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7 de maio de 2023

Diferença entre mediunidade e obsessão

A visão no poço dos mártires por G. Henry Boughton (1833-1905)

Uma questão que pode surgir nos estudos de Espiritismo é sobre a semelhança entre mediunidade e obsessão. Afinal, não são ambas resultado da ação dos Espíritos ? Os conceitos não seriam baseados em um mesmo mecanismo mais fundamental? Não é a mediunidade um estado patológico da mente sobre o qual a obsessão também se explica? Tais questões merecem meditação mais profunda como objetivo de se formular respostas.

Especialistas no assunto reconhecem as dificuldades nesses conceitos. Em seu livro Mediunidade: um ensaio clínico [1], o Dr. Nubor Facure pondera (p. 13):

Doença é uma perturbação no bem-estar físico, psíquico, social e espiritual do indivíduo. Sendo assim, pode-se, como máximo de cuidado ético e respeito ao médium, considerar que certas manifestações clínicas da mediunidade podem ser consideradas como "doença", especialmente naqueles momentos em que sua presença perturba o indivíduo na sua homeostase física e psíquica.

É um ponto de vista que reflete a visão médica: doença é tudo aquilo que pode "perturbar o indivíduo em sua homeostase física e psíquica". 

Entretanto, pode-se argumentar que essa definição leva a se considerar como doença qualquer coisa que perturbe um índivíduo como causa. Assim, alguém abalado em sua saúde com excesso de trabalho, por exemplo, poderia acreditar que trabalho é doença. Portanto, as dificuldades em se lidar com a mediunidade nas suas fases iniciais podem perturbar o indivíduo, sem que isso implique em considerá-la como doença em si.

Segundo Kardec

A palavra "médium" tem uma acepção clara segundo Kardec [2] (Vocabulário Espírita):

MÉDIUM. (do latim, medium, meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens.

E a mediunidade é a faculdade dos médiuns. Quanto à obsessão, ela está definida, p. ex., em várias partes das obras de Kardec. Por exemplo em [1], Parágrafo 237 (Capítulo 23, "Da Obsessão")

...a obsessão, isto é, o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. 

Também encontramos definições semelhantes com, p. ex., no Parágrafo 70 (Capítulo 2,  "Escolhos da mediunidade"):

Um dos maiores escolhos da mediunidade é a obsessão, isto é, o domínio que certos Espíritos podem exercer sobre os médiuns, impondo-se-lhes sob nomes apócrifos e impedindo que se comuniquem com outros Espíritos.

Observamos que a interferência entre os dois fenômenos já transparecia a Kardec que estudou a obsessão como uma perturbação ao fenômeno mediúnico.

É importante considerar que a mediunidade se caracteriza como um processo de comunicação. No fenômeno obsessivo (no contexto mediúnico), seu objetivo não é simplesmente comunicar algo, mas agir sobre o médium de maneira a prejudicar a ele e a todos os que dele se servem. Na obsessão, o canal (não só o médium, mas também a linguagem) se transforma em um instrumento para realização de atos em prejuízo ao círculo mediúnico.

Obsessão fora da mediunidade na acepção restrita.

Entretanto, a obsessão também age sobre pessoas que não podemos considerar, em tese, "médiuns". Desde a mais sutil fascinação, até os últimos graus de possessão (conforme as definições que podemos encontrar em [1]), o sujeito obsediado não está na posse completa de suas faculdades cognitivas. Poderíamos caracterizar esse estado de coisas como um fenômeno mediúnico?

Em parte a confusão se deve a distinção entre possíveis significados dados à palavra mediunidade conforme podemos ler em [3] (grifos nossos):

Quando analisamos um texto ou um discurso onde o termo médium aparece, é importante reconhecer em qual desses sentidos está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e discussões sem fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação feita no parágrafo 159 de O Livro dos Médiuns de que “todos [os homens] são quase médiuns” deverá ser entendida apenas na acepção ampla do termo, pois sabemos, pela questão 459 de O Livro dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos em grave equívoco se concluirmos daí que todos somos mais ou menos médiuns no sentido restrito e usual da palavra, ou seja, se julgarmos que todos podemos produzir manifestações ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os efeitos físicos etc.

