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18 de dezembro de 2021

Finalistas do Concurso Bigelow sobre provas da Imortalidade


O Instituto Bigelow acaba de publicar integralmente os ensaios vencedores do concurso "BICS Contest" - BICS pelo nome do instituto: Instituto Bigelow de Estudos da Consciência. Esse concurso premiou ensaios que discorreram sobre as "melhores provas" da imortalidade. O prêmio foi dividido em categorias, com destaques para os três primeiros lugares:
  1. Lugar: Jeffrey Mishlove Ph.D.: Beyond the Brain: The Survival of Human Consciousness After Permanent Bodily Death ("Além do cérebro: a sobrevivência da consciência humana depois da morte permanente do corpo")
  2. Lugar: Pim van Lommel M.D.: The Continuity of Consciousness: A concept based on scientific research on near-death experiences during cardiac arrest ("A continuidade da consciência: um conceito baseado em pesquisa científica sobre experiências de quase morte durante paradas cardíacas")
  3. Lugar: Leo Ruickbie Ph.D.: The Ghost in the Time Machine ("O fantasma na máquina do tempo")

Detalhes sobre o concurso podem ser lidos em Purpose of BICS Essay Competition. (ref. como acessível em dezembro de 2021). Uma das razões para o concurso segundo essa referência é

Não obstante intrigantes evidências, o número de grupos de pesquisa e fomento dedicados a investigar a sobrevivência da consciência humana além da morte é excessivamente pequeno no mundo ocidental. Ainda que todas as 7,8 bilhões de pessoas no planeta Terra venham a morrer eventualmente, muito pouca pesquisa de qualidade é feita nessa que é talvez uma das questões mais fundamentais a desafiar nossa espécie.

Dentre os fatos interessantes ocorridos durante o concurso está a defesa do BICS contra críticas de céticos que parecem ter insistido contra o concurso. Por exemplo, em uma das notas publicadas pelo patrono do BICS, podemos ler essa insistência nas entrelinhas: 

Reconhecemos que muitas pessoas e organizações não necessariamente acreditam que a consciência humana sobrevive à morte do corpo. O BICs está simplesmente tentando gerar debates e discussões, e apresentar argumentos que possam esclarecer ou gerar mais discussões sobre esse importante tópico.

Isso é complementado pela declaração:
Gostaria de declarar que o Concurso de Ensaios do BICS não é uma reflexão sobre se eu ou a equipe do BICS temos ou não nossas opiniões pessoais sobre se a consciência humana sobrevive à morte do corpo. Naturamente, todos temos opiniões. Eu pessoalmente acredito que a consciência humana sobrevive e que provavelmente conta o que você faz com sua vida aqui.

Em suma, sendo o dinheiro do prêmio de origem privada, não há o que se falar contra o concurso.

Uma grata surpresa foi a presença de brasileiros entre os premiados. Em especial citamos a premiação de Alexandre Caroli Rocha, Marina Weiler e Raphael Fernandes Casseb com o ensaio:

Mediumship as the Best Evidence for the Afterlife: Francisco Candido Xavier, a White Crow  (Mediunidade como a melhor evidência do além-túmulo: Francisco Cândido Xavier, um corvo branco)

A referência ao "corvo branco" remete a caráter especialíssimo do "caso Chico Xavier" que se distingue como um corvo branco no meio da imensa maioria de "corvos pretos" da opinião comum. O ensaio completo pode ser acessado no link acima (conforme disponível em dezembro de 2021).

Os ensaios vencedores estão disponíveis gratuitamente para acesso em: All Twenty Nine Winning BICS Contest Essays are Published Here! 

Parabéns aos premiados nacionais e que venham outros concursos desse tipo!

Referências

Instituto Bigelow de Estudos da Consciência: https://www.bigelowinstitute.org/index.php

21 de março de 2020

Orem e Lutem (Vergniaud)

"O naufrágio", J. M. William Turner (1805).
No céu nenhuma estrela!... As ondas furiosas se quebram, franjando de espuma as pontas dos rochedos! Os ventos desencadeados e a tempestade que urra abafam os gritos dos náufragos e os apelos apressados do canhão da angústia!... De um lado, a rocha que esmaga, do outro, o abismo que devora!... 
Alguns homens corajosos, colocados na mastreação, percebem ao longe uma pálida e trêmula luz! Seria o farol? Pobre navio, tantas vezes enganado na espera, não ousas dirigir-te até ele, e, entretanto, esse ponto luminoso te atrai como se fosse o termo de teus perigos! 
Ó náufragos, qual seria dentre vós o insensato que nessa hora de tempestade não quereria curvar a fonte e orar? Não é ela toda-poderosa, essa humilde prece que sobe até o Criador e faz raiar sobre vós, nesse momento de dúvida tenebrosa, a inspiração que salvará a todos! Essa claridade interior vos mostrará vosso navio, ao invés de correr sobre escolhos, ir diretamente para o porto!...
Marinheiros, orem e lutem contra os elementos furiosos, lutem,  pois o porto lá está!... Com o porto, a salvação e a vida, o novo mundo, o país tão procurado, o Sol, os belos dias, o calor vivificante, as fontes frescas, as sombras, os frutos saborosos, a rica natureza, o sedutor desconhecido, as descobertas, os estudos, o objetivo da viagem!...
Amigos, certamente compreendereis meu pensamento e nesse navio perdido, reconhecereis a sociedade moderna. Oh, sim, a tempestade bufa, o vento das paixões ruge, a incredulidade obscurece os grandes pensamentos, apaga as altas aspirações! Mas Deus ouve o grito dos náufragos: a prece de alguns deles e a radiosa claridade de sua Doutrina dissiparão a tempestade, acalmarão os ventos e iluminarão a noite!
Vós que começais a perceber o farol, devotai-vos para salvar a tripulação, dai coragem, esperança, fé aqueles e a quem falta, tomai nas mãos o leme, a inteligência, a fim de dirigir todos para a luz, para o progresso, para a salvação! 
Mensagem do Espírito Vergniaud recebida por M. W. Krell em março de 1873. Reproduzido com algumas modificações de "Reflexos da Vida Espiritual", 1a Ed., CELD (2002)

1 de março de 2020

O sistema de Sírius segundo Emmanuel

Representação do Cão Maior superimposta ao mapa Stellarium. Sírius é a estrela mais brilhante do céu.

(...) Pouco depois, ei-la que aporta em portentosa esfera, inconfundível em magnificência e grandeza. O espetáculo maravilhoso de suas perspectivas excedia a tudo que pudesse caracterizar a beleza no sentido humano. A sagrada visão do conjunto permanecia muito além da famosa cidade dos santos, idealizada pelos pensadores do Cristianismo. Três sóis rutilantes despejavam no solo arminhoso oceanos de luz mirífica, em cambiâncias inéditas, como lampadários celestes acesos para edênico festim de gênios imortais. (...) Ao crepúsculo, quando se despediam no espaço os raios dos três sóis diferentes, em deslumbramento de cores, Alcione reuniu-se a numeroso grupo de amigos e orou com fervor, suplicando as bênçãos do Pai misericordioso. O firmamento enchia-se de claridades policrômicas e deslumbrantes. Satélites de prodigiosa beleza começavam a surgir na imensidade, envolvendo a paisagem divina num oceano de luz. (Emmanuel, "Renúncia", ver [1])

É comum encontrar descrições de sistemas astronômicos em mensagens mediúnicas.  Camille Flammarion, por exemplo, descreve um relato de A. Aksakof de que um médium teria feito revelações em 1859 sobre a existência de dois satélites em Marte [2], 18 anos antes da descoberta. Outros exemplos de descrições já foram abordadas neste blog [3]. Diante das dificuldades em se confirmar tais previsões, ressaltamos a cautela que devemos ter na sua interpretação. Isso porque o contexto ou ambiente não é aquele dos olhos terrenos, mas a impressão dos Espíritos. Muitas vezes, a descrição é embelezada pelo lirismo que o autor espiritual, pelo filtro mediúnico, pretende conferir às palavras, o que pode não corresponder exatamente à intenção do autor. De qualquer forma, teoricamente, os Espíritos (superiores) podem produzir descrições de objetos ainda inacessíveis a observatórios terrestres.

Tal é o caso da descrição que abre este post. Foi colhida do livro Renúncia e antecede o Capítulo II, que, como narrativa, tem seu início no ano de 1662. O autor espiritual, Emmanuel, conhecido guia de F. C. Xavier descreve o sistema estelar de Sírius ou a "estrela do cão" (ou α  Canis Majoris) como é conhecida na Terra. Os personagens principais de Renúncia são Pólux e Alcíone. Alcíone, um Espírito superior habitante do sistema de Sírius, visita alguma região inferior do Plano Espiritual para consolar e advertir um outro espírito (Pólux) a quem ela está ligada por laços afetivos. Uma vez que Pólux estava em um plano de vida inferior, não percebe a aproximação de Alcíone. Pólux, com intensas saudades dela, começa a orar e pede que seja concedida a oportunidade de se encontrar e ouvir Alcíone. Depois de confortar e orientar Pólux, Alcíone retorna ao sistema de Sírius. Tal como no caso relatado em [3], trata-se de uma descrição do Mundo Espiritual. 

A evolução de nosso conhecimento sobre Sírius

Até 1846, o nosso Sistema Solar somente ia até Urano. Nesse ano (1846), foi descoberto Netuno [4]. Plutão não era conhecido até 1930. Em 1992, um corpo foi o primeiro objeto transnetuniano descoberto depois de Plutão. Sem falar de novidades da sonda espacial New Horizons, em 2015. Então, usando de uma expressão coloquial, “se dentro do nosso quintal" ainda estamos detectando novos corpos, imaginemos no Sistema de Sírius, distante 8 anos-luz da Terra?

