). 

Nesses casos extraídos das ciências naturais, as imagens apenas fornecem registros de ocorrência de fenômenos que são concebíveis. Portanto, as imagens não constituem 'prova' no sentido de validarem o contexto. Em outras palavras, a ordem com que se apresentam as circunstâncias está invertida: com tais fenômenos, o contexto (a teoria) vem primeiro, as evidências são colhidas depois. 

Conclusões

O que podemos dizer então da negativa sistemática das evidências tão comumente encontrada no ceticismo dogmático? Na análise de toda crítica cética - principalmente se ela se faz em tom agressivo ou debochado - o mais importante é considerar os aspectos não aparentes da crítica, quais suas reais intenções e objetivos. Esse é o contexto ou 'pano de fundo' que irá determinar como uma evidência proposta será considerada. Não importa o quão 'séria' e 'científica' ela pretenda se apresentar, na imensa maioria das vezes isso se dará de forma negativa por razão muito simples.

Por definição, para o ceticismo dogmático qualquer 'prova' será sempre suspeita até que se cumpram determinados requisitos, todos eles frequentemente considerados 'imprescindíveis', mas que fazem parte de uma estratégia maior de desqualificação de fenômenos. Quase sempre o cumprimento de determinadas exigências será virtualmente impossível, o que, para os céticos dogmáticos, facilita a tarefa de desqualificação dos fenômenos. É importante considerar a intenção: para esse tipo de ceticismo, por definição, determinados fenômenos não existem. É preciso entender que o cético dogmático é alguém que acredita que a Natureza não tem segredos para ele. Considera que não há mais nada 'debaixo do sol', o que serve para justificar sua crença. Logo todas as evidências que se apresentem são forjadas. Partindo-se desse princípio, explicações são formuladas para ou invalidar a ocorrência ou a evidência fornecida, o que é muito mais fácil.

Em síntese: se uma imagem é o que está na cabeça de cada um, qualquer 'evidência' fotográfica que se apresente será sempre uma fraude na cabeça do cético, por princípio, porque ele entende que nada pode existir que ele já não conheça.

Os fenômenos psíquicos, por outro lado, não pertencem à classe das ocorrências ordinárias. Portanto, tais como fenômenos físicos de natureza material (raros e contextualizados por uma teoria), eles não podem ser facilmente negados pela invalidação de evidências fotográficas que se apresentem. O que torna os fenômenos psíquicos tão especiais são as condições de ocorrência que são, na sua imensa maioria, desconhecidas e totalmente não aparentes.

A possibilidade de existência de fraude está sempre garantida para todos os fenômenos, inclusive os de natureza material. Como haveremos então de nos posicionar quanto à realidade dos fatos? Se isso não é uma questão de resposta simples, mesmo com os fenômenos naturais que são objeto de pesquisa científica de causas materiais reconhecidas, podemos fazer ideia do grau de dificuldade que encontramos com os fenômenos supostamente 'insólitos' ou 'sobrenaturais'. Eles exigem a aceitação tácita de teorias bem fundamentadas, sem as quais é impossível avançar na compreensão desses fatos.

2 de novembro de 2011

Vídeo III - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)

Escrita direta obtida pela mediunidade de Minnie Harrison.
Os versos abaixo são de autoria de Jack Bessant, irmão de Minnie Harrison e foram obtidos através dessa médium em 1954. (ver original em Inglês abaixo)

Não chorem por mim, meus amados, pois estou ao vosso lado.
Não fui arrebatado a reinos desconhecidos ou levado por ignotas marés.
Não vos deixei sem cuidados - nunca pensem que vos faria isso;
Secai vossas lágrimas, levantai e sorride, ainda estou convosco.

Meu olhos que se fecharam agora estão abertos, minha visão clara e brilhante;
Onde dantes podia ver por janelas esfumaçadas, agora vejo a perene luz.
O véu simplesmente se levantou e os meus amados que se foram
Agora esperam por mim como nos velhos tempos de então.

O amor deles ainda me cerca. Seus Espíritos não se perderam;
E, agora, sei como sou conhecido - NÓS VIVEMOS! Não há morte!
Então, confortai vossos corações, livrai-vos da dúvida e do pavor;
Vivemos e caminhamos ao vosso lado - os vossos amados estão aqui.