Dessa forma, a existência de possível generalização semântica do termo mediunidade (a acepção ampla) pode levar a conclusões precipitadas se misturada à concepção mais restrita dada acima por Kardec.

Entretanto, essa distinção no nível da linguagem não resolve o problema que nos preocupa aqui. Ele se liga à provável origem comum que ambos os efeitos (mediunidade e obsessão) podem ter.  É por essa razão que o Dr. Nubor Facure pondera [1] (p. 14, grifos nossos):

As doenças mentais são fragilidades a alma e, por isso, facilitadoras da atuação compartilhada de Espíritos, e escancaram as portas para a obsessão. Esses Espíritos são irmãos nossos comprometidos com a ignorância, quase sempre perturbadores, querelentes e exigents de direitos que cobram do paciente perturbado mentalmente. Esse quadro, extremamente comum, constitui uma associação clínica simbiótica de muita gravidade. Acredito que na esquizofrenia, na bipolaridade e nas paranoias diversas, ocorre uma frequente troca ambivalente entre o orgânico e o espiritual. A associação entre a doença mental e uma perturbação espiritual é, a meu ver, a regra na psicopatologia humana.

No fenômeno obsessivo puro ocorre assim uma simbiose entre os dois mundos que correm paralelos. Nesse fenômeno, não é objetivo principal a comunicação, mas uma influência nociva sobre o Espírito do doente. Uma explicação mais completa sobre os paralelos entre obsessão e mediunidade passa necessariamente por uma teoria neurológica da mediunidade. Algumas sugestões interessantes são dadas por N. Facure na obra que aqui citamos.

Fig. 1 Algumas áreas do cérebro. Segundo o Dr. N. Facure, há uma relação íntima entre o tipo de mediunidade e a área do cérebro do médium provavelmente responsável por sua intermediação. Imagem: Wikipedia.

De forma muito sucinta, na proposta de Facure, existe uma grande dependência do fenômeno mediúnico - principalmente se de efeito intelectual - com o cérebro. Essa dependência é tão grande a ponto de ser talvez possível mapear tipos de mediundidade conforme áreas no cérebro especializadas pela manfestação da consciência. Por exemplo, no chamado "lóbulo frontal" (Fig. 1), vias neurais por onde trafegam as informações destinadas às funções superiores da cognição, a incidência da mediunidade é responsável por fenômenos comunicativos mais elevados (psicografia, psicofonia etc) [4]:

Pelo exposto, podemos compreender que fenômenos como a psicografia, a vidência, a audiência e a fala mediúnica, devem implicar uma participação do córtex do médium já que aqui se situam áreas para a escrita, a visão, a audição e a fala.

Em outras regiões do cérebro - onde estão os circuitos ligados às manifestações mais primitivas e ligadas às sensações - eventual incidência da faculdade pode levar a outros tipos de fenômenos. Por exemplo, o médium sentir as mesmas sensações do Espírito que dele se aproxima. É o que descreve N. Facure com relação ao Tálamo, uma estrutura localizada no chamado "diencéfalo", uma estrutura localizada na base do cérebro [4]:

É possível que muitas das sensações somáticas referidas pelos médiuns, que dizem perceber a aproximação de entidades espirituais, como se estes lhes estivessem tocando o corpo, seja efeito de estímulos talâmicos.

Nesse caso, pela ação do córtex do médium os estímulos espirituais podem ser facilitados ou inibidos pela aceitação ou pela desatenção do médium, bem como por efeito de estados emocionais não disciplinados pelo médium.

Podemos especular que, por não terem carácter comunicativo, tais vias não conscientes podem se manifestar como fenômenos obsessivos. 