Novidades, de fato, vieram com o desenvolvimento de inúmeras técnicas mais recentes de detecção de planetas em outros sistemas estelares, a partir de uma primeira descoberta de um planeta a orbitar uma estrela da sequência principal, feita em 1995 [5]. Essa técnica tornou-se quase que uma área independente na Astronomia [6]. Hoje contamos com uma coleção de muitos exoplanetas conhecidos [7]. 

Há diversos trabalhos acadêmicos que propõem o caráter triplo de Sírius [8,9]. A estrela principal (chamada Sírius A) foi descrita como contendo uma companheira - claramente visível em telescópios, mesmo que amadores - chamada 'Sírius B'. A descoberta de Sírius B ocorreu em 1862 e foi realizada pelo fabricante de telescópios Alvan Clark e seu filho. Essa companheira é uma estrela muito pequena (do tipo 'anã branca') e orbita a principal com período de aproximadamente 50 anos. De fato, Sírius B é descrita como a mais brilhante anã-branca visivel. Ao longo do tempo reportaram-se irregularidades no movimento de Sírius B que foram creditados à existência de um terceiro corpo. Parece que tal corpo, em alguma época anterior foi observado, mas não conclusivamente descoberto.

Concepção artística moderna de um planeta em um sistema estelar triplo.
Em artigo recente [9], os autores discutem a possibilidade de observação desse terceiro corpo com base em medidas tomadas com o telescópio espacial Hubble. Uma conclusão preliminar (não inteiramente absoluta) descarta tal corpo dentro de um intervalo de massa específico. Esse descarte, é importante ressaltar, é feito para um intervalo de massa, o que implica que, corpos com pequena massa (ainda que emitindo luz, tal como as 'anãs marrons') poderiam existir. É importante lembrar que, dado o brilho intenso de Sírius A, a observação do sistema inteiro, inclusive um terceiro corpo, é bastante difícil. 

Uma 'anã marrom' é uma estrela de pequena massa que emite pouca luz visível e uma quantidade muito grande de infravermelho. Aos olhos humanos, uma anã marrom, se existir no sistema de Sírius, seria observada como uma estrela de cor magenta, desde que o observador estivesse bem próximo do sistema. O céu de um planeta que orbitasse uma das estrelas do sistema de Sírius, seria composto de três sois: Sírius A (o principal que dominaria o brilho do céu), Sírius B (a anã branca, menos luminosa e branca) e o ainda-a-ser-descoberto Sírius C de cor rosa-avermelhada, consideravelmente menos brilhante. O brilho relativo dessas estrela como visto desde o planeta dependeria da sua posição nesse no sistema triplo.

É interessante considerar que apenas recentemente as anãs-marrons foram propostas e descobertas como objetos que preenchem a lacuna entre as estrelas e os grandes planetas como Júpiter. Uma anã-marrom pode produzir luz por fusão de Deutério [16]. Entretanto, o pico de sua emissão de energia está no infravermelho que, como radiação eletromagnética, pode ser aparente aos Espíritos como luz.

Entretanto, a observação de um corpo desse tipo, desde a Terra, seria muito difícil, dada a distância e sua pequena luminosidade. A linha de investigação de um terceiro corpo ao redor de Sirius B é promissora, no sentido de que se prevê que o excesso de infravermelho observado com estrelas anãs-brancas seja explicável [10,11] como produzido por uma companheira muito mais débil como uma anã-marrom ou por um disco de poeira. Um trabalho científico de 2008 (ver [12]) parece ter detectado um excesso de infravermelho ao redor de Sírius B que pode ser interpretado como evidência da existência de uma companheira no limite inferior de estrelas do tipo 'anãs-marrons'. Em [9] é discutido, no limite de erro do Hubble, que uma estrela desse tipo poderia existir de forma estável tanto ao redor de Sírius A como de Sírius B. Não se esgotam em [9] outras possibilidades de  órbitas estáveis, já que esse trabalho seguiu uma linha particular de investigação no sistema restrito de três corpos. 

A narrativa dos Dogons

Ainda sobre Sírius, é preciso citar ao menos de passagem o trabalho feito pelo africanista Marcel Griaule (1893-1956) junto ao grupo étnico dos Dogons e publicado em 1950 [12b] em parceria com G. Diertelen. Segundo Griaule, esse povo teria cultuado Sírius e conhecido seu caráter triplo, mesmo sem contar com telescópios. O conhecimento avançado dos Dogons sobre Sírius seria um importante ingrediente da religão desse povo. A referência [12b] é uma descrição pormenorizada da crença Dogon sobre Sírius feita por esses pesquisadores.

O trabalho de Griaule alimentou especulações mais recentes, como as do livro de R. Temple "O Mistério de Sírius" [13], que creditou o conhecimento dos Dogons a avançadas raças alienígenas provenientes de Sírius (consoante a tese dos 'deuses astronautas' de von Däniken). Toda essa história serviu para fomentar um intenso debate entre ufologistas e céticos (inclusive com contribuições por Carl Sagan) que, no afã de desqualificar a tese ufológica, lançaram dúvidas sobre todo o trabalho de Griaule.

De acordo com recentes reinterpretações [14,15], Griaule teria na verdade tomado de forma exagerada descrições passadas aos Dogons por meio de europeus ainda no Século XIX ou depois, dado o conhecimento do pesquisador em astronomia. De fato, edições posteriores do livro de Temple afirmam que Sírius C teria sido descoberta em 1995 e citam o trabalho de Benest e Duvent [8] que é, na verdade, um estudo teórico. Entretanto, a descrição cética do trabalho de Griaule-Diertelen pode ser uma 'conspiração' para desqualificar esses pesquisadores. Infelizmente para nós não é possível lançar dúvidas no trabalho do africanista Griaule (e Diertelen). Apenas registramos que invenção de fatos  pode existir em ambos os lados do debate.

Conclusão

É possível que a busca por uma terceira componente em Sírius tenha sido sugerida aos astrônomos pelos estudos de Griaule e a controvérsia com os céticos. Por outro lado, hoje (em 2020) ainda não é possível afirmar que um terceiro corpo com luz própria orbite o sistema duplo Sirius A-B. Com o avanço das técnicas de medida, a situação pode mudar radicalmente. Esse mesmo avanço na técnica permitiu concluir que uma provável Sírius C como previsto por  Benest e Duvent [8] (que orbitaria Sírius A a cada 6 anos) não deve existir, deixando abertas outras possibilidades.

A narrativa de Emmanuel oferece uma segunda opção de informação que pode gerar futuras buscas. Seria possível refinar estudos em astrodinâmica e propor novas possíveis órbitas que estão fora dos limites de massa deduzidos por estudos recentes? Seria possível confirmar que o excesso de infravermelho na luz de Sírius B se deve a uma companheira minúscula? Quais são as regiões do sistema Sírius A-B em que um terceiro corpo inacessível à óptica do Hubble pudesse ser encontrado?

Este post sugere que uma possível Sírius C seria uma "anã-marrom" como são conhecidas estrelas de massa reduzida. Foi uma descoberta relativamente recente que tais objetos podem produzir luz própria pela fusão de Deutério [16].

Colaboração

Texto escrito em colaboração com Maurício Brito que sugeriu o tema e chamou a atenção para a controvérsia dos Dogons.

Mauricio Brito: Jornalista - Bacharel em Comunicações Sociais, espírita atuante na Comunhão Espírita de Brasília e Centro Espírita da Fraternidade Cícero Pereira-CECIPE, ambos em Brasília/DF. Aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada/IPEA - Brasília/DF. email: mauriciobrit@gmail.com

Referências

[1] F. C. Xavier. Renúncia - História real. Século de Luís XIV. Em França, Espanha, Irlanda e Américas. Heroísmo e Martírio de Alcíone. Cap. I, "Sacrifícios do Amor", p. 25, Ed. FEB. 27a Ed. (1944)

[2] C. Flammarion. Mysterious Psychic Forces: An Account of the Author's Investigations in Psychical Research, Together with Those of Other European Savants. Small, Maynard and Company (1907).


[4] Smart, W. M. (1947). John Couch Adams and the discovery of Neptune. Popular Astronomy, 55, 301. http://adsabs.harvard.edu/full/1947PA.....55..301S

[5] Discovery of Exoplanets. Wikipedia. Acesso em Fevereiro de 2020.

[6] Perryman, M. (2012). The history of exoplanet detection. Astrobiology, 12(10), 928-939.

[7] A questão da encarnação em diferentes mundos: um novo tipo de matéria?

[8] Benest, D., & Duvent, J. L. (1995). Is Sirius a triple star?. Astronomy and astrophysics, 299, 621. Ver http://articles.adsabs.harvard.edu//full/1995A%26A...299..621B/0000621.000.html

[9] Bond, H. E., Schaefer, G. H., Gilliland, R. L., Holberg, J. B., Mason, B. D., Lindenblad, I. W., ... & Young, P. A. (2017). The Sirius system and its astrophysical puzzles: Hubble Space Telescope and ground-based astrometry. The Astrophysical Journal, 840(2), 70. Ver: https://iopscience.iop.org/article/10.3847/1538-4357/aa6af8/pdf

[10] Zuckerman, B., & Becklin, E. E. (1992). Companions to white dwarfs: very low-mass stars and the brown dwarf candidate GD 165B. The Astrophysical Journal, 386, 260-264. Ver: http://adsabs.harvard.edu/full/1992ApJ...386..260Z 

[11] Farihi, J., Becklin, E. E., & Zuckerman, B. (2005). Low-luminosity companions to white dwarfs. The Astrophysical Journal Supplement Series, 161(2), 394. Ver: https://iopscience.iop.org/article/10.1086/444362/pdf

[12] Bonnet-Bidaud, J. M., & Pantin, E. (2008). ADONIS high contrast infrared imaging of Sirius-B. Astronomy & Astrophysics, 489(2), 651-655.Bonnet-Bidaud, J. M., & Pantin, E. (2008). ADONIS high contrast infrared imaging of Sirius-B. Astronomy & Astrophysics, 489(2), 651-655. Ver: https://www.aanda.org/articles/aa/abs/2008/38/aa8937-07/aa8937-07.html

[12b] Griaule, M. and G. Dieterlen (1950). "Un systeme soudanais de Sirius," Journal de la Societe des Africanistes 20: 273-294. Ver: https://www.persee.fr/doc/jafr_0037-9166_1950_num_20_2_2611

Sobre o 'Enigma de Sírius', um vídeo recente pode ser acessado aqui: https://www.youtube.com/watch?v=nTDSt9niRfI (Acesso em fevereiro de 2020).