Não vos aflijais por mim, meus queridos, livrem-se dessas lágrimas;
Caminharei convosco pelas escuras noites terrenas até o amanhecer de um novo dia.
Levantai vossos corações em agradecimento para vos unir a nós e cantar:
Ó, túmulo, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?

Fenômenos de escrita direta e aparições de luzes

Terceira parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de Tom Harrision.


Conteúdo (5' 18'')

00:00 Continuação da palestra de Tom Harrison sobre voz direta obtida por meio de uma corneta;
01:33 Continuação da entrevista para Pat Hamblig;
02:22 Nova palestra onde Harrison descreve os primeiros fenômenos luminosos e de escrita direta obtidos no grupo;

Outros Vídeos


Referência
  • Visits By Our Friends From the "Other Side". Tom Harrison. Saturday Night Press Publications; Revised edition edition (February 23, 2011)
Original em Inglês

Mourn not for me my loved ones, For I am by your side,
I have not sped to realms unknown or crossed the rolling tide.
I do not leave you comfortless—think not I ever will;
So dry those tears, look up and smile, for I am with you still.

My eyes once closed are opened, my vision clear and bright;
Where once I looked through darkened glass, I see perpetual light.
The veil has just been lifted and my loved ones gone before
Are waiting now to welcome me, as in the days of yore.

Their love is still enfolding me, Their spirits have not fed;
And now I know as I am known—WE LIVE! There are no dead!
So let your hearts be comforted, cast out all doubt and fear;
We live and walk beside you—your loved ones still are near.

Grieve not for me my dear ones, just dry those tears away;
I'll walk with you through Earth's dark night until the break of day.
So lift your hearts in thankful praise and join with us to sing—
Oh, Grave where is thy victory? Oh, Death where is thy sting?

27 de outubro de 2011

Pragmática e intenção nas cartas psicografadas de Chico Xavier.

Psicografia em Italiano, F. C. Xavier.
Este post contém um artigo submetido à revista 'Reformador' da Federação Espírita Brasileira em 7/fev/2011 que teve publicação recusada em 8/set/2011.

De forma bastante simplificada, um processo de comunicação é um conjunto de etapas que leva uma mensagem de um emissor a um receptor. Esse é a imagem popular de um processo ou mecanismo de comunicação, e podemos denominá-la de modelos de ‘transferência de informação’. Entretanto, ela é severamente limitada, embora pareça dar conta do processo de comunicação na maioria dos casos, principalmente com sistemas eletrônicos ou meios outros meios de comunicação (exemplos vão desde sinais de fumaça, telégrafos até o telefone). Em tempos recentes, boa parte da pesquisa sobre o processo de comunicação é desenvolvida através de várias teorias linguísticas, embora outras áreas de pesquisa (como a semiótica) tenham como objeto de estudo a comunicação não baseada na linguagem dos seres humanos, inclusive desenvolvendo modelos para comunicação entre seres vivos (plantas, animais etc). Modernas teorias linguísticas buscam explicar aspectos do processo de comunicação que não podem ser explicados pelos modelos simples de transferência de informação. Um processo eficiente de comunicação não é aquele em que partes ou pedaços de informação são transferidos para o recipiente e este, por sua vez, vai montando um quadro ou interpretação que é proporcional à quantidade de mensagens transmitidas. Há vários níveis ‘hierárquicos’ de informação dentro de uma mensagem e, para se ter uma ideia limitada desses níveis, é suficiente considerar a linguagem escrita.

