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24 de agosto de 2019

A resposta ao Paradoxo de Fermi


Assim, tudo é povoado no Universo. 
A vida e a inteligência estão por toda parte: 
em globos sólidos, no ar, nas entranhas da Terra, 
e até nas profundezas etéreas. (A. Kardec, Revue Spirite, 1858)
Imaginemos um Universo repleto de vida tanto quanto podemos entender materialmente esse conceito. Vida animal, vegetal, inumeráveis seres, todos eles existindo conosco no mesmo espaço e tempo. Composição bioquímica semelhante aos seres vivos que conhecemos. Temperatura, densidade e mistura da atmosférica, se diferentes, não muito das condições que existem em nosso planeta.

Um cosmo cheio de vida quase em tudo semelhante à terrena. Civilizações que chegaram à idade da razão há muitos bilhões de anos. Todas evoluidas tecnologicamente ao ponto de vencerem as distâncias imensas que separam as estrelas. Outros mundos em que as viagens interestelares se tornaram plenamente possíveis. 

Com um Universo tão grande, é razoável imaginar que essas civilizações antigas levaram muito tempo para 'explorar' inúmeras estrelas, tanto na proximidade dos sistemas estelares onde floresceram, como em todos os outros. Por maior que o Universo seja, a multiplicidade de 'habitats' da vida é tão grande que é inevitável concluir que essas civilizações entraram em contato entre si. Formando vastas redes de vida inteligente entre as estrelas, essas civilizações avançadíssimas eventualmente também encontraram a Terra...

Para eles esse planeta, perdido em algum ponto de seu sistema solar, é um repositório retardatário de vida, onde seres ainda pouco avançados sonham em galgar os mesmos passos dos mundos mais elevados. 

Se assim é, então porque a existência desses outros mundos não foi definitivamente provada? O Paradoxo de Fermi resume esse quadro como
"a aparente contradição entre as altas estimativas de probabilidade de existência de civilizações extraterrestres e a falta de evidências para, ou contato com, tais civilizações." [1]
De nada adianta leitores mais convictos da visita de extraterrestres afirmarem que o Paradoxo já foi resolvido com as evidências providas pela Ufologia, que é imensamente rejeitada por acadêmicos. O Paradoxo de Fermi afirma que, se o Universo estivesse repleto de vida como a nossa, hoje estaríamos cercados por eles, a ponto de nossa vida e a deles ser uma coisa só. Esse é o ponto essencial do paradoxo que também guarda a chave para sua solução.

Como a validade do Paradoxo se fundamenta em determinados princípios, o mais fundamental deles, o de que a vida (terrena) tenha evoluído de forma 'onipresente' no Universo, não pode ser válido. O materialismo, entretanto, pode conduzir a uma negação muito forte da possibilidade de vida, que é a razão para que muitos céticos da vida extraterrestre afirmarem que a Terra é o único planeta habitado no Universo. O argumento contrário já foi bem explorado por Kardec:
Por que a Terra, pequeno globo imperceptível na imensidade do Universo, que não se distingue dos outros planetas nem por sua posição, nem por seu volume, nem por sua estrutura, pois nem é a maior, nem a menor, nem está no centro, nem nos extremos, por que, dizia eu, entre tantas outras, seria ela a única residência de seres racionais e pensantes? [2]
Como a estatística rejeita a unicidade da vida terrena, uma resposta possível seria enfraquecer outros principios auxiliares do paradoxo. Talvez a vida extraterrestre, desenvolvida tecnologicamente até certo ponto, tenha eliminado a si mesma em algum grande conflito estelar [3]. Talvez as inúmeras civilizações tenham se aniquilado quando se encontraram. Ou talvez vida exista, mas o único planeta onde ela desenvolveu alguma tecnologia para viagens espaciais foi a Terra. 

A resposta do Paradoxo pode assim ser dada enfraquecendo-se uma série de suas suposições.

Um novo conceito de vida

A revelação espírita, entretanto, afirma de forma categórica que todos "os globos que se movem no espaço são habitados":
55. São habitados todos os globos que se movem no espaço?
“Sim e o homem terreno está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se têm por espíritos muito fortes e que imaginam pertencer a este pequenino globo o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que só para eles criou Deus o Universo.”
que esclarece, conforme os própros Espíritos, as palavras atribuídas a Jesus:
Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. (João 14, 1-2)
A afirmação não só confirma a existência de vida disseminada no Universo, mas também o seu caráter inteligente. Isso reforça algunas das hipóteses do Paradoxo de Fermi. 