[13] Temple, R. (1976). O mistério de Sirius. Madras, 2005. Trad. S. Maria Spada.

[14] Coppens, P. (2020). Dogon shame. Ver: https://www.eyeofthepsychic.com/dogonshame/

[15] de Montellano, B. R. O . The Dogons Revisitedhttp://www.ramtops.co.uk/dogon.html

[16] LeBlanc, F.  (2010). An Introduction to Stellar Astrophysics. United Kingdom: John Wiley & Sons.

16 de maio de 2018

Nota de falecimento. Professora Ingedore Koch


Reportamos o falecimento da Prof. Ingedore Grunfeld Villaça Koch, uma das mais influentes e respeitadas pesquisadores da línguistica brasileira. Ela é autora de obras relevantes como "Gramática do português culto falado no Brasil: a construção do texto falado", "Argumentação e linguagem", "Desvendando os segredos do texto", dentre outras.

Um aspecto talvez pouco conhecido é a adesão da Prof. Koch ao Espiritismo. O texto abaixo, enviado por Alexandre Caroli reflete sua avaliação de parte da obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier. Considerando a importância do livro no Espiritismo e o valor que uma pesquisadora como Koch tem  da ciência (ou arte?) de escrever e de interpretar, fazemos por esse meio nossa pequena homenagem a Prof. Koch que tivemos o prazer de conhecer. Nessa conversa particular, ela ressaltou a importância do uso da linguística no estudo de comunicações mediúnicas e de obras psicografadas.

Texto de I. Koch "Obras ditadas pelo Espírito André Luiz e Psicografadas por Chico Xavier".


Neste artigo, falaremos sobre as obras ditadas pelo espírito André Luiz e psicografadas por Chico Xavier, provavelmente o conjunto de obras mais importante do Espiritismo, depois dos livros básicos de Allan Kardec. Sobre as obras básicas de Kardec, veja detalhes na seção Livros.

Nosso Lar
Os Mensageiros
Missionários da Luz
Obreiros da Vida Eterna
No Mundo Maior
Agenda Cristã
Libertação
Entre a Terra e o Céu
Nos domínios da Mediunidade
Ação e Reação
Conduta Espírita
Sexo e Destino
Desobsessão
E a Vida Continua...

Dentre estes, há os que formam a coleção A Vida no Mundo Espiritual, dos quais trataremos em primeiro lugar.

Comecemos por "Nosso Lar", obra indispensável para todos aqueles que querem ter um primeiro vislumbre do que seja a vida do espírito após a morte.

André Luiz foi médico no Rio de Janeiro em sua última existência carnal. Ao desencarnar, permanece em região afastada da crosta, onde padece intensos sofrimentos e é constantemente acusado de suicida pelos irmãos que aí se encontram. Depois de um bom lapso de tempo, é recolhido por uma equipe de espíritos socorristas e levado para uma colônia espiritual – Nosso Lar – onde é tratado num hospital e esclarecido, inclusive quanto à razão de ter sido considerado suicida. Com o tempo e o carinho dos instrutores, vai se familiarizando com a colônia e começa a executar pequenos serviços. Descobre, então, um mundo pleno de vida e de atividades de toda espécie, sua organização, seu modo de vida., onde os espíritos recém-desencarnados passam por estágios de recuperação e educação espiritual. Decorrido um certo tempo, obtém permissão para acompanhar como ‘estagiário’ as equipes socorristas que se dirigem ao Umbral com o objetivo de levar ajuda aos irmãos sofredores, encarnados e desencarnados. Aos poucos, passa a ‘membro efetivo’ dessas equipes e pede aos seus superiores a permissão para enviar aos encarnados, por meio da mediunidade de Chico Xavier, suas observações sobre o mundo espiritual e, em especial, sobre o Nosso Lar.

É um livro rico de detalhes, descrições e esclarecimentos, que nos permite antever como será nossa vida no Além, após nossa passagem para o mundo espiritual.

O segundo livro da série é Os Mensageiros, em que André Luiz descreve as atividades intensas, organizadas e produtivas dos espíritos Superiores que se dedicam ao trabalho do bem. Segundo Emmanuel, trata-se de um relatório incompleto de uma semana de trabalho espiritual dos mensageiros do bem junto aos irmãos encarnados. Nessa narrativa, destaca-se a figura de Aniceto, emissário consciente e generoso, que ministra ensinamentos preciosos aos membros da equipe que o acompanham, destacando as necessidades de ordem moral no quadro dos serviços a que se consagram.

Mostra-nos a interação entre desencarnados e encarnados, e como estes sofrem, por muitas vezes, efeitos desagradáveis da interferência de adversários e inimigos espirituais conquistados nesta ou noutras encarnações, em virtude de sua ações e omissões, ressaltando, porém, que podem sempre contar com o auxílio dos mensageiros do bem, por meio do estudo, das boas ações e, sobretudo, por intermédio da prece.

O terceiro livro desta série é Os missionários da luz, que nos revela os detalhes envolvidos na preparação de Espíritos que estão em vias de reencarnar no plano físico, entre os quais: como se faz o planejamento da reencarnação, a escolha da família que irá recolher o espírito reencarnante, os contornos anatômicos do corpo físico, inclusive imperfeições e deformidades, que serão preciosos auxiliares da evolução; a fecundação e o processo de ligação fluídica entre o reencarnante e os futuros pais.

Fala-nos, também, da responsabilidade na preservação do corpo físico, do suicídio direto e indireto. Dá-nos uma nova visão da tarefa da maternidade/paternidade, das uniões físicas e espirituais, além de esclarecimentos sobre o perispírito e de como pode ser afetado pelos efeitos do alcoolismo e dos excessos alimentares.

Traz, ainda, importantes ensinamentos sobre mediunidade, materializações e outros fenômenos espirituais.

Obreiros da Vida Eterna é o quarto volume da série que estamos estudando.Nesta obra, André Luiz retoma as explicações sobre o mundo espiritual, mostrando como vivem os seres desencarnados e como se preparam para voltar à vida terrena, sempre com a assistência dos irmãos espirituais, preocupados com cada detalhe, para que tudo ocorra com a maior perfeição possível e de acordo com os desígnios divinos.

Deixa patente que a morte não existe e que a vida se renova a cada momento, de modo que o aperfeiçoamento de nosso Espírito prossegue em toda parte, até alcançarmos as esferas superiores. Como diz Emmanuel, no prefácio do livro, "A vida renova, purifica e eleva os quadros múltiplos de seus servidores, conduzindo-os, vitoriosa e bela, à União Suprema com a Divindade".

Completam essa série as obras No Mundo maior, Libertação, Entre a Terra e o Céu, Nos Domínios da Mediunidade, Ação e Reação, Evolução em dois mundos (em conjunto com Waldo Vieira), Mecanismos da Mediunidade, Sexo e Destino e E a Vida Continua..., dos quais falaremos nas próximas ocasiões.

Dando continuidade à apresentação das obras ditadas pelo espírito André Luiz a Chico Xavier, trataremos agora de Entre a Terra e o Céu, Libertação e Nos domínios da Mediunidade.

Em todos eles, como nos demais livros desta série, André Luiz, na qualidade de membro de equipes socorristas do espaço, nos narra histórias de vida emocionantes e exemplares, a partir das quais nos esclarece sobre questões como desencarnação, reencarnação, resgate, obsessão, vampirismo, mediunidade, evolução e muitas outras.

Em Libertação, conta-se uma história em que são apresentados ao leitor os processos de obsessão, mostrando os planos que traçam os espíritos perseguidores, chefiados por Gregório, ligados às forças do Mal, para envolver seus perseguidos. Verifica-se como Gregório e seus comparsas são paulatinamente convertidos ao Bem, pelo trabalho dos Irmãos socorristas, que vão lhes minando as resistências por meio do exemplo e conquistando-lhes a confiança ao prestar-lhes ajuda quando necessário. O mais renitente é o chefe, Gregório, que também é finalmente convertido e ao render-se ao chamamento do amor, quando de um emocionante reencontro com sua mãe, que há tempo vinha intercedendo pelo filho extraviado.

Desta forma, a obra revela aspectos do trabalho de intercessão feito pelos Espíritos Superiores em prol dos menos esclarecidos e nos dá provas da misericórdia divina, que não deixa de conceder a todos a oportunidade de libertação.

A história narrada em Entre a Terra e o Céu é uma das mais emocionantes. Conta-nos sobre dois soldados da Guerra do Paraguai que disputavam o amor da mesma mulher e de como um deles envenenou o colega para tê-la a seu lado. A partir daí, seguem-se as conseqüências do ato praticado na mesma e em outras encarnações. Nos vários capítulos, defrontamo-nos com nós mesmos, nossos ódios e nossos amores, nossas paixões enfim, que nos arrastam nos torvelinhos da existência.

