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4 de dezembro de 2019

Os seres do invisível e as provas ainda recusadas pelos cientistas. (Paulo Neto)


Paulo Neto acaba de lançar um novo livro que pode ser baixado gratuitamente:

Os seres do invisível e as provas ainda recusadas pelos cientistas-ebook (1.66 MB)

Trata-se de uma obra que apresenta diversas referências para os casos de mediunidade de efeitos físicos estudados pelo famoso cientista inglês William Crookes. Em um post anterior, tivemos a oportunidade de analisar uma tese recente em História da Ciência que analisa, de um ponto de vista acadêmico, a relação de Crookes com o espiritualismo. 

Paulo Neto acrescenta outras evidências e relatos, colhidos de diversas fontes, que mostram a excelência das conclusões tiradas por Crookes sobre os casos de mediunidade que ele estudou. É possível que hoje as dificuldades que envolvem a replicação desse tipo de fenômeno - e que contribuem para sua raridade - dificultem a apreciação moderna e não histórica de sua ocorrência. Entretanto, não é possível, tão só pela análise das referências históricas, concluir que Crookes foi enganado como querem céticos. Paulo Neto mostra que as médiuns que Crookes estudou foram também estudadas por outros cientistas e que a qualidade dos trabalhos feitos por ele foi atestada na opinião de inúmeros outros pesquisadores da época que não tinham apreço pela tese da sobrevivência da alma (tal como C. Richet e R. Sudre).  

A obra de Paulo Neto deve assim ser lida como uma contribuição para a necessária contextualização de época em que os detalhes importam mais do que fatos principais na apreciação da história das ciências dos fatos mediúnicos de efeitos físicos. 

Referências

29 de setembro de 2019

O fenômeno das vozes eletrônicas

Fig. 1. Imagem de um espectrograma (Audacity) com a invocação de Kedar (seta) e a 'voz' inesperada (região circular)
Um sobrinho meu que mora nos Estados Unidos estava a gravar com o celular algumas músicas no estilo "Karaoke" em junho último. Kedar é um adolescente que conhece tanto português como inglês, que é sua lingua materna. Um pouco desligado da gravação, ele deixou  o celular gravando por algum tempo a mais. Para sua surpresa, uma voz desconhecida aparece em um trecho não esperado da gravação. Ao tentar outra vez, o fenômeno estranho se repete; desta vez um claro 'yes' surge após aproximadament 15 segundos de uma pequena invocação. Uma terceira tentativa e um 'I see' também é obtido. Um pouco assustado, ele abandona os experimentos com medo do fantasma, coisa de adolescente.

Quando fiquei sabendo da ocorrência, minha irmã me enviou dois arquivos mp4 que são facilmente abertos com o Audacity, um conhecido software para edição de arquivos de som. Um espectrograma de uma das experiências obtidas por Kedar é visto na Fig. 1. O gráfico representa a decomposição espectral do som obtido no experimento, onde a invocação inicial é vista nos primeiros segundos. A voz é um 'yes' muito baixo mas indubitável, com tons entre 1000-2000Hz compatível com a modulação de uma voz humana. Na segunda gravação a intensidade da voz anômala foi ainda maior.

O fenômeno das vozes eletrônicas

Tal como no caso de Kedar em 2019, o fenômeno teve seu início com F. Jürgenson (1903-1987) em 1959 quando tentava gravar canto de pássaros. No início, pensou-se que se tratava obviamente de interferência de estações de rádio. Entretanto, a repetição dos experimentos - inclusive no interior de 'gaiolas de Faraday' (para bloqueio da radiação eletromagnética externa), confirmou que algumas pessoas, em condições insuspeitas e na presença de equipamentos de gravação, conseguem obter vozes que parecem se comunicar, respondendo a invocações. Nomes como Konstantin Raudive (1909-1974) e P. Bänder [1] estão ligados à história dos 'Electronic Voice Phenomena' (EVP, fenômenos das vozes eletrônicas). Mais do que isso, no que parecia ser uma clara aceitação de algo que já sabiam, algumas autoridades do Vaticano passaram a apoiar a realização de experimentos de EVP e de que as vozes tinham origem no Purgatório. 

Aspectos do fenômeno

O fenômeno da EVP surgiu na década de 50 e foi interpretado como uma 'Nova Hydesville', conforme descreve Bänder [1]. Sem dispor de uma teoria eletrônica que descrevesse como as vozes podem ser captadas e amplificadas, a pesquisa seguiu um caminho puramente empírico. Diversas 'receitas' de se obter vozes foram sugeridas: com um simples gravador, com um gravador e um rádio sintonizado em ondas curtas, com um gravador e um gerador de ruídos etc. Logo entusiastas criaram uma tese que seria uma consequência natural desse desenvolvimento: com o aprimoramento da técnica, as EVPs representariam uma nova maneira de se comunicar com os Espíritos, uma em que a presença de médiuns seria desnecessária.

Fig. 2 Edison em uma foto de sua entrevista a Austin Lescaboura em 1920 sobre suas pesquisas de um dispositivo para se comunicar com os Espíritos.
Esse aspecto 'amediúnico' das comunicações eletrônicas (qualquer que seja ela), é um sonho de antigos pioneiros das telecomunicações. Logo ficou claro a personalidades como Thomas Edison (1847-1931), O. Lodge (1851-1940) e Nikola Tesla (1856-1943), que talvez fosse possível usar o rádio ou um circuito variante dele para se comunicar com os Espíritos. Edison mesmo chegou a trocar correspondência com William Crookes (1832-1919) sobre a possibilidade de se obter imagens de Espíritos. Em alguns dos trechos de sua entrevista à Scientific American [2] em 1920, Fig. 2, declara Edison:
Now, what I purpose to do is to furnish psychic investigators with an apparatus which will give a scientific aspect to their work.*  
My apparatus is along those lines, in that the slightest effort which it intercepts will be magnified many times so as to give us whatever form of record we desire for the purpose of investigation.** 
Em outros trechos Edison demonstra pouco conhecer das pesquisas da fenomenologia psíquica anterior. Em um artigo de divulgação, Zarrelli (2016) [3] declara que o 'spirit phone' foi a invenção mais 'infrutífera' de Edison. Provavelmente o foi por causa da ignorância de Edison e outros pesquisadores das condições em que o fenômeno se realiza. Em outros termos: só ter o aparato não é suficiente.

O princípio da comunicação amediúnica segue a ideia de Edison que, por meio de um sensor e um amplificador poderoso seria possível registrar oscilações (voz, imagem, pulsos etc) dos Espíritos. Aparentemente, isso foi o que Jürgenson e Raudive parecem ter conseguido, além de outros entusiastas das vozes eletrônicas desde então. 

