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7 de maio de 2023

Diferença entre mediunidade e obsessão

A visão no poço dos mártires por G. Henry Boughton (1833-1905)

Uma questão que pode surgir nos estudos de Espiritismo é sobre a semelhança entre mediunidade e obsessão. Afinal, não são ambas resultado da ação dos Espíritos ? Os conceitos não seriam baseados em um mesmo mecanismo mais fundamental? Não é a mediunidade um estado patológico da mente sobre o qual a obsessão também se explica? Tais questões merecem meditação mais profunda como objetivo de se formular respostas.

Especialistas no assunto reconhecem as dificuldades nesses conceitos. Em seu livro Mediunidade: um ensaio clínico [1], o Dr. Nubor Facure pondera (p. 13):

Doença é uma perturbação no bem-estar físico, psíquico, social e espiritual do indivíduo. Sendo assim, pode-se, como máximo de cuidado ético e respeito ao médium, considerar que certas manifestações clínicas da mediunidade podem ser consideradas como "doença", especialmente naqueles momentos em que sua presença perturba o indivíduo na sua homeostase física e psíquica.

É um ponto de vista que reflete a visão médica: doença é tudo aquilo que pode "perturbar o indivíduo em sua homeostase física e psíquica". 

Entretanto, pode-se argumentar que essa definição leva a se considerar como doença qualquer coisa que perturbe um índivíduo como causa. Assim, alguém abalado em sua saúde com excesso de trabalho, por exemplo, poderia acreditar que trabalho é doença. Portanto, as dificuldades em se lidar com a mediunidade nas suas fases iniciais podem perturbar o indivíduo, sem que isso implique em considerá-la como doença em si.

Segundo Kardec

A palavra "médium" tem uma acepção clara segundo Kardec [2] (Vocabulário Espírita):

MÉDIUM. (do latim, medium, meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens.

E a mediunidade é a faculdade dos médiuns. Quanto à obsessão, ela está definida, p. ex., em várias partes das obras de Kardec. Por exemplo em [1], Parágrafo 237 (Capítulo 23, "Da Obsessão")

...a obsessão, isto é, o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. 

Também encontramos definições semelhantes com, p. ex., no Parágrafo 70 (Capítulo 2,  "Escolhos da mediunidade"):

Um dos maiores escolhos da mediunidade é a obsessão, isto é, o domínio que certos Espíritos podem exercer sobre os médiuns, impondo-se-lhes sob nomes apócrifos e impedindo que se comuniquem com outros Espíritos.

Observamos que a interferência entre os dois fenômenos já transparecia a Kardec que estudou a obsessão como uma perturbação ao fenômeno mediúnico.

É importante considerar que a mediunidade se caracteriza como um processo de comunicação. No fenômeno obsessivo (no contexto mediúnico), seu objetivo não é simplesmente comunicar algo, mas agir sobre o médium de maneira a prejudicar a ele e a todos os que dele se servem. Na obsessão, o canal (não só o médium, mas também a linguagem) se transforma em um instrumento para realização de atos em prejuízo ao círculo mediúnico.

Obsessão fora da mediunidade na acepção restrita.

Entretanto, a obsessão também age sobre pessoas que não podemos considerar, em tese, "médiuns". Desde a mais sutil fascinação, até os últimos graus de possessão (conforme as definições que podemos encontrar em [1]), o sujeito obsediado não está na posse completa de suas faculdades cognitivas. Poderíamos caracterizar esse estado de coisas como um fenômeno mediúnico?

Em parte a confusão se deve a distinção entre possíveis significados dados à palavra mediunidade conforme podemos ler em [3] (grifos nossos):

Quando analisamos um texto ou um discurso onde o termo médium aparece, é importante reconhecer em qual desses sentidos está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e discussões sem fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação feita no parágrafo 159 de O Livro dos Médiuns de que “todos [os homens] são quase médiuns” deverá ser entendida apenas na acepção ampla do termo, pois sabemos, pela questão 459 de O Livro dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos em grave equívoco se concluirmos daí que todos somos mais ou menos médiuns no sentido restrito e usual da palavra, ou seja, se julgarmos que todos podemos produzir manifestações ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os efeitos físicos etc.

Dessa forma, a existência de possível generalização semântica do termo mediunidade (a acepção ampla) pode levar a conclusões precipitadas se misturada à concepção mais restrita dada acima por Kardec.

Entretanto, essa distinção no nível da linguagem não resolve o problema que nos preocupa aqui. Ele se liga à provável origem comum que ambos os efeitos (mediunidade e obsessão) podem ter.  É por essa razão que o Dr. Nubor Facure pondera [1] (p. 14, grifos nossos):

As doenças mentais são fragilidades a alma e, por isso, facilitadoras da atuação compartilhada de Espíritos, e escancaram as portas para a obsessão. Esses Espíritos são irmãos nossos comprometidos com a ignorância, quase sempre perturbadores, querelentes e exigents de direitos que cobram do paciente perturbado mentalmente. Esse quadro, extremamente comum, constitui uma associação clínica simbiótica de muita gravidade. Acredito que na esquizofrenia, na bipolaridade e nas paranoias diversas, ocorre uma frequente troca ambivalente entre o orgânico e o espiritual. A associação entre a doença mental e uma perturbação espiritual é, a meu ver, a regra na psicopatologia humana.

No fenômeno obsessivo puro ocorre assim uma simbiose entre os dois mundos que correm paralelos. Nesse fenômeno, não é objetivo principal a comunicação, mas uma influência nociva sobre o Espírito do doente. Uma explicação mais completa sobre os paralelos entre obsessão e mediunidade passa necessariamente por uma teoria neurológica da mediunidade. Algumas sugestões interessantes são dadas por N. Facure na obra que aqui citamos.

Fig. 1 Algumas áreas do cérebro. Segundo o Dr. N. Facure, há uma relação íntima entre o tipo de mediunidade e a área do cérebro do médium provavelmente responsável por sua intermediação. Imagem: Wikipedia.

De forma muito sucinta, na proposta de Facure, existe uma grande dependência do fenômeno mediúnico - principalmente se de efeito intelectual - com o cérebro. Essa dependência é tão grande a ponto de ser talvez possível mapear tipos de mediundidade conforme áreas no cérebro especializadas pela manfestação da consciência. Por exemplo, no chamado "lóbulo frontal" (Fig. 1), vias neurais por onde trafegam as informações destinadas às funções superiores da cognição, a incidência da mediunidade é responsável por fenômenos comunicativos mais elevados (psicografia, psicofonia etc) [4]:

Pelo exposto, podemos compreender que fenômenos como a psicografia, a vidência, a audiência e a fala mediúnica, devem implicar uma participação do córtex do médium já que aqui se situam áreas para a escrita, a visão, a audição e a fala.

