Mostrando postagens com marcador médiuns músicos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador médiuns músicos. Mostrar todas as postagens

17 de março de 2015

Partituras de músicas mediúnicas de Rosemary Brown

Início da partitura de uma sonata ditada pelo Espírito de Schubert através de Rosemary Brown.
Em uma busca não intencional na rede encontrei alguém no youtube que disponibilizou recentemente "partituras em vídeo" de músicas mediúnicas de Rosemary Brown. Como os seguidores deste blog sabem, essa é a médium sobre quem já escrevemos (1,2) e que surge na história como a mais importante manifestação de mediunidade musical que se tem notícia. 

São elas:

1) Ditado pelo Espírito de Brahms:

Waltz in b-mollhttps://www.youtube.com/watch?v=yPlRGLqeHwY

2) Ditado pelo Espírito de Rachmaninoff:

Lyric in h-mollhttps://www.youtube.com/watch?v=0bxuRekN0b0

3) Ditato pelo Espírito de Debussy:

Danse Exotique in Fis-durhttps://www.youtube.com/watch?v=PpZ1gBAxFWY

4) Ditado pelo Espírito de Chopin:

Nocturne in As-durhttps://www.youtube.com/watch?v=7JqnJ5qgDZI
Impromptu in f-moll, https://www.youtube.com/watch?v=k-CzCd4AJyQ
Impromptu in Es-dur, https://www.youtube.com/watch?v=-UT8dqabdf0

5) Ditado pelo Espírito de Liszt:

 Lament in e-moll, https://www.youtube.com/watch?v=UBhYgZoQpak
Waltz in b-moll, https://www.youtube.com/watch?v=yPlRGLqeHwY
Jesus Walking on the Water, https://www.youtube.com/watch?v=mdPQj4pXovQ

7) Ditado pelo Espírito de Schubert (na interpretação de Leslie Howard):

Sonata in f-mollhttps://www.youtube.com/watch?v=SN3R_xwj1Rs

Chamou-me a atenção a Sonata de Schubert, que não conhecia (reproduzida acima). Para quem conhece um pouco das obras compostas por F. Schubert, "salta aos ouvidos" a semelhança incrível de estilo que essa sonata apresenta.  Outra observação: a diversidade de estilos musicais, que torna difícil para quem ouve pela primeira vez acreditar que tais peças foram obtidas a partir das mãos de um mesmo compositor. Prova mais inconteste da realidade da sobrevivência dificilmente poderá ser conseguida.

Referências
  1. Ver post: Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.
  2. Ver post: Vídeo IV - Uma médium e um Piano - Entrevista com Rosemary Brown (1973)


9 de agosto de 2012

Rosemary Brown e a arte mediúnica (Érico Bomfim) - II/2

Execução inédita por Érico Bomfim de um Noturno em fá menor, atribuído ao Espírito de F. Chopin pela médium Rosemary Brown. Assistir também E. Bomfim sobre Rosemary Brown (Junho/2012).

Continuação da parte I do texto Rosemary Brown e a arte mediúnica por Érico Bomfim.

Rosemary Brown versus Fritz Kreisler

Rosemary Brown (1916-2001).
É verdade que há casos de imitações de estilos, inclusive convincentes imitações, na história da arte. Jorge Coli, em O que é arte, descreve alguns casos, tanto na literatura como na pintura e na escultura. As imitações enganaram muita gente, inclusive críticos especializados. No entanto, nenhum caso descrito reunia as características mencionadas acima, especialmente as dos itens a (trocando-se a palavra médium por imitador) e b.(para referência a esses itens, ver post anterior).
            Otto Maria Carpeux descreve um caso na música:
Caberia acrescentar várias sonatas ou movimentos isolados, sobretudo de Pugnani (Prelúdio e allegro), que o famoso violinista Fritz Keisler costumava executar em concerto; e que eram da sua própria lavra, imitações perfeitas e congeniais do estilo violinístico do Rococó. Durante muitos anos Kreisler esperava com paciência que os críticos e musicólogos despertassem do erro; pois todos eles aceitavam a “fraude”. Só quando o grande mestre Vincent d'Indy fez a observação de que a execução daquela “peça de Pugnani” por Kreisler não obedecia fielmente às intenções do compositor antigo, Kreisler resolveu revelar a verdade; provocando tempestade de indignação da parte dos mesmos críticos que tinham cometido tantas gafes.

O “caso Kreisler” é um sinal de advertência. É tão fácil imitar o estilo instrumental do Rococó porque a maior parte dos ouvintes só presta atenção a sinais exteriores daquele estilo: à dissolução das formas barrocas em ornamentação e arabescos. Pelo mesmo motivo, muita gente acredita reconhecer como “mozartiana” qualquer música do século XVIII. Os traços individuais são menos marcados que o ar de família da época. (CARPEUX, 2001, p. 94)
Vejamos as diferenças entre o caso apresentado por Carpeux e o caso Rosemary Brown.
F. Kreisler (1875-1962).
 
De acordo com a lista de composições de Fritz Kreisler (1), o grande violinista teria produzido, como imitação, apenas movimentos isolados, salvo um concerto para violino, imitando Vivaldi. Não consta nenhuma sonata inteira. Há imitações de apenas dois compositores que viveram até o Romantismo (Jean Baptiste Cartier e Joseph Lanner). A grande maioria são imitações de compositores clássicos, sobretudo do Rococó. Há também dois barrocos (Couperin e Vivaldi). Ao todo, são 21 peças; 20 movimentos isolados e o concerto falsamente atribuído a Vivaldi.

