24 de agosto de 2011

Mensagem de Hermínio C. Miranda aos Pesquisadores que participaram do 7o ENLIHPE

Aos Estudantes e Participantes do 7.o encontro do LIHPE.

Meus jovens amigos e amigas de ontem, de hoje, de amanhã e de sempre:

Gostaria de estar pessoalmente aqui, para viver este momento com vocês. De certo modo, contudo, é bom que eu não esteja. Sou um sujeito emotivo e até a minha cardiopatia é tida pelos médicos como de natureza emocional. Como iria eu administrar minhas emoções, ao partilhá-las com vocês?

Alegra-me sobremodo ver vocês trabalhando na realização do impossível. Digo isto ao me  lembrar de Sir Winston Churchill, que costumava dizer mais ou menos assim: “Difícil é aquilo  que a gente pode fazer imediatamente. O impossível é que demora um pouco mais.”

As leis divinas me concederam generosamente, tempo para realizar algumas impossibilidades  pessoais, superando pretensos obstáculos e supostos limites, que misteriosamente  desmaterializavam-se e me deixavam passar. 

Foi assim que me tornei até um escritor. Imaginem só: eu, escritor!

Somente agora estou percebendo que os “impossíveis” começaram a acontecer, depois que tomei conhecimento da abençoada Doutrina dos Espíritos, nos idos de 1957. 

De algum tempo para cá passei a perceber algo singular. Ou seja: como é que a gente assiste em certo nível de indiferença ao doloroso espetáculo do estrangulamento do processo evolutivo da humanidade pelos implacáveis punhos do materialismo dominante? É claro que, no decorrer de tal ditadura ideológica, avançamos consideravelmente nas badaladas e sofisticadas conquistas tecnológicas. Mas, não é a esse aspecto que me refiro. Desejamos mais  do que isso, muito mais. E para toda a comunidade humana onde quer que ela esteja pelas dobras infinitas do espaço imenso. 

Será que não podemos mudar – pacificamente e sem dores, pelo amor de Deus! --os modelos  políticos, sociais, econômicos, religiosos e culturais? Claro que sim. Não apenas podemos, mas  devemos mudá-los.Temos de mudá-los. 

Vocês já estão trabalhando no projeto de reformatação do mundo em que vivemos e no qual,  viveremos ainda, não sei quantas vidas. Estão levando para o autorizado foro de debates do meio acadêmico, a desprezada realidade de que não somos meros corpos físicos perecíveis, mas espíritos imortais, pré-existentes, sobreviventes e reencarnantes.  Convém lembrar, ainda, que, ao separar didaticamente o território das coisas materiais, do  espaço reservado às imateriais, Mestre Aristóteles certamente não pretendeu demonizar a Metafísica. Quis apenas chamar a atenção para o fato de que esses vetores de conhecimento exigem abordagem e tratamento diferenciados e despreconceituosos de gente que se  disponha honestamente a aprender com os fatos.

Decorridos mais de dois milênios, ainda ouvimos dizer que os componentes metafísicos da  vida são, crendices e fantasias pré-científicas, indignas da atenção de intelectuais que se  prezam. O que desejamos é presença de gente qualificada que nos ouça e ajude a retirar o  estigma que pesa sobre realidade espiritual. O resto virá por acréscimo.   

Parodiando o ex-Presidente Kennedy, não aspiremos ao que mundo pode fazer por nós, mas ao que podemos fazer pelo mundo

Que Deus nos abençoe. E nos inspire sonhos como este, dado que, se não sonharmos, como é  que nossos sonhos vão se realizar?

Eis o singelo recado do velho escriba.

Hermínio C. Miranda

Agosto de 2011

22 de agosto de 2011

Sobre o 7o ENLIHPE (Agosto de 2011)

Tive a oportunidade de participar do último 'Encontro Nacional da Liga dos Historiadores e Pesquisadores de Espiritismo' e me vi cercado por uma atmosfera de seriedade e profundo interesse em estudar e fazer avançar a temática de estudos espíritas. Muitos poderiam se perguntar o que representaria essa iniciativa, já que 'Espiritismo' é francamente visto apenas como mais uma religião. Para o movimento espírita, os livros de Kardec e algumas obras consideradas fundamentais representam tudo o que o adepto deve procurar conhecer a respeito de sua doutrina. Para os críticos e céticos, é mais uma mania religiosa que provavelmente terminará algum dia.