Em outras regiões do cérebro - onde estão os circuitos ligados às manifestações mais primitivas e ligadas às sensações - eventual incidência da faculdade pode levar a outros tipos de fenômenos. Por exemplo, o médium sentir as mesmas sensações do Espírito que dele se aproxima. É o que descreve N. Facure com relação ao Tálamo, uma estrutura localizada no chamado "diencéfalo", uma estrutura localizada na base do cérebro [4]:

É possível que muitas das sensações somáticas referidas pelos médiuns, que dizem perceber a aproximação de entidades espirituais, como se estes lhes estivessem tocando o corpo, seja efeito de estímulos talâmicos.

Nesse caso, pela ação do córtex do médium os estímulos espirituais podem ser facilitados ou inibidos pela aceitação ou pela desatenção do médium, bem como por efeito de estados emocionais não disciplinados pelo médium.

Podemos especular que, por não terem carácter comunicativo, tais vias não conscientes podem se manifestar como fenômenos obsessivos. 

Para que o leitor possa fazer uma ideia mais justa do impacto e relevância dessa teoria, consideremos, por exemplo, o que a ciência descreve com as áreas do cérebro responsáveis pela sexualidade [5]:

O comportamento sexual é regulado por estruturas subcorticais, como o hipotálamo, tronco cerebral e medula espinhal, e várias áreas cerebrais corticais que atuam como uma orquestra para ajustar com precisão esse comportamento primitivo, complexo e versátil. No nível central, os sistemas dopaminérgicos e serotoninérgicos parecem desempenhar um papel significativo em vários fatores da resposta sexual, embora os sistemas adrenérgicos, colinérgicos e outros transmissores de neuropeptídeos também possam contribuir.

Agora, imaginemos que tais circuitos sejam em parte afetados pela mediunidade em certo grau, a ponto de se tornar um fenômeno obsessivo. Se esse é o caso, quantas pessoas no mundo, portadoras de distúrbios sexuais ainda pouco compreendidos (citamos, por exemplo, a Pedofilia mas poderíamos falar em inúmeras parafilias) não poderiam estar de fato sob influência obsessiva ? Quantas, consideradas incuráveis, não poderiam se beneficiar de um tratamento que considerasse os aspectos espirituais envolvidos? 

O assunto assim é de imensa importância para a Humanidade. 

Referências

[1] N. Facure (2014). Mediunidade, um ensaio clínico. Ed. Allan Kardec. Campinas, SP.

[2] A. Kardec (1944).O Livro dos Médiuns. 58a Edição. Ed. FEB. Tradução Guillon Ribeiro.

[3] S.S. Chibeni e C. S. Chibeni. Estudo sobre mediunidade. Reformador de agosto de 1997, pp. 240-43 e 253-55. Federação Espírita Brasileira. Uma versão acessível deste trabalho pode ser lido em: 

[4] N. Facure. Neurofisiologia da mediunidade. Link:

[5] S. Calabrò et al (2019). Neuroanatomy and function of human sexual behavior: A neglected or unknown issue?. Brain and Behavior, v. 9, n. 12, p. e01389. Link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/brb3.1389 


1 de janeiro de 2020

O que a neurologia tem para ensinar aos médiuns? (Dr. Nubor Facure)

Interessante texto do Dr. Nubor Facure, explorando algumas possíveis conexões entre a neurologia, o sentido da visão e uma aplicação avançada para a vidência mediúnica. 

A visão

O nosso olhar é uma das propriedades mais ativas do cérebro. Nós mobilizamos dois terços (ou quase 70%) do córtex cerebral quando estamos olhando para uma criança correndo. Existem 30 áreas cerebrais que estarão atuantes nessa visão trabalhando seus detalhes. Precisamos saber quem é, sua localização, com que velocidade se locomove, para onde se dirige, que roupa usa, suas cores, o risco que corre, o parentesco que tem conosco, se vem até nós para dizer alguma coisa e se precisamos abrir os braços para abraçá-la ou acudir em um perigo de queda.

Nosso registro visual não é do tipo fotográfico, ele é interpretativo, constrói uma paisagem com aquilo que vê. O que vemos cria uma “representação” do que “pensamos” estar vendo. Disso decorre que, mais de noventa por cento dessa atividade se processa na mente, e é isso que permite que cada um veja conforme lhe pareça e não como a coisa é.

Por que vemos?

Só há visão humana com a luz. Tudo começa com uma onda de energia vibratória que atinge nossa retina refletindo nela a imagem dos objetos. Aqui a luz atua sobre cones e bastonetes produzindo milhares de combinações em branco e preto ou coloridas, numa mistura de três cores fundamentais: vermelho, verde e azul – a cor é quase um milagre, e é bom saber que ela existe em nós e não nos objetos.

Quando a energia luminosa é convertida em impulso nervoso ele percorre o cérebro produzindo uma serie de outros fenômenos que vão nos permitir “qualificar” o que vemos dando-lhes propriedades:

A mansidão do luar
A quietude dos vales
A algazarra dos pássaros
A correria das fontes
O brilho das estrelas
O sorriso farto das crianças
O vermelho forte dos morangos
O vermelho brilhante do por do sol
O vermelho suave das rosas

A visão e a linguagem 

Nossa mente cria representações simbólicas para aquilo que estamos vendo. Damos-lhes qualidades para compreender sua existência. As propriedades dos objetos e cenários acima descritos não são qualidades primárias, são “imaginações” que criamos para relatar, interpretar e explicar como essas coisas são para nós. Aprendemos a usar as nossas representações com seus significados para que possam fazer parte da nossa linguagem corriqueira, dispensando a presença do objeto visualizado. Nossa infância é povoada de imaginações que aprendemos a ouvir e criar para representar o mundo e aliviar nossas angústias e medos. Criamos os anjinhos com asas, o homem que é metade homem e metade cavalo, a fadinha que produz estrelinhas, os monstros, os gigantes e os anõezinhos, as bruxas e os heróis.

Entretanto, a maior invenção que criamos para representar nossas imagens foi a escrita. Só o ser humano é capaz de representar um objeto por um conjunto de letras, uma palavra, uma frase ou um poema. Conta-se que uma águia é capaz de ver uma letra a 15 metros de distância, mas, seguramente ela não sabe ler, dar significado a essa letra e compreender o que ela diz.

O capricho da anatomia – dividindo a imagem

Quando a imagem atinge a parte posterior do cérebro, na região occipital, ocorrem fenômenos anatômicos importantes e curiosos. As informações se distribuem em camadas a partir de um ponto central, no último giro do lobo occipital. Ali construímos o foco do nosso olhar, a partir do qual, alguns detalhes da imagem se esparramam como uma casca de cebola. Uma parte será enviada ao lobo parietal no giro angular, outra para a região temporal no giro medial e uma terceira via atinge, também no lobo temporal, o giro fusiforme.