Já Rosemary Brown tinha noções de principiante em música, produziu obras nos estilos de bem mais de uma dezena de compositores __ a grande maioria entre os mais importantes da história da música ocidental __ e essas obras se contam às centenas, pertencendo aos mais diversos gêneros.

O contraste é flagrante:
a) Kreisler foi um dos maiores violinistas do século XX. Rosemary Brown tinha noções de uma principiante em música.
b) Kreisler produziu imitações quase apenas de compositores do Rococó, sendo que poucos dos compositores que Kreisler imitou listam-se entre os maiores. Rosemary produziu obras nos estilos de bem mais de uma dezena de compositores, quase todos listados entre os grandes.
c) Kreisler produziu, como imitações, praticamente apenas peças para violino ou violoncelo acompanhado por piano (a única exceção é o concerto para violino no estilo de Vivaldi). Rosemary produziu peças para os mais diversos conjuntos e pertencentes aos mais diversos gêneros.
d) Kreisler escreveu, como imitações, praticamente apenas movimentos isolados. Rosemary Brown tem obras inteiras.
e) Kreisler escreveu 21 imitações em toda vida. Rosemary produziu mais de 400 peças musicais em 6 anos, cerca de 20 vezes mais que toda a produção de Kreisler em imitações.
Note-se ainda que o estilo descrito por Carpeaux como o mais fácil de se imitar (o do Rococó) é o que menos aparece na produção de Rosemary. De fato, Rosemary atribui suas peças a compositores românticos, e é precisamente no Romantismo que os estilos dos artistas se tornam mais pessoais; em que surge a figura do gênio criador cuja subjetividade aflora em sua arte, tornando-a mais marcadamente individualizada e sua. E é desses estilos marcados por traços pessoais que a obra de Rosemary Brown demonstra o domínio.

Estórias do subconsciente

Nos 3 casos de arte mediúnica expostos (Rosemary Brown, Luiz Antônio Gasparetto e Chico Xavier), o médium alegava que a sua produção era, na verdade, de Espíritos. A primeira hipótese alternativa aventada costuma ser a fraude. Quando essa se mostra pouco convincente, troca-se, em geral, para teorias obscuras que mencionam o subconsciente. Essa última se mostra elástica o suficiente para admitir quaisquer fatos, de modo a evitar a todo custo a hipótese da sobrevivência. Em outras palavras, o subconsciente se torna capaz de produzir qualquer coisa, porque retém qualquer conhecimento que cruze com ele. Se o médium já viu um quadro de Renoir na vida, mesmo sem o saber, diz-se que seu subconsciente já é capaz de produzir uma grande quantidade de boas imitações. No caso de médiuns psicopictógrafos, essa alegação é justificada com base no fato de o médium entrar em transe. E, em transe, acessar-se-iam regiões obscuras da mente que reteriam os mais improváveis conhecimentos.

 No entanto, no caso de Rosemary, tal justificativa não serve. Ela escrevia música em estado de plena consciência. Ela era capaz de parar de escrever a música que estava escrevendo e conversar com uma pessoa. Isso não era nenhum problema. E isso aconteceu no documentário da BBC, quando ela achou estranha a peça de Liszt, então ainda incompleta, e pediu para tentar tocá-la. Como não conseguiu, Geoffrey Skelton, músico da equipe da emissora, foi tocá-la e se surpreendeu. Depois, Rosemary continuou a escrevê-la e a terminou. Isso se dava porque não se tratava de uma psicografia. Ela conversava com os Espíritos como quem conversa com qualquer pessoa. E os Espíritos lhe ditavam as notas das músicas. Por isso não havia transe. 

É verdade que Rosemary Brown tenha chegado a mencionar outros processos mediúnicos pelos quais lhe chegavam as composições, mas o que importa aqui é demonstrar que ela era capaz de escrever em perfeita consciência. Aliás, sabe-se que Chico Xavier também era capaz de responder, enquanto psicografava, a perguntas que lhe fossem feitas, o que demonstra que ele nem sempre psicografava em transe, fragilizando-se, assim, a hipótese alternativa mencionada no final do parágrafo anterior.

A arte mediúnica como evidência

A arte mediúnica, enquanto prova de sobrevivência do espírito, é de valor muito particular, em razão da sofisticação de seu conteúdo. Veja-se o caso do Parnaso de além-túmulo, que aguardou quase 70 anos (desde sua primeira edição) para ganhar um estudo mais profundo, na dissertação de mestrado de Alexandre Caroli Rocha. Note-se que na dissertação só foi possível analisar 5 seções da antologia, de 56 seções no total. Agora imaginemos quanto estudo não será necessário para se cobrir toda a literatura mediúnica de Chico Xavier! A propósito, em literatura, não são raros os pesquisadores que dedicam décadas de suas carreiras ao estudo de apenas um ou dois autores.


Para que uma obra de arte mediúnica se converta plenamente em prova da sobrevivência do espírito, são necessárias 2 pessoas, pelo menos: o médium, que nos traz a obra, e o pesquisador, que evidencia quanto conhecimento está embutido nela. Caroli, por exemplo, declara-nos que a seção Guerra Junqueiro do Parnaso sintetiza as características estilísticas desse poeta que foram evidenciadas pela crítica literária apenas 14 anos depois, em um trabalho de Amorim de Carvalho, o que nos mostra que a mediunidade pode ser pioneira em conhecimento. Não houvesse o pesquisador, não se saberia disso. A obra de arte (no caso, o Parnaso) não teria apresentado os desdobramentos que poderia, enquanto prova da sobrevivência da alma. São justamente a sutileza e a profundidade do conhecimento implícito numa obra de arte mediúnica que a tornam tão forte como prova de que o espírito sobrevive. Fica evidente através da pesquisa que a quantidade de conhecimento necessária para se elaborar a obra não pode ser obtida camufladamente. Seriam necessários grandes e profundos estudos. E uma grande trilha de estudo espera também todo aquele que quiser compreender as razões pelas quais é tão difícil furtar-se à hipótese da comunicabilidade dos Espíritos. Diferentemente das evidências trazidas pelos efeitos físicos, os efeitos inteligentes não convencem de imediato. Mas convencem muito mais e geram convicção muito mais firme, desde que se percorra um longo caminho de estudo. 