O sucesso de encontros como o do ENLIHPE demonstram que qualquer que seja a impressão, venha ela de onde for, ela não corresponde à realidade. O Espiritismo, muito mais que um movimento religioso, fundamenta-se como uma maneira de raciocínio filosófico que tem amplas consequências para diversas áreas do conhecimento. É um empreendimento intelectual complexo, de muitas sutilezas, capaz de fornecer respostas que, muitas vezes, nem seus adeptos mais esclarecidos e, muito menos, seus críticos podem imaginar. Em primeiro lugar porque ele nasce a partir de eventos singulares na Natureza, muitas vezes considerados 'insólitos', mas que perdem seu caráter de anormalidade, uma vez que os postulados espíritas sejam compreendidos de forma correta, sem serem exagerados ou desprezados. Depois, porque os princípios espíritas, uma vez admitidos, têm alcance e validade que apenas começamos a vislumbrar. Isso ocorre com toda nova ciência ou novo conhecimento, pois é muito difícil aos pioneiros prever as consequências de um conhecimento genuíno a longo prazo. 

No meu entender, embora se possa professar o ponto de vista de que o lugar onde se deve fazer avançar o conhecimento espírita seja o centro espírita e não a Universidade, ou, segundo outros, que a Universidade representa esse ambiente, associações como o ENLIHPE surgem como entrepostos avançados onde é possível discutir a temática espírita com liberdade, sem a pretensão de se desviar a arena verdadeira onde esse conhecimento se desenvolve. Na verdade, onde deve o conhecimento nascer? Parece-nos que ele pode nascer em qualquer lugar e a partir de qualquer indivíduo que tenha diante de si a chave para resolver um determinado problema. Para isso é preciso ter competência e conhecimento, além de recursos adequados para se fazer avançar o conhecimento. 

O ENLHIPE é uma iniciativa desse tipo que, infelizmente, ainda não parece ter recebido a devida atenção do movimento espírita. Sua maior vantagem é agregar pessoas com interesses comuns, em que pese a ampla gama de disciplinas que contribuem na realização dos estudos. Entretanto, mesmo essa característica é um ponto favorável, já que ela permite o intercâmbio de ideias entre pesquisadores de várias áreas de conhecimento.

Alguns exemplos

Na edição deste ano (2011), muito me impressionou saber que psicólogos e psiquiatras debruçam-se sobre o problema dos gêmeos siameses ou pessoas que nascem irremediavelmente conectadas de forma vital e que permanecem assim por toda uma existência. Reza o conhecimento contemporâneo sobre o desenvolvimento da personalidade humana, que ela é formada pela contribuição de fatores genéticos e de influências do ambiente. Entretanto, como explicar que gêmeos siameses idênticos, tendo permanecidos conectados fisicamente por toda uma existência apresentem diferenças marcantes em suas personalidades? O psicólogo clínico Júlio Peres expôs esse problema durante o evento. Tal evidência demonstra a preexistência da personalidade humana, não depois da chamada 'morte' mas antes do que chamamos 'vida' ou nascimento.

A comunicação de projeto de Nadia Luz: "Simetrias Históricas: o conceito teórico e a prática na metodologia de Hermínio Miranda", também me impressionou bastante. Trata-se possivelmente de uma contribuição importante aos desenvolvimentos e estudos em historiografia utilizando um conceito que pode ser validado no futuro, à medida que identificações de personalidades em múltiplas existências tornarem-se mais frequentes. O trabalho de Nadia Luz, baseado em uma contribuição de Hermínio Miranda, parece revelar mais um tipo de simetria, daqueles que são tão frequentes na Natureza que, realmente, gosta bastante de simetrias. Elas nos permitem descrever o que está 'do outro lado', no caso, revelar o passado oculto de uma personalidade, baseado nos registros dos acontecimentos mais recentes de sua vida. A tese das simetrias que se apresenta como uma conjectura tem assim a vantagem de ser testável. 