Para que o leitor possa fazer uma ideia mais justa do impacto e relevância dessa teoria, consideremos, por exemplo, o que a ciência descreve com as áreas do cérebro responsáveis pela sexualidade [5]:

O comportamento sexual é regulado por estruturas subcorticais, como o hipotálamo, tronco cerebral e medula espinhal, e várias áreas cerebrais corticais que atuam como uma orquestra para ajustar com precisão esse comportamento primitivo, complexo e versátil. No nível central, os sistemas dopaminérgicos e serotoninérgicos parecem desempenhar um papel significativo em vários fatores da resposta sexual, embora os sistemas adrenérgicos, colinérgicos e outros transmissores de neuropeptídeos também possam contribuir.

Agora, imaginemos que tais circuitos sejam em parte afetados pela mediunidade em certo grau, a ponto de se tornar um fenômeno obsessivo. Se esse é o caso, quantas pessoas no mundo, portadoras de distúrbios sexuais ainda pouco compreendidos (citamos, por exemplo, a Pedofilia mas poderíamos falar em inúmeras parafilias) não poderiam estar de fato sob influência obsessiva ? Quantas, consideradas incuráveis, não poderiam se beneficiar de um tratamento que considerasse os aspectos espirituais envolvidos? 

O assunto assim é de imensa importância para a Humanidade. 

Referências

[1] N. Facure (2014). Mediunidade, um ensaio clínico. Ed. Allan Kardec. Campinas, SP.

[2] A. Kardec (1944).O Livro dos Médiuns. 58a Edição. Ed. FEB. Tradução Guillon Ribeiro.

[3] S.S. Chibeni e C. S. Chibeni. Estudo sobre mediunidade. Reformador de agosto de 1997, pp. 240-43 e 253-55. Federação Espírita Brasileira. Uma versão acessível deste trabalho pode ser lido em: 

[4] N. Facure. Neurofisiologia da mediunidade. Link:

[5] S. Calabrò et al (2019). Neuroanatomy and function of human sexual behavior: A neglected or unknown issue?. Brain and Behavior, v. 9, n. 12, p. e01389. Link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/brb3.1389 


1 de janeiro de 2020

O que a neurologia tem para ensinar aos médiuns? (Dr. Nubor Facure)

Interessante texto do Dr. Nubor Facure, explorando algumas possíveis conexões entre a neurologia, o sentido da visão e uma aplicação avançada para a vidência mediúnica. 

A visão

O nosso olhar é uma das propriedades mais ativas do cérebro. Nós mobilizamos dois terços (ou quase 70%) do córtex cerebral quando estamos olhando para uma criança correndo. Existem 30 áreas cerebrais que estarão atuantes nessa visão trabalhando seus detalhes. Precisamos saber quem é, sua localização, com que velocidade se locomove, para onde se dirige, que roupa usa, suas cores, o risco que corre, o parentesco que tem conosco, se vem até nós para dizer alguma coisa e se precisamos abrir os braços para abraçá-la ou acudir em um perigo de queda.

Nosso registro visual não é do tipo fotográfico, ele é interpretativo, constrói uma paisagem com aquilo que vê. O que vemos cria uma “representação” do que “pensamos” estar vendo. Disso decorre que, mais de noventa por cento dessa atividade se processa na mente, e é isso que permite que cada um veja conforme lhe pareça e não como a coisa é.

Por que vemos?

Só há visão humana com a luz. Tudo começa com uma onda de energia vibratória que atinge nossa retina refletindo nela a imagem dos objetos. Aqui a luz atua sobre cones e bastonetes produzindo milhares de combinações em branco e preto ou coloridas, numa mistura de três cores fundamentais: vermelho, verde e azul – a cor é quase um milagre, e é bom saber que ela existe em nós e não nos objetos.