Uma vez que o espírito é o princípio inteligente, um efeito inteligente (como uma obra de arte ou uma carta psicografada) é uma prova mais forte de sua sobrevivência do que uma batida numa mesa ou outro efeito físico. Os efeitos físicos impressionam mais os sentidos, é verdade, mas o efeito inteligente carrega traços que constroem uma personalidade com muito mais clareza. Para quem lê uma carta psicografada ou aprecia uma obra de arte mediúnica, é especialmente nítida a sensação de que aquele indivíduo específico, dado como autor da carta ou da obra, sobreviveu à morte e passa bem.

As cartas

As cartas de pessoas “mortas” para seus parentes “vivos” também são provas bastante contundentes. Há interessantes semelhanças e diferenças entre uma carta de um parente “morto” e uma obra de arte de um “morto”, enquanto provas da sobrevivência da alma. Ambas contêm demonstrações de que a inteligência do indivíduo sobrevive à sua morte. No entanto, uma carta só se presta como prova da sobrevivência de seu autor para aqueles que conhecem pormenores da vida do “morto”. Àqueles que não o conheceram, uma série de informações reveladoras de identidade passará despercebida.

Uma obra de arte mediúnica contém também demonstrações de identidade. Porém, pode-se dizer que essas sejam mais universais, uma vez que qualquer um que esteja familiarizado com o estilo do artista “morto” pode reconhecê-lo, tendo uma nítida sensação de estar diante de uma obra dele __ no caso das obras convincentes. E quanto mais o apreciador da obra mediúnica em questão conhecer o estilo do autor a quem ela é atribuída, mais a obra se lhe revelará como do “morto” e mais nítida será a sensação que ele vai experimentar de que o “morto”, na realidade, vive.
            
Referências

BROWN, Rosemary. Immortals at my elbow. London: Bachman & Turner, 1974.

BROWN, Rosemary. Look beyond today. London: Bantam Press, 1986.

BROWN, Rosemary. Sinfonias inacabadas: os grandes mestres compõem do além. São Paulo: Edigraf, 1971.

CARPEAUX, Otto Maria. O Livro de Ouro da História da Música. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

COLI, Jorge. O que é Arte. São Paulo: Brasiliense, 1990.

PARROTT, Ian. The Music of Rosemary Brown. London: Regency Press, 1978.

ROCHA, Alexandre Caroli. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo: dissertação de mestrado. Campinas: UNICAMP, 2001.

Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.
O que se deve entender por 'fenômenos espirituais'. 
Érico Bomfim sobre Rosemary Brown (Junho/2012).

Notas

1 Disponível em: http://imslp.org/wiki/List_of_compositions_by_Fritz_Kreisler

14 de julho de 2012

Rosemary Brown e a arte mediúnica (Érico Bomfim) - I/2

Primeira execução por Érico Bomfim de um Estudo em fá sustenido menor, atribuído ao Espírito de F. Chopin pela médium Rosemary Brown. Assistir também E. Bomfim sobre Rosemary Brown (Junho/2012).

Vá para a parte II deste artigo.

Rosemary Brown foi a maior médium musical que já houve. Sua obra é extremamente vasta e inclui muitos estilos diferentes. Ela explica:
Hoje, Liszt é o organizador e chefe de um grupo de compositores famosos, que me visitam em minha casa e me transmitem suas novas composições. Há atualmente doze, presentes no grupo: Liszt, Chopin, Schubert, Beethoven, Bach, Brahms, Schumann, Debussy, Grieg, Berlioz, Rachmaninoff e Monteverdi. Enumerei-os na ordem em que se comunicaram. Outros, como Albert Schweitzer, surgem rapidamente, transmitem-me um pouco de música e depois parece que não voltarão mais. Mozart, por exemplo, apareceu apenas três vezes. Mas, após seis anos de trabalho, tenho hoje, em gavetas e armários, espalhadas por toda a minha casa, cerca de 400 peças musicais - canções, composições para piano, alguns quartetos incompletos, o princípio de uma ópera, bem como concertos e sinfonias parcialmente completos. (BROWN, 1971, p. 21, tradução minha)
Rosemary Brown (1916-2001)
Como se vê, num período de apenas seis anos, Rosemary Brown produziu mais de 400 peças musicais. E não escreveu apenas peças para piano, mas também canções e trechos de outros quartetos, de concertos e de sinfonias, além do princípio de uma ópera.