Vamos ver qual é o propósito dessa tríplice divisão:

O giro angular e suas vizinhanças

Situada no lobo parietal, esse giro desempenha funções interessantíssimas – ele nos permite dispor de um GPS no cérebro – nos localiza no espaço e permite que sejamos informados “onde” está determinado objeto. Imagine pegar uma xícara no meio de várias louças e copos, os desajeitados sempre aprontam pequenos desastres caseiros.

No lobo parietal direito alguns experimentos cirúrgicos conseguiram estimular as proximidades dessa área e o paciente referir que se sentia fora do corpo – ocorre uma projeção da imagem corporal para fora do corpo - semelhante aos conhecidos relatos metafísicos de “experiências fora do corpo” que hoje conta com vastíssima comprovação na literatura médica.

O lobo temporal

Aqui há regiões que nos permitem ter noção “do que é” e dos movimentos das pessoas e dos objetos identificados. Para sabermos a importância dessa função, basta circular pelo corredor de um shopping center, onde várias pessoas vêm apressadas em nossa direção, obrigando-nos a desviar de um ou de outro – aqui também os desastrados se dão mal, trombam frequentemente.

O giro fusiforme

Passa-se nele um fenômeno de extrema importância – é uma área onde é projetado o rosto das pessoas, sendo assim processada a identificação dos amigos e dos desconhecidos, uma distinção fundamental para a sociabilidade e a sobrevivência. E nesse particular, todos nós tropeçamos, nos lembrando daquele rosto, mas, nos foge, com frequência, o nome da pessoa.


Um breve resumo

Concluímos, então, que logo após termos as imagens registradas no lobo occipital, elas esparramam suas conexões para áreas vizinhas a fim de tomarmos conhecimento da cor, da forma, do movimento e da localização precisa do objeto visualizado – para cada uma dessas funções há um grupo particular de neurônios executando essa tarefa. Diz a neurologia que nós temos sim, um neurônio para nossa avó e outro para a Angelina Joli.

Podemos resumir algumas de nossas afirmações anotadas acima:
  • O mundo visível é uma imaginação da mente – a isso se chama percepção visual.
  • O estímulo visual atinge o “cérebro”, mas é a mente que constrói a representação do que vê – criamos uma imagem mental do que pensamos estar vendo.
  • Cada um de nós constrói suas imagens visuais conforme suas expectativas, suas memórias e sua cultura.
  • Há regiões diferenciadas no cérebro situadas no entorno da região occipital, para percepção do espaço e o que contém ele, a localização de objetos ou de pessoas, sua movimentação, sua forma, sua cor e sua identidade facial.
Entre o cérebro e a mente

Ensina a neurologia que a imagem que nos chega aos olhos não é interpretada como um reflexo que se projeta em um espelho. Cérebro e mente vão construir o que “pensam” estar vendo. Portanto, para tudo que vemos, o cérebro e a mente montam uma representação daquilo que imaginam ser o que está sendo visto. Vale a pena repetir com os cientistas que nossa realidade é pura imaginação. Mais importante, ainda, é saber que cada um de nós imagina o mundo a seu modo.

A neurologia ensina que, ao construirmos nossas imagens mentais, ajuntamos algumas peças que se conjugam nessa imaginação. Primeiro, a expectativa – se espero ver um anjo devo lhe dar asas como uma de suas propriedades. Repetindo o que já aprendemos, a visão é um processo ativo, nossa mente é quem põe nos objetos ou nas pessoas as características que espero ver nela. Depois, atuam as nossas memórias – se já conheço o pequi do serrado fica fácil identificar esse fruto quando o encontro no meio da panela de arroz tingindo-a com sua cor amarelada. Ao ver um rosto na multidão saberei de quem se trata caso minhas memórias detectem nosso parentesco ou amizade. Finalmente, interfere a nossa cultura, pessoal e coletiva – o peão que reconhece os animais na roça, o mecânico que trabalha com as peças do motor, o médico que manuseia os instrumentos da cirurgia, o cozinheiro que escolhe os ingredientes da comida, o mateiro que transita fácil pela floresta, o piloto que pousa o avião mesmo com a névoa da tempestade – todos eles enxergam detalhes que seu conhecimento possibilita compor.

As extravagâncias da patologia

Lesões, inflamações, tumores e síndromes diversas são capazes de desencadear manifestações que deturpam nossa visão. Fora dos quadros neurológicos clássicos de cegueiras e hemianopsias, vale a pena apontar curiosidades que ocorrem em algumas pessoas.

Afetada a área que identifica o movimento dos objetos ou das pessoas, o indivíduo relata curiosidades inacreditáveis – um deles diz que não pode por seu leite no copo. Ao virar a garrafa, ele não percebe a descida do líquido que acaba entornando – não há como perceber que o leite desceu da garrafa enchendo o copo. 

Outra conta que não há como andar no shopping, ela nunca sabe se as pessoas estão vindo em sua direção, e é terrível tentar atravessar a rua quando os carros estão passando. 

Um terceiro nota que, aqueles pássaros que voam ali por perto, na verdade parecem parados, mas, eles aparecem ora num lugar ora noutro, deixando-o confuso. 

As cores mudam de tonalidade ou desaparecem em pacientes com epilepsia - eles podem relatar “crises” visuais nas quais percebem em seu campo de visão o desenrolar de uma cena como se fosse um filme. Podem de início ser suas imagens em branco e preto, vindo depois o colorido adequado preencher o cenário.

A mediunidade - vendo Espíritos

A vidência é um tipo raro de mediunidade. Crianças costumam ver muito, assim como os idosos, nas fases finais da vida.  Os bons médiuns videntes fazem relatos muito interessantes que podemos compreender melhor conhecendo o que nos diz o cérebro conforme estamos estudando. Precisa ser dito que o médium não vê o Espirito, é o Espírito que se faz ver – usando a coparticipação de uma fisiologia especial que dispõe o médium vidente.

A percepção de uma entidade espiritual acontece por uma combinação de fenômenos – é preciso uma combinação dos fluidos do encarnado com o desencarnado, ocorre uma sintonia fluídica com assimilação pelo perispírito do médium daquilo que lhe projeta o Espírito desencarnado. E, finalmente, a imagem que o Espírito quer mostrar tem sua expressão no cérebro físico do médium onde terá que submeter-se ao que estudamos sobre ele.

Vamos aos exemplos nos relatos dos médiuns.