Em uma era de incertezas e contestações, de quebras de paradigmas e recrudescimento de dúvidas, iniciativas como o ENLHIPE são muito bem vindas.

Para mais informações, consulte o site do CCDPE-ECM.

21 de agosto de 2011

Lançamento de Livro no 7o ENLIHPE


O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais. Textos selecionados.

Sumário

  1. Introdução
  2. Uma análise espírita da obra "A Física da Alma" de Amit Goswami
  3. Conjectura e proposta esperimental para detecção de movimentos de fluidos nas cercanias de médiuns de efeitos físicos;
  4. As narrativas de vida nas rodas de conversas com mulheres na educação de aldultos: um lugar privilegiado de produção de saber na perspectiva espírita;
  5. Espiritismo e engajamento político;
  6. Diálogos e ritmos: em busca de uma ideia de sujeito (na perspectiva espírita) no trabalho com juventudes;
  7. Investigando relações entre voluntariado e contexto sociocultural numa instituição espírita: Contribuições da Fenomenologia;
  8. O Espiritismo em teses e dissertações: um mapeamento da produção acadêmica brasileira;
  9. O Espiritismo na Mídia: uma análise de conteúdo na maior revista semanal do Brasil de 1968 a 2010;
  10. Memória de uma jornada.
Detalhes

Autores: Ademir Xavier, Aldenora Guedes, Alexandre Fontes da Fonseca, Ângela Linhares, Benedito Dagno Moreira, Francisco Antonio Barbosa Vidal, Gardner Arrais, Josael Jario Santos Lima, Kátia Penteado, Marco Antonio F. Milani Filho, Miguel Mahfound, Sinuê Neckell Miguel, Tiago Paz e Albuquerque, Yuri Elias Gaspar.

Organizadores: Jeferson Betarello e Jáder dos Reis Sampaio.

Editora: UNIFRAN / CCDPE-ECM
Ano de Edição: 2011

Para adquirir a obra, consulte o site do CCDPE.

11 de agosto de 2011

Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos. I/2

A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo e tudo querem explicar a seu modo, dará nascimento a opiniões dissidentes. Mas, todos os que tiverem em vista o grande princípio de Jesus se confundirão num só sentimento: o do amor do bem e se unirão por um laço fraterno, que prenderá o mundo inteiro. Estes deixarão de lado as miseráveis questões de palavras, para só se ocuparem com o que é essencial. E a doutrina será sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos os que receberem comunicações de Espíritos superiores."O Livro dos Espíritos. [1], Prolegômenos.

Versão modificada de um original publicado no Boletim do GEAE, Ano 08 - Número 367 - 1999.

1 - Introdução


Todos aqueles que já tiveram a oportunidade de entrar em contato com conceitos espíritas dificilmente deixaram de se perguntar quanto à natureza e a validade de muitas das informações trazidas pelos mensageiros espirituais. Nesse sentido, é relevante se perguntar quanto aos critérios de aceitação dos ensinos espíritas, sobre como deve ser nossa postura diante da propagação, divulgação e grau de validade desses ensinos. Será que um determinado conceito deve ser aceito absolutamente, sem exame algum, com exclusão daqueles que por ventura possam discordar dele? Será que, por outro lado, devemos sempre manter uma postura reticenciosa, como que eternamente aguardando uma última palavra ou, o que seria ainda mais restrito, considerar tais ensinos como meras figuras passadas pelos Espíritos na impossibilidade de nós, os encarnados, estarmos longe de mais do que seria a verdade? Como se dá o consenso com relação a um determinado ensino? Tais questionamentos podem parecer supérfluos a uma mente excessivamente prática, mas estão provavelmente na raiz de grandes males que afetaram a humanidade. 