Quando a energia luminosa é convertida em impulso nervoso ele percorre o cérebro produzindo uma serie de outros fenômenos que vão nos permitir “qualificar” o que vemos dando-lhes propriedades:

A mansidão do luar
A quietude dos vales
A algazarra dos pássaros
A correria das fontes
O brilho das estrelas
O sorriso farto das crianças
O vermelho forte dos morangos
O vermelho brilhante do por do sol
O vermelho suave das rosas

A visão e a linguagem 

Nossa mente cria representações simbólicas para aquilo que estamos vendo. Damos-lhes qualidades para compreender sua existência. As propriedades dos objetos e cenários acima descritos não são qualidades primárias, são “imaginações” que criamos para relatar, interpretar e explicar como essas coisas são para nós. Aprendemos a usar as nossas representações com seus significados para que possam fazer parte da nossa linguagem corriqueira, dispensando a presença do objeto visualizado. Nossa infância é povoada de imaginações que aprendemos a ouvir e criar para representar o mundo e aliviar nossas angústias e medos. Criamos os anjinhos com asas, o homem que é metade homem e metade cavalo, a fadinha que produz estrelinhas, os monstros, os gigantes e os anõezinhos, as bruxas e os heróis.

Entretanto, a maior invenção que criamos para representar nossas imagens foi a escrita. Só o ser humano é capaz de representar um objeto por um conjunto de letras, uma palavra, uma frase ou um poema. Conta-se que uma águia é capaz de ver uma letra a 15 metros de distância, mas, seguramente ela não sabe ler, dar significado a essa letra e compreender o que ela diz.

O capricho da anatomia – dividindo a imagem

Quando a imagem atinge a parte posterior do cérebro, na região occipital, ocorrem fenômenos anatômicos importantes e curiosos. As informações se distribuem em camadas a partir de um ponto central, no último giro do lobo occipital. Ali construímos o foco do nosso olhar, a partir do qual, alguns detalhes da imagem se esparramam como uma casca de cebola. Uma parte será enviada ao lobo parietal no giro angular, outra para a região temporal no giro medial e uma terceira via atinge, também no lobo temporal, o giro fusiforme.

Vamos ver qual é o propósito dessa tríplice divisão:

O giro angular e suas vizinhanças

Situada no lobo parietal, esse giro desempenha funções interessantíssimas – ele nos permite dispor de um GPS no cérebro – nos localiza no espaço e permite que sejamos informados “onde” está determinado objeto. Imagine pegar uma xícara no meio de várias louças e copos, os desajeitados sempre aprontam pequenos desastres caseiros.

No lobo parietal direito alguns experimentos cirúrgicos conseguiram estimular as proximidades dessa área e o paciente referir que se sentia fora do corpo – ocorre uma projeção da imagem corporal para fora do corpo - semelhante aos conhecidos relatos metafísicos de “experiências fora do corpo” que hoje conta com vastíssima comprovação na literatura médica.

O lobo temporal

Aqui há regiões que nos permitem ter noção “do que é” e dos movimentos das pessoas e dos objetos identificados. Para sabermos a importância dessa função, basta circular pelo corredor de um shopping center, onde várias pessoas vêm apressadas em nossa direção, obrigando-nos a desviar de um ou de outro – aqui também os desastrados se dão mal, trombam frequentemente.

O giro fusiforme

Passa-se nele um fenômeno de extrema importância – é uma área onde é projetado o rosto das pessoas, sendo assim processada a identificação dos amigos e dos desconhecidos, uma distinção fundamental para a sociabilidade e a sobrevivência. E nesse particular, todos nós tropeçamos, nos lembrando daquele rosto, mas, nos foge, com frequência, o nome da pessoa.


Um breve resumo

Concluímos, então, que logo após termos as imagens registradas no lobo occipital, elas esparramam suas conexões para áreas vizinhas a fim de tomarmos conhecimento da cor, da forma, do movimento e da localização precisa do objeto visualizado – para cada uma dessas funções há um grupo particular de neurônios executando essa tarefa. Diz a neurologia que nós temos sim, um neurônio para nossa avó e outro para a Angelina Joli.