O caso de Rosemary Brown chamou tanta atenção, que a BBC fez um documentário sobre ela, na década de 60. Foi um sucesso. Quando lhe perguntaram se ela poderia compor alguma coisa para as câmeras, ela disse que não dependia dela, portanto não poderia garantir nada, mas, por fim, escreveu Grübelei, uma peça bastante complexa, tanto rítmica como harmonicamente, e que requer um profundo conhecimento de Liszt. Não se tratava de uma peça virtuosística, de exibicionismo técnico tipicamente lisztiano __ o que seria mais óbvio e previsível __ mas de algo muito mais sutil. Como explica Ian Parrott:
Sobre a peça de Liszt já houve bem extenso comentário, citado na capa da gravação de 1970, por Humphrey Searle, destacado compositor e autor de um livro importante sobre Liszt - de fato, uma das maiores autoridades em Liszt neste país. Ele diz: 'Essa [Grübelei] é uma peça muito interessante'. Ele aponta que é o tipo de coisa que Liszt poderia ter escrito durante os 15 últimos anos de vida; ele considera que é notável que a maior parte dela seja escrita em compasso 5/4 contra 3/2; a harmonia é muito cromática e típica de Liszt, como também a forma. A maior parte das marcações é em italiano, com uma em francês ('avec tendresse'), novamente característico; e há um compasso que lembra o muito conhecido Liebestraum. A todos esses pontos impressionantes, eu adicionaria mais um: a peça é uma das melhores de Rosemary por direito. É emocionalmente satisfatória e intelectualmente gratificante de tocar e de ouvir - muito melhor, eu diria, do que um grande número de conhecidas composições devidamente autenticadas de muitos compositores reputados que não tiveram que se expressar através de um médium (PARROTT, 1978, p. 38- 39, tradução minha).

E, segundo V. G. W. Harrison, então membro da Liszt Society, “escrever Grübelei implica não somente conhecimento do Liszt tardio, mas também a habilidade de ver a direção em que o estilo de Liszt estava indo no momento da sua morte, em 1886 (PARROTT, 1978, p. 13, tradução minha).

No entanto, a formação musical de Rosemary Brown era extremamente limitada, de acordo não só com ela, mas com aqueles que tiveram a oportunidade de testá-la: 
Como eu descobri, em 1970, porém, quando tentava ajudá-la com leitura de partitura, instrumentação, forma, história, etc., ela não é como uma estudante de música e se mantém tanto quanto possível uma tábula rasa. (...) Eu posso confirmar a impressão de Mary Firth, que, quando fez testes de escuta em Rosemary, encontrou total ausência de aptidão musical básica que ela esperaria em qualquer estudante, e, certamente, num estudante de composição. Sua música, diz Mary Firth (BBC TV, 17 de junho de 1969), não é uma imitação, “Ela é realmente uma absorção de estilo, o que é diferente”, e isso sem nenhum treinamento e com muito pouco conhecimento de qualquer tipo sobre harmonia (PARROTT, 1978, p. 11, tradução minha).  
De fato, Rosemary era muito pobre, não podendo, portanto, frequentar concertos. A pobreza também era causa de muita irregularidade em suas aulas de piano. E não apenas Grübelei é satisfatório enquanto composição:
Rosemary alegou estar em contato com os Espíritos de certos compositores; ela não apenas tocou, mas escreveu um grande número de composições musicais que, segundo ela, foram ditadas por eles; praticamente todas elas mostram características dos compositores até o ponto que os críticos musicais podem julgar; e, talvez o mais importante, algumas dessas composições têm qualidades musicais intrínsecas de um nível superior. Eu acredito que não tenha havido nada como isso em nenhuma área e mais especialmente na música. (PARROTT, 1978, p. 23, tradução minha). Ver nota 1.
Para elaborar o material musical que Rosemary Brown trouxe ao mundo, seria necessário conhecimento profundo de uma quantidade grande de estilos diferentes, em toda sutileza que os distingue. Seria necessário também o domínio das técnicas de composição que permitem a construção de uma obra bem estruturada do ponto de vista formal, o que pode ser igualmente __ ou até mais __ difícil. Em suma, para elaborar toda a obra musical em questão, seriam necessários os conhecimentos de diversos musicólogos e a habilidade de um compositor maduro. E Rosemary não foi nem uma coisa nem outra. Daí a força de seu caso.
             
Sugeriram-se as hipóteses mais diversas para explicar a gênese das peças. Chegou-se a dizer que Rosemary teria tido estudos profundos de música e os teria esquecido numa amnésia. Então, seus conhecimentos se manifestavam nas composições, sem que ela soubesse de onde vinham. No entanto, não há qualquer indício de semelhantes estudos na vida da médium. Na verdade, esse tipo de hipótese demonstra o quão convincentes são as músicas. Afinal, sugerir uma hipótese dessa extravagância só faz sentido se a música não pode, de nenhum modo, ter sido forjada por alguém com conhecimentos de um principiante em música apenas. Em outras palavras, se a música é ruim, banal e pode ser feita por qualquer um, por que sugerir que Rosemary teria tido estudos profundos de música e os perdido num episódio de grande esquecimento para, então, começar a fazer música, trazendo todos aqueles conhecimentos esquecidos, mas sem se dar conta disso? Se a música pode ter sido feita por qualquer um, bastariam conhecimentos de principiante, que ela não negava ter. Então, não haveria necessidade de se elaborar uma hipótese tão complicada, que me forçasse a gastar tantas linhas para explicá-la.