Entretanto, o problema maior é o próprio conceito de vida. Limitados às expressões materiais da Terra, a vida orgânica é apenas um subconjunto das possibilidades de ambientes onde a consciência pode se manifestar. E, obviamente, a extensão do conceito de vida (que é algo ainda a ser plenamente aceito) atua como obstáculo para entender porque "supercivilizações alienígenas" teriam qualquer interesse em explorar sistemática e materialmente a Terra. 

Assim, o primeiro óbice é entender que, constatada a existência desencarnada, com suas infinitas possibilidades de manifestação, faz pouco sentido imaginar que civilizações avançadas teriam interesse em 'explorar materialmente' a Terra. O planeta, dependente de inúmeros recursos delicadamente arranjados para que a vida orgânica possa existir, é mais um vasto mas restrito ambiente para o aprendizado de criaturas materiais em um estágio muito limitado de evolução - o que inclui inclusive os animais da Terra (desde bactérias até o homem).

A existência de vida em formas "não observáveis" não só garante infinitas possibilidades de vida, mas permite sua coexistência espacial e temporal conosco. Assim, o espaço em que vivemos é também a morada de inúmeros seres que não podemos ainda perceber. As 'moradas' de que fala o evangelista não se referem apenas a outros planetas, mas também a outros 'planos' de existência paralelos ao nosso.

Dito isso, de forma alguma fechamos uma conclusão de que apenas criaturas invisíveis ou não observáveis formam vida alienígena. Vida material como a nossa também evoluiu conforme o quadro que descrevemos no início deste texto. Só que ela, tendo ultrapassado a fronteira da razão e se dirigido à angelitude, provavelmente compreende que não há nenhum sentido na dominação em massa de mundos materiais que lhe são mais atrasados e que cumprem a lei universal da evolução estabelecida por Deus, que elas bem sabem preside a tudo. Assim, é  bem possível que evidências de sua presença entre nós já existam, porém, acomodadas muito bem a sua própria linha evolutiva e segundo conceitos de fraternidade Universal, ocultam-se no concerto de forças naturais que nos rodeiam, sem quaisquer pretenção em se mostrarem exaustivamente a nós. 

Ver também

A questão da encarnação em diferentes mundos: um novo tipo de matéria?

Referência

[2] A. Kardec (1858), Revista Espírita, Março, A pluralidade dos mundos.   http://ipeak.net/site/estudo_janela_conteudo.php?origem=518&&idioma=1 
[3] Um exelente vídeo sobre o Paradoxo de Fermi do ponto de vista materialista pode ser visto no youtube:



https://www.youtube.com/watch?v=sNhhvQGsMEc

11 de fevereiro de 2012

Muitos mundos, muitas vidas: uma heresia que se torna realidade.

Todo ser aspira, em virtude de sua constituição, ao alvo de sua existência. O homem tende à perfeição intelectual e espiritual! Se o homem é destinado a conhecer o Universo, que eleve seus olhos e seus pensamentos para o céu que o cerca e para os Mundos que voam por cima de si. É um quadro, um espelho em que ele pode contemplar e ler as formas e as leis do bem supremo, o plano e a organização de um perfeito connjunto...Estudar a ordem sublime dos Mundos e dos entes que se reúnem em coro para constar a grandeza de seu Senhor, é a ocupação mais digna de nossas inteligências. (Giordano Bruno, 1591, "De Immenso et Innumerabilibus".)

A época que vivemos é muito especial para a Astronomia. Temos visto notícias fascinantes, sobre a descobertas de novos mundos, novos astros, novas Terras. Em pouco tempo, cresceram as conclusões do mundo científico em direção à realidade de outros planetas fora de nosso sistema solar.

A velocidade com que essa constatação é feita só não é maior do que a expressividade com que ela é confirmada: quantos seriam os planetas fora de nosso sistema solar disponíveis? Até pouquíssimo tempo, havia a esperança de que talvez fossemos capaz de  descobrir alguns planetas parecidos com a Terra no enorme redemoinho de estrelas que constitui a chamada 'Via-Láctea'. Agora, a realidade é bem diferente.