Um texto escrito de próprio punho por alguém (emissor) a um seu conhecido (receptor) é um exemplo rico para os vários níveis de sinais linguísticos que se interrelacionam dinamicamente formando uma mensagem que só pode ser convenientemente compreendida pelo receptor. O primeiro nível existente é o da morfologia, afinal, se a mensagem é enviada pelo emissor, ela contém sinais grafados que o identificam univocamente. Uma vez ‘transcrita’ a mensagem em um meio que é independente da morfologia, aparecem então tipos de sinais que revelam outros níveis hierárquicos: a sintaxe (ou, que diz respeito ao cumprimento de regras próprias do idioma em que a mensagem é grafada) e a semântica (ou, que diz respeito ao significado das palavras e frases contidas no texto). Se a relação entre o emissor e o receptor sempre se deu, por exemplo, utilizando a língua portuguesa, então é natural que a sintaxe obedecida será a do português. No que diz respeito à semântica, o significado das palavras e grupos de palavras formando frases inteiras pode ser feito tanto se respeitando a regra (o chamado léxico) comum ou não. É muito comum que, entre grupos privados, regras semânticas particulares sejam utilizadas. Nesse caso, qualquer análise externa que pretenda inferir um significado ao texto escrito sem o conhecimento de um léxico particular é severamente limitada. Se esse léxico não está disponível em parte alguma, não é possível codificar corretamente o significado do texto, por mais que nos esforcemos. Um exemplo comum de problemas desse tipo é a tentativa de grupos dogmáticos cristãos em interpretar literalmente passagens ou textos inteiros do Velho e do Novo Testamento.

Há, entretanto, um último nível na hierarquia de sinais de comunicação que está muitas vezes oculto na mensagem: o da pragmática. Além do sentido aparente dado pela semântica, a mensagem do emissor é gerada de forma tal que apenas o receptor está completamente capacitado para compreendê-la. Por exemplo, se meu amigo, morando na Austrália, escreve a mim (receptor) uma carta contando das inúmeras belezas naturais daquele continente, seu objetivo pode ser apenas remover meus receios presentes de fazer uma visita a ele. Afinal, apenas ele sabe que eu não tenho o menor interesse em visitá-lo. Qualquer outra pessoa, ao ler a mesma carta, vai pensar que meu amigo apenas está empolgado com as belezas naturais daquele país. Embora morfologia, sintaxe e semântica sejam visíveis para todos (ou seja, são níveis de conhecimento linguístico disponíveis publicamente), o nível pragmático não é. Em todo o processo de comunicação, competência pragmática deve existir por parte do emissor para que o processo seja realmente eficiente. Isso é possível porque uma comunicação verdadeira só ocorre entre emissor e receptor que compartilham crenças anteriormente adquiridas.

Em paralelo com a questão da pragmática nas mensagens, há ainda questões ligadas à finalidade ou objetivo do texto que denominamos de ‘intenção’. Afinal pode ser que, dentre os inúmeros objetivos do emissor com o texto, o menor deles é o de comunicar alguma coisa. Mensagens podem ter como objetivo provocar determinadas impressões no receptor. Um exemplo interessante é o do indivíduo que chega a um posto de gasolina com seu carro e um pneu furado. Ele então fala para o primeiro funcionário do posto: ‘o pneu furou’ e aponta para o problema. Essa mensagem não tem como objetivo dizer que o pneu foi avariado, mas fazer com que o receptor faça alguma coisa diante da necessidade de se trocar o pneu. Fala-se assim no problema da ‘subdeterminação da intenção comunicativa’, na presença de expressões ‘semanticamente mal definidas’ e nos ‘atos não comunicativos’ (Bach, 1979), todos eles representando aspectos privados do processo.

É um exercício interessante analisar e encontrar cada um dos níveis de hirarquia de sinais de comunicação nas cartas psicografadas por Chico Xavier. Cada um deles, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática e intenção aparecem vividamente em diversas cartas, embora não extensivamente em todas ao mesmo tempo. Isso revela aspectos ocultos do processo de comunicação mediúnico que está de pleno acordo com a expectativa de interferência, e que ainda não são bem compreendidos. Ao contrário do que se pode pensar, a presença de interferência por parte do médium nas psicografias é uma evidência forte de processo de comunicação, uma vez que nenhum sistema de comunicação está imune a interferências. Existe interferência em cada um dos aspectos do processo, embora, para alguns deles, ela é menos extensiva. Quanto maior o nível considerado, menor a interferência por parte do médium. Reciprocamente, quanto maior esse nível tanto mais privada é a manifestação do nível (ver Figura abaixo).  