André Luiz chama também a atenção para os cuidados que devemos ter com o nosso corpo carnal e a necessidade de nos dedicarmos ao serviço do Bem, para podermos evoluir na escala espiritual.

Nos Domínios da Mediunidade focaliza a questão da comunicação dos espíritos com o mundo espiritual, através da mediunidade. São discutidos com minúcias os diversos aspectos da filtragem mediúnica, como psicofonia, sonambulismo, possessão, clarividência, clariaudiência, desdobramento, fascinação, psicometria e efeitos físicos, entre outros. Nesse livro, o Autor enaltece o esforço dos médiuns que se mantêm fieis ao mandato que receberam ao reencarnar e adverte, também, sobre os riscos do intercâmbio viciado entre o mundo físico e o espiritual.

Trata-se, na verdade, de um verdadeiro manual sobre mediunidade, no qual se encontram elevadas conceituações dos mentores espirituais, indispensáveis a todos os que se dedicam a estudar o tema.



Ingedore Koch

Referência

30 de dezembro de 2016

Descrição de um acidente aéreo por um espírito


"Não pense que sofro outra espécie de angústia
 senão essa que me vem de sua ternura torturada 
e de nossa família amorosa e inesquecível. 
Se me lembrarem tranquilo, estarei seguro de mim. 
Se me recordarem conformados, a resignação estará comigo. 
Não julguem que vim para cá fora de tempo. 
Hoje sei que o meu tempo terrestre era curto." 
(R.T. Richetti, "Entre duas vidas", Ed. Boa Nova)
Por coincidência, na semana da ocorrência do desastre aéreo com o time da cidade de Chapecó, tive a oportunidade de ler um texto psicografado por Chico Xavier em fevereiro de 1993 (1) que descreve as circunstâncias de uma acidente aéreo ocorrido em junho de 1992. Nessa carta, o Espírito Celso Maeda descreve seus últimos instantes como encarnados antes do acidente que culminou na queda - por colisão com o mar - da aeronave Beech F 90-1 King Air, que carregava quatro ocupantes.

Os detalhes técnicos do acidente, eu consegui encontrar na internet (2). O avião havia partido do aeroporto de Itumbiara (GO) com destino a Blumenau (SC), mas sua queda se deu no mar, na altura da cidade de Navegantes (SC). A causa do acidente foi reconhecido como as péssimas condições meteorológicas, o que está descrito em detalhes na carta enviada:
Subimos céus acima ou tentamos subir… Não era fácil raciocinar ante o perigo maior que se aproximava. Tentou-se a elevação da máquina, mas o vento prosseguia implacável qual se fosse um conjunto de forças maléficas interessadas em derrubar-nos.
Não temos dúvidas quanto ao desespero e apreensão que toma conta de todos os envolvidos nesses momentos:
Estávamos à mercê dos acontecimentos que o furacão nos impunha. O piloto e o companheiro que o assessorava estavam pálidos, agravando-nos as dúvidas e o desconforto de que nos sentíamos possuídos. Debalde procurávamos alguma nesga de céu azul. Achávamos-nos como que trancados por dentro de uma nuvem que parecia guardar o vento furioso que não encontrava uma saída a fim de expandir-se.
Por dentro éramos a aflição de quem não eximiu-se da morte compulsória e por fora de nós vimos claramente que um enorme banco de areia nos aguardava, asfixiando-nos a todos.
E, finalmente, a descrição do grande despertar:
A água marinha encharcada de areia nos penetrava os pulmões e quando me vi totalmente esmagado nada sabendo de meu irmão e dos companheiros que nos guardavam a viagem, quando no auge do meu desespero íntimo, vi que uma senhora caminhava naturalmente sobre as águas e, ao abraçar-me, solicitou-me concentrar na fé em Deus e me disse: “Meu filho, você está conosco. Sou a sua avó Ai, que venho retira-lo da areia. Seu avô Tsunezaemon retirará seu irmão. Haverá socorro para vocês todos. O pilo e o co-piloto serão resguardados”.
Em acidentes desse tipo, quando um grupo de pessoas acaba retornando mais cedo à vida real, é plenamente natural que os que ficam sintam a fragilidade não só da vida humana, mas de todas as perspectivas e planos que se faz ao se viver.

Se a vida humana (a presente) pode ser considerada frágil - e de fato é porque existem leis materiais que determinam de forma rigorosa seus limites -  a condição de paternidade espiritual indica outra coisa bem diferente. Nossa vida material é frágil porque ela não é a vida verdadeira do Espírito, que não está sujeito a esses limites severos impostos pela condição de materialidade, mas depende de laços facilmente rompidos com as influências do ambiente. O instante da morte, em momento como esse se assemelha a um novo despertar, a partir do qual novos planos e diretrizes serão feitos pela alma imortal. Os que ficam, se não se prepararem, guardarão por muito tempo as impressões da saudade, mas a verdade é que eles apenas partiram alguns instantes antes de nós.

Referências

(1) Ref. "Dádivas Espirituais". F. C. Xavier, Espíritos diversos. Ed. IDE.


2 de abril de 2016

Ruprecht Schulz: estranho caso de uma suposta "reencarnação"

Seria isto um porco voador?
Pesquisas em reencarnação são ainda consideradas "temas tabus" entre as linhas acadêmicas, justamente por implicarem em algo que não está de acordo com o consenso geral sobre o ser humano e sua existência no mundo, uma criatura que fatalmente morre e aparentemente desaparece. As diversas áreas da ciência não preveem nenhum objeto de estudo onde se possa incorporar o assunto "reencarnação", logo a imensa maioria dos acadêmicos torce o nariz para algo que identificam como não "científico" e que lhes parece uma ideia excêntrica.

Não se admira assim que relatos e evidências de reencarnação caiam na categoria de "anomalias". Mas, não é uma tarefa simples separar o "joio do trigo" em se tratando de qualquer anomalia, o que se aplica obviamente à reencarnação.  Há casos descritos como anomalias que são prejudiciais a própria tese, por se apresentarem como "anomalias dentro de anomalias". Naturalmente, essas ocorrência animam céticos que rapidamente "throw the baby out with the bathwater" (1) e invalidam toda a tese com base em alguns casos mais que suspeitos.

Evidências sobre reencarnação como anomalia têm origem em duas fontes principais: i) informes de crianças que se lembram de vidas anteriores e ii) relatos de memórias via regressão hipnótica. Se o primeiro caso é considerado bastante forte pelo caráter "acima de qualquer suspeita" dos relatos infantis, o mesmo não se pode dizer do segundo, onde a total inexistência de uma "teoria da mente" dificulta separar lembranças de sonhos de eventuais memórias anteriores, inviabilizando a aceitação das descrições. Além disso, ocasionalmente, existem relatos excepcionais de adultos que dizem se recordar de vidas anteriores mesmo em estado de vigília, isto é, sem nenhum apelo ao hipnotismo ou sonhos.

Tudo isso indica que é preciso redobrado cuidado por parte daqueles que pretendem "provar" a tese da reencarnação - ou extrair regras para seu mecanismo - com base na busca exaustiva e empilhamento sistemático de casos. Em particular, salta aos olhos a necessidade de se estabelecer métodos de pesquisa apropriados, de examinar se os dados obtidos são confiáveis e sobre a consistência metodológica aplicada à pesquisa. Mais ainda, partindo-se de uma contexto ateórico (ou seja, sem a orientação de uma teoria), é provável que evidências sejam mal interpretadas, uma vez que já se mostrou há muito que uma evidência é contaminada pela visão que se tem de seu contexto (2).

O cenário é bastante complicado porque, como dissemos, inexiste uma "teoria da mente" que permita estabelecer claramente as origens e as consequências para eventos mentais com base em evidências colhidas de memórias de longo prazo sequer dentro de uma existência, quem dirá entre existências.

O caso Ruprecht Schulz (RS)

Os pesquisadores de reencarnação mais conhecidos na atualidade são I. Stevenson (1918-2007) e Jim Tucker (ver nosso post sobre ele aqui). Entre as inúmeras evidências estudadas por Stevenson, o livro "Casos Europeus" (3) descreve ocorrências tiradas de relatos não orientais, numa tentativa por Stevenson de mostrar que a reencarnação é um fenômeno "universal" (4).

Em particular, nessa obra existe um caso que exorbita dos relatos quase uniformes de crianças que se lembram de vidas anteriores. Trata-se do "caso Ruprecht Schulz" (ver também 5) que está longamente descrito no livro. Aqui apresentamos um resumo por simplicidade e destacamos os prontos problemáticos do caso.
Ruprecht Schulz, nascido em Berlim, a 19/10/1887, comerciante, declarou a I. Stevenson, em entrevista feita em agosto de 1960, ter tido memórias (ver abaixo) de uma vida pregressa por volta do início da década de 1940 (início da II Guerra Mundial). Nessa descrição, via-se como um rico comerciante, ligado a atividades portuárias, que cometeu suicídio. A força dessas lembranças fez RS escrever a diversas cidades portuárias da Alemanha, a partir de julho de 1952. Uma resposta veio da cidade de Wilhelmshaven afirmando ter sido palco do suicídio de um tal Helmut Kohler (HK), corretor marítimo, em 23/11/1887. Segundo informações colidas por RS com parentes de HK, este teria se suicidado depois de se ver em condições econômicas difíceis e de ter sido roubado por um funcionário mais próximo que fugiu para os Estados Unidos. 
As informações tabuladas por Stevenson nas páginas 272-274 de (3) são parte de um relatório construído parcialmente com as informações que RS conseguiu de Wilhelmshaven, quando ele já estava com mais de 50 anos de idade. O que chama a atenção no caso RS é a inconsistência entre a data do suicídio de HK e o nascimento de RS, indicando uma aparente violação da relação "causa efeito" - a personalidade anterior ainda estava encarnada quando seu novo corpo já vivia em outro lugar.