Entretanto, demonstrar que não há influência de um humano na comunicação eletrônica é bastante difícil, pois sempre qualquer pesquisa será organizada e conduzida por uma pessoa ou um grupo. Não se pode, a priori, descartar a influênciado experimentador. 

Mediunidade eletrônica?

Alguns pesquisadores no passado conseguiram registros muito nítidos de vozes eletrônicas (que desqualificam hipóteses céticas de 'pareidolia'), outros conseguiram registros a partir de modulações de ruídos, enquanto que outros jamais conseguiram nenhum tipo de voz. A que se deve esse caráter mutante e incontrolável?

Contrário ao que se pensa, somos adeptos da idea de que as EVPs e seus correlatos são manifestações do que chamamos de 'mediunidade eletrônica'. Trata-se de uma variante moderna de efeitos físicos em que  um dispositivo eletrônico está envolvido. 

Essa nova mediunidade é potencializada pelo interesse ou envolvimento do 'pesquisador-médium' no fenômeno. O fenômeno é, assim, mais frequente na presença de certas pessoas com essa habilidade especial, razão porque as EVP jamais se tornaram um método 'sistemático e independente' da mediunidade. Elas não são reprodutíveis à vontade e, como tal, são seriamente limitadas na capacidade de transmissão de informação  - não há "bidirecionalidade". Claramente, essa mediunidade 'surgiu' com o desenvolvimento tecnológico. Suas características são:
  • Ela é inconsciente,
  • Não requer 'transe',
  • Um médium eletrônico sequer saberá que é médium a não ser pelos efeitos eletrônicos que produz. Sua mediunidade é validada pela alta correlação entre sua presença e a ocorrência do fenômeno.
  • Como é uma mediunidade, há possível influência do médium no fenômeno.
  • Como se trata de efeito físico, aplicam-se todos os comentários feitos por Kardec sobre esse domínio de fenômenos [4], inclusive sobre seu caráter subsidiário de demonstração da sobrevivência.
Do ponto e vista teórico, sendo a mediunidade eletrônica peculiar, ela não se liga a outras, por isso não basta que haja a presença de qualquer médium em um recinto para que o fenômeno ocorra. Médiuns de efeitos físicos provavelmente teriam mais facilidade em provocá-lo. Existem outros fatores que devem permanecer invariantes para que o uso de aparelhos possa ser eficientemente usado. Todas as vezes que uma nova 'técnica' é criada esses fatores mudam, o que reduz a eficiência da comunicação.

Esse princípio aponta para a importante orientação de que, não importará muito qual o tipo de circuito ou sistema eletrônico seja usado, desde que as experimentações sejam feitas na presença das pessoas capazes de intermediar o efeito. É provável, assim, que a ideia do 'spirit-phone' de Edison e tantos outros funcione, desde que sejam testados pelo experimentador certo.

Traduções

* Agora, o que pretendo fazer é prover aos investigadores psíquicos um aparato que conferirá um aspecto científioc ao trabalho que fazem.

** Meu aparato é nesse sentido: a menor perturbação que o interceptar será amplificada muitas vezes, de forma a nos dar qualquer registro para o objetivo da investigação.

Referências


1- P. Bänder (1976). "Os Espíritos Comunicam-se por Gravadores", São Paulo: Edicel, 2a Edição. 

2- A. C. Lescarboura (1920), "Edison's Views on Life and Death", Scientific American, Vol. 123, No. 18, pp. 446, 458-460


4 - Ver: "O Livro dos Médiuns" de A. Kardec, 2a Parte, Das Manifestações Espíritas", Cap. IV e Cap. V. 

2 de agosto de 2017

Propostas para a teoria de efeitos físicos: abordagens experimentais publicadas no JEE

Imagem Schlieren de uma mão mostrando variações de densidade do ar. Imagem colhida na ref. (1).
O Jornal de Estudos Espíritas (JEE, ISSN 2525-8753), editado por Alexandre F. Fonseca, acabou de publicar e disponibilizar gratuitamente (2), com autorização da LIHPE e CCDPE, dois artigos nossos que julgo interessantes para o público espírita interessado em mediunidade de efeitos físicos:
  1. Uma proposta experimental para detecção de movimentos de fluidos nas cercanias de médiuns de efeitos físicos;
  2. Desenvolvimentos na teoria de transporte e manifestações físicas.
São eles contribuições que fizemos em 2010, quando de nossa participação no 6o Encontro da LIHPE e que foram disponibilizados apenas em papel nas coletâneas resultantes daquele encontro. Passando tanto tempo, eles agora estão no formato digital e acessíveis via rede. 

Trata-se da proposta de embasamento mais teórico de se caracterizar o ambiente físico onde um médium de efeitos físicos atue. Não é desconhecido dos interessados pela fenomenologia psíquica que médiuns de efeitos físicos tem a capacidade de mover objetos ou coisas, em um fenômeno que ficou batizado mais recentemente de "psicocinése". Em que pese a existência de propostas modernas usando física quântica para explicar esses fenômenos, somos da opinião que uma análise baseada em termodinâmica e fluido dinâmica é mais apropriada. Isso porque médiuns de efeitos físicos podem ser comparados à máquinas térmicas que exercem trabalho (em um objeto, por exemplo, realizando transporte) pela transformação de sua energia interna - conseguida, por exemplo, com base em energia bioquímica - em movimento. Isso pode ser lido na referência "Desenvolvimentos na teoria de transporte e manifestações físicas", onde se compara o processo de elevação de um objeto por um médium de efeitos físico com a elevação de um êmbolo por um pistão. Ambos os processos guardam alguma semelhança porque são realizados por meio de um fluido intermediário.

Imagem retirada do artigo "Desenvolvimentos na teoria de transporte e manifestações físicas", onde se compara o processo de elevação de um objeto por um médium de efeitos físicos com a elevação de um êmbolo por um pistão. 
A partir dessa comparação, o trabalho "Uma proposta experimental para detecção de movimentos de fluidos nas cercanias de médiuns de efeitos físicos" propõe uma nova abordagem para caracterizar o ambiente onde opera um médium de efeitos físicos. Não se trata de estudar a mediunidade diretamente, mas de investigar as consequências, sobre o ar circundante, da atuação de um médium desse tipo. 

Ambas as propostas foram feitas oficialmente ao movimento espírita de certa forma por meio da LIHPE em 2010, e aguardam colaboradores para sua execução. Talvez isso não seja algo para uma única existência, mas, de qualquer forma, a propostas está lançada. 

Este blog está aberto a eventuais pessoas que tenham interesse em colaborar com ela, identificando inicialmente candidatos a médiuns de efeitos físicos que sejam aptos a participar de alguma forma.