Do fato de o caso Rosemary Brown ser tão singular na música, não se segue que o caso seja singular de todo. No vasto campo da arte mediúnica encontram-se casos muito análogos. O médium Luiz Antônio Gasparetto, por exemplo, foi capaz de produzir mais de 5.000 telas em diversos estilos, sem ter maiores conhecimentos de artes plásticas. Chico Xavier produziu prosa e poesia em volume gigantesco, atribuídas a uma lista igualmente gigantesca de célebres escritores. Só o livro Parnaso de além-túmulo conta com 259 poemas, atribuídos a 56 poetas. O caso de Chico é extremamente forte, pelo fato de que, quando saiu a primeira edição do Parnaso (então com 60 poemas, atribuídos a 14 autores), em 1932, Pedro Leopoldo/MG, sua cidade, não contava com biblioteca pública, e a biblioteca particular do médium tinha apenas poucos livros, todos espíritas; além disso, ele tinha acesso apenas a almanaques literários (algo semelhante aos jornais de hoje), como registrou o repórter Clementino de Alencar em 1935. Chico só havia estudado até a 4ª série primária (atual 5º ano) e trabalhava como caixeiro num armazém das 7h às 20h. No entanto, elogios que recebeu de críticos literários (inclusive Monteiro Lobato) diziam que se ele era o verdadeiro autor das poesias, então era um escritor notável. Alguns dos críticos falavam que ele poderia gabar-se de ser um dos maiores escritores do Brasil, ou mesmo que as poesias mediúnicas eram melhores que aquelas que os célebres poetas haviam feito em vida. Como se tudo isso não bastasse, Chico abriu mão dos direitos autorais, alegando, naturalmente, que não era ele o autor.

Veem-se, portanto, características comuns aos 3 casos (de Rosemary Brown, L. A.  Gasparetto e de Chico Xavier), o que os torna análogos:
a) o médium é leigo na arte em que cria;
b) o volume de produção é muito grande e atribuído a muitos autores diferentes, mostrando, portanto, muitos estilos diferentes;
c) os estilos das diversas produções artísticas correspondem aos estilos dos autores a quem são atribuídas;
d) a produção não é um apanhado dos clichês mais evidentes de cada estilo, mas sim um conjunto de obras de arte originais e bem construídas, que demonstram a absorção de diferentes estilos e o domínio das técnicas específicas de criação dentro de cada arte;
e) a arte produzida impressiona a crítica;
f) o médium diz que a intenção dos artistas é dar à humanidade evidência de que a morte não existe; de que o espírito sobrevive. No caso da literatura mediúnica, essa ideia se evidencia no próprio conteúdo da obra literária.
Sobre a característica f no caso específico de Rosemary, perceba-se que a intenção dos compositores não parece ter sido inteiramente frustrada. Segundo Rosemary, Colin Davis, um dos maiores regentes dos últimos tempos, disse-lhe que sempre achara que a morte fosse o fim, o nada, mas que, após conhecê-la, fora levado a pensar de novo sobre o assunto.       


Outros textos e vídeos

Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.
O que se deve entender por 'fenômenos espirituais'. 
Érico Bomfim sobre Rosemary Brown (Junho/2012).

Notas

(1) Texto original em inglês: "Rosemary has claimed to be in touch with the spirits of certain named composers; she [Rosemary Brown] has not merely played but taken down in writing a large number of musical compositions said by her to be dictated by them; virtually all of these show caracteristics of the composers insofar as musical experts are able to judge them; and, perhaps most important, some of these compositions have intrinsic musical qualities of their own of a high order. I believe there has been nothing quite like all this before in any field and more especially in the field of music.” (PARROTT, 1978, p. 23)

21 de abril de 2012

Nova performance do fragmento mediúnico de sonata de Mozart (Érico Bomfim)

O Espírito de Mozart acaba de ditar ao nosso excelente médium, Sr. Bryon-Dorgeval, um fragmento de sonata. Como meio de controle, este último o fez ouvir por diversos artistas, sem lhes indicar a origem, mas lhes perguntando apenas o que achavam do trecho. Cada um nele reconheceu, sem hesitação, o estilo de Mozart. O trecho foi executado na sessão da Sociedade de 8 de abril último, em presença de numerosos conhecedores, pela senhorinha de Davans, aluna de Chopin e distinta pianista, que teve a gentileza de nos prestar o seu concurso. Como elemento de comparação, a senhorinha de Davans executou antes uma sonata que Mozart compusera quando vivo. Todos foram unânimes em reconhecer não só a perfeita identidade do gênero, mas ainda a superioridade da composição espírita. A seguir, com o seu talento habitual, a mesma pianista executou um trecho de Chopin. (A. Kardec, Revue Spirite, Maio de 1859)
Em comemoração à edição de 'O Livro dos Espíritos' em 18 de abril, apresentamos nova performance, por Érico Bomfim, do famoso fragmento de sonata atribuído ao Espírito de Mozart. Essa composição foi recebido pelo médium Brion D'Orgeval e tocada pela primeira vez pela Mlle. De Davans à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em abril de 1859, coordenada, na época, por Allan Kardec. De Davans foi aluna de Frédéric Chopin.

A música corresponde ao mesmo fragmento que foi queimado no Auto da Fé de Barcelona (Nota 1), Espanha, a 9 de outubro de 1861.


O Manuscrito

O manuscrito original chegou a ser vendido a 2 francos na época (1860) conforme consta em diversos trechos de artigos da Revue Spirite (Janeiro de 1860): 
O do Sr. Oscar Comettant (vide le Siècle de 27 de outubro último, e nossa resposta na Revista de dezembro de 1859), produziu a venda, em poucos dias, na casa Ledoyen, de mais de cinquenta exemplares da famosa sonata de Mozart (que custa 2 fr., preço líquido, segundo a importante e espirituosa observação do Sr. Comettant).
Ou, em outro trecho:
Nota - O fragmento de sonata ditado pelo Espírito de Mozart acaba de ser publicado. Pode-se procurá-lo, seja no Escritório da Revista Espírita, seja na livraria espírita do senhor Ledoyen, Palais Royal, galeria de Orléans, 31 - preço: 2 francos. - Será remetida franqueada, contra remessa de uma ordem dessa quantia.
Hoje em dia, o manuscrito original pode ser comprado por centenas de libras em antiquários europeus (Nota 2 e figuras abaixo).
Capa do manuscrito original
Fragment de Sonate, dicté par l’Esprit Mozart à 
Monsieur Brion d’Orgeval, médium (Année 1859)


Parte I da imagem do fragmento de sonata com compassos numerados (clique na imagem para ampliar).