Natureza peculiar das "memórias" de RS.

Longe do problema das datas, o que mais me chamou a atenção no caso RS é o caráter muito especial de suas memórias. O que se espera de alguém que se lembre de sua vida passada? Que suas memórias - se se referem realmente a algo experimentado - acompanhem o sujeito e não dependam de onde ele se encontra. Mas isso não aconteceu com RS.

Antes, porém, consideremos como RS descreve suas "memórias". Na p. 266, no final de sua descrição de como teria se vestido e se matado ele afirma:
"Podem chamar essas imagens de clarividência, mas para mim elas são lembranças". (grifos nossos)
RS parece confundir lembranças com visão de imagens pois, no meio da descrição declara:
"O sentimento foi ficando mais forte e então - não em um transe ou estado de sono - como algo quase visível aos olhos, pude me observar como eu naquela época." (grifos meus)
Tomando com base que ele não tenha inventado nada, sua descrição aparentemente em terceira pessoa não deixa dúvidas que ele teve uma "visão". E mais ainda, essa visão apenas ocorria se ele estivesse em contato com determinado ambiente. Conforme atestam as anotações de I. Stevenson sobre as memórias de RS, em 2 de maio de 1964 (p. 266 e 267):
"Ele nunca as tinha a não ser quando estava no escritório durante o seu turno aos domingos. Estava completamente acordado nessas vezes. Ele experimentou novamente as emoções da situação lembrada e viu as lembranças como uma imagem interior, não como uma visão projetada." (Grifos meus)
Depois enfatizar que RS não estaria em um estado "alterado" de consciência, Stevenson parece ter "reinterpretado" a descrição ao anotar que o sujeito "via lembranças como uma imagem interior" (admitindo nenhum erro de tradução em relação ao original). Esse ponto é de fundamental importância, pois fica clara aqui o papel das ideias preconcebidas do pesquisador. Por que é importante afirmar que RS teve as "lembranças" em estado de vigília? A razão é simples: Stevenson (e provavelmente RS) acreditava que lembranças comuns só podem ocorrer se o sujeito não estiver em "estado alterado de consciência" (leia-se, "mediunidade" ou "hipnotismo").

Mas seria esse o caso? O Espiritismo abre um leque grande de possibilidades. Primeiro porque não se pode afirmar absolutamente o caráter "normal" da consciência de RS uma vez excitada por certos detalhes do ambiente.  Ao contrário, o fato do "fenômeno" apenas ocorrer quando em contato com certo objetos, cria fortemente a impressão de mudança desse estado. Depois porque acessar as lembranças como algo "quase visível aos olhos" permite inúmeras interpretações dentro da fenomenologia mediúnica. Finalmente, a exigência de "estado alterado" não é condição sequer necessária para a mediunidade ou "obtenção de informação anômala". Em "O Livro dos Médiuns", II Parte, Capítulo 15, Parágrafo 182, "Médiuns inspirados", podemos ler:
Todo aquele que, tanto no estado normal, como no de êxtase, recebe, pelo pensamento, comunicações estranhas às suas idéias preconcebidas, pode ser incluído na categoria dos médiuns inspirados. Estes, como se vê, formam uma variedade da mediunidade intuitiva, com a diferença de que a intervenção de uma força oculta é aí muito menos sensível, por isso que, ao inspirado, ainda é mais difícil distinguir o pensamento próprio do que lhe é sugerido. A espontaneidade é o que, sobretudo, caracteriza o pensamento deste último gênero. (grifos nossos)
São registradas descrições de "sensitivos", com variados graus de faculdade, que podem "ver imagens" ao contato com objetos, inclusive tendo sensações relacionadas aos envolvidos na "cena" (o que implica em algum grau de "psicometria"). Contra isso seria possível antepor o argumento de que RS não era médium ou não teria manifestado nenhum tipo de mediunidade em sua vida (o que também é avançado por Stevenson). Mas isso se fundamenta exclusivamente na palavra do sujeito como o próprio Stevenson reconhece (ver abaixo). Ou de outra forma, é possível que RS tivesse tido outras experiências "anômalas" em sua vida, mas deixou-se influenciar por aquela que mais lhe atraiu dentro de sua crença em reencarnação.

De qualquer forma, estamos diante de um problema metodológico que depende da existência de outra teoria sobre memórias e visões. Stevenson desprezou certos detalhes que a ele não pareciam relevantes, mas que, na verdade, são cruciais para determina a "origem" das informações.

Inconsistências em algumas afirmações

Parece que Stevenson deixou de considerar a consistência entre os relatos dispersos como declarados por RS. Por exemplo, na p. 265 de (3, edição em Português), podemos ler a declaração dada por RS a Stevenson em 1960:
"As memórias começaram a surgir para mim na época dos ataques de bombardeios em Berlim durante a guerra."
De acordo com Stevenson, RS cita a data de 1942, quando ele estaria com mais de 50 anos. Porém, na p. 268 da mesma referência, há a citação de uma carta de RS ao filho de Kohler (datada de 1952), dizendo que suas lembranças começaram na infância, "desde muito novo". Qual das versões corresponde ao que teria acontecido?

Com relação às memórias alegadamente atribuídas à infância, elas podem ter sido criadas à posteriori, depois que RS se convenceu que era mesmo a reencarnação de HK. Por exemplo, sobre a cidade de sua alegada desencarnação, RS afirma na carta "me pareceu mais tarde e mais claramente, que essa cidade era Wilhelmshaven" (ainda na p. 268). Só que, segundo Stevenson (conforme está na p. 263), ele apenas tivera a impressão de que sua suposta vida anterior teria sido em "uma pequena cidade portuária", tendo escrito para várias cidades (existiam poucas "pequenas cidades portuárias" na Alemanha no final do Século XIX, e teria sido óbvio incluir Wilhelmshaven). De qualquer forma, o caso RS, no quesito "memória", é muito diferente se comparado a outros estudados por Stevenson.
Wilhelmshaven, cidade da suposta vida anterior de RS. Nela, RS afirmou ter "reconhecido" prédios (de sua vida no Séc. XIX), mesmo tendo sido destruída na II Guerra Mundial. 
Outra afirmações de RS aceitas sem contestação por Stevenson é o "reconhecimento" de prédios em Wilhemlshaven:
Em outubro de 1956, Ruprecht e Emma Schulz foram até Wilhelmshaven, onde se encontraram com Ludwig Kohler. A cidade tinha sido muito danificada pelos bombardeios durante a então recente guerra. Ruprect acreditou reconhecer a Prefeitura e um antigo arco. 
Sem que se garanta que as construções "reconhecidas" por RS tenham sido reconstruídas, é difícil acreditar que isso pudesse acontecer com um cenário que foi destruído com a guerra. Com relação ao seu comportamento "ex suicida" de infância, o caso se contamina pela ausência de "comprovações" (como Stevenson tipicamente insiste em outros casos) por parte de terceiros já que, segundo o pesquisador (p. 277):
"Ruprecht permanece quase que totalmente o único informante das declarações antes de elas serem confirmadas" (grifos nossos).   
O problema da quebra da relação "causa-efeito"

No nosso entendimento, o problema teórico mais grave levantado pelo caso RS é a aparente quebra de causalidade no relaxamento da relação entre Espírito e seu corpo por uma questão de problema de data. Vê-se que essas extrapolações levam a imaginar que um Espírito possa reencarnar nos moldes de uma "possessão", depois que seu outro corpo já esteja formado e vivo.  Existem três caminhos ilógicos possíveis :
  1. Aceitar isso como uma possibilidade "de fato", o que implica em acreditar em que até o momento da "possessão", o corpo existente tenha vida meramente material ou;
  2. Imaginar algum cenário mais exótico (e, por isso, esdrúxulo) de "quebra de causalidade" (tipo "viagem no tempo"). Incluo essa consideração aqui, pois acho difícil que alguém não tente "salvar as aparências" com explicações desse tipo.
  3. "Divisão do Espírito" (conforme se acredita na ref. 5). Durante as cinco semanas que separam o nascimento de RS e a desencarnação de HK, o Espírito de HK estaria ao mesmo tempo reencarnado em dois corpos (!)
Então, o preço a se pagar por aceitar o caso RS como reencarnação é relaxar a coerência e lógica da ideia das vidas sucessivas, com prejuízo grande para toda a tese e reforço considerável das explicações céticas. Seria realmente esse o caso?