Referências

(1) DIY Schlieren Photography: https://www.youtube.com/watch?v=QNU6VP2t_78 (acesso em agosto de 2017)

(2) Ressaltamos que os dois artigos podem ser lidos abertamente nos links:


4 de janeiro de 2016

S. José de Cupertino e a mediunidade de efeitos físicos


Não menos positivo é o fato do erguimento de uma pessoa; 
mas, é algo muito mais raro, porque é mais 
difícil de ser imitado. É sabido que o Sr. Home se elevou 
mais de uma vez até ao teto, dando assim volta à sala.
Dizem que S. Cupertino possuía a mesma faculdade, 
não sendo o fato mais miraculoso com este do que com aquele.

A. Kardec, "A Gênese", Cap. XIV, "Os fluidos", II - 
Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais.

Estaria o Século XXI pronto para confrontar 
o fenômeno destruidor de paradigmas, a levitação?  (M. Grosso, 1)

O fenômeno mediúnico manifesta-se das mais variadas maneiras, numa escala de força e tempo que ainda nos é desconhecida. Quando surgem as circunstâncias favoráveis, eclodem sem consideração por fé, crença ou ponto de vista. Se há manifestações tão singelas e apagadas que passam desapercebidas da maioria, por outro lado, há as que causam admiração e espanto, tamanho o grau de aparente desrespeito às leis naturais - porque representam operação  de leis desconhecidas - que imprimem as suas testemunhas. A revista "Edge Science" de Dezembro de 2015 (número 24, 1) traz um artigo interessante de Michael Grosso sobre uma figura lendária da Igreja, o santo S. José de Cupertino (160-1663). José de Cupertino (Giuseppe da Copertino) foi canonizado por Clemente XIII em 1767 e, até hoje, é adorado por Católicos que veem nele uma das 200 derrogações (ou suspensões) das leis naturais por obra direta de Deus que a Igreja conta entre seus santos. Por que? Eis uma das histórias que se conta, segundo M. Grosso (1):
Próximo ao natal de 1632, o Padre Giuseppe convidou alguns pastores a trazer seus instrumentos musicais para tocar na igreja de Grotella, na Itália. Ao entrarem na igreja, começou José a cantar e dançar. Mais tarde os pastores narraram sob juramento o que aconteceu: "Padre Giuseppe estava tão feliz que começou a dançar no centro da nave aos som das flautas. De repente, suspirou em voz alta e gritou, voando pelos ares como um pássaro, até metade da distância do teto, onde continuou a dançar acima do altar principal. Isso foi ainda mais formidável, pois o altar estava repleto de velas acesas e ele permaneceu entre elas sem derrubar nenhuma. Ficou naquela posição, com seus joelhos acima do altar, abraçado ao tabernáculo por cerca de quinze minutos e então retornou, sem causar qualquer transtorno. Seus olhos estavam cheios d'água e disse: 'Louvado seja Deus, meus irmãos'. Permanecemos todos em admiração e disse comigo mesmo: 'Isso sim é que é um milagre' " (2)
José de Copertino tinha a incrível capacidade de levitar, fenômeno que ocorreu por 35 anos ininterruptos até seu falecimento. Antes da manifestação de voo, José caia numa espécie de "êxtase", conforme descrito por seus biógrafos. O mais difícil é desacreditar as milhares de testemunhas que viram José levitar sob pena de se chegar a uma explicação ridícula ou anacrônica. Nas palavras de M. Grosso (1):
Poderíamos nos perguntar: dado que José era tão submisso e aparentemente pouco inteligente (6), como pôde ele enganar tantas pessoas, algumas inclusive bastante ilustres? De acordo com registros históricos, José levitou diante do Papa Urbano VIII, vários cardiais, médicos, o Rei da Polônia, o Duque de Brunswick, a Princesa de Savoia e numerosas outras personalidades VIPs. Podemos concluir que nenhum deles era esperto o suficiente para desmascarar esse impostor? Poderia José ter enganado o Papa Bento XIV (Prosper Lambertini), conhecido por ser um racionalista? A alternativa a essa explicação é que todos esses dignatários eram parte de uma ilusão em massa para criar a imagem de um padre voador. Mas, com que objetivo? E, por que, depois de tantos séculos, ninguém se apresentou para revelar a verdade sobre tal conspiração?
As evidências de levitação de José de Cupertino têm um peso ainda maior porque, segundo (1), durante a contra-reforma protestante, a Inquisição chegou a encarcerar José, proibindo-o de realizar a missa ou participar de procissões públicas. As autoridades inquisitoriais não queriam que a população o vissem voar e, assim, buscassem no padre curas e outros milagres, como está fartamente registrado em autos de várias paróquias como Grotella, Nápoles, Roma, Nardo, Pietra Rubbia, Osimo e Fossombrone (1). Pode-se dizer qualquer coisa da ética dos métodos e das motivações do tribunal do Santo Ofício, mas o fato é José foi preso justamente pela comoção pública causada por seus voos, e seria ele um caso de fogueira se descobrissem uma impostura. O estado de êxtase em que a população ficava ao ver o fenômeno alarmou outras paróquias que procuram na Inquisição uma maneira de parar as manifestações.  
"S. José de Cupertino voa 
diante da Basílica de Loreto" por 
Ludovico Mazzanti (1686–1775)

José de Cupertino e a mediunidade de efeitos físicos

Segundo M. Grosso em (1), a época de José de Cupertino era um tempo que pessoas eram queimadas vivas caso não tivessem as "credenciais de fé" necessárias. Portanto, os registros históricos confirmam a realidade do fenômeno da levitação e criam um problema difícil para os céticos. É o que chamamos de "anomalia". A explicação do fato, portanto, deve ser outra. Ainda segundo Grosso:
Quando olho para as fontes históricas das narrações sobre José, encontro registros bem documentados, narrativas que descrevem fenômenos estranhos, não somente levitação: histórias de fragrâncias inexplicáveis que persistiam por meses ou anos impregnadas a objetos, descrições sobre curas, do que hoje se chama de "telepatia" ou que, no Século XVII, era conhecido com "leitura dos corações" ou "discernimento" e, finalmente, a vida de José foi capaz de gerar muitos documentos que descrevem suas profecias e clarividência. Domenico Bermini, um historiador eclesiástico, afirma em uma biografia de José (de 1722) que ele registrou 22 profecias de pessoas que iriam falecer. (1)
Manifestações de efeitos físicos são pródigas em fenômenos de levitação (o caso das mesas girantes) e curas. E as tais "profecias" descritas pelos biógrafos de José de Cupertino atestam sua capacidade mediúnica intelectual, sua habilidade de ouvir ou receber informações dos Espíritos sobre fatos à distância - particularmente associados ao estado de pessoas próximas à desencarnação. Ainda que Espíritos não apareçam (6) no que se produziu dos relatos do santo (e não poderiam aparecer, pois aquela era uma época de perseguições aos que não estavam de acordo com a fé ortodoxa), o que temos dos relatos é suficiente para caracterizá-lo como um dos mais poderosos médiuns que já passou pela Terra. 