O que podemos aprender

1 - No livro dos Médiuns, Allan Kardec, ensina que, a vidência é um tipo de mediunidade rara que não se deve provocar seu desenvolvimento, deixar que ela siga seu curso natural, evitando o risco de sermos iludidos por efeito da imaginação. O cérebro é farto de informações e a mente é muito criativa, podendo nos fazer ver o que não existe.

2 – No mundo fantasioso da criança é comum ela conversar com personagens construídas pela sua imaginação, mas, nem tudo é fictício no mundo da criança. No histórico de muitos médiuns, eles relatam a sua vidência desde a infância e, nessa época, não tinham conhecimento suficiente para identificarem que parte da conversa era mesmo com entidades espirituais.

3 – No idoso e nos pacientes terminais, há relatos de visitas de Espíritos familiares que se fazem ver pelo paciente - a veracidade desses relatos merece crédito inquestionável – isso a Doutrina Espírita é farta em comprovações.

4 – Na epilepsia, embora a neurologia acadêmica ainda não admita, é possível que certas crises sejam precipitadas por entidades perturbadoras, e podemos conjecturar que as imagens visualizadas nas crises tenham a ver com a dimensão espiritual – nas palavras de Kardec, a vidência geralmente é um episódio fugaz, lembrando muito uma “crise” cortical – por excitação de neurônios na região occipital (palavras minhas).

5 – A vidência não é um fenômeno contínuo, costuma ocorrer em flashes, circunscritos frequentemente a um foco, num determinado ponto do ambiente – as vezes o Espírito aparece sistematicamente no mesmo lugar, ora aqui ora ali – pelo que estudamos, a fixação do Espírito numa determinada localização ocorre por estímulo de neurônios de localização no cérebro do médium e não como fato real. Não é culpa do Espirito aparecer sempre ao lado do piano, é o cérebro do Médium que só consegue o enxergar ali.

6 – A aparência com que se apresenta o Espírito tem a ver com a estimulação de neurônios da área occipito-temporal, que nos permite identificar as formas dos objetos – o conceito popular ensina que, a descrição das formas depende dos olhos de quem vê – atentem para o vestido da noiva no seu casamento, cada convidado fará a descrição que mais lhe afeta. É por isso que nas visões tanto podem serem descritos santos como demônios – asas, auréolas, tridentes ou mantos de luz.

7 – Quando Wilder Penfield (1891-1976) iniciou as primeiras neurocirurgias para cura da epilepsia, o paciente era operado acordado, com o cérebro exposto. Isso permitia que certas áreas do cérebro pudessem ser estimuladas eletricamente pelo neurocirurgião. Dr. Penfield conseguia obter, com essa técnica, que o paciente relatasse o que estava vendo ou sentindo ou movimentando seus dedos. Ele podia, também, emitir algumas palavras, gritos, ver cenas do seu passado, descrever locais onde vivera ou onde se sentia projetado.

Allan Kardec ensina que nossa alma quando emancipada parcialmente do corpo, poderá “enxergar” quadros ou cenários arquivados em seu próprio cérebro físico. Isso significa que nossos neurônios armazenam sinais que nos permitem recompor memórias de coisas vistas ou vividas – penso eu que essa é uma vulnerabilidade muito apropriada para atuação dos obsessores.

Também do mesmo autor:

O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr. Nubor Facure.
Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.
O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica.

24 de fevereiro de 2018

O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica

por Nubor Orlando Facure


"É preciso nascer de novo" passando por experiências múltiplas no decurso das encarnações. Uma questão em aberto e extremamente complexa é: até onde podemos saber o quanto e como são transferidos para o cérebro físico de uma criança, que está por nascer, o conteúdo de sabedoria e talentos adquiridos pelo Espírito no decurso de suas existências

O desenvolvimento do sistema nervoso

O patrimônio genético dessa criança põe ordem no seu desenvolvimento, acrescentando aptidões por etapas, que coincidem, essas fases, com a progressiva mielinização das fibras nervosas. Primeiro, são mielinizadas fibras de baixo para cima, que permitem a atividade motora das pernas e depois dos braços. No cérebro, a organização é de trás para frente, primeiro as áreas visuais nos polos occipitais e depois o lobo frontal que só completa sua formação depois dos 17 anos.

A memória – quem eu sou? Sou o que minhas memórias dizem.

O bebê humano ao nascer não está zerado em suas memórias. Os testes especializados confirmam que ele tem arquivado a voz da mãe e possivelmente outros sons que ouviu enquanto no útero, sem que haja confirmação que ouvir músicas de Mozart dará a essa criança um cérebro de um músico de talento.

O que é do conhecimento geral é que a criança não consolida, armazena ou retém como memória suas experiências até aos três anos de idade – esse esquecimento é conhecido como "amnésia infantil''.

Do ponto de vista espiritual não temos, como regra geral, nenhuma lembrança de nossas vidas passadas. Ensinam os autores espíritas que, mesmo não tendo essas lembranças, de uma maneira ou de outra, podemos perceber em cada um de nós certas tendências trazidas de outras vidas – ideias inatas ou mesmo pendores que se revelam sem maior esforço. Um determinado profissional, com formação acadêmica numa área específica, pode perceber suas tendências e habilidades em competências completamente diferente. Um professor de matemática ou uma psicóloga podem exercer em paralelo um talento para música, artesanato, ou um talento literário como fez o médico Guimarães Rosa.

Personalidade, caráter e temperamento têm uma base genética e, seguramente, uma influência da bagagem espiritual de outras vidas. Um Espírito amigo nos ensinou que podemos não saber o que fomos, mas, não é difícil saber o que fizemos em vidas anteriores.

Uma nota breve sobre os tipos de memórias

Podemos tirar da classificação das memórias três expressões fundamentais:

A memória semântica,  a episódica, que fazem parte da memória declarativa e, a memória implícita ou de procedimentos.

A memória semântica se refere ao conhecimento adquirido pelas lições que aprendemos de uma forma ou de outra: quem nasce no Brasil é brasileiro, Paris é a capital da França, Voltaire foi um grande filósofo do iluminismo, a América foi descoberta por Cristóvão Colombo.

A memória episódica, é personalizada, refere-se a fatos pessoais vividos por nós, é narrativa e por isso falha. Sua consolidação é mais firme nos dados autobiográficos: meu nome, meu endereço, meu estado civil, a cidade onde nasci, minha nacionalidade, de quem sou filho, que profissão exerço, quem são meus filho. A memória episódica de eventos pessoais, se refere a acontecimentos vividos por nós, recentes ou não: O que almocei ontem? Quem me telefonou essa tarde? Que praia fui nesse fim de ano? Quem me visitou nesse domingo? Esse modo de memória (episódica) tem uma marca temporal e é fortemente contextualizada. Com as marcas do tempo: fui na praia no natal, viajei na semana santa, fui pescar em fevereiro do ano passado, troquei de carro em dezembro. Ligadas ao contexto: assisti aquele filme no Shopping com minha esposa. Adorei o camarão daquele restaurante de Joinville, eu estava no hotel quando ouvi aquela notícia, foi no jogo de futebol que torci o tornozelo, fiquei em casa porque chovia muito. Essas memórias podem ser resgatadas, mas, como são retidas principalmente no hipocampo, ao serem lembradas nós sempre fazemos uma nova descrição dos fatos. Daí a incerteza dos testemunhos nos episódios da vida.