Nossas conclusões
  1. Tão só com base nos relatos levantados por I. Stevenson, não é possível afirmar a identificação de HK como a reencarnação anterior de RS;
  2. Isso é, de fato, manifestado por Stevenson, que classifica seus casos como "sugestivos", dentro de sua prudência acadêmica;
  3. Ao contrário, a impressão que temos é de 'algo faltando' no caso, possivelmente associado às alegadas "memórias" de RS que mais se parecem com "visões";
  4. O maior problema do caso RS é a caracterização de suas "memórias". Por dependerem de um "lugar" e "horário", é provável que estejam associadas à informação externa que lhe foi passada por outro agente "psíquico";
  5. É provável que o caso RS tenha sido interpretado forçadamente por Stevenson como de reencarnação. Stevenson chega a falar em um dos mais "fortes" que investigou, a despeito da marcante diferença na maneira como as "evidências" foram obtidas, na inconsistência nas datas e do tipo de relato feito por RS; 
  6. Por que Stevenson teria feito isso? Aventamos a hipótese de que ele não quisesse descartar - segundo sua abordagem - casos europeus, que se mostraram escassos frente aos orientais. A busca por tais casos era uma questão "de honra" para Stevenson, que enfrentou heroicamente ataques do ceticismo. Ou, de outra forma, é provável que, no contexto oriental, algo parecido ao caso RS tivesse sido facilmente descartado por Stevenson;
  7. A data de nascimento do suposto reencarnante é anterior à desencarnação da personalidade pregressa. Isso constitui uma contradição à lei de causa e efeito e cria uma anomalia dentro de outra que é facilmente explorada (com razão) por céticos;
  8. Por uma questão de consistência com todos os outros casos e como resultado lógico da "conservação" da personalidade em outro corpo, não faz sentido sustentar uma "hipótese ad-hoc" (6) que permita ao Espírito desencarnar tempo depois que seu "corpo físico" esteja vivo ou coisa ainda mais fantástica. Stevenson não se preocupou muito com essas consequências e isso faz eco com outras críticas (céticas) às conclusões de Stevenson;
  9.  A "força" desse caso é maior para crentes que colocam fatos mal interpretados acima da importância da teoria e sua consistência interna;
  10. A suposto reencarnante não teve sequelas do suicídio: indiretamente isso cria um problema na aceitação do método de Stevenson porque ele mesmo descreve casos em que mínimas marcas de nascença seriam provocadas por agressões físicas no corpo do indivíduo no instante da morte. Stevenson considera a existência dessas marcas importantes sinais de validação de seu método. Se uma agressão compulsória pode deixar uma marca, como é possível um caso em que o suposto reencarnante tenha se matado com um tiro na cabeça e não tenha nenhuma marca, mas apenas lembranças que se parecem com "visões"? 
  11. Uma vez aceito o caso RS, resta evidente questionar todos os outros em que marcas de nascença são observadas, já que, se inexiste relação "causa-efeito" em apenas um caso, fica fácil desqualificar essa necessidade nos outros;
  12. Outras causas podem ter sido responsáveis pelas "visões" alegadas por RS e associadas a suas lembranças posteriormente.  Com a confirmação dessas visões, RS conseguiu levantar uma personalidade equivalente em sua busca obsessiva (quiça impulsionada por essas causas), que deu origem a todas as outras "evidências" que Stevenson ressalta a apoiar o caso;
  13. O caso RS ressalta a importância de uma teoria que integre tanto informações de fatos históricos associados a existências anteriores como memórias em diversos estados da consciência. A pesquisa da reencarnação não terá êxito se desacompanhada de considerações sobre a fenomenologia psíquica, que representa outra fonte para a aquisição "anômala" de informação.
Referências

(1)  "Jogam o bebê fora junto com a água do banho".

(2) Fácil entender isso. Para um cético, alguém que afirme ter uma vida anterior será interpretado como doente mental, seus sonhos como criações da fantasia etc. Como se vê neste post, a interpretação de qualquer relato como "prova" de vida anterior não considera a possibilidade da informação anômala ter sido obtida por outras vias psíquicas, que não a da memória propriamente dita. Isso só é possível se se dispuser de uma teoria abrangente, que permita separar os fatos em categorias que devem ser, elas próprias, previstas na teoria.

(3) Stevenson, I. (2003). European cases of the reincarnation type. McFarland. No Brasil, há uma edição traduzida desse livro com o título "Casos Europeus de Reencarnação". Ed. Vida e Consciência. 1a, Edição, 2010. No que é citado neste post, seguimos a versão em Português.

(4) Uma das críticas levantadas contra a ideia de reencarnação com base em evidência de fatos é o número muito grande de casos (de crianças) em países que aceitam tacitamente a noção como a Índia. Críticos levantaram a hipótese de uma raiz "cultural" para o fenômeno, o que reduziria sua importância como evidência.


(6) Uma "hipótese ad-hoc" é uma explicação criada com um determinado objetivo. No caso aqui, aceitar a possibilidade de que o Espírito possa ter um corpo em outro lugar enquanto ainda não desencarnado é uma explicação criada para "salvar as aparências" ou acomodar os dados disponíveis com a tese principal.  O que supostamente dizem "os fatos", interpretados de acordo com determinados pressupostos e sob risco de falhas (erro de data, falsas memórias etc), é salvo pela adoção da hipótese.


2 de julho de 2015

O suicídio na visão espírita e de outras religiões


Se cada fase da vida tem algo de importante para nos ensinar, é preciso descobrir o que está reservado para nós no ocaso da existência. (A. Trigueiro, "Viver é a melhor opção", 1)

Muitas vezes, viver é um ato de coragem. (Sêneca)
Diz-se que "religião não se discute", entretanto, é na religião que encontramos uma das maiores forças de manutenção da vida humana. Um assunto que mostra todo poder da religião é a questão do suicídio. André Trigueiro recentemente lançou um livro sobre esse tema (1). Lembro-me de ler alguém reclamando que essa obra só apresenta a visão espírita do suicídio. Consultando o que há disponível na rede, encontramos várias referências sobre a visão religiosa do suicídio. Neste post fazemos um resumo dessa breve pesquisa. É interessante comparar as justificativas para a condenação do suicídio nessas diversas visões com a perspectiva espírita, que traz uma novidade. É interessante também observar que há exceções à condenação do "matar-se a si mesmo", de acordo com as referências de várias religiões. 

Já escrevemos algo sobre um tipo de suicídio neste blog (2). Mas, como se manifestam as diversas religiões sobre ele? Mais importante do que isso, como elas justificam suas posições? Há duas bases para se posicionar em relação ao suicídio:
  1. A visão de princípios;
  2. A visão das consequências do suicídio.
Para se convencer disso, basta considerar que, para doutrinas materialistas, a questão do suicídio é de reduzida importância, pois não há alma nem sobrevivência. A lógica materialista acredita que vale a pena continuar a viver desde que existam vantagens em existir. Desaparecendo essas vantagens, cessa também a necessidade de viver. Portanto, a vida para o materialismo não tem valor em si, mas é relevante apenas como condição para eventuais prazeres em existir:
O que faz a vida merecer ser vivida? Certamente muito mais ceder ao sangue suicida que há em mim e procurar o esquecimento no abraço frio da morte. (Zane Grey
Podemos falar em um "valor da vida" para cada visão religiosa - incluindo o materialismo - que é derivado da visão que cada doutrina tem da existência humana. Uma vez que o assunto é complexo, optamos por apresentar tudo em apenas um único post que, por isso, resultou extenso. Isso não significa que o assunto tenha sido exaurido. O que colocamos abaixo é apenas um resumo. A referência principal que usamos aqui como orientação pode ser lida integralmente em (3). 

Judaísmo

De acordo com (4): 
O suicídio é proibido pela lei Judaica. O Judaísmo tradicionalmente vê o suicídio como um pecado. Não é visto como alternativa a se cometer certos pecados capitais que justificariam abandonar a vida ao invés de cometê-los.
Entretanto, não há referências explícitas no Talmude sobre o suicídio. A fundamentação é, portanto, de princípios e baseada em interpretações do texto bíblico. Estudiosos e autoridades no Judaísmo porém, podem suspender a proibição do suicídio em determinadas circunstâncias, como foi o caso de Jacob Emden, que afirmou ser o suicídio uma opção a alguém condenado à pena de morte. O suicídio seria então uma maneira de se expiar o pecado que originou a condenação.

Catolicismo

Como é bastante conhecido, o Catolicismo explicitamente condena o suicídio. A razão também tem com base princípios como a proibição "Não matarás" (Êxodo 20:13), ou uma lógica como a que se lê em (5):
O suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano em se preservar e perpetuar. Ele se coloca gravemente em oposição ao amor por si próprio. Ele também ofende o amor ao próximo, porque injustamente quebra os laços de solidariedade com a família, nação e outras sociedades humanas para as quais temos obrigações.  O suicídio é contrário ao amor ao Deus vivo. (parágrafo 2281)
É possível lembrar que a condenação ao Inferno sempre correu em paralelo com a condenação do suicídio em diversas religiões cristãs. Entretanto, em uma versão moderna do catecismo da Igreja (5) podemos ler:
Não se deve temer pela punição eterna das pessoas que tiraram suas próprias vidas. Por meios apenas conhecidos por Ele, Deus pode conceder oportunidade de arrependimento. A Igreja ora pelas pessoas que tiraram suas próprias vidas. (parágrafo 2283, grifo meu
Por que a Igreja teria deixado de ameaçar com o inferno os suicidas? Talvez a condenação eterna esteja muito desacreditada na modernidade e a estratégia de se abrandar a pena recorrendo a um possível meio "somente conhecido por Deus" é mais lógica diante da crença maior em um Deus bom.

Protestantismo

Com bases semelhantes, religiões de origem protestante também condenam o suicídio. É interessante ir à origem dos movimentos protestantes e de lá extrair uma perspectiva mais moderna sobre o suicídio. Assim, para a Igreja Luterana (6):
Certamente, não temos o desejo de condenar ninguém que opte pela auto destruição. É impossível a nós descer a níveis tão baixos, em que muitos cristão chegam, e irresponsavelmente cometem tais atos. Talvez o Senhor não os julgará responsáveis, mas nós não sabemos. 
Esse mesmo texto em (6) cita uma passagem em que Lutero (1483-1546) afirmou:
Não tenho certeza se os suicidas certamente estão condenados. Penso que eles talvez não quisessem se suicidar, mas capitularam frente ao poder do demônio.
Desde esse ponto de vista, o suicídio não pode ser automaticamente condenado porque as razões para o ato são desconhecidas (a decisão de se matar segue sentimentos e intenções privadas do indivíduo). Lutero ainda foi perspicaz o suficiente em ressaltar que sua opinião não implicava na redução da gravidade do suicídio como pecado.