Sobre S. Cupertino, comenta Kardec (3):
Os fenômenos espíritas, bem como os magnéticos, antes que suas causas fossem conhecidas, tiveram que passar por prodígios. Ora, como os céticos, os espíritos fortes, isto é, os que têm o privilégio exclusivo da razão e do bom-senso, não creem que uma coisa seja possível desde que não a compreendem. É por isso que todos os fatos tidos como prodigiosos são objeto de suas zombarias. Como a religião contém grande número de fatos desse gênero, não creem na religião. Daí à incredulidade absoluta há apenas um passo. Explicando a maioria desses fatos, o Espiritismo lhes dá uma razão de ser. Ele, pois, vem em auxílio à religião, demonstrando a possibilidade de certos fatos que, por não mais terem caráter miraculoso, não são menos extraordinários; e Deus nem é menos grande, nem menos poderoso por não haver derrogado as suas leis. De quantos gracejos não foram objeto as levitações de São Cupertino? Ora, a suspensão no ar dos corpos pesados é um fato explicado pelo Espiritismo. Nós, pessoalmente, fomos testemunha ocular, e o Sr. Home, como outras pessoas de nosso conhecimento, repetiram várias vezes o fenômeno passado com São Cupertino. Assim, o fenômeno entra na ordem das coisas naturais.
Além da citação acima, Kardec mais de uma vez comentou sobre a descrença e escárnio que sempre acompanhava as referências a José de Cupertino. Na Revista Espírita de Outubro de 1859, artigo "Os Milagres", escreve: "De quantas graçolas não foram objeto as levitações de São Cupertino?" Tal fenômeno tem a mesma causa dos médiuns (4, 5) D. D. Home (1833-1886) e C. C. Mirabelli (1889-1951), por exemplo, que realizaram levitações no Século XIX na Europa e XX no Brasil, respectivamente. Mas, no artigo de M. Grosso, temos a confirmação da mediunidade de José de Cupertino, pela presença de outras manifestações espontâneas, típicas da mediunidade de efeitos físicos e intelectuais. 

Qualquer que seja o ponto de vista que se tenha sobre os voos de S. Cupertino, os registros históricos permanecem como seus testemunhos e não permitem fácil interpretação em termos de teorias de conspiração, alucinação em massa ou fraude. Fazem eles parte de uma época em que fraudes teriam vida curta, tanto por conta da existência de uma polícia doutrinária que punia severamente os que se aventuravam a zombar da fé hegemônica, como pela titularidade e inteligência dos notáveis que assistiram o fenômeno mais de uma vez.

Ilustração da levitação de D. D. Home. Fonte: Wikipedia
Continuarão os céticos a duvidar dentro de seu direito. No Século XXI,  qualquer registro fotográfico de um genuíno fenômeno de levitação seria facilmente explicado como manipulações de softwares como o "Photoshop". Céticos mais duros exigiriam, para sua aceitá-lo, um número arbitrário de demonstrações nas mais exóticas condições possíveis, que levariam o médium à loucura. De nossa parte, ficamos contentes em descobrir na história mais um exemplo de mediunidade rara de efeitos físicos, que confirma as regularidade - não obstante peculiaridade - das manifestações mediúnicas descobertas pelos pioneiros do Espiritismo. Podemos dizer que José de Cupertino, duzentos anos antes, antecedeu o fenômeno das mesas girantes do alvorecer do Espiritismo; tendo sido provavelmente ajudado por muitos Espíritos em suas manifestações de voo. Seu caráter piedoso o tornou insuspeito ao Santo Ofício, que procurou cercear entretanto as manifestações. Tivesse as mesas girantes surgido naquela época, tal como aconteceu no Século XIX, muitas pessoas teriam ido para a fogueira.

Referências

1. M. Grosso (2015) Ectasy and Gravitation: The Levitation of Joseph of Copertino. Edge Science, n. 24. Um publicação da Society for Scientific Exploration. A revista pode ser acessada em:

http://microver.se/sse-pdf/edgescience_24.pdf (Acesso: dez. 2015)

2 M. Grosso (2016). The Man Who Could Fly: St. Joseph of Copertino and the Mystery of Levitation. Rowman & Littlefield, p. 79.

3. A. Kardec (1860)  O Maravilhoso e o sobrenatural. Revista Espírita, Edição de setembro.

4. Outros médiuns menos conhecidos e associados à manifestações de levitação são: Amadee Zuccarini, Einer Nielsen, Boerge Michaelsen e Colin Evans, esse último, entretanto, considerado um impostor segundo os autores céticos da Wikipedia. Há ainda o caso de uma levitação do faquir  Subbayah Pullavar. 

5. Ver http://www.spiritarchive.org/levitation-of-humans.html

6.  De acordo com http://capuchinhosprsc.org.br/santos-capuchinhos-2/jose-de-cupertino-18:
Ele era carente de capacidade intelectual a ponto de chamar-se a si mesmo de “Frei Burro”. Mas, cheio de luzes sobrenaturais, discorria em profundidade sobre temas teológicos e resolvia intrincadas questões que lhe eram apresentadas. 




20 de agosto de 2014

A naturalização do 'Poltergeist' (por Andreas Sommer)

A pedidos, apresentamos abaixo uma tradução do texto de Andreas Sommer ("The Naturalization of 'poltergeist') do seu blog "Forbidden Histories" (1). Este é um relato que mostra o interesse continuado no tema ao longo do tempo por muitos cientistas. Em parte, o processo de "naturalização" da explicação (segundo Sommer, seria o afastamento das explicações de caráter "teológico") contribuiu para perda de interesse no assunto que chegou a atrair a atenção de luminares do mundo científico.

Um exemplo de continuidade histórica do interesse científico por questões não ortodoxas diz respeito aos fenômenos de "poltergeist", o paradigma do tipo de coisa que acontece "na calada da noite". 