Parte II da imagem do fragmento de sonata com compassos numerados (clique na imagem para ampliar)

Referências
Sobre Érico Bomfim.

Nascido em 1991 no Rio de Janeiro e cursando (2012) o último ano de bacharelado em piano pela UFRJ. 






Nota 1
"Hoje, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber:

“A Revista Espírita, diretor Allan Kardec;

“A Revista Espiritualista, diretor Piérard;

“O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;

“O Livro dos Médiuns, pelo mesmo;

“Que é o Espiritismo, pelo mesmo;

Fragmento de sonata ditada pelo Espírito de Mozart;

“Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand;

“A História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux;

“A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo Barão de Goldenstubbe.

“Assistiram ao auto de fé:

“Um sacerdote com os hábitos sacerdotais, com a cruz numa mão e uma tocha na outra;

“Um escrivão encarregado de redigir a ata do auto de fé;

“O secretário do escrivão;

“Um empregado superior da administração da alfândega;

“Três serventes da alfândega, encarregados de alimentar o fogo;

“Um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo.

“Uma inumerável multidão enchia as calçadas e cobria a imensa esplanada onde se erguia a fogueira.

“Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras espíritas, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam: Abaixo a Inquisição!

“Várias pessoas, a seguir, aproximaram-se da fogueira e recolheram cinza”. (A. Kardec, Revue Spirite, Novembro de 1861)
Nota 2  Entretanto, uma cópia do manuscrito apareceu em uma versão espanhola recente da Revue Spirite, volume 2 de 1859, p. 366-369 conforme a Ref. 2.




8 de janeiro de 2012

Vídeo IV - Uma médium e um Piano - Entrevista com Rosemary Brown (1973).


Entrevista para o 'Incrível Mundo de Kreskin' em 1973 com legendas em Português. Em um post anterior apresentamos uma resenha curta sobre o livro 'Sinfonias Inacabadas - Os grandes mestres compõem do Além' de Rosemary Brown (1916-2001), que se notabilizou por uma mediunidade musical ostensiva. Neste post apresentamos um vídeo de 8 minutos com legendas em português de uma entrevista que ela deu ao 'Incrível Mundo de Kreskin' em 1973.

A Sra. Brown executa uma peça para piano ditada por Chopin na segunda metade do vídeo. Vale a pena assistir.

Outras referências à música de Rosemary Brown

O selo Keturi Musikverlag lançou em 2001 um CD com as seguintes composições (ver figura acima):

Intermezzo Nr. 1 Es-Moll. Ditado por J. Brahms em Janeiro de 1974;
Noturno As-Dur. Ditado por F. Chopin em Junho de 1966;
Momento Musical Nr.1 g-Moll. Ditado por F. Schubert em Março de 1968;
Scherzo Es-Dur. Ditado por L. van Beethoven em Abril de 1975;
Le Paon. Ditado por F. Chopin em Abril de 1976;
Sonata em Ges-Dur, Ditado por F. Lizst em Janeiro de 1973;
Bagatelle Es-Dur. Ditado por L. van Beethoven em Novembro de 1967;
Grübelei. Ditado por F. Lizst em Maio e Junho de 1968;
Intermezzo Nr. 2 es-Moll. Ditado por J. Brahms em Maio de 1974;
Três Estudos em Ges-Dur (Fevereiro de 1968 e Junho de 1969) por F. Chopin;
Momento Musical Nr. 2 f-Moll. Ditado por F. Schuber em Janeiro de 1976;
La Caverne. Ditado por C. Debussy em Agosto de 1976;
Canção. Ditado por S. Rachmaninov em Fevereiro de 1968; 

Outras podem ser encontradas na web:
Referências 


6 de janeiro de 2012

Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.

Médiuns músicos – Os que executam, compõem ou escrevem músicas sob influência dos Espíritos. Há médiuns musicais mecânicos, semimecânicos, intuitivos e inspirados, como se dá com as comunicações literárias. (Ver o tópico sobre Médiuns de Efeitos Musicais). A. Kardec (1)

Os escarnecedores devem apresentar alguma explicação para essa música, visto não poderem rejeitá-la como não existente. Ela deve ser investigada imparcialmente, é claro. Na verdade, eu mesma continuo a buscar as condições necessárias a uma eficiente comunicação com o mundo dos Espíritos. (Rosemary Brown, "Sinfonias Inacabadas", p.26)  

Imagine conversar com Espíritos desde a tenra infância e crescer relacionando-se com eles durante toda adolescência. Imagine receber deles centenas de comunicações e ditados e desenvolver uma mediunidade produtiva, rica em manifestações intelectuais por mais de 70 anos. Se alguém pensou que este é mais um post sobre Chico Xavier, enganou-se. Rosemary Brown (1916-2001) foi uma simples dona de casa inglesa que desde sua primeira infância conversou e recebeu recados de gente falecida. Sua história de vida está bem contada no livro 'Sinfonias Inacabadas - os grandes mestres compõem do Além' que é uma espécie de autobiografia. Muita coisa já foi publicada sobre ela na década de 70, quando ela teve um curto mas impactante aparecimento na mídia inglesa e americana para depois voltar a sua vida pacata, longe dos holofotes e da fama. Sua história é fascinante e tem paralelos impressionantes com a vida de Chico Xavier, com a diferença que, ao invés de livros, ela recebeu músicas.