A opinião presente dos evangélicos nacionais sobre o suicídio pode ser lida aqui (7):
As Escrituras Sagradas relatam a história de algumas pessoas que cometeram suicídio, dentre estas: Saul (I Samuel 31:4), Aitofel (II Samuel 17:23), Zinri (I Reis 16:18) e Judas (Mateus 27:5). Todos foram maus, perversos e pecadores, o que provavelmente após a morte experimentaram a condenação eterna. Ora, sem a menor sombra de dúvidas a Bíblia vê o suicídio do mesmo modo que o assassinato – e assim o é – um auto-assassinato. Cabe a Deus decidir quando e como a pessoa morrerá. Tomar de assalto este por em suas próprias mãos, de acordo com a Bíblia, é atentar contra Deus.
Admitido isso, também não creem que um "cristão verdadeiro" perca sua salvação com o suicídio.

Islã

A recente onda de atentados de fundamentalistas islâmicos no ocidente por suicídio pode levar a se pensar que o suicídio seja amplamente aprovado pelo Islã, mas isso não é verdade. De acordo com (3):
E não se matem. Certamente Alá será mais misericordioso convosco. Corão, Sura 4 (An-Nisa). Ayat 29.
E, nos ditados de Maomé, suicidas são condenados explicitamente ao inferno. Porém, segundo Daud Matthews (8), não se deve julgar quem se suicida porque não são conhecidas as circunstâncias que levaram à decisão de se matar:
Aqui só podemos afirmar o que o Islã diz sobre o suicídio como ato. Ainda assim, não podemos julgar um caso específico de suicídio porque nunca sabemos o que apenas Alá sabe sobre o estado do suicida no momento em que comete o ato. Uma pessoa que parece se atirar de uma sacada pode ter caído por acidente, o que não sabemos. Assim, nunca devemos julgar e deixamos que isso seja feito pelo Criador que definitivamente sabe muito mais do que nós.
Como pode então existir fundamentalistas islâmicos que se suicidam em nome do Islã? É que, como todas as religiões antigas, o Islamismo se fragmentou em muitas vertentes interpretativas e algumas delas sustentam que o suicídio deve ser incentivado se for feito com objetivo de guerra religiosa. Não é na origem do movimento que devemos procurar os problemas que surgiram com as várias religiões, mas nos seguidores que interpretam de forma diferente os fundamentos. 

Hinduísmo
A prática do Sati era um rito funeral em certas comunidades asiáticas em que viúvas recentes cometiam suicídio atirando-se no fogo da pira funerária de seus maridos. Foi banida pelos Britânicos no Século XIX. Ver (10).

De acordo com Jarayan V (9)
O suicídio em Sânscrito é chamado "Atmahatya" que significa matar a própria alma. Essa palavra representa amplamente a atitude do Hinduísmo para com o suicídio. Suicídio é matar a si mesmo, pura e simplesmente. Porque o Hinduísmo vê o suicídio de forma tão negativa, como um ato desprezível e um pecado, pode ser entendido pelas seguintes razões (...)
Uma lista resumida dessas causas é fornecida na continuação do texto: "porque o Hinduísmo vê a vida como sagrada (mesmo a de insetos e animais), porque cada ser humano tem um papel e responsabilidade a desempenhar no mundo, porque o suicídio, motivado por paixões más, ignorância e ilusão, representa mau uso da autonomia que Deus deu ao homem e porque, com a vida, o homem tem obrigações para consigo mesmo, com os outros, os deuses e com seus ancestrais".

Entretanto, o Hinduísmo mantem uma crença estranha de que o suicídio é permitido em alguns casos, principalmente se cometidos por gurus como um ato de auto sacrifício ou imolação. De acordo com tal crença, casos de imolação por fogo (agnipravesa), fome lenta (prayopavesa) ou por suspensão da respiração (entrada no estado de samadhi) são considerados suicídios válidos. Portanto, para o Hinduísmo, apenas é condenável o suicídio por razões banais ou por auto ilusão.

Budismo

Das doutrinas antigas, o Budismo pode ser considerado uma das mais sofisticadas (3):
O Budismo ensina que todas as pessoas experimentam o sofrimento (dukka), que se origina primariamente de atos anteriores negativos (karma) ou que resultam do processo natural do ciclo de nascimento e morte (samsara). Outras razões para a prevalência do sofrimento dizem respeito ao conceito de ilusão (maya). Uma vez que tudo está em estado constante de impermanência ou fluxo, indivíduos passam por insatisfação com os eventos naturais da vida. Para quebrar a samsara, o Budismo advoca o nobre caminho óctuplo e não apoia o suicídio. 
Como o primeiro preceito determina que não se tire a vida de ninguém - inclusive a própria - o suicídio é considerado um ato negativo pelo Budismo. De acordo com a crença, alguém que cometa suicídio por razões negativas pode renascer em condições bastante tristes como consequência de seus pensamentos negativos. Para o Budismo, a condenação do suicídio não pode ser absoluta, devendo-se observar as razões do ato que, se negativas, são contrárias ao caminho da iluminação.

Mesmo assim, na tradição Budista, há duas estórias de monges que estavam muito próximos da morte e que, afirmando terem atingido a iluminação, cometeram suicídio - ou o que seria hoje conhecido como "eutanásia". Tais contos implicam que o Budismo antigo pôde aceitar o suicídio em certas circunstâncias (que não envolvem pensamentos negativos). Entretanto, conforme o texto (3) explica, "pessoas que alcançaram a iluminação não cometem suicídio", o que ressalta a opinião negativa que o Budismo tem hoje do suicídio.

Xintoísmo

O excessivo caso de suicídios no Japão (11) leva a se considerar influências culturais e religiosas nessa prática. A religião nacional do Japão é o Xintoísmo. Diz-se que o Xintoísmo é excessivamente condescendente com os suicidas. A origem pode ser a crença de que a vida continua na forma dos Kamis (deuses) e que a morte nada significa além da continuidade. Mas sobre esse aparente apoio dado ao suicídio, encontramos vozes no Japão que se colocam contra alguns posicionamentos ocidentais (12):
Um simpósio entre religiões no Japão explorou as atitudes das comunidades japonesas com o suicídio, incluindo o uso comum do termo "morte voluntária" - escreve Hisashi Yukimoto.
Promovido pela conferência dos bispos católicos do Japão, a conferência considerou a tendência recente de se designar o suicídio pelo termo "jishi" - que significa "morte voluntária"  ou "matar-se a si mesmo".  Muitas pessoas, incluindo membros de famílias enlutadas, agora preferem usar "jishi" (o título oficial do encontro foi "A missão dos religiosos - sobre a morte voluntária").
Um dos conferencistas, Wataru Kaya, um sacerdote xintoísta e psiquiatra, enfatizou a importância das preces e da compaixão para aqueles que se matam voluntariamente, com base na cultura tradicional japonesa. Ele reiterou que o Xintoísmo "não vê a morte voluntária como um mal absoluto".
Mas, Hiroshi Saito, que gerencia o escritório de estudos do Instituto da Doutrina Oomoto, um cisma xintoísta desde 1892, observa que o cânon Oomoto diz: "O suicídio é um pecado entre os pecados". Advertiu ainda, "ao se usar o termo 'morte voluntária', acredito que o sentido de pecado que existe ao se praticar o suicídio está sendo inconscientemente reduzido". 
Saito criticou as considerações de José M. Bertolote, do Departamento de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde que, em um artigo na revista "The Economist", disse que o suicídio no Japão é parte de uma cultura que prega ainda "o padrão ético de se preservar a honra e se fazer responsável por meio do suicídio". Saito afirmou que essas são "visões muito tendenciosas...Poucas pessoas veem o suicídio hoje no Japão como uma virtude". 
Espiritismo

Além de outras obras fundamentais, a questão do suicídio foi introduzida por A. Kardec na IV Parte de "O Livro dos Espíritos", mais precisamente entre as questões 944 e 957. O assunto se inicia pela questão #944: 
944. Tem o homem o direito de dispor da sua vida?
Não; só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão da lei divina.
a) – Não é sempre voluntário o suicídio?
O louco que se mata não sabe o que faz.
É importante considerar porém que, para o Espiritismo, o suicídio deve ser evitado a todo custo por causa das consequências do ato que são positivamente estudadas por meio de comunicações mediúnicas. Trata-se, assim, de uma extensão do suicídio frustrado. Mesmo para o materialismo, o suicídio pode não valer pena se o suicida não tiver competência suficiente para se matar e, do ato, resultarem sequelas e piora da situação. Suicidas em desespero podem não calcular corretamente o risco a que estão sujeitos, caso não consigam se livrar completamente de suas vidas.