Provavelmente, foi Martinho Lutero (uma vítima de poltergeist confessa) no Século XVI na Alemanha quem cunhou o nome "Poltergeist" ou "espírito batedor". Há um número incrivelmente grande de relatos históricos de poltergeists dramáticos afetando pessoas de todas as classes sociais, frequentemente envolvendo a intervenção de autoridades que, por sua vez, produziram os relatos mais detalhados. Entre as características mais bizarras, mas aparentemente robustas, desses fenômenos alegados através dos tempos são:
  • O centro dos eventos é uma pessoa específica, frequentemente um adolescente;
  • Sons recorrentes não explicados são ouvidos, na forma que vai desde pancadas (raps) de dentro das paredes ou de móveis até ruídos ensurdecedores;
  • Os sons respondem algumas vezes;
  • Objetos domésticos de todos os tamanhos e pesos são vistos em movimento, algumas vezes de vagar e parecendo que são carregados;
  • Objetos em movimento parecem penetrar janelas fechadas ou paredes sem causar prejuízo e, frequentemente, são descritos como estando aquecidos;
  • Pedras são atiradas sem que saiba a origem e, algumas vezes, de distâncias consideráveis;
  • Se um objeto jogado se aproxima de uma pessoa, frequentemente ele parece ricochetear do ponto de impacto e cair no chão;
  • Quantidades grandes de água surgem e desaparecem de repente e fogo se ascende espontaneamente;
  • Pessoas podem ser mordidas, reviradas na cama ou batidas, como se mãos invisíveis atuassem;
  • Escritas e desenhos surgem em paredes ou em espaços fechados;
  • Aparições são vistas algumas vezes simultaneamente por mais de uma testemunha;
  • Animais domésticos entram em pânico ou se comportam de maneira não usual;
  • Na era pós-industrial, essas perturbações produzem funcionamento anômalo ou não usual em equipamentos eletrônicos.
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Robert Boyle
Tradicionalmente, acredita-se que postergeists são causados por demônios, elementais ou espíritos desencarnados inclinados ao mal, e suas vítimas são associadas a bruxaria e magia negra. Longe de serem condenados como bobagens ou superstição, tais visões foram compartilhadas por grandes personalidades da revolução científica tal como Francis Bacon e, mais tarde, Robert Boyle. Enquanto Bacon formulou leis para penalização da bruxaria, Boyle bancou a edição inglesa de "The Devil of Mascon" ("O Demônio de Mascon"), um caso clássico de poltergeist francês para o qual ele escreveu o prefácio. Boyle (que investigou casos de curas milagrosas, premonições e outros eventos supostamente sobrenaturais) também ajudou colegas da Royal Society, tais como Joseph Glanvill e Henry More, a compilar histórias de perturbações provocadas por poltergeist e bruxaria. Historiadores da ciência argumentam que essas investigações foram inspiradas por preocupações excessivas por desvios religiosos (tal como ateísmo popular, animismo, hilozoísmo e panteísmo) que se percebem como regulando funções morais das crenças cristãs de recompensa e punição da alma após a morte.

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Gotthold Ephraim Lessing
No século das luzes, a respeitabilidade dos fenômenos "sobrenaturais" caiu bastante na esteira de reivindicações políticas de cunho antirreligioso, corrupção clerical e horrores às perseguições às bruxas. Entretanto, ao invés de filósofos naturais e médicos, foram escritores religiosos e políticos,  tais como Joseph Addison, que começaram a tratar o "oculto" como objeto de ridículo e sinônimo de irracionalidade ou atraso. A peça "The Drummer" de Addinson, por exemplo, é uma caricatura de "Drummer of Tedworth", um caso de poltergeist  investigado por Joseph Glanville, divertimento garantido a livres pensadores ateus graças à crença em fantasmas. Entretanto, nem todos os sábios dessa época concordavam que as coisas que acontecem "na calada da noite" deveriam ser tratadas dessa forma. Por exemplo, G. E. Lessing na Alemanha opôs-se francamente à moda na época de rejeitar relatos de aparições e descrições de poltergeist.  (De acordo com o historiador alemão Carl Kiesewetter, sua opinião mudou logo depois que Lessing se envolveu em um incidente em Dibbesdorf, próximo a Braunschweig, onde membros de uma família da classe trabalhadora foram presos como perturbadores da ordem pública após um episódio de manifestação de poltergeist.)

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Em meados do Século XIX, poltergeists começaram a ser domesticados em Hydesville, EUA, quando o espiritualismo moderno surgiu como um movimento globalizado a partir de um caso típico responsivo de um mercador que se dizia falecido. Eminentes homens de ciência como Alfred Russel Wallace, William Crookes, J. J. Thomson e Alexandr Butlerov investigaram médiuns espiritualistas e se convenceram da realidade dos fenômenos. Quando o astrônomo de Leipzig Johann F. Zöllner testou sua teoria da quarta dimensão do espaço através de um médium que reproduziu experimentalmente fenômenos do tipo poltergeist, ocorreu uma verdadeira explosão política no alvorecer da psicologia alemã. Zöllner, que teve o apoio de físicos como Gustav Theodor Fechner, foi atacado publicamente por Wilhelm Wundt, aluno de Fechner e fundador do laboratório alemão de psicologia experimental. A principal preocupação de Wundt era que o interesse científico pelos fenômenos espíritas minasse os fundamentos da religião e da civilização. 

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Carl du Prel
Diferente de Wundt, seu equivalente Americano William James considerava legítimo o interesse científico pelo Espiritualismo e tornou-se bastante ativo na investigação da mediunidade e de "alucinações verídicas" (aparições de vivos e mortos que parecem trazer informação não conhecida pelos que as recebem). Pesquisas por James e outros psicologistas em hipnotismo, mediunidade e alucinações verídicas resultaram em importantes conceitos de inconsciente no final do Século XIX. Dois dos maiores teóricos da cognição subliminal foram Carl du Prel na Alemanha e Frederic W. H. Myers na Inglaterra. Correlacionando o sonambulismo convencional com aparições de vivos, eles concluíram que ambos pareciam ser causados por ideias fixas e sugeriam uma explicação psicológica não convencional para aparições dos mortos: Myers propôs que "o comportamento de fantasmas dos vivos sugerem sonhos sonhados por pessoas vivas cujos fantasmas aparecem. E, similarmente, o comportamento dos fantasmas dos mortos sugerem sonhos sonhados por pessoas mortas cujos fantasmas aparecem". Da mesma forma, du Prel acreditava que "se capacidades suprassensoriais são possíveis sem o uso do corpo, elas podem ser usadas sem a ocupação do corpo".