Podemos resumir algumas de nossas afirmações anotadas acima:
  • O mundo visível é uma imaginação da mente – a isso se chama percepção visual.
  • O estímulo visual atinge o “cérebro”, mas é a mente que constrói a representação do que vê – criamos uma imagem mental do que pensamos estar vendo.
  • Cada um de nós constrói suas imagens visuais conforme suas expectativas, suas memórias e sua cultura.
  • Há regiões diferenciadas no cérebro situadas no entorno da região occipital, para percepção do espaço e o que contém ele, a localização de objetos ou de pessoas, sua movimentação, sua forma, sua cor e sua identidade facial.
Entre o cérebro e a mente

Ensina a neurologia que a imagem que nos chega aos olhos não é interpretada como um reflexo que se projeta em um espelho. Cérebro e mente vão construir o que “pensam” estar vendo. Portanto, para tudo que vemos, o cérebro e a mente montam uma representação daquilo que imaginam ser o que está sendo visto. Vale a pena repetir com os cientistas que nossa realidade é pura imaginação. Mais importante, ainda, é saber que cada um de nós imagina o mundo a seu modo.

A neurologia ensina que, ao construirmos nossas imagens mentais, ajuntamos algumas peças que se conjugam nessa imaginação. Primeiro, a expectativa – se espero ver um anjo devo lhe dar asas como uma de suas propriedades. Repetindo o que já aprendemos, a visão é um processo ativo, nossa mente é quem põe nos objetos ou nas pessoas as características que espero ver nela. Depois, atuam as nossas memórias – se já conheço o pequi do serrado fica fácil identificar esse fruto quando o encontro no meio da panela de arroz tingindo-a com sua cor amarelada. Ao ver um rosto na multidão saberei de quem se trata caso minhas memórias detectem nosso parentesco ou amizade. Finalmente, interfere a nossa cultura, pessoal e coletiva – o peão que reconhece os animais na roça, o mecânico que trabalha com as peças do motor, o médico que manuseia os instrumentos da cirurgia, o cozinheiro que escolhe os ingredientes da comida, o mateiro que transita fácil pela floresta, o piloto que pousa o avião mesmo com a névoa da tempestade – todos eles enxergam detalhes que seu conhecimento possibilita compor.

As extravagâncias da patologia

Lesões, inflamações, tumores e síndromes diversas são capazes de desencadear manifestações que deturpam nossa visão. Fora dos quadros neurológicos clássicos de cegueiras e hemianopsias, vale a pena apontar curiosidades que ocorrem em algumas pessoas.

Afetada a área que identifica o movimento dos objetos ou das pessoas, o indivíduo relata curiosidades inacreditáveis – um deles diz que não pode por seu leite no copo. Ao virar a garrafa, ele não percebe a descida do líquido que acaba entornando – não há como perceber que o leite desceu da garrafa enchendo o copo. 

Outra conta que não há como andar no shopping, ela nunca sabe se as pessoas estão vindo em sua direção, e é terrível tentar atravessar a rua quando os carros estão passando. 

Um terceiro nota que, aqueles pássaros que voam ali por perto, na verdade parecem parados, mas, eles aparecem ora num lugar ora noutro, deixando-o confuso. 

As cores mudam de tonalidade ou desaparecem em pacientes com epilepsia - eles podem relatar “crises” visuais nas quais percebem em seu campo de visão o desenrolar de uma cena como se fosse um filme. Podem de início ser suas imagens em branco e preto, vindo depois o colorido adequado preencher o cenário.

A mediunidade - vendo Espíritos

A vidência é um tipo raro de mediunidade. Crianças costumam ver muito, assim como os idosos, nas fases finais da vida.  Os bons médiuns videntes fazem relatos muito interessantes que podemos compreender melhor conhecendo o que nos diz o cérebro conforme estamos estudando. Precisa ser dito que o médium não vê o Espirito, é o Espírito que se faz ver – usando a coparticipação de uma fisiologia especial que dispõe o médium vidente.