A Via-Láctea (Fig. 1) é um turbilhão composto de aproximadamente 300, quiçá 400, bilhões de estrelas (isso mesmo 'bilhões', o número exato não é conhecido, Nota 1) unidas por uma força coesiva em direção ao seu centro. A dimensão desse sistema é coisa inimaginável: um raio de luz partindo de uma borda levaria cerca de 100 mil anos para chegar a outra borda. Esse mesmo raio de luz viaja a outros inimagináveis valores de velocidade, de forma a atravessar 10 trilhões de quilômetros em 1 ano (o que equivale a 300 mil quilômetros por segundo). As escalas são grandes demais, tudo é inconcebível para a mente humana. Por exemplo, o Sol viajando a impressivos 250 quilômetros por segundo em torno de seu centro leva cerca de 250 milhões de ano para completar uma revolução completa (o chamado 'ano galáctico'). As dimensões da escala galáctica atestam a dificuldade e insignificante probabilidade de conseguirmos detectar diretamente um mundo como nosso orbitando uma estrela desse sistema colossal.

Fig. 1 Concepção artística moderna da Via-Lactéa vista 'do topo'. Um sistema estelar com quase meio trilhão de  estrelas e, agora, quase um trilhão de planetas. O sol localiza-se a 30 mil anos luz do centro no chamado 'braço de Órion'. Crédito da Imagem: R. Hurt, SSC. 
Mas esses não seriam os únicos números colossais que a Astronomia iria revelar sobre a Via-Láctea. Em um artigo recente (Cassan, 2012), um time de astrônomos usando modernas técnicas indiretas de 'microlentes gravitacionais' demonstraram que o número médio de planetas orbitando estrelas na nossa galáxia é estimado como maior que 1, possivelmente 2 (ou mais). Essa quantidade varia conforme o tamanho do planeta (planetas menores que Júpiter seriam mais numerosos). Dado um limiar superior de meio trilhão de estrelas na Via Láctea, há implicações diretas sobre o número total de planetas existentes em toda galáxia: talvez algo próximo a 1 trilhão de planetas! A heresia de Giordano Bruno (Nota 2) se torna realidade. Embora a dificuldade na medida das dimensões de planetas do tamanho da Terra, já  foram descobertos diversos planetas externos (ver Fig. 2) pela missão Kepler, baseando-se em buscas em estrelas muito próximas ao Sol.

De fato, o que o time liderado por Arnaud Cassan (Cassan, 2012) mostrou é que planetas são regra e não exceção ("We conclude that stars are orbited by planets as a rule, rather than the exception"). As forças que arregimentam a matéria no processo de formação estelar quase sempre deixam restos que se torna planetas. Diante desse novo número astronômico, as perspectivas de se encontrar vida como a nossa em outros planetas tornam-se incontestáveis. 

Uma ideia antiga que o Espiritismo tem como princípio.

A ideia de que existiriam outros mundos semelhantes à Terra e de que eles seriam habitados não é nova (Nota 3). Mas, certamente, tal noção não foi muito popular ao longo dos séculos, pois contava com o obstáculo de que não se tinha uma ideia precisa do que eram as estrelas. No ocidente, a noção arraigada de que os astros seriam luminares feitos para 'adornar a noite dos homens' certamente deu força às concepções geocêntricas, da unicidade e especialidade do homem no Universo. A pluralidade dos mundos habitados carecia de qualquer fundamento e era claramente contrária a princípios religiosos que reservam um lugar especial ao homem pela Divindade. A heresia (Nota 3) foi contudo cultivada por alguns poucos e, de todas as ideias já classificadas como hereges, a pluralidade dos mundos habitados é a que terá um fim mais notável em direção a sua realidade.

A noção foi ostensivamente afirmada pelo Espíritos já em 1857 na questão 55 e muitas outras como as questões 56, 57,  58, 234, 235, 236 do "Livro dos Espíritos" e é um tema recorrente em diversas assuntos tratados nele (ver questão 172 abaixo). Há um artigo sobre a Pluralidade dos Mundos Habitados na Revue Spirite de Março de 1858. Foi o Espiritismo que também interpretou nesse sentido as palavras altamente figuradas do Evangelho de João no Capítulo 14, versículos 1 e 2: "Não se turbe o vosso coração. – Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai". Isso acontece porque a pluralidade dos mundos é uma necessidade diante da nova dinâmica espiritual revelada pelos fundamentos da Doutrina Espírita:

Questão #172. As nossas diversas existências corporais se verificam todas na Terra?