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Eugen Bleuler
No século XX, Oliver Lodge, Charles Richet, Cesare Lombroso, Filippo Bottazzi, Camille Flammarion, Henri Bergson, Marie e Pierre Curie, o terceiro e quarto condes de Rayleigh e muito outros cientistas menos conhecidos, médicos e filósofos tentaram reproduzir fenômenos semelhantes a poltergeists sob condições controladas. Depois,  autores como du Prel e Myers foram eclipsados por psicanalistas, profissionais de saúde mental como Carl Gustav Jung, Eugen Bleuler, Enrico Morselli e o sexologista Albert von Schrenck-Notzing, que continuaram o estudo de fenômenos de poltergeist no campo e no laboratório. Entretanto, eles descartavam categoricamente teorias envolvendo atuação de espíritos desencarnados e se agarraram a uma abordagem puramente psicodinâmica. Segundo Schrenck-Notzing: "Em certos casos,  complexos, carregados emocionalmente por representações, se tornam autônomos e dissociados e parecem querer descarregar e se manifestar como fenômenos de assombração. Portanto, as chamadas assombrações ocorrem no lugar de uma neurose". Segundo eles, eliminadas as possibilidades de fraude, propuseram que fenômenos de poltergeist fossem explicados em termos de conflitos emocionais inconscientemente provocados por sujeitos com disposição "telecinética", uma visão que foi adotada por psicanalistas como Alfred von Winterstein e Nandor Fodor.

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Wolfgang Pauli
O interesse científico pelo fenômeno de poltergeist persistiu nos lugares mais improváveis. Membros do círculo positivista de Viena, tal como Rudolf Carnap e Hans Hahn (que se tornou vice presidente da sociedade Austríaca para pesquisa psíquica), seguiram com interesse os procedimentos experimentais de Schrenck-Notzing e suas investigações. O aluno mais célebre de Hahn, Kurt Gödel, também participou de sessões experimentais. O físico teórico Woflgang Pauli acreditava em uma conexão intrínseca entre a mente e a matéria, mesmo no nível macroscópico, e foi banido do laboratório de Hamburg pelo seu amigo Otto Stern que acreditava que a presença de Pauli causava danos nos equipamentos de laboratório. Pauli correspondeu-se extensivamente com Jung e, junto com fenômenos de poltergeist espontâneo e experimental, o "Efeito Pauli" auxiliou Jung no conceito de "sincronicidade". Pauli também se correspondeu com o psicólogo Hans Bender, que continuou a abordagem de sincronicidade psicodinâmica para com os fenômenos "ocultos" e investigou o chamado "caso Rosenheim". Tratou-se o fato de uma violenta manifestação de poltergeist em um escritório bávaro, considerado por parapsicólogos como o mais bem documentado  caso moderno de "psicocinese espontânea recorrente" (ou RSPK). Interessantemente,  o dicionário de Oxford (terceira edição, atualizada em setembro de 2006) ainda define "poltergeist" exclusivamente em termos de noções teológicas modernas como "um fantasma ou outro ser sobrenatural supostamente responsável por distúrbios físicos, tais como produção de ruídos ou lançamento de objetos". Essa definição estreita e não histórica obscurece bastante o pluralismo de abordagens empíricas e conceituais para "poltergeist" como uma abreviação para uma variedade de questionamentos relativos à mente humana, seu lugar na natureza, e, finalmente, ao poder da crença e da descrença. 

Este texto foi em parte baseado em minha palestra "Exorcising the ghost from the machine. Affect, emotion, and the enlightened naturalisation of the ‘poltergeist’" (Exorcizando o fantasma da máquina: abalos, emoções e a naturalização esclarecida do 'poltergeist'), proferida a 10 de Outubro de 2012 na conferência da Sociedade para a História Social da Medicina, a Universidade de Queen Mary, Londres.

Bibliografia Selecionada


Bender, Hans (1968). Der Rosenheimer Spuk – ein Fall spontaner Psychokinese. Zeitschrift für Parapsychologie und Grenzgebiete der Psychologie, 11, 104-112.

Bleuler, Eugen (1930). Vom Okkultismus und seinen Kritiken. Zeitschrift für Parapsychologie, 5, 654-680.

Carnap, Rudolf (1993). Mein Weg in die Philosophie. Stuttgart: Reclam (primeira edição em 1963).

du Prel, Carl (1888). Die monistische Seelenlehre. Ein Beitrag zur Lösung des Menschenrätsels. Leipzig: Ernst Günther.

Enz, Charles P. (2002). No Time to be Brief: A Scientific Biography of Wolfgang Pauli. New York: Oxford University Press.

Flammarion, Camille (1923). Les maisons hantées. Paris: Ernest Flammarion.

Gauld, Alan, & Cornell, A. D. (1979). Poltergeists. London: Routledge & Kegan Paul.

Hunter, Michael (1985). The problem of ‘atheism’ in early modern England.Transactions of the Royal Historical Society, 35, 135-157.

Jung, Carl Gustav (1950). Vorrede. In Fanny Moser, Spuk. Irrglaube oder Wahrglaube? Eine Frage der Menschheit (pp. 9-12). Baden: Gyr.

Kiesewetter, Carl (1890). Klopfgeister vor dem Jahre. 1848. Sphinx, 10, 224-232.

Lessing, Gotthold Ephraim (1827). Hamburgische Dramaturgie. Erster Theil. Elftes Stück. In Gotthold Ephraim Lessing’s sämmtliche Schriften (Vol. 24, pp. 82-88). Berlin: Vossische Buchhandlung (primeira edição de 1767).

Meier, C. A. (Ed.). (2001). Atom and Archetype: The Pauli/Jung Letters, 1932-1958. Princeton: Princeton University Press.

Myers, Frederic W. H. (1889). On recognised apparitions occurring more than a year after death. Proceedings of the Society for Psychical Research, 6, 13-65.

Perrault, François (1658). The Devil of Mascon. Or, A true Relation of the Chiefe Things which an Uncleane Spirit did, and said at Mascon in Burgundy, in the House of Mr Francis Pereaud, Minister of the Reformed Church in the same Towne. Oxford: Hen, Hall, Rich & Davis (originally published in 1653).

Porter, Roy (1999). Witchcraft and magic in Enlightenment, Romantic and liberal thought. In B. Ankarloo & S. Clark (Eds.), Witchcraft and Magic inEurope. The Eighteenth and Nineteenth Centuries (pp. 191-282). Philadelphia: University of Pennsylvania Press.

Schrenck-Notzing, Albert von (1928). Richtlinien zur Beurteilung medialer Spukvorgänge. Zeitschrift für Parapsychologie, 3, 513-521.

Shapin, Steven, & Schaffer, Simon (1985). Leviathan and the Air-Pump. Hobbes, Boyle and the Experimental Life. Princeton: Princeton University Press.

Winterstein, Alfred von (1926). Psychoanalytische Bemerkungen zum Thema Spuk. Zeitschrift für Parapsychologie, 1, 548-553.

18 de fevereiro de 2012

Vídeo V - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)

Saul e a vidente de Endor (1 Samuel 6 - 25). Quadro de D. Martynov (1826-1889). 

Primeiro fenômeno de Materialização completa.

Quarta parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de Tom Harrision. Nesta parte do vídeo é descrito o primeiro episódio de materialização integral no grupo em torno da médium Minnie Harrison.