Franz Liszt (1811-1886).
Foram cerca de 500 partituras, obtidas por meio de 'psicografia musical', por alguém que teve aulas esporádicas de piano quando permitidas por sua vida cheia de dificuldades. Essas composições revelaram 12 diferentes estilos, todos confirmados pela crítica. As dificuldades da Sra. Brown tiveram sua razão de ser, pois fizeram crescer nela a força que precisaria para mostrar (ou executar) seus ditados mediúnicos ao mundo, vencendo sua personalidade tímida. A mediunidade musical é raríssima, mas foi detectada por Kardec conforme consta no Capítulo 16 de 'O Livro dos médiuns'. A variedade musical de Rosemary Brown foi desenvolvida ao longo do tempo. Como tinha grande lucidez ao conversar com os Espíritos, eles podiam indicar a ela nota a nota a composição final, além de marcar o compasso.  Seu principal mentor foi Franz Liszt (1811-1886) que se revelou quando ela tinha apenas 7 anos de idade. A edição brasileira do livro traz um prefácio de Elsie Dubugras que a compara ao grande médium mineiro. O livro é dividido nos seguintes capítulos:
  • Capítulo 1  - O início
  • Capítulo 2 - Por que eu?
  • Capítulo 3 - O plano dos compositores.
  • Capítulo 4 - Liszt.
  • Capítulo 5 - A Vida após a morte.
  • Capítulo 6 - Chopin.
  • Capítulo 7 - Os compositores.
  • Capítulo 8 - Curas.
  • Capítulo 9 - A comprovação.
Para quem gosta de música clássica, o livro chega a ser divertido. Embora o ceticismo em sua época tenha se interessado pelo fenômeno, ele não conseguiu encontrar uma explicação plausível para a variedade de estilos demonstrados pela médium. Explicar o fenômeno da Sra. Brown não é tarefa fácil fora da tese espírita, pois a composição de músicas clássicas é uma atividade enormemente complexa, que envolve um conjunto de faculdades intelectuais raramente encontradas. Além disso, compor músicas não é uma atividade muito feminina (basta tentar se recordar do número de mulheres na história que se dedicaram à composição). Do ponto de vista da fenomenologia, certamente a psicografia musical é algo mais notável que psicografia comum (literária). 

O Capítulo 1 é cheio de histórias das fases iniciais de sua vida e da sua dificuldade em se acostumar com sua faculdade extraordinária. As dificuldades porque teve que passar, moldaram uma personalidade bastante flexível e, portanto, sensível para a tarefa que haveria de se revelar mais tarde. Um resumo dos ensinamentos que teve com o grupo de compositores pode ser lido no Capítulo 5. Os capítulos 4, 6 e  7 é repleto de informações e detalhes pessoais dos próprios compositores. Sobre Liszt:
Sempre que ele me dá algum conselho, fá-lo de um modo muito delicado. Nunca é autocrático. (p.99, Capítulo 4)
Sobre Chopin (1810-1849):
Chopin tem aparência de muito moço, o mais moço de todos. Uns trinta anos, diria eu. Tem cabelos espessos e ondulados, é um belo sorriso claro que lhe dá um ar bem juvenil. O rosto é bem talhado, ligeiramente oval, fazendo-o parecer um rapazola (p. 150, Capítulo 6)
Sobre Rachmaninov (1873-1943):
O rosto de Rachmaninov é um tanto comprido e magro, e ele parece muito mais rídigo do que realmente é. Porém, é muito compassivo, creio que por ele próprio ter sofrido bastante. Disse-me que houve um período em sua vida em que se sentiu totalmente desprezado como pessoa e como músico. (p. 170, Capítulo 6). 
Sobre Debussy (1862-1918):
Geralmente pintam-no com uma barba, mas agora apresenta-se de cara raspada, pelo um tanto pálida, bastante cabelo, bem escuro, partindo de imponente testa. Os olhos são muito escuros e a voz grave. Às vezes, com o esforço em tentar comunicar-se, soa um tanto áspera. É de temperamento bem sério. Quase nunca ri, raramente sorri. (p. 175, Capítulo 6)
Sobre Schubert (1797-1828):
Uma das coisas que mais gosto nele é a sua expressão. Seus olhos são muito brandos, e parecem irradiar cordialidade. É extremamente modesto e retraído, quieto e ao mesmo tempo alegre, de certo modo, apesar de seu senso de humor ser bastante antiquado. (p. 160, Capítulo 6).
Finalmente, no capítulo 'A Comprovação', Rosemary Brown descreve o impacto da música dos compositores em diversas pessoas, os testes de lucidez mental a que ela teve que se submeter para 'comprovar' que ela não era demente e os testes feitos por parapsicólogos da época (dentre os quais Wilhelm Tenhaeff (1894-1981)) para mostrar que sua faculdade não se devia a 'criptomnésia' (uma suposta 'memória oculta'). Essas e outras explicações esdrúxulas continuam a ser aplicadas por quem se impressiona com o fenômeno mas não aceita a tese da comunicação. Rosemary Brown também descreve questionamentos de músicos ao seu trabalho, com perguntas endereçadas diretamente aos compositores falecidos. Muitos ficaram convencidos de sua correspondência com esses compositores e passaram a admirar a música de Rosemary Brown.