A pragmática e a intenção nas cartas estão diretamente ligadas a forte impressão causada aos parentes dos comunicantes que foram chamados a ‘decodificar’ o conteúdo, justamente pela presença de elementos que não estão publicamente disponíveis. É necessário reconhecer que, para que a estratégia do emissor tenha qualquer sucesso, um conjunto de crenças deve ser compartilhado entre o emissor e o receptor e que essas crenças não estão disponíveis antes (ou depois) do ato mediúnico. Se comunicar-se não é apenas ‘transportar’ informação, as cartas psicografadas por Chico Xavier (nosso exemplo mais notório) só podem ser explicadas se o médium teve ajuda explícita do emissor para escrever cada uma delas. O emissor (Espírito) é o agente que detém completamente a competência pragmática e a intenção, enquanto que o médium é o intermediário, interferindo ainda como fonte de ruído irredutível no processo que se manifesta nos níveis inferiores. Embora os aspectos mais superiores da pragmática e da intenção sejam os menos imunes à ação de ruído (interferência) pela mente do médium, são igualmente notáveis as comunicações ‘xenográficas’, ou escritas em uma sintaxe (e semântica) diferente da conhecida pelo médium, que demonstram que o Espírito tem o controle sobre níveis inferiores, além dos superiores. Esse é o melhor modelo para se explicar os fenômenos e os dados oriundos das cartas psicografadas. De acordo com esse modelo simplificado de comunicação, é compreensível também que o caráter ‘automático’ ou ‘mecânico’ da comunicação é tanto maior quanto mais completo deva ser o processo de comunicação nos vários níveis em que ele se manifesta. 

Nosso esforço aqui é parte de uma iniciativa que resultou em um pequeno texto sobre a aplicação das modernas teorias da linguagem e comunicação aos dados que se obtém das cartas psicografadas por Chico Xavier e que foi publicada na revista ‘Paranthropology’ (Xavier, 2010). Essa análise pode também ser aplicada a produções psicográficas de outros médiuns. Mais importante do que isso, ela revela que os aspectos justamente ‘não públicos’ são os mais importantes na caracterização e identificação do emissor. Não é possível explicar o conteúdo pragmático invocando-se aquisição de conhecimento por parte do médium ou mesmo simples emulação. Os detalhes pragmáticos e intencionais dependem de uma quantidade grande de conhecimento que é compartilhado historicamente entre o emissor (Espírito) e seus familiares (receptores) e que não estão disponíveis publicamente e que não se podem armazenar. Mesmo alguns aspectos públicos (como a semântica) dependem de conteúdo privado, principalmente quando o emissor intencionalmente faz uso de palavras com significado diferente do usual.

Esperamos que novas pesquisas sejam dirigidas ao estudo dos vários níveis que caracterizam uma comunicação mediúnica efetiva além de outros aspectos. Parte disso já tem acontecido, como um estudo recente sobre o papel das citações (Rocha, 2010) nos textos psicografados. Tais estudos descobriram textos desconhecidos de Humberto de Campos citados por ele em Espírito. Esse estudo não é apenas importante para caracterizar os vários níveis encontrados nas mensagens e, assim, responder a questionamentos céticos, mas também para formar uma imagem mais precisa do processo psicográfico em si. Em particular eles podem revelar detalhes sobre como se dá a interação entre a mente do médium e a do emissor a fim de que o processo de comunicação seja o mais transparente possível.

Referências
  • Arantes H. M. C & Xavier F. C. O conteúdo das cartas foi publicado em várias obras publicados pela Editora do Instituto de Difusão de Araras e GEEM (ver, por exemplo, Ramacciotti C. & Xavier F. C. (1975), Jovens no Além).
  • Bach K. & Harnish R. M. (1979), Linguistic communication and speech acts, Cambridge Mass: MIT Press.
  • Grumbach C., Gentile L. A. & Pelele P. P. (2010), As cartas psicografadas de Chico Xavier, Crisis Produtivas and Ciclorama Filmes.
  • Rocha, A. C. (2010). Uma estratégia para a construção autoral na psicografia: as citações. A Temática Espírita na Pesquisa Contemporânea, textos selecionados. Editado por CCDPE-ECM. 
  • Xavier A. (2010). ‘Pragmatic and intention in automatic writtings: the Chico Xavier case’, Paranthropology, vol II, Numero 1, p 47-51. Disponível publicamente em http://paranthropology.weebly.com/
Ver também: Cartas psicografadas neste blog em 3 partes.