Cabeça representando o Imperador Constantino.
Sem dúvida, diversos estudos foram feitos desde os primórdios do desenvolvimento da doutrina com Allan Kardec em torno da validade e aceitação das teses do Espiritismo. No momento histórico da codificação, diante da exuberância dos fenômenos espíritas (a aparecerem espontaneamente em muitas instâncias simultaneamente), Allan Kardec chegou à formulação do critério da concordância universal dos ensinos dos Espíritos. Em termos resumidos tratava-se da aceitação de uma determinada tese (em sua maioria relacionada aos princípios básicos) quando apoiada maciçamente pelos Espíritos através de diferentes médiuns nos mais variados lugares. Voltaremos a esse ponto na Parte 3 deste artigo. Essa ideia lembra vagamente os critérios de aceitação de conceitos e teorias dentro das universidades e institutos de pesquisa científica. Não seria o caso de uma certa ideia ser aceita quando apoiada igualmente por uma variedade de departamentos científicos após, muitas vezes, difíceis e laboriosas experimentações? O mesmo se daria com os princípios espíritas, já que as fontes desses são os Espíritos por meio dos médiuns. A comparação não pode ser estendida indiscriminadamente pois não segue daí que toda ideia espírita deva sempre ser sancionada pelo critério da concordância universal da mesma forma que a aceitação de uma certos pontos de uma teoria científica não precisa ser sancionada por um grande número de laboratórios. Isto, porém, é apenas um ponto de semelhança entre os critérios de aceitação de teses no Espiritismo e a a aceitação de princípios na ciência comum. A aceitação dos princípios espíritas está baseada também no selo de racionalidade e coerência que ele empresta à sua visão do universo, algo muito em comum com as teorias das diversas ciências que estudam a matéria e suas manifestações. 

Pretendemos aqui enfatizar que tais desenvolvimentos colocam o Espiritismo em uma posição ímpar no cenário das religiões atuais. Para esse fim, é muito interessante recorrermos à história com o intuito de conhecer melhor como eram aceitos e avaliadas as verdades pelos povos antigos. Analisando especificamente a história das religiões (para o mais perto possível do que seria o objeto de estudo do Espiritismo), constatamos o quão difícil e as vezes sanguinolenta pode ser a disputa pela aceitação das ideias religiosas. No caso específico da religião católica - com a qual nos encontramos mais próximos culturalmente - é nítida essa dificuldade. Observando a história da Igreja, vemos como foi constante o interesse do Plano Maior na libertação e engrandecimento da Igreja que, amiúde, se via a braços com discussões muitas vezes estéreis e sem interesse para as sociedades onde floresceram as organizações católicas. A grande consequência prática desses debates culminava, muitas vezes, com a morte deliberada de tantos outros que chegaram perto demais da "heresia". Ficou famosa, por exemplo, a chamada controvérsia ariana no começo do Cristianismo. Do historiador católico Eamon Duffy [2] colhemos o seguinte relato: 
"A consternação de Constantino em face das divisões dos cristãos norte-africanos haveria de redobrar quando, tendo deposto Licínio, o imperador pagão rival no Oriente, ele se mudou para sua nova capital cristã a 'Nova Roma', Constantinopla. Pois as divisões da África nada eram em comparação com a profunda fissura na imaginação cristã que se abrira, no Leste, por iniciativa de Ário, um presbítero de Alexandria famoso por sua austeridade pessoal e pela popularidade entre as freiras da cidade. Ário fora afastado pelo bispo local por pregar que o 'Logos', a Palavra de Deus que em Jesus se fizera carne, não era o próprio Deus, mas uma criatura infinitamente superior aos anjos, embora como eles criada do nada antes do começo do mundo. Ele via em tal ensinamento um meio de conciliar a doutrina cristã da Encarnação com a fé igualmente fundamental na unidade divina. Na verdade, essa idéia privava o cristianismo de sua afirmação central segundo a qual a vida e morte de Jesus tinham o poder de redimir, pois eram ações do próprio Deus. Contudo, as verdadeiras implicações do arianismo não foram compreendidas de pronto, e Ário conseguiu amplo apoio. Mestre de propaganda, angariou a simpatia popular compondo canções teológicas para serem cantadas por marinheiros e estivadores nas docas de Alexandria. Escapando aos salões eruditos, o debate teológico irrompeu nas tavernas e nos bares do Mediterrâneo oriental.''