Qual era o verdadeiro objetivo dos compositores

Será que os compositores decidiram criar um novo movimento musical por seu intermédio? Do mesmo modo como não se pode dizer que o caráter da revelação espírita não tem como objetivo fazer ciência, filosofia ou religião, o movimento de compositores que se comunicou por intermédio de Rosemary Brown não tinha como objetivo simplesmente fazer música. Seu objetivo foi declarado em uma mensagem ditada palavra a palavra a Rosemary Brown por Sir. Donald Tovey (1875-1940):
Ao comunicar-se através da música e da conversação, um grupo organizado de compositores, que partiu deste mundo, está tentando estabelecer um preceito para a Humanidade, ou seja, que a morte física é uma transição de um estado de consciência a outro no qual conserva a sua individualidade. A compreensão deste fato encaminhará o homem a uma visão interior de sua própria natureza e das suas potencialidades supraterrestres. O conhecimento de que a encarnação no seu mundo nada mais é do que um estágio da vida eterna do homem, promoverá atitudes de maior amplitude do que as adotadas no presente e ensejarão uma visão mais equilibrada acerca de todas as coisas.(p. 23, Capítulo 1)
Reencarnação

O Espiritualismo inglês historicamente cresceu dissociado da noção de reencarnação. Entretanto, as personalidades musicais que se manifestaram por Rosemary Brown sancionaram esse conceito. Ao questionar seu mentor a razão porque ela teria sido escolhida para a tarefa de transmitir música, recebeu de Liszt a seguinte explicação:
"Antes de você nascer, quando acedeu em ser a nossa medianeira, você teve que concordar em passar por uma série de sofrimentos de modo a tornar-se mais sensitiva." (p. 67, Capítulo 2)
Portanto, inexiste descontinuidade no nascimento. Mais ainda, há condições restritas para que alguém possa desenvolver essa faculdade no grau de desenvolvimento a que a Sra. Brown conseguiu chegar:
Sofrimento, como aquele porque você passou, ajuda a atuação do tipo de faculdade de que você é dotada. As pessoas que levam uma vida fácil e tranqüila não são suficientemente sensitivas para conseguirem comunicação conosco facilmente". (p. 67, Capítulo 2; grifos nossos)
Explica-se assim porque médiuns extraordinários são tão raros. Agora, porque esses compositores escolheriam uma dona de casa para transmitir suas músicas e, assim, passar a mensagem do pós vida? Não seria melhor que procurassem alguém de talento, que tivesse uma educação musical completa, que soubesse melhor transmitir sua intenção? A tais questões os Espíritos também cuidaram de dar respostas:
O seu conhecimento é suficiente para o que temos em mente. Se tivesse tido uma educação musical completa, isto não nos auxiliaria absolutamente em nada. Em primeiro lugar, porque um curso completo de música teria tornado muito mais difícil a você provar que não seria capaz de escrever a nossa música sozinha. Segundo, porque um acervo de conhecimentos musicais teria feito com que você adquirisse muitas ideias e teorias próprias, as quais iriam ser um entrave para nós. (p. 66, Capítulo 2)
Em outras palavras, excesso de conhecimento atrapalha a transmissão, cria muito ruído. No caso da Sra.  Brown, a música era transmitida por ditado - ou seja - ela não tinha conhecimento do sentido musical da peça transmitida ao longo do processo, apenas no final, quando ela era executada. Também ressaltamos que composição clássica não é reconhecidamente uma atividade feminina. Ao escolher a Sra. Rosemary Brown, os compositores elevaram ao máximo o impacto que seria provocado por suas composições para a mente desconhecedora do fenômeno.

A opinião dos compositores sobre a 'música moderna'.

Finalmente não poderíamos deixar de citar a opinião externada por Liszt a Rosemary Brown sobre música moderna. O caso aconteceu quando a Sra. Brown ouvia rádio (na década de 60, é provável que se tratasse de alguma música dos Beatles ou Jazz, mas isso não é dito pela Sra. Brown). Ela perguntou a ele o que achava desse tipo de música e a resposta foi:
É uma série de sons vagamente interessantes, porém bastante grotescos. Creio que o resultado poderia ser considerado engenhoso, do ponto de vista intelectual, mas, em minha opinião, não é música. Não se pode manufaturar música. Ela deve provir de alguma fonte de inspiração. Há compositores que conseguem compor diretamente do seu intelecto, mas o resultado não será satisfatório, a menos que haja, mesclada à música, alguma espécie de sutil inspiração. (p. 121, Cap. 4)
Desde então, a situação só piorou. Deixamos, entretanto, aos leitores apreciar e julgar a sabedoria dessa opinião, no que se refere à música de nossos dias. Em resumo, o livro de Rosemary Brown é muito bom, repleto de informações interessantes sobre sua mediunidade, em particular sobre esse tipo raríssimo de faculdade mediúnica ligada à música.

No próximo post, traremos mais informações sobre Rosemary Brown e a música dos compositores por ela transmitida.

Dados bibliográficos

Título em Português: 'Sinfonias Inacabadas: os grandes mestres compõem do Além'.
Autor: Rosemay Brown.
Título em Inglês: 'Unfinished Symphonies: voices from the Beyond'.
1971. Edição especial para Livraria Espírita 'Boa Nova'. São Paulo, Brasil.
Traduzido por Agnor de Mello Pegado.
Gráfica e Editora Edigraf S. A. 

Referências

(1) O Livro dos Médiums, Cap. XVI.