“Não; vivemo-las em diferentes mundos. As que aqui passamos não são as primeiras, nem as últimas; são, porém, das mais materiais e das mais distantes da perfeição.”

Poucos perceberam a extensão das implicações da existência de muitos mundos do ponto de vista espiritual. Desde que a consciência não se limita à matéria, diante da lei das vidas sucessivas, a migrações de Espíritos entre diversos mundos é uma necessidade. Tal lei nunca foi representada, nem mesmo de forma alegórica, pela maioria das religiões. Essa possibilidade era reduzida diante da necessidade de se 'demonstrar' efetivamente a realidade da existência desses mundos. Agora, com quase 1 trilhão de mundos disponíveis só na Via-Láctea, quem sabe religiosos mais dogmáticos compreendam a extensão dessa descoberta para suas crenças.

Fig. 2 Comparação de dimensões de diversas 'Terras' ou planetas rochosos com dimensões semelhantes à da Terra que já foram descobertos. Para comparação, a Terra (Earth) e marte (Mars) são mostrados na figura. Crédito da imagem: NASA/JPL-Caltech.

Em outro post, discutiremos alguns aspectos epistemológicos importantes da questão e sua relevância para a pesquisa do Espírito.

Referências
Notas 

1 - Ver N. Wethington (2008). How Many Stars are in the Milky Way? Interessante sobre isso é ler a nota de rodapé de A. Kardec em 'A Gênese', Capítulo 6, "Uranografia Geral", "Os desertos do espaço", que traz a concepção do século XIX dessa descrição que fazemos aqui: "A nossa Via-Láctea é uma dessas nebulosas. Conta perto de 30 milhões de estrelas ou sóis que ocupam nada menos de algumas centenas de trilhões de léguas de extensão e, entretanto, não é a maior. Suponhamos uma média de 20 planetas habitados circulando em torno de cada sol: teremos 600 milhões de mundos só para o nosso grupo. Se nos pudéssemos transportar da nossa nebulosa para outra, aí estaríamos como em meio da nossa Via-Láctea, porém com um céu estrelado de aspecto inteiramente diverso e este, malgrado às suas dimensões colossais, nos pareceria, de longe, um pequenino floco lenticular perdido no infinito. Mas, antes de atingirmos a nova nebulosa, seríamos qual viajante que deixa uma cidade e percorre vasto país inabitado, antes que chegue a outra cidade. Teríamos transposto incomensuráveis espaços desprovidos de estrelas e de mundos, o que Galileu denominou os desertos do espaço. À medida que avançássemos, veríamos a nossa nebulosa afastar-se atrás de nós, diminuindo de extensão às nossas vistas, ao mesmo tempo que, diante de nós, se apresentaria aquela para a qual nos dirigíssemos, cada vez mais distinta, semelhante à massa de centelhas de bomba de fogos de artifício. Transportando-nos pelo pensamento às regiões do espaço além do arquipélago da nossa nebulosa, veremos em torno de nós milhões de arquipélagos semelhantes e de formas diversas contendo cada um milhões de sóis e centenas de milhões de mundos habitados" Tal descrição é condizente o estado do conhecimento astronômico e com os recursos tecnológicos disponíveis naquele tempo. Hoje, descobriu-se que a maior parte da matéria não pode ser observada diretamente, o que não era conhecido na época de Kardec.

2 - Dizemos 'heresia' pois Giordano Bruno (1548-1600) foi queimado vivo por defendê-la. Dentre as muitas 'heresias' de Bruno estavam a crença na reencarnação,  a ideia de que o Universo era infinito, de que as estrelas eram outros sóis e de que cada uma delas tinha planetas abrigando vida inteligente.

3 - A ideia remonta às discussões filosóficas dos antigos gregos. No século XIX um grande popularizador da ideia foi Camille Flammarion (1842-1925) grande admirador de Allan Kardec.