Como foi resolveu o problema de Ário? Na verdade não houve uma solução definitiva. Na época a solução se materializou no concílio de Nicéia (em 325), convocado pelo imperador. Ainda segundo Duffy: 
"Nicéia foi o começo, não o fim da controvérsia ariana. A derrota dos adeptos de Ário havia sido imposta por um imperador decidido a resolver rapidamente as coisas. Eles foram silenciados, não persuadidos, e, terminado o concílio, reagruparam-se para contra atacar." 
É fato conhecido de todos que Constantino considerava a emergente fé cristã uma poderosa força de aglutinação do império romano que estava prestes a desmoronar. Por isso ele via com angústia o debate teológico infindável e, por razões práticas, resolveu impor uma solução. A tradição católica (isto é, a convergência da opinião do clero e do laicato crente em torno da interpretação de certos pontos evangélicos a se materializarem como dogmas) foi, portanto, uma lenta e encarniçada construção que se desenvolve até hoje, onde muitas vezes o interesse político e econômico ditou uma clara delimitação entre o que seria a verdade e a heresia. Não foram poucos os movimentos de renovação católicos e de "reforma" (mesmo antes dos protestantes no Século XVI) e, na Idade Média, foram considerados grandes os papas que se dedicaram vivamente a eles [2]. Os que se admiram de semelhantes movimentos na atualidade apenas desconhecem a milenar história da Igreja. Como eram, entretanto, tomadas as decisões em matéria de fé? Onde deveria estar a verdade quando dois partidos rivais se insuflavam defendendo cada um sua própria opinião? Esta era decidida oficialmente e com esperanças para sempre seja a portas fechadas, seja pela aclamação popular, pelo voto dos bispos (concilium) ou pela vontade do papa. Na prática a Igreja se viu obrigada a revisar constantemente seus pontos de vista sobre conceitos marginais ou centrais à fé católica. É importante ter em mente que a construção de toda Doutrina Católica (e o aparecimento dos movimentos de reforma) se guiou em muito pela necessária manutenção da "pureza doutrinária" da crença em Cristo. Não foi senão em função da sustentação de tal pureza que se ergueram os tribunais eclesiásticos [2] (Inquisição) por Gregório IX em 1231. Nesse sentido, a Igreja de Roma adquiriu sua fama ao longo do tempo por ter se propagandeado livre da heresia (principalmente diante do cisma com a Igreja grega) e guardiã "da fé dos Apóstolos".

2 - Exemplo da Astronomia.

Compreende-se que na nossa vida comum estamos diante de situações que exigem uma posição prática diante dos fatos. Quando alguém diz: "fulano é casado mas tem uma amante mais velha", em geral, a primeira atitude não é a de formulação de teorias que justifiquem ou não a aceitação dessa "verdade". Porque a verificação dela é coisa tão ordinária quanto o próprio fato, sua aceitação é muito simples. Não se dá o mesmo, porém, com certas noções e concepções do mundo que nos cerca. Muito menos com aquelas que dizem respeito à Doutrina Espírita. Mais uma vez recorremos a exemplos simples da ciência. A afirmação "a Terra gira com movimento circular em torno do Sol" parece, se aplicarmos o critério de aceitação vulgar, uma afirmação livre de ambiguidades.