Tomando como ponto de partida que o suicídio foi motivado por pensamentos e intenções negativas, a IV Parte do "Livro dos Espíritos" exploras os possíveis caminhos morais que o suicida poderia tomar caso raciocinasse diferente. Com certo escrutínio psicológico, os Espíritos identificam a grande causa como a falta de fé no futuro a principal razão para o ato suicida.  A escalada do suicídio nos tempos modernos confirma essa identificação porque ela tem, no materialismo, a sua principal doutrina de apoio:
A propagação das idéias materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral. (O "Evangelho S. o Espiritismo" Capítulo V, "Suicídio e Loucura".Parágrafo 16)
A certeza da vida futura tem, portanto, a capacidade de anular o efeito do suicídio nesses casos:
A calma e a resignação hauridas da maneira de encarar a vida terrestre e da fé no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.(O "Evangelho S. o Espiritismo" Capítulo V, "Suicídio e Loucura". Parágrafo 14)
Com relação ao "suicídio por sacrifício", há condições específicas que o desqualificariam como um suicídio, conforme pode-se ler na questão #951 de "O Livro dos Espíritos":
951. Não é, às vezes, meritório o sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes? 
Isso é sublime, conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas Deus se opõe a todo sacrifício inútil, e não o pode ver de bom grado se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, algumas vezes, quem o faz guarda oculto um pensamento, que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.
O "valor aos olhos de Deus" é uma designação metafórica para o real estado da consciência no momento da realização do ato. Por sua importância, essa "exceção" é comentada por Kardec:
Todo sacrifício que o homem faça à custa da sua própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque é a prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o bem terreno a que maior apreço dá o homem, não comete atentado o que a ela renuncia pelo bem de seus semelhantes: faz um sacrifício. Mas, antes de o cumprir, deve refletir sobre se sua vida não será mais útil do que sua morte. (grifo meu)
É claro que o ato só é justificável se tem como consequência o bem dos semelhantes. Dito isso, ainda assim são raríssimas as evidências mediúnicas que atestariam essa exceção. A maior parte delas relata grandes sofrimentos com a morte planejada.

O que dizem as cartas psicografadas

Como uma extensão dos casos de sequelas de suicídios malogrados, a visão das "consequências" se explica ao se conhecer com precisão o estado da alma após a morte. O Espiritismo traz uma contribuição inovadora porque afirma ser possível conhecer essa situação por meio de evidências. Os meios de contato com os mortos constituem um processo antigo, cuja importância para o pensamento religioso e psicológico tem o seu reconhecimento no Espiritismo. O problema do suicídio adquire uma nova dimensão apenas quando a visão da vida futura é aceita abertamente.

Em "O Céu e o Inferno", II Parte do Capítulo V, há duas comunicações analisadas por A. Kardec. A do "Suicida da Samaritaine" e a do "Sr. Félicien". Há também outros trechos, como na "Revista Espírita" de Agosto de 1860  e Janeiro de 1869. No caso do suicida de Samaritaine, a conformação do sofrimento pode ser lida na resposta dada à invocação do Espírito, que ainda alimentava a ideia de desaparecer, ignorante de seu estado: 
5. Que motivo vos levou a vos suicidardes?  
Eu morri? ...Não... habito meu corpo... Não sabeis quanto sofro!... Asfixio... Que uma mão compassiva tente acabar comigo!
Encontramos em nossas pesquisas 14 autores de cartas psicografadas por Chico Xavier reportados como suicidas. Desses destacamos como exemplo Francisco A. Nogueira Filho (1960-1978). Sua morte se deu por enforcamento a 15 de agosto de 1978. Sobre sua carta (13), destacamos alguns trechos:
Ignoro que forças indomáveis me fizeram aceitar a ideia de uma corda que me pendurasse o corpo, a fim de que tudo acabasse para mim. (...)
O que se passou, não tenho vocábulos para contar. Quanto tempo me arrastei naquelas sombras densas, arrependido e infeliz, não sei dizer.
Tive medo da vida, sem a presença de meu pai, mas o medo era o que eu sentia e não aquela temeridade que acabou por me perder. 
(...) Depois de um tempo que para mim teve a duração de séculos, uma voz me veio atender aos gritos de socorro... (grifos meus)
A explicação para as "sobras densas" (que também aparece nas comunicações obtidas por Kardec) pode ser achada neste comentário de A. Kardec ("Céu e Inferno", II Parte, Cap. V, "O Suicida de Samaritaine"):

Sua alma, embora separada do corpo, ainda está completamente mergulhada no que se poderia chamar o turbilhão da matéria corpórea; as ideias terrestres ainda são vivazes; ele não acredita que está morto.
A "duração de séculos", em verdade, foi menos de cinco anos, pois a data da primeira mensagem é de janeiro de 1982. Em todas essas cartas - que tocaram profundamente os parentes e lhes serviram como lenitivos para as dores da separação - os Espíritos suicidas reconhecem a falta, a passagem pelo sofrimento e a perspectiva de reparação no futuro. 

Com relação ao sofrimento experimentado por suicidas com a morte, já havia observado Kardec pelas comunicações que não havia uma regra uniforme para todos os casos:
Esse estado é frequente nos suicidas, mas nem sempre se apresenta em condições idênticas; varia sobretudo na duração e na intensidade segundo as circunstâncias agravantes ou atenuantes da falta. Ela é frequente entre aqueles que viveram mais da vida material do que da vida espiritual. Em princípio, não há falta sem punição; mas não há regra uniforme e absoluta nos meios de punição. (O Céu e o Inferno, II Parte, Exemplos, Capítulo V - Suicidas: O suicida da Samaritaine)
De fato, em uma das cartas psicografadas, um dos autores reporta o estado de uma parenta suicida cuja culpa não teria se estabelecido pelo seu estado de doente mental. 

Perspectivas com as evidências de além-tumulo


Nossa pesquisa bastante imperfeita mostra que, embora textos considerados sagrados possam veementemente condenar os suicidas, a maior parte das autoridades religiosas mais lúcidas são cuidadosas em ressaltar a impossibilidade da condenação absoluta - punição eterna -  pelo desconhecimento das causas que levaram o ato. Em todos os casos, o suicídio é condenável porque:
  • Entende-se que o direito de subtração da vida não compete ao homem a quem a vida foi dada por um poder superior;
  • O suicídio rompe laços de família e de obrigação que o indivíduo tem com sua sociedade e com o poder criador.
Nossa conclusão é que, embora as diferenças patentes entre as crenças, fundamentalmente as religiões condenam o suicídio por motivos semelhantes. Porém, o Espiritismo permite pesquisar as consequências do ato após a morte:

  • Por causa do rompimento abrupto do fluxo vital que viria a termo com a morte natural, o suicida está exposto a uma variedade de sofrimentos cuja duração não pode ser prevista e que gerará consequências para sua vida futura.
Alguns intelectuais, ignorantes da fenomenologia psíquica, mantem a opinião de que a visão de sofrimento dos suicidas no além túmulo é um recurso psicológico - que se acredita inválido - para desmotivar o suicídio. Tal como a condenação eterna, seria um recurso para "assustar criancinhas". Ingenuamente creem eles, em suas visão materialista, que o ser não sobrevive e, portanto, não há porque se preocupar com isso. Como já dissemos antes, o materialismo não tem como frear o impulso suicida, sendo na verdade um potencializador dele, porque sua principal motivação é a falta de fé no futuro e a crença errônea de que a morte é o fim do ser. O Espiritismo, ao abrir um canal com os mortos - antes considerado proibido ou inaceitável por algumas religiões - permite conhecer em detalhes o estado da vida futura, conforme os atos previamente cometidos. Trata-se, portanto, de uma extensão dos casos das sequelas dos suicídios frustrados em estado desencarnado. 

Não mais nosso estado presente de compreensão se baseará em antigas tradições ou crenças, mas na comprovação e nas evidências - que ainda não são universalmente aceitas por razões alheias aos fatos. É um novo mundo que se abre, permitindo o planejamento de nossas vidas pelo conhecimento das consequências finais dos erros alheios. A certeza na continuidade abranda as dores do agora e permite que o suicídio deixe de ser considerado como solução final. O suicídio é, acima de tudo, um problema de saúde espiritual e como tal deve ser tratado.

Agradecimento.

Agradeço a Eliana Ferrer Haddad (Correio Fraterno) pela sugestão do tema.

Referências

(1) A. Trigueiro (2015). Viver é a melhor opção - a prevenção do suicídio no Brasil e no mundo. 1a Ed. Editora Correio Fraterno.

(2) Ver: Alguns pontos sobre a visão espírita do suicídio assistido.

(3) Religious views on suicide. Em http://en.wikipedia.org/wiki/Religious_views_on_suicide (acesso em junho de 2015). Em português sobre o suicídio há http://pt.wikipedia.org/wiki/Suic%C3%ADdio. Ver também:
(4) Jewish views on suicide. Em http://en.wikipedia.org/wiki/Jewish_views_on_suicide

(5) Catechism of the Catholic Church.
(6) Ver http://www.atruechurch.info/lutheransuicide.htm (acesso em junho de 2015). Original:
"Assuredly we would not wish to judge anyone who resorts to self-destruction. It is impossible for us to plumb the depths of gloom into which even Christian people may sink and irresponsibly lay unholy hands upon themselves. Perhaps the Lord will not hold them responsible, but we do not know." (What's the Answer, CPH, 1960, p. 144).
(7) http://renatovargens.blogspot.com.br/2013/11/os-evangelicos-e-o-suicidio.html

(8) What Does Islam Say On Suicide & Its Punishment? Ver: http://www.onislam.net/english/ask-about-islam/islam-and-the-world/worldview/166359-suicide-an-islamic-prespective.html (Acesso em junho de 2015). Versão original:
"Here we can only state what Islam says about suicide as an act. Yet, we cannot always judge a specific case of suicide because we never know what Allah knows about the state of the doer the moment he/she commits it. A person who seems to have thrown himself down from the balcony might have fell by accident, while we don’t know it. So, we are never to judge and we leave the final judgment of each case for the Creator, Who definitely knows better." 
(9) http://www.hinduwebsite.com/hinduism/h_suicide.asp (Acesso Junho de 2015)

(10) Sati: http://en.wikipedia.org/wiki/Sati_(practice)

(11) "Suicide rates Data by country". World Health Organization. 2012. Retrieved 13 June 2015

(12) ENInews (2011) Japanese religious bodies discuss suicide and 'voluntary death'. Em http://www.ekklesia.co.uk/node/15647

(13) F. C. Xavier e C. Ramacciotti (1982). "Entes queridos". Ed. GEEM.