As memórias episódicas para eventos pessoais são fugidias e enganosas. Quem relatar sua festa de casamento faz o mesmo que os pescadores ou os jogadores, a cada relato produzem uma nova versão. É o que diziam os antigos: "quem conta um conto aumenta um ponto".

As memórias de procedimento são as habilidades aprendidas. Andar de bicicleta, dirigir o automóvel, pilotar o avião, dedilhar o teclado, lidar com a prensa da fábrica, talhar a madeira numa peça de artesanato, tocar ao piano, desenhar ou pintar uma paisagem.

Por outro lado, são extremamente corriqueiras, no ambiente familiar de muitos de nós, a ocorrência das memórias de procedimento. Há em quase toda família os desenhistas, os pintores, os pianistas, os artesões habilidosíssimos que fazem castelos na areia ou na madeira sem qualquer ensinamento prévio. Observando bem, em cada um de nós podemos perceber que as memórias episódicas são consolidadas firmemente até que alguma demência nos atinja nos fazendo esquecer até mesmo o nome. 

Recordando a história de vidas anteriores. Isso é possível?

São ocorrências raras, mas, vez por outra encontramos crianças fazendo relatos de terem vivido em outro lugar e dando as identificações necessárias para essa comprovação. A literatura médica e o cinema têm relatos enriquecedores que atestam a reencarnação e a ocorrência de permanência dessas memórias episódicas. Geralmente, com o crescimento da criança essas memórias se perdem. São também excepcionais, mas bem descritos, casos de persistência das memórias semânticas. São algumas crianças rotuladas de autistas, ou “idiots savans” que são capazes de responder brilhantemente sobre determinado tema de conhecimento geral ou de um domínio particular como literatura ou matemática. 

Por outro lado, certos eventos de nossa vida podem ocorrer carregados de forte emoção e um susto ou uma ameaça pode consolidar com mais força determinada ocorrência. Uma batida com o nosso carro em que alguém sai ferido, a ameaça de um assalto ou um sequestro, o medo de enfrentar uma cirurgia de risco, a dor de um fêmur fraturado na queda de uma bicicleta

Considerando a reencarnação, é provável que as memórias episódicas, carregadas de forte emoção física ou psíquica, podem ser uma boa explicação para nossos medos, as crises de pânico, as fobias, as dificuldades para enfrentar o elevador, o avião, uma picada da vacina, uma cobra, uma aranha, uma simples barata ou falar em público

As memórias de procedimentos

No decorrer da vida vamos aprendendo habilidade e adquirindo competências comuns a nós humanos: andar, correr, escrever, nadar, dirigir, pilotar, andar de bicicleta, soltar uma pipa e outras de maior destaque: tocar piano, violino, cantar com o violão, pintura, artesanato entre muitas outras.

O maior destaque nesse tipo de memória é que ela é mais ou menos permanente. Ninguém esquece como nadar ou andar de bicicleta. O dedilhar o violão ou o piano, por outro lado, exige treinamento constante, mas, os rudimentos básicos permanecem para sempre. Nunca me esqueço que o primeiro paciente que conheci com a doença de Alzheimer era um alfaiate. Não sabia dizer o nome da esposa, nem o seu endereço, mas, gesticulava com as mãos e mostrava como fazia o corte de tecido para fazer um terno – o paciente com essa doença é treinável e capaz de aprender certas habilidades motoras novas, mas, não retém um conhecimento novo, como por exemplo o endereço do hospital.

Pode-se conjecturar que as memórias de procedimento são as que mais se conservam de uma encarnação para outra. Elas permanecem sempre mais firmemente consolidadas em nosso cérebro – principalmente nos núcleos basais e no cerebelo – e os exemplos são parte da história de todas famílias – são as aptidões, os talentos, as tendências, os pendores artísticos e os desempenhos que surgem facilmente no artesanato, na música, na pintura, no esporte entre tantos outros.

Um resumo simples

A memória autobiográfica é firme, confiável, nos acompanha pela vida todo sem distorções. Nós a perdemos quando ocorrem leões cerebrais graves. Dificilmente ela permanece no transcurso de uma vida para outra.

A memória episódica é facilmente distorcida. Ela é regatada sempre com uma nova versão, não é recuperada. É recontada. É sensível aos eventos emocionais que aumentam os seus traços. Podem justificar o que sentimos hoje em forma de medos, fobias, traumas psíquicos, déjà-vu e outros fenômenos da psicopatologia humana.

A memória de conhecimentos, semântica, é acumulativa é pode favorecer o aprendizado em determinadas áreas de uma vida para outra.

E, finalmente, as memórias de procedimento que se expressam, geralmente, em habilidades motoras. São mais sólidas, costumamos dizer que ninguém esquece como andar de bicicleta. De uma encarnação para outra, elas podem permanecer como uma tendência profissional, talentos artísticos diversos, predisposição para esse ou aquele esporte.

E o que a morte fará com as nossas memórias?

Diz o povo que “dessa vida nada se leva”. Eu costumo dizer que, obrigatoriamente, vamos levar os nossos neurônios, estão impressos neles a nossa identidade. Um neurocirurgião famoso fazia suas cirurgias com o paciente acordado. Com o crânio aberto ele estimulava eletricamente várias áreas cerebrais. Além das repostas motoras e sensitivas ele conseguia estimular a região temporal onde produzia reminiscências guardadas pelo paciente. Sabemos todos, como espíritas, que o que ocorre no cérebro é transferido ao Espírito através e um veículo sem imaterial, o perispírito. Mas, durante toda nossa vida, as redes neurais acumulam um rico aprendizado que consolida nossos comportamentos e enriquece nossas memórias. Os exames de Ressonância Funcional e a estimulação direta nos neurônios detectam essas competências.

A pergunta é: tudo isso se desfaz com a morte? Aprendemos com a doutrina espírita que esse material é inteiramente transferido para o perispírito. Esse fenômeno nos permite conjecturar algumas consequências:

Logo após a morte, seremos exatamente os mesmos que somos hoje. Com as mesmas memórias, comportamentos e experiências. Isso explica porque, mesmo desencarnados, há Espíritos que continuarão duvidando da reencarnação. E, para maioria de nós, não será de um dia para o outro que teremos acesso as memórias do nosso passado.