Sistema Ptolomaico, com a Terra no centro do Universo. (~200).
Nossas mentes formam instantaneamente uma ideia perfeitamente clara de seu significado. Por mais incrível que pareça, no entanto, sua validade não pode ser inferida da mesma forma como no exemplo de frase anterior. Ela não era nem um pouco válida aos povos antigos, porque não era bem isso que eles constatavam quando viam o Sol se levantar e se por todos os dias, em aparente movimento circular ao redor da Terra. Ela foi a própria expressão da verdade para Nicolau Copérnico (1540) na sua nova formulação do sistema do Mundo. Para ele, a Terra sim girava circularmente em torno do Sol.
Sistema Copernicano (1540) com o Sol no centro do sistema solar.
Ela deixou de ter validade para astrônomos posteriores, em particular Johannes Kepler (1630) que descobriu que o movimento, de fato, não era circular mas sim elíptico "com o Sol ocupando um dos focos da elipse".
Imagem do Universo revelada por J. Kepler (1630). Os planetas descrevem elipses com o sol ocupando um dos focos.
Essa última conclusão de Kepler deixou de ser válida com Isaac Newton (1670) e sua teoria da gravitação universal. Para Newton (assim como para toda mecânica clássica que ele fundou), o movimento só seria elíptico se no Universo somente o Sol e a Terra existissem. Desde que há outros corpos (não podemos nos esquecer da Lua) o movimento passa a ser "perturbado". Muito aproximadamente a Terra giraria descrevendo uma "roseta" ao redor do Sol por causa do "movimento de precessão dos ápsides" da órbita descrita por ela. Em termos exatos se, porém, no Universo, existisse mais um corpo além da Terra e do Sol, o movimento daquela jamais seria descrito de uma maneira simples.
Perturbação exercida por um terceiro corpo deforma a trajetória elíptica (1670).
Mais uma vez, porém, essa afirmação deixou de ser válida para Albert Einstein (1905), que descobriu efeitos "relativísticos" não desprezíveis.

Para Einstein, ainda que não existisse nenhum outro corpo no Universo mas somente a Terra e o Sol, ainda assim o movimento seria o de uma roseta com uma precessão dos apsides extremamente lenta para a Terra. A existência de outros corpos não alteraria muito a descrição de Newton, embora o movimento se tornasse ainda mais complexo. Tal exemplo nos mostra o quão difícil é a descrição da "verdade" relacionada ao objeto de pesquisa da ciência ordinária, a matéria. A lição que se tira não é a de que certa concepção anterior tenha deixado de ser válida (decretada como "herética" na visão por dogmas) . Ao contrário, as construções científicas presentes fundamentam-se explicitamente naquelas do passado. Para nós a memória dos antigos astrônomos deve ser tão venerável quanto a dos mais recentes. Mesmo hoje em dia, se quisermos construir um relógio do Sol por exemplo, podemos perfeitamente usar os conceitos antigos que consideravam o Sol como girando em torno do Terra. Existe erro nisso? Diante de nossa presumível ignorância com relação às questões ainda abertas nas ciências, estamos certamente tão perto da verdade quanto eles. A verificação desse fato não pode ser motivo porém para escândalos, nem para um descrédito para com as ciências. O que se faz necessário é, pois, uma nova concepção de aceitação da verdade, bem como critérios de compreensão das explicações científicas. A chave que permite essa nova compreensão pode ser conseguida estudando-se um pouco a história das ciências assim como os mecanismos pelos quais as concepções científicas surgiram e têm operado [3].

Precessão da órbita elíptica de acordo com a Relatitividade Geral (1905).

As teorias científicas representam as construções de raciocínio onde essas concepções científicas se estabelecem. Não é senão pelo fato de tais conceitos estarem harmonicamente integrados às teorias que sua aceitação torna-se válida. Além disso, as teorias devem fornecer uma visão consistente do Universo onde tal fenômeno ocorre. Isso implica não só em explicar aquele fenômeno particular, mas também possíveis efeitos a ele correlacionados. Uma excelente teoria deve além disso fornecer as bases para a previsão de fenômenos desconhecidos. Portanto, não é a autoridade de um ou de outro cientista que fundamenta a ortodoxia nas ciências (com sentido muito diferente daquele usado pelas religiões clássicas). Nunca a verdade científica haverá de ser decidida em reuniões a portas fechadas, pela deliberação de conselhos ou organizações ou baseando-se no palpite dos cientistas mais notáveis. É verdade que a opinião de um grande cientista a favor de certa teoria particular pode pesar muito na orientação das pesquisas futuras, mas tal opinião nunca constituirá a teoria

No próximo post, utilizaremos essas lições para tratar do assunto principal do artigo.