A percepção de uma entidade espiritual acontece por uma combinação de fenômenos – é preciso uma combinação dos fluidos do encarnado com o desencarnado, ocorre uma sintonia fluídica com assimilação pelo perispírito do médium daquilo que lhe projeta o Espírito desencarnado. E, finalmente, a imagem que o Espírito quer mostrar tem sua expressão no cérebro físico do médium onde terá que submeter-se ao que estudamos sobre ele.

Vamos aos exemplos nos relatos dos médiuns.

O que podemos aprender

1 - No livro dos Médiuns, Allan Kardec, ensina que, a vidência é um tipo de mediunidade rara que não se deve provocar seu desenvolvimento, deixar que ela siga seu curso natural, evitando o risco de sermos iludidos por efeito da imaginação. O cérebro é farto de informações e a mente é muito criativa, podendo nos fazer ver o que não existe.

2 – No mundo fantasioso da criança é comum ela conversar com personagens construídas pela sua imaginação, mas, nem tudo é fictício no mundo da criança. No histórico de muitos médiuns, eles relatam a sua vidência desde a infância e, nessa época, não tinham conhecimento suficiente para identificarem que parte da conversa era mesmo com entidades espirituais.

3 – No idoso e nos pacientes terminais, há relatos de visitas de Espíritos familiares que se fazem ver pelo paciente - a veracidade desses relatos merece crédito inquestionável – isso a Doutrina Espírita é farta em comprovações.

4 – Na epilepsia, embora a neurologia acadêmica ainda não admita, é possível que certas crises sejam precipitadas por entidades perturbadoras, e podemos conjecturar que as imagens visualizadas nas crises tenham a ver com a dimensão espiritual – nas palavras de Kardec, a vidência geralmente é um episódio fugaz, lembrando muito uma “crise” cortical – por excitação de neurônios na região occipital (palavras minhas).

5 – A vidência não é um fenômeno contínuo, costuma ocorrer em flashes, circunscritos frequentemente a um foco, num determinado ponto do ambiente – as vezes o Espírito aparece sistematicamente no mesmo lugar, ora aqui ora ali – pelo que estudamos, a fixação do Espírito numa determinada localização ocorre por estímulo de neurônios de localização no cérebro do médium e não como fato real. Não é culpa do Espirito aparecer sempre ao lado do piano, é o cérebro do Médium que só consegue o enxergar ali.

6 – A aparência com que se apresenta o Espírito tem a ver com a estimulação de neurônios da área occipito-temporal, que nos permite identificar as formas dos objetos – o conceito popular ensina que, a descrição das formas depende dos olhos de quem vê – atentem para o vestido da noiva no seu casamento, cada convidado fará a descrição que mais lhe afeta. É por isso que nas visões tanto podem serem descritos santos como demônios – asas, auréolas, tridentes ou mantos de luz.

7 – Quando Wilder Penfield (1891-1976) iniciou as primeiras neurocirurgias para cura da epilepsia, o paciente era operado acordado, com o cérebro exposto. Isso permitia que certas áreas do cérebro pudessem ser estimuladas eletricamente pelo neurocirurgião. Dr. Penfield conseguia obter, com essa técnica, que o paciente relatasse o que estava vendo ou sentindo ou movimentando seus dedos. Ele podia, também, emitir algumas palavras, gritos, ver cenas do seu passado, descrever locais onde vivera ou onde se sentia projetado.

Allan Kardec ensina que nossa alma quando emancipada parcialmente do corpo, poderá “enxergar” quadros ou cenários arquivados em seu próprio cérebro físico. Isso significa que nossos neurônios armazenam sinais que nos permitem recompor memórias de coisas vistas ou vividas – penso eu que essa é uma vulnerabilidade muito apropriada para atuação dos obsessores.

Também do mesmo autor:

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