Ver também: Entrevista V - Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.

Referência

27 de abril de 2012

Entrevista V - Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.

"O materialismo permanece como o mais ferrenho obstáculo à aceitação das verdades espirituais. E isso ocorre por pura ignorância do ser humano." (Nubor Facure)

Apresentamos aqui uma breve entrevista feita com o neurologista Dr. Nubor Facure. Em um post anterior, apresentamos uma pequena resenha sobre um livro de sua autoria. Espírita desde criança, o Dr. Nubor Orlando Facure é diretor do Instituto do Cérebro de Campinas, e ex-professor titular de neurocirurgia da Unicamp. Pesquisador, escritor e expositor espírita, desenvolve estudos pioneiros aliando a medicina aos conhecimentos espíritas. Em 1990, instituiu o primeiro curso de pós-graduação – Cérebro/Mente, com enfoque espiritualista, no Departamento de Neurologia da Unicamp.

Recentemente, o Dr. Nubor concedeu entrevista sobre a anencefalia e a questão do aborto de anencéfalos.

EE  - 1 Conte-nos sobre seu interesse por ciência e pesquisa.

Minha formação é acadêmica - fui professor de Neurocirurgia na Unicamp por 30 anos e terminei essa atividade como Professor Titular. Vem daí o hábito de pesquisa. A mais difícil de se fazer é justamente a pesquisa clínica e, particularmente, a do doente mental, onde ocorre a interseção entre a neurologia e a psiquiatria. Por outro lado, sendo espírita desde criança, esse conhecimento doutrinário me favoreceu explicações que a ciência médica ainda não consegue trabalhar. Continuo atendendo meus pacientes no Instituto da Cérebro em Campinas, onde o material humano para estudo é vastíssimo justamente por lidarmos com os transtornos neuropsiquiátricos.

EE - 2 Como o Sr.  se veio a se interessar pela relação entre a ciência (biologia, neurologia) e os assuntos relacionados à espiritualidade e saúde?

Sou de Uberaba e, desde meus primeiros estudos na Faculdade de Medicina pude estabelecer para meu próprio aprendizado relação das lições acadêmicas materialistas, com as orientações dos grandes professores espíritas de Uberaba. Desfrutei do convívio proveitoso com Dr. Inácio Ferreira, Waldo Vieira, Elias Barbosa, Marlene Nobre e, particularmente com nosso querido médium, Chico Xavier. A questão do diagnóstico das doenças espirituais sempre me fascinou e busquei com aprender com suas experiências.

EE - 3 O Sr. acha que a sua visão espiritualista ajuda você no dia a dia e no trato com seus pacientes? No que ela mais te ajuda?

Primeiro creio que o paradigma espírita é superior aos aceitos pela medicina de hoje. Na Doutrina Espírita admitimos a comunicação com os mortos que podem se revelar na fala de muitos doentes da psicopatologia humana, a Doutrina confirma a importância das vidas sucessivas, ou seja, a reencarnação, como explicação máxima para os inexplicáveis sofrimentos da atualidade. Não há como se entender as grandes malformações do organismo de uma criança que acaba de nascer sem se compreender seus compromissos cármicos acumulados em vidas anteriores. A doutrina espírita esclarece, também, que vivemos uma permanente troca de influencias entre nós e os Espíritos que nos acompanham, nos mais íntimos ambientes. Com eles vivenciamos experiências negativas ou positivas atraindo-os conforme o teor de nossas atitudes. E, assim se compreende os graus variados das obsessões espirituais com suas inúmeras conseqüências orgânicas e psíquicas sobres todos nós. Repetindo, demos destaque a 3 postulados espíritas que a medicina terá de absorver nos próximos anos: a comunicação com os mortos, a reencarnação e a influência recíproca entre nós e os Espíritos desencarnados.

EE - 4 Em seu livro ' O Cérebro e a Mente - uma conexão espiritual ', o Sr. descreve de forma didática bastante coisa relacionado aos avanços recentes no campo da neurologia para o conhecimento e teoria da mente. Sabemos que muitos caminhos estão fechados dentro da filosofia materialista que campeia laboratórios atuais. Como o Sr. acha que poderíamos sair desse impasse?

O progresso da Ciência é inexorável, toda mudança de paradigma passa pela rejeição natural até que seja reconhecido como válido, pelo menos por determinado tempo, até que outra renovação se proceda. Desde a época que escrevi O Cérebro e a Mente as Neurociências produziram muita contribuições novas: as relacionadas com as memórias extra cerebrais, as experiências fora do corpo, as propriedades do corpo mental, a presença de um lugar para Deus na fisiologia do Cérebro. Portanto, reconhecer a espiritualidade, a comunicação com os mortos e a reencarnação é apenas questão de tempo. Na verdade, preocupa-me, isso sim, se esse conhecimento será aproveitado o quanto se deve para nossa renovação moral.

EE - 5 Nesse mesmo livro citado na questão anterior, discutimos no nosso post sobre ele, há uma discussão que o Sr. faz sobre o surto de desenvolvimento neural que houve no cérebro, a ponto de, em curto espaço de tempo para os padrões biológicos, todas as estruturas necessárias para se criar a civilização 'já estavam lá' há 100 mil anos atrás. Essa 'explosão de inteligência' tem paralelos com outros surtos na biologia evolutiva (e. g., a explosão cambriana). Como o Sr. interpreta tais evoluções rápidas?

Existiu sim um salto biológico pouco compreendido pela biologia. Do ponto de vista Humano, Espiritual e em tudo que concerne nosso desenvolvimento cognitivo, principalmente nossa linguagem, creio que a Teoria da migração de Capela me parece bem convincente - está maravilhosamente descrita em A Caminho da luz de Emmanuel, psicografia de Chico Xavier.

EE - 6 No livro 'A Memória e o Tempo' o escritor Hermínio Miranda faz diversos estudos sobre a necessidade de se incluir a teoria da reencarnação nos estudos sobre a mente e cérebro. Como o Sr. vê que poderíamos motivar semelhante abordagem no escopo das ciências neurológicas atuais?

Os textos acadêmicos sobre reencarnação já reúnem uma população expressiva de comprovações. Creio que algumas escolas psicoterapêuticas estão aos poucos introduzindo essa visão reencarnacionista. Portanto a rejeição será paulatinamente abolida.

EE - 7 Considero suas propostas na área de pesquisa mediúnica e a correlação com estruturas neurais pioneiras no assunto. Como você proporia um programa de pesquisa progressivo para desenvolver essa relação?