Todas as referências serão apresentadas no último post.

2 de agosto de 2011

7º ENCONTRO NACIONAL DA LIGA DE PESQUISADORES DO ESPIRITISMO - ENLIHPE

“Espiritismo e ciência: objetos, fronteiras e métodos de investigação”
20 e 21 de agosto de 2011 - início às 8 horas

Apresentação

O grande êxito alcançado com as edições do Encontro da Liga de  Pesquisadores do Espiritismo* reforçou o propósito de seus integrantes e colaboradores em promover anualmente este evento científico.  O encontro é um espaço privilegiado para apresentação e discussão de conhecimentos na área e tem contado com a participação de pesquisadores de todas as regiões do país, interessados na divulgação e avaliação dos seus estudos científicos.
Até a edição de 2009, o evento se denominava Encontro da Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas. Em 2010 o evento passou a se denominar Encontro da Liga de Pesquisadores do Espiritismo, mantendo-se a sigla Enlihpe.
Objetivo

Promover o debate de ideias inovadoras sobre a teoria e a prática espírita, além de incentivar a publicação e debate de trabalhos acadêmicos voltados à temática de fronteira com o Espiritismo. Os trabalhos estão relacionados à temática espírita em diferentes áreas do conhecimento. Alguns dos livros que serão lançados durante o evento: 
  • O Espiritismo visto pelas áreas de Conhecimento atuais – textos selecionados do 6° ENLIPHE
  • O Movimento Espírita Pelotense - e suas raízes sócio-históricas e culturais, de Marcelo Freitas Gil - dissertação de Mestrado;
  • A História Viva do Espiritismo - Instituições espíritas centenárias em funcionamento, Washington Luiz Nogueira Fernandes; 
  • Diálogo com os Céticos, de Alfred Russel Wallace – tradução de Jáder dos Reis Sampaio
Presenças confirmadas:  Jáder Sampaio, Marco Milani, Júlio Prieto Peres, Ademir Xavier, Cléria Bueno, Jeferson Betarello, Washington Nogueira Fernandes.

Proposta que consta no livro a ser lançado "O Espiritismo visto pelas áreas de Conhecimento atuais – textos selecionados" do 6° ENLIPHE.

Conjectura e proposta experimental para detecção 
de movimentos de fluidos nas cercanias de médiuns de efeitos físicos

Ademir Xavier 
eradoespirito.blogspot.com 

Resumo 
A palavra “Espírito” deriva do latim “spiritus” que significa sopro. Não seria a origem dessa palavra ligada a constatações antiquíssimas de movimento de objetos, provocados por médiuns de efeitos físicos, sob influências de Espíritos, mas por analogia com a ação intempestiva dos ventos? Temos aqui um paralelo que não pode ser meramente acidental. Em princípio, o comportamento dos fluidos físicos e suas propriedades dinâmicas é objeto de estudo da fluidodinâmica. Neste trabalho reunimos argumentos físicos a fim de propor uma conjectura testável e um arranjo experimental capaz de evidenciar modificações no estado termodinâmico do ar que cerca um médium de efeitos físicos.


Acompanhamento do evento

Nos últimos eventos do ENLIHPE as apresentações foram gravadas e estão disponíveis no site da Videolog:

http://www.videolog .tv/video. php?id=584621

ou

http://www.espiritualidades.com.br/index.htm

Para este ano, espera-se contar com a mesma cobertura.

Local e Inscrições

Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do
Espiritismo Eduardo Carvalho Monteiro, Alameda dos Guaiases, 16 - Planalto Paulista, São Paulo-SP (veja mapa e lista de hotéis no site: www.ccdpe.org.br)

Inscrições e informações pelo e-mail: 7enlihpe-inscricao@ccdpe.org.br

Apoio: UEM, Correio Fraterno, USE, Unifran, Versatil DVD, LEP