O Universo não pode ser lido até que se aprenda a linguagem e se familiarize com os sinais nos quais ele é escrito. Ele é escrito em linguagem matemática e suas letras são triângulos, círculos e outras figuras geométricas sem as quais é humanamente impossível entender uma única palavra. (Galileo Galilei, Opere Il Saggiatore p. 171.)
Assim em resumo podemos dizer:
O “Livro da Natureza” é o último grande livro que começamos a folhear. Foi escrito desde o início dos tempos por um autor único. Está escrito em linguagem própria, não inventada pelos homens e só admite uma única interpretação. É também um código de leis que se aplica a todos os objetos do mundo, governando soberanamente a relação entre causas e efeitos. Não pode ser copiado, embora possa ser imitado e os homens muitas vezes se maravilham ao descobrir passagens ocultas que manifestam uma estrutura admirável, uma regularidade encantadora se não ao mesmo tempo assustadora. O conteúdo desse livro é infinitamente mais vasto do que tudo aquilo que aprendemos a ler nele, assim como infinitamente mais amplo do que tudo que sabemos, indicando a existência certa de pormenores, leis e verdades nunca dantes imaginados.
Se admitirmos que o mundo não é só constituído por elementos materiais mas também por elementos espirituais, assim como existem leis nesse livro que se aplicam a estes primeiros elementos, devem existir também leis apropriadas a se aplicar aos últimos. Por isso é que dizemos que o conteúdo do livro da Natureza é ignorado em sua grande parte. É importante não confundir as teorias científicas com o próprio conteúdo do livro da Natureza. As teorias científicas são esboços escritos em linguagem humana (quer dizer, apropriada à compreensão pela mente humana) sobre a estrutura desse livro, que tem existência independente. Diz-se, freqüentemente, que os cientistas revisam constantemente suas teorias. Não é porque a natureza tenha mudado mas porque o que se compreendeu a partir de uma primeira leitura de seu livro foi interpretada erroneamente. Mas certamente, nenhuma descrição ou previsão humana se sustenta se estiver em desacordo com o grande livro da Natureza. Conflitos entre a ciência e a religião se originam principalmente pela deficiência que grupos religiosos tem em compreender a existência desse livro. Essa deficiência é fruto da ignorância e ou da presunção humana em sustentar que Deus poderia ser parcial para com determinado grupo. É certo que a comunidade científica reconhece o caráter mutável das teorias da ciência, mas é altamente suspeito a posição de grupos religiosos que pretendem ter a “verdade a todo custo” baseando-se na intepretação literal de textos e sua generalização a qualquer assunto. Assim como a humanidade tem passado por um lento processo de conhecimento científico, todo a cultura religiosa não fugirá de ser comparada a verdade contida no grande livro da Natureza.
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