Creio que para ser didático posso apresentar a fisiologia da mediunidade em 3 contextos: Kardec nos apresentou uma visão doutrinária; André Luiz nos revelou a dinâmica espiritual da mediunidade descortinando a fenomenologia do outro lado da vida; e, no meu trabalho, apresentei despretensiosamente as vias anatômicas e suas funções, comprometidas com o fenômeno mediúnico no cérebro físico, portanto, uma análise do lado de cá. Interessante que a é minha experiência clínica com pacientes neuropsiquiátricos que vem me permitindo melhorar o conteúdo da minha proposta.

EE - 8 Como o Sr. interpreta do ponto de vista da relação Espírito-matéria o fenômeno da plasticidade neuronal?

Toda dinâmica do desenvolvimento dos nossos neurônio, com seus apêndices e conexões, obedece a uma ordenação do Espírito. Portanto, tudo que estimula o Espírito resulta em mudanças neuronais. O fenômeno é de lá para cá.

EE - 9 Quais são os limites que o Sr. vê à contribuição que a neurologia pode dar às patologias mentais?

Na verdade deveríamos usar o termo Neurociências, porque não é só a Neurologia, mas sim, uma série de disciplinas que vem facilitando essa evolução, a química, a anatomia, as Imagens de Ressonância, a genética e milhares de testes neuropsicológicos que estão promovendo um avanço extraordinário no entendimento das doenças mentais. Espero para breve a conversão da doença mental em doença do Espírito com as contribuições disponíveis na Doutrina Espírita. Está aí um trabalho que o Espírita não pode se furtar.

EE - 10 Quais os maiores obstáculos, na sua visão, contra a efetiva aceitação da realidade espiritual do ser humano?

A evolução do conhecimento nunca foi homogênea, ela se faz aos saltos e por segmentos, para depois, ir se difundindo. O materialismo permanece como o mais ferrenho obstáculo à aceitação das verdades espirituais. E isso ocorre por pura ignorância do ser humano.


Outras entrevistas


Referências relacionadas

1 de janeiro de 2012

Livro IV - O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr. Nubor Facure

Há um grande fosso entre as considerações acadêmicas sobre as bases da consciência e os postulados espiritualistas. Esses últimos colocam como origem e destino das manifestações da consciência o Espírito ou princípio inteligente, independente da matéria. Já as academias - nas chamadas 'neurociências' - procuram explicar as manifestações de inteligência e consciência como subprodutos da atividade neuroquímica do cérebro. Esse assunto certamente ainda precisa ser muito desenvolvido, e o que as crenças acadêmicas sugerem  são explicações para o funcionamento de muitas funções cognitivas elementares, que se construiu a partir de uma visão fundamentalmente descritiva dessas funções, bem como sua localização no cérebro (ou seja, há um mapa que liga essas funções com partes específicas da massa encefálica). Não obstante a existência desse mapa, inexiste uma 'teoria da consciência' como muitos poderiam pensar que explique de forma satisfatória as manifestações superiores da consciência (além disso, é preciso ainda compreender o mistério que existe na chamada 'plasticidade neural').  

O neurologista Dr. Nubor Facure é autor do livro 'O Cérebro e a Mente - uma conexão espiritual' onde procura abordar o tema do ponto de vista espírita (e não apenas espiritualista). O livro é formado por vários capítulos (que não são numerados) conforme a sequência abaixo:
  • A Evolução do Cérebro
  • O Mapa do Desenvolvimento. Os Sistemas.
  • O Mapa do Desenvolvimento. As Funções.
  • Reconhecendo a Mente.
  • O Inconsciente Neurológico.
  • O Cérebro e a Mediunidade.
  • A Neurologia do Bem-Estar.
  • Revelações da Alma.
  • Psicognosia. O Reconhecimento da Alma.
  • O Homem Mediúnico. Uma perspectiva para o Ser Humano no futuro.
  • Ciência e Espiritualidade.
  • Doença Espiritual. 
  • Eventos Históricos na Pesquisa do Cérebro e da Mente.
De início já comentamos que uma das grandes deficiências do livro é inexistência de gravuras ou imagens que acompanhe as descrições feitas pelo autor (principalmente nos capítulos iniciais). O livro não contém, de fato, nenhuma ilustração exceto pela bela imagem da Nebulosa de Órion em sua capa. Uma vez que a neurologia definiu e especificou a existência de um mapa entre funções cognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais didático se a descrição do autor fosse acompanhada de figuras. Isso considerando a grande variedade de áreas e funções existentes. A figura abaixo é uma imagem extraída de um modelo aberto em Sketchup (cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser útil para os leitores acompanharem a interessante e bem feita descrição de Facure das funções cerebrais.
Modelo 3d do cérebro segundo Fussolia (via sketchup), com algumas das áreas discutidas por Facure em seu livro.
Em 'A Evolução do Cérebro' o autor se baseia nos relatos arqueológicos sobre a evolução do volume da massa do cortex, desde os símios até o chamado Homo Sapiens. Nessa descrição, o autor não se aventura a fazer qualquer 'conexão' com o princípio inteligente ou Alma que irá aparecer apenas no capítulo 'Reconhecendo a Mente'. O estilo do autor é bastante livre, ele consegue descrever de forma simples muitos dos conceitos. Há certa semelhança na maneira de apresentar cada conceito entre o que escreve o autor e André Luiz em vários dos livros sob psicografia de Francisco Cândido Xavier. Isso se caracteriza pelo uso do presente do indicativo para se referir a acontecimentos passados e fatos históricos na forma de curtos parágrafos.  

Duas passagens doe 'O Cérebro e a Mente' me chamaram a atenção. Na página 41, ao descrever o gigantesco número de conexões neurais existentes no cérebro e a quantidade de informação genética supostamente necessária para descrever detalhadamente tais descrições, Facure reconhece uma impossibilidade:
Ainda não se tem uma interpretação adequada para explicar quais os mecanismos que direcionam  essas ligações. Não sabemos, por exemplo, como os neurônios do olho se estendem pelas vias corretas até a parte de trás do cérebro, onde suas terminações têm que se distribuir por camadas de alta complexidade e com a exigência de impecável de que cada fibra deve ocupar com precisão o seu devido lugar. Acredita-se que a célula alvo contenha as substâncias químicas que exercem o papel de atrair a 'fibra certa' com a qual se deve ligar. Convém registrar que, enquanto temos milhões de gens, as ligações entre os neurônios são de tal forma numerosas que, para desligá-las, uma a uma, a cada segundo, seriam necessários 32 milhões de anos para completar a tarefa. Portanto, temos muito pouco material genético para, por si só, direcionar todas essas informações. 
Em outras palavras, a quantidade de informação contida no código genético é muito menor do que a necessária para descrever (ou mapear) as conexões neurais. De onde vem essa informação adicional? O problema aqui é que, embora se possa ter ideia dessas diferenças de informação, ninguém consegue quantificá-las corretamente. Mas, a necessidade de perfeição no concerto dessas ligações indica que alguma força adicional está em operação. Como a neurologia é conhecimento essencialmente descritivo, inexiste qualquer evidência sobre como essa força poderia operar, é como se apenas dispuséssemos da descrição de prédios e ruas do centro de uma metrópole sem poder saber absolutamente nada sobre as forças subjacentes que os utilizam durante a maior parte do tempo.