Conteúdo (10'21")

00:55 Descrição do primeiro fenômeno de materialização ocorrido no grupo;
08:26 Sr. Jones toma o pulso de uma entidade materializada.

Outros Vídeos

22 de julho de 2011

Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitos físicos.


Em longa e silenciosa espera, de noite triste e sombria,
Minha alma clama em agonia ao Deus de Amor e Luz.
 
Que em minha hora de densa treva, seus Santos Emissários,
Trazendo luz e esperança, dêem a minh'alma o poder
De se elevar acima da sordidez terrena,
Tão cheia de disputas e preocupações,
A fim de que eu busque os raios da Eterna Existência.
 
Lá, onde o amor se encanta de felicidade, onde tudo é justo e brilhante,
Onde flores se enchem de doce perfume, numa existência sem noites,
Minha alma se levanta indômita, minha noite de angústias se esvai.
 
Oh, Deus de amor, Tu me conduz por celestes praias.
Meu coração chora de contentamento a Ti por todo seu Amor.
Em tuas mãos eu me coloco, meu Senhor, pois Tu atendeste a minha prece.
Recitado pelo Espírito de Tia Agg (foto), materializada em 21 de Julho de 1950, em resposta ao Sr. Brittain Jones - conforme explicado no livro 'Visitas de nossos amigos do outro lado', por T. Harrison (Para o poema original em inglê, ver nota 1, tradução de A. Xavier).

A recente onda de ceticismo, que se contrapõe a outra onda crescente de interesse por questões transcendentes, tratou de descrever como fraude o chamado 'caso' das Materializações de Uberaba. Com o tempo, mentiras inventadas faz bastante tempo (mais de 50 anos) para desqualificar o fenômeno se tornam facilmente 'verdades inquestionáveis' para muitos crentes céticos, que aumentam assim a estatística dos mal informados.

Como diria o filósofo George Berkeley, 'a verdade é o clamor de muitos, mas jogo para bem poucos'. As materializações de Otília Diogo não foram as únicas que ocorreram. Existiram muitas outras, fora do Brasil inclusive, envolvendo centenas ou talvez milhares de testemunhas. Obviamente, a maior parte da crítica e dos céticos ignoram tais casos. Muitas narrativas céticas do 'caso' Otília Diogo são feitas como se ele fosse um evento único e, por essa razão, profundamente suspeito.

Concordamos que não é facil acreditar nesses fenômenos. Eles são raríssimos e implicam em uma revisão radical em nossa maneira de ver o mundo, coisa que pouca gente está disposta a fazer. Entretanto, foge também à lógica e à razão - que tantos céticos e críticos afirmam seguir - classificar todas as pessoas que participaram desse fenômenos como ignorantes, iludidos, embusteiros ou farsantes.

Para ajudar na pesquisa e elucidação dos fenômenos de efeitos físicos, aqui apresentamos uma coletânea de obras espiritualistas - quase todas não traduzidas para o Português e, por isso, desconhecidas no Brasil - que relatam fenômenos de materializações, muitos deles com personalidades bem famosas. Essas obras são importantes não só para a pesquisa histórica, mas para a caracterização correta dos fenômenos (por exemplo, para se conhecer as condições de sua ocorrência, o que é crítico para se garantir sua reprodução futura). O que traduzimos abaixo foi tirado direto do site survivalebooks que tem se comprometido com a digitalização e disponibilização de tais obras.

Esperamos que essas obras possam incentivar o estudo e a reflexão no assunto.

Vislumbres do próximo estado - Vice almirante W. Usborne Moore
Uma investigação sobre fenômenos de efeitos físicos incluindo voz direta com as médiuns Cecil Husk, Etta Wriedt, médium de materialização Ben Jonson e as irmãs Bangs.
Não há morte – Florence Marryat.
Florence Marryat (1838-1899) foi uma atriz famosa em sua época que produziu mais de 90 peças. Editou a publicação mensal da ‘Sociedade Londrina’ e foi correspondente de vários jornais e revistas, além de atriz, cantora de opera e instrutora de jornalismo.


Em ‘Não há a Morte’, ela fornece um relatório completo de 15 anos de experiência com médiuns de materializações em ambos os lados do Atlântico, incluindo uma narrativa de sua experiência em ver sua filha Florence materializada logo após seu falecimento prematuro. 
Materializações – Harry Boddington
Descreve pesquisas e experiências do autor com fenômenos de materialização.
Gente do outro mundo – Henry S. Olcott
Henry S. Olcott, cofundador da Sociedade Teosófica, foi um advogado meticuloso e cientista agrário que aceitou o desafio de dois Jornais de Nova York para investigar as materializações de Espíritos produzidas pelos irmãos Eddy de Chittenden, Vermont/USA, em 1874. Ao longo de 16 semanas de investigação, Olcott testemunhou a materialização de mais de 400 Espíritos. Seus relatórios, como os de Sir. Willian Crookes, tiveram um grande impacto por todos os Estados Unidos e Europa. As observações e testes cuidadosos de Olcott foram consideradas as mais meticulosas e completas já realizadas desses fenômenos. 
Brochura de Camp Silver Belle – Lena Barnes Jefts
Um pequeno livrinho sobre mediunidade de efeitos físicos escrito por Lena Barnes Jefts, que integrou o grupo de Camp Silver Belle com o médium Ethel-Post Parrish. Esse grupo reuniu-se na cidade de Ephrata, Pensilvânia/USA, entre 1932 e 1961. A autora testemunhou formas materializadas de famosos pesquisadores como Charles Richet e Willian James.
A prova palpável da imortalidade – E. Sargent
Um relatório sobrre fenômenos de materialização com explanações sobre a relação desses com fatos de natureza teológica, moral e religiosa.
Rasgando o véu, Além do Véu, O Alvorecer de uma nova Existência e A Estrela Guia – Willian Aber
Uma série de livros escritos entre 1890 e 1903 em Spring Hill, Kansas/USA, contendo ditados diretos de formas espirituais completamente materializadas sob a mediunidade de Willian W. Aber. Dentre os mentores do time que se manifestaram em Spring Hill estavam o Prof. Willian Denton (que havia sido um espiritualista em vida), Dr. Reed, o pioneiro em física de fenômenos elétricos Michael Faraday, e um dos pais dos direitos humanos nos Estados Unidos, Thomas Paine
Aparições materializadas – E. A. Brackett
"A medida que examinava as paredes e tudo relacionado à cabine (onde ocorriam os fenômenos), não hesitava mais em afirmar que as formas que apareciam ou dela surgiam eram de seres materializados. Estive na cabine várias vezes durante as sessões com duas formas ao mesmo tempo. Uma vez, quando me sentei entre as duas, pude sentir sua realidade ao colocar meus braços ao redor delas, tanto quanto fiz isso ao caminhar com elas fora da sala. Enquanto segurava uma delas, aquela envolta pelo meu braço esquerdo e cujo braço direito estava ao redor de meu pescoço, desapareceu sem qualquer movimento aparente. Em um instante, ela lá estava e, depois, não mais. Ainda mantendo outra forma com meu braço direito, com minha mão esquerda puxei a cortina para o lado, de forma a poder ver tudo atrás dela. Não mais pude ver o mais leve traço do ser que tinha tão firmemente segurado momentos antes e com quem tinha conversado." Essa são palavras de E. A. Brackett e suas experiências em sessões com a médium Sra. Fairchild. 
Visitas de nossos amigos do outro lado – Tom Harrison

