Essas foram algumas dos últimos escritos de Zamenhof, o criador do Esperanto, registrado em sua obra Mi estas homo (“Eu sou uma pessoa”, [1c] conforme citado em [1]). Esse trecho sintetiza um dos últimos pensamentos antes da morte de Zamenhof em 1917. Não é novidade que diversas línguas artificiais foram criadas para motivar a comunicação internacional humana. Entretanto, nenhuma delas teve maior apoio internacional do que o Esperanto, criado por Ludwik Lejzer Zamenhof (1859-1917). Neste post exploramos algumas das razões para isso.
Também o Esperanto, amigos, não vem destruir as línguas utilizadas no mundo para o intercâmbio dos pensamentos. A sua missão é superior, é da união e da fraternidade rumo à unidade universalista. Seus princípios são os da concórdia e seus apóstolos são igualmente companheiros de quantos se sacrificaram pelo ideal divino da solidariedade humana, nessas ou naquelas circunstâncias. A língua auxiliar é um dos mais fortes brados pela fraternidade, que ainda se ouve nesse Planeta empobrecido de valores espirituais, neste instante de isolacionismo, de autarquia, de egoísmo e de nacionalismo adulterado.
Caiam, caiam as barreiras hostis entre as pessoas.É chegado o tempo!Toda Humanidade deve se reunir como uma única família. [1, p. 8].
...Pela primeira vez na história da humanidade, nós, cidadãos das mais diversas nações, permanecemos lado a lado, não como estrangeiros, nem competidores, mas como irmãos que, compreendendo-se mutuamente sem forçar nosso próprio idioma entre nós, não nos consideramos com suspeição porque a ignorância não nos divide, mas nos amamos uns aos outros; e apertamos nossas mãos, não com a insinceridade de um estrangeiro para com outro, mas de forma sincera, de um humano para com outro humano. Que não haja dúvida sobre a importância deste dia, pois hoje, dentro das fronteiras hospitaleiras de Boulogne-sur-mer, não testemunhamos o encontro de franceses com ingleses, de russos com poloneses, mas de seres humanos com outros seres humanos. Louvado seja este dia, assim como grandes e gloriosos sejam os dias que virão! [1, p. 24]
- Sentimos e acreditamos na existência de uma “força superior” que governa o mundo e que chamamos “Deus”;
- Deus escreveu sua lei no coração de cada pessoa, por meio da sua consciência;
- A essência de todas as leis dadas por Deus é expressa pela regra áurea: Amar ao seu próximo e fazer aos outros o que gostaria que fosse feito a si mesmo; nunca se envolver com atos que sua voz interna diga estar em desacordo com os desejos de Deus.
- Quaisquer outros ensinos que se ouçam de professores ou guias religiosos e que não estejam de acordo com esses três princípios anteriores são construções meramente humanas que podem estar certas ou erradas.
- O ensino do Esperanto tem sido descrito na literatura como promotor do aprendizado multilinguístico [4c, 4d]. Ele é, portanto, uma excelente ferramenta de aprendizado de línguas;
- Soa suspeito dizer que o “Inglês é fácil” depois de se ter investido décadas no seu aprendizado, de se ter consumido milhares de horas ouvindo músicas, filmes e discursos nessa língua. É preciso fazer realmente as contas de quanto países investem de recursos próprios [4a] no aprendizado do Inglês como uma contabilidade necessária de planejamento futuro. Além disso, as distancias linguística entre o Inglês para os idiomas não anglo-saxões tornam seu aprendizado, de fato, difícil.
- A acusação de “falta de neutralidade” do Esperanto é consequência da opção de ação política de alguns grupos esperantistas, porém, nenhuma língua humana estará isenta da mesma acusação, que também pode se estender a presente língua franca, o Inglês. A recente saída do Reino Unido da Comunidade Europeia reaviva debates sobre o uso do Esperanto como língua dessa comunidade [4a].
- O uso do Esperanto obedece a um princípio de “justiça linguística” [4b] pela não imposição de uma cultura associada a uma língua. Sua “falta de contexto” – como colocam os críticos – é justamente sua maior vantagem [2b]. Por outro lado, seu contexto é a fraternidade universal que tem com base a justiça, primeiramente a linguística.
- Considerando tudo isso, também não é verdade que o Esperanto seja uma “língua fácil”. É um idioma com regras simples, mas isso não se traduz em facilidade imediata de aprendizado como muitos esperantistas afirmam. Como ferramenta de comunicação, sua eficiência já está provada. Como mecanismo de propagação da fraternidade universal, até agora, o Esperanto também demonstrou sua relevância [2b].
Conclusão
[1b] Citado em [1], p. 50.
[1c] Zamenhof L.-L. Mi estas homo / Komp., koment. A. Korĵenkov. Kaliningrado: Sezonoj,
2006.
[2] R. Nielsen (2020).
Kie estas la Duolinganoj? https://www.liberafolio.org/2020/03/31/kie-estas-la-duolinganoj/
[2b] P. Murphy. A Language for Idealists. Princenton Alumni Weekly. Janeiro de 2017.
[3] “A missão do Esperanto”. Mensagem
psicografada por Francisco Cândido Xavier na cidade de Pedro Leopoldo (MG), em
19 de janeiro de 1940. Disponível em: https://www.febnet.org.br/blog/geral/estudos/a-missao-do-esperanto/
[4]
Lins, U., & Tonkin, H. (2016). Dangerous language: Esperanto under
Hitler and Stalin. London: Palgrave Macmillan.
[4a]
Utri, R., & Warszawski, U. Could Esperanto be the Common Language in TheEuropean Union? Researchgate.net
[4b]
Brosch, C., & Fiedler, S. (2018). Esperanto and Linguistic Justice: An EmpiricalResponse to Sceptics. In Language Policy and Linguistic Justice (pp. 499-536).
Springer, Cham.
[4c]
Roehr-Brackin, K., & Tellier, A. (2018). Esperanto as a tool in classroom
foreign language learning in England. Language Problems and Language Planning,
42(1), 89-111.
[4d]
Tellier, A. (2012). Esperanto as a starter language for child second-language
learners in the primary school. Esperanto UK.
[5] "China deve se tornar a maior economia do mundo em 2028, diz centro de estudos britânico". Jornal "O Estado de São Paulo". Notícia de 26 de dezembro de 2020.
[6] Chan, G. (1986). China and the Esperanto movement. The Australian Journal of Chinese Affairs, (15), 1-18.