Outra parte interessante está na pagina 47. O autor considera que as estruturas encefálicas necessárias para a inteligência do homem moderno já estavam prontas a 100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera:
Podemos questionar, então, porque só tão recentemente fomos capazes de construir cidades, as pirâmides, a esfinge e redigir livros sagrados, considerando que a disponibilidade do cérebro já podia nos permitir desempenhar essas funções muito tempo antes. Pressuponho que a magnitude e a rapidez desse avanço, que ocorreu nesses últimos 250 séculos, deve ter sido precipitado ela vinda de criaturas, mais desenvolvidas, que vieram habitar entre nós, exercendo um papel de enxertia para a espécie humana. 
Uma observação pode ser válida aqui: é possível que a história que conhecemos seja apenas um esboço precário da verdadeira história pregressa dos últimos 100 mil anos. É possível que nossa história verdadeira tenha começado muito tempo antes dos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é interessante considerar que a arqueologia e antropologias modernas especifiquem um 'surto' evolutivo para a cultura humana apenas nos últimos 25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno já estava disponível 100 mil anos antes. Isso pode corroborar a noção de nossa cultura tenha sido auxiliada pela vinda em massa de Espíritos mais evoluídos. Essa 'vinda' em nada teve de extraordinária: ela se deu pelas vias normais do nascimento comum e nada teve a ver com  uma 'invasão' extraterrestre. Assim, nenhuma evidência física dela será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento, que é assinalado pelos estudos arqueológicos sem nenhuma explicação aparente.

Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira abordagem da necessidade de se incluir a Alma ou Espírito no quadro puramente descritivo das ciências neurológicas. Isso é feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversas culturas que reconheciam a existência de uma individualidade que é preservada além da morte. É importante considerarmos aqui que a postulação da existência da Alma não parte de uma necessidade meramente neurológica. De fato, podemos ter dificuldades em explicar a falta de informação no código genético para explicar as ligações neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência) vem como base independente dessas considerações. De uma maneira diferente dos capítulos iniciais, Facure descreve conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando em conceitos primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificar aparentemente a incompletude das descrições neurológicas da mente.

O Cérebro e a Mediunidade

O que também chama a atenção em 'O Cérebro e a Mente' é a tentativa de desenvolvimento da noção de Kardec de que a mediunidade tem a ver com a organização física do médium que, para Facure, sugere uma ligação estreita com a estrutura cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia da mediunidade'). Nesse sentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo aqueles que se poderiam considerar os mais 'físicos') passam pelo filtro do cérebro para que possam se manifestar. Isso contrasta fortemente com a opinião algo generalizada de que mediunidade deva ser algo 'místico'. E, também, sugere não se poder falar em mediunidade absolutamente mecânica, quando o médium apenas transmite o que recebe sem nenhum tipo de interferência. Esboços em direção ao desenvolvimento dessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia e Pintura Mediúnica'):
Com o desenvolvimento mediúnico, a psicografia e a pintura mediúnica manifestam-se claramente como expressões de automatismos cerebrais, nos quais o Espírito comunicante se utiliza dos núcleos da base e das áreas motoras complementares para executar a tarefa. Por isso, ambos, a psicografia e a pictografia, são executados com extrema rapidez; a caligrafia com frequência é ampliada e não há necessidade de acompanhamento da visão por parte do médium, porque ele já está treinado para execução do texto ou da pintura.
E não apenas isso. O conhecimento da maneira como o cérebro opera a codificação dos sinais visuais para fornecer ao Espírito a visão integral de um objeto (1) parece ser essencial para compreender as diferenças que existem entre descrições de diversos médiuns videntes. Mais recentemente, em seu blog, Facure discute uma possível explicação para esse fenômeno (2). Ele fala, por exemplo, que um paciente epilético pode descrever uma maçã sem cor. Isso acontece porque diferentes parcelas de informação de uma imagem vão para áreas diferentes do cérebro. Portanto, como a mediunidade está essencialmente ligada a estrutura física do cérebro, então diferentes médiuns poderão descrever diferentes aspectos de uma cena exterior, uma vez que essa faculdade dificilmente estará uniformemente desenvolvida entre eles (trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento na espécie Homo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns de conhecer a história pregressa de objetos físicos simplesmente ao tocá-los) é uma extensão das funções do tato ordinário que são processadas no lobo parietal. Dessa forma, prevê-se que as variedades (e intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto as variedades de funções cognitivas disponibilizadas pelas diversas estruturas do cérebro. A nós parece que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão desses conceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar uma caminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro. 

O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos usados pelo autor no livro (tal como a palavra psicognosia com significado específico dado por ele), além do conceito do inconsciente neurológico. Na parte final do livro há um instrutivo quadro cronológico sobre as descobertas da neurologia, onde não deixam de figurar as contribuições de Kardec e de outros investigadores para a compreensão integral do ser humano. Não é possível estabelecer uma ciência da Mente onde o Espírito seja dela derivado a partir de observações da neurologia, assim sendo:
Estando presos à realidade física que nos limita, não poderemos explicar a fisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade da Alma que utiliza também o cérebro, mas transcende a sua fisiologia. (pag. 97)
Pelo menos, isso ainda não ocorreu. Mas, certamente, o livro do Dr. Nubor Facure nos ajuda a aprender um pouco mais sobre o assunto.

Dados da obra

Título:  O Cérebro e a Mente, uma conexão espiritual.
Autor: Dr. Nubor O. Facure
Na nossa edição, não pudemos encontrar o ISBN dessa obra.
Número de páginas: 174.






Referências
  1. Com relação à maneira como o cérebro interpreta inicialmente a informação visual, uma descrição para os leigos pode ser encontrada no Capítulo 4 do livro 'Fantasmas no Cérebro' de V. S. Ramachandran (Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004). Segundo este autor, existem cerca de 30 áreas no cérebro associadas ao processamento separado da informação visual. 
  2. Ver 'Mediunidade a visão das cores' postado em 26/11/11 no blog do Dr. Nubor Facure. Há outros posts sobre o assunto  mediunidade também.