Formas completamente materializadas e outros tipos de fenômenos físicos são descritos por Tom Harrison, filho da médium de efeitos físicos Minnie Harrison. Há um vídeo no youtube que contem o relato em vida do Sr. Harrison sobre esses fenômenos que ele testemunhou com sua mãe na década de 1950. Um exemplo de poema ditado por um dos Espíritos materializados pelo grupo que participou T. Harrison pode ser visto no início deste post. Trata-se de uma comunicação ditada pelo Espírito materializado de sua tia 'Agg' (a foto traz uma imagem quando encarnada). Futuramente, traremos mais informações sobre esse caso no blog.
Provas sólidas da sobrevivência - Einer Nielsen (Islândia)
"Uma entidade feminina saiu da cabine e foi direto até ele dizendo 'Eu sou sua primeira esposa, Bertha, que você abandonou. Você nos deixou sozinhos, eu e minha filha.  Depois de grande sofrimento, faleci. Meu corpo está enterrado no cemitério de H., e nossa filha vive em estado de grande miséria em L. Tente encontrá-la e ajudá-la; dessa forma, você compensará o mal que nos causou.' Então ela se foi, desmaterializando-se no chão da sala." 
"Uma entidade alta saiu da cabine e disse que seu nome era John King. Parou na frente da primeira fileira formada pelos participantes da sessão, a mesma fileira onde eu estava, em posição mais distante. Sua cabeça estava descoberta, e à luz de uma lâmpada vermelha, podiamos ver sua face avermelhada e seu cabelo encaracolado escuro. Depois de se dirigir a alguns participantes da reunião, disse: 'Olhe para meu corpo, eu irei desmaterializar a parte inferior em baixo.' Tão logo disse isso, a parte inferior de seu corpo desapareceu, e a outra lá estava, suspensa no ar. Não sabia no que acreditar, pois eu era meio cético, mas então a entidade flutuou no ar na minha frente e disse distintamente: 'Está me vendo'?"
O Alvorecer da mente despertada - John S. King

Retrato de Hipátia de Alexandria materializada, feito pelo Dr. King 
em uma sessão com as irmãs Bangs em Chicago. (~1910)
"Questões e respostas dirigidas ao Espírito protetor do Dr. King, Hipátia de Alexandria (370-415A.C.), filósofa e matemática neo-platônica, considerada uma das mulheres mais inteligentes de sua época, brutalmente assassinada por uma seita de monges cristão fanáticos seguidores de Cirilo, por ensinar na época uma ciência que era considerada conhecimento pagão. Esse Espírito protetor, que se dizia filha de Teon, apareceu materializada, saindo da cabine  para a apreciação de todos os presentes. Palavras dificilmente podem ser encontradas para descrever a figura belíssima dessa materialização. Alta e de porte majestático, carregava jóias cintilando a cada movimento, Hipácia estava gloriosa." 
Fantasmas em forma sólida - Gambier Bolton
"Hipótese de trabalho: que sob condições determinadas e razoáveis de temperatura, luz, etc, entidades, existindo em uma esfera fora da nossa, podem se manifestar em corpos materiais temporários, oriundos de fonte desconhecida, até o presente momento, através da atuação de certas pessoas de ambos os sexos, chamados sensitivos, que se pode demonstrar a qualquer pessoa, que terá então as condições de comprovar tais afirmações. 
Quando tais fatos foram a mim apresentados, percebi que estava diante de um problema que exigiria a mais profunda investigação; e, então, decidi largar trabalhos de todos os tipos e dedicar anos, se necessário, ao exame crítico dessas afirmações... O resultado foi que aquilo que era aparentemente impossível foi demonstrado como possível, e eu aceito os fatos completamente, admitindo que nossa hipótese de trabalho foi demonstrada fora de qualquer dúvida, e que tais formas materializadas podem se manifestar a qualquer um, que terá, então, as condições necessárias para comprovar tais afirmações."
Byron, Estação a Estação - Coleen Owen Britt
"Numerosas formas materializadas apareceram e conversaram naquela noite, mas quando nosso filho Byron veio até nós, proferindo seu nome, nos beijando e dizendo que estava feliz, sentimos o primeiro alívio desde que ele havia nos deixado. Minha vida desde então tinha sido gasta em lágrimas e numa existência mórbida. Agora, podia até mesmo cantar, o que me era impossível desde que ele cantou sua última canção conosco."  
O autor descreve fenômenos de materialização obtidos com a médium Lula Taber, de St. Louis, Missouri/USA.
Onze dias em Moravia - Thomas R. Hazard
Relata experiências do autor com a médium de efeitos físicos Sra. Mary Andrews, na cidade de Moravia/USA. Nessa obra há interessantes descrições dos processo de geração de ectoplasma e de materialização em si.
Há outros livros em 'survivalebooks', alguns já conhecidos e com traduções para o português (como 'No País das Sombras' por Madame D´Esperance). Há outros com relatos e gravações de voz direta. Em oportunidade futura discutiremos essas obras, que fornecem material rico de comparação com outras obras conhecidas em países latinos.

É interessante observar que muitas idéia semelhantes foram desenvolvidas, assim como conclusões parecidas em culturas diferentes, mostrando que existem condições únicas - mas bem determinadas - para a ocorrência de todos esses fenômenos.

Notas

(1) Original em Inglês:

In the long and silent watches of the dark and dreary night,
My soul cries out in anguish to the God of Love and Light.

Send down Thy Holy Angels in this my darkest hour,
That they may give me Light and Hope and give my Soul the power
To rise above the sordidness of earthly cares and strife,

That I may look to brighter things in that Eternal Life —
Where Love is crowned with happiness, where all is fair and bright,
Where flowers bloom with sweet perfume and where there is no night.
My Soul arises unafraid, my night of sorrow o'er,

Oh God of Love, Thou leadest me towards that Heavenly shore.
My heart cries out with thanks to Thee for all Thy loving care
Into Thy hands Oh Lord I come— Thou answerest now MY PRAYER.