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1 de fevereiro de 2024

Novidades sobre o Eletroma e campos morfogênicos

 

...todo remédio da farmacopeia humana é, até certo ponto, projeção de elementos quimioelétricos sobre as agregações celulares, estimulando-lhes as funções ou corrigindo-as, segundo as disposições do desequilíbrio em que a enfermidade se expresse.
A. Luiz [1]

Uma grande variedade de corpos se interpenetram e formam o corpo humano: o genoma como agregado de genes distribuídos, o proteonoma como agrupamento de elemento proteicos e muitos outros. O mais recente deles foi batizado de "Eletroma" [2] e é formado pelo agrupamento de elementos biológicos que são atuados pela eletricidade própria do organismo. Trata-se de um conceito relativamente novo em sua aplicação médica, porém, um assunto que já tem certa história. O objetivo de Luigi Galvani (1737-1798) com suas experiências elétricas e pernas de rã era estabelecer o papel da eletricidade nos organismos vivos.

A história porém está sendo reeditada com novas descobertas. Um exemplo são as pesquisas realizadas pela equipe do Dr. Michael Levin, que é diretor do Allen Discovery Center na Universidade Tufts [2b]. A reedição pode criar em uma verdadeira revolução na biologia e na medicina.

A equipe do Dr. Levin ressaltou o papel fundamental de campos elétricos na matéria viva que orientam o processo de formação de estruturas funcionais em embriões (girinos). Apresentam demonstrações experimentais em que a eletricidade é um tipo de "campo morfogênico" [3] para as células que participam da formação de embriões. 

Mas o que causa esses campos? Por enquanto, segundo a interpretação do Dr. Levin, eles são gerados pelas próprias células que, graças a um instinto inteligente primitivo  - uma espécie de "inteligência coletiva" - produz correntes elétricas e separação de cargas. Os campos criados pela separação das cargas induzem a formação apropriada de órgãos e outras estruturas menores "orientados" pelos campos elétricos. 

Uma parte considerável da explicação do Dr. Levin é que células contêm inteligência pela sua capacidade de resolver problemas no meio em que vivem. Cada célula de um tecido vivo sabe assim o que fazer conforme o ambiente em que seja colocada. Segundo esse pesquisador, elas "resolvem um problema computacional" enorme (como se tivem um tipo de "inteligência artificial") por meio dessa inteligência coletiva. Nesse processo, induzem à formação de padrões eletromagnéticos ou "campos bioelétricos configuracionais endógenos" [3] que foram registrados por equipamentos especiais desenvolvidos no centro coordenado pelo Dr. Levin. 

Para adiantar essas e outras conclusões, o emintente pesquidor utiliza a definição operacional de inteligência do famoso cientistas espiritualista ingles Willian James (1842-1910):
Inteligência é a capacidade de alcançar o mesmo objetivo usando meios diferentes.
Segundo o Dr. Levin [2b], um video de microscópio da bactéria Lacrymaria olor demonstra esse conceito. Um ser que não tem cérebro e nem sistema nervoso possui elevada competência na solução de problemas complexos em seu meio o que é intrigante, no mínimo. Assim, não importa o tipo de corpo em que a inteligência se manifeste: se o ser é inteligente ele tem competência para resolver problemas desde que confrontado com dificuldades e os estímulos apropriados. 

William James (1842-1910) pode ser invocado em uma definição operacional de inteligência que permite reconhecer essa propriedade mesmo em organismos unicelulares. 

Da Farmacêutica para a "Eletrocêutica"

Toda essa estória nos faz lembrar dos "campos morfogênicos" de R. Sheldrake [4] e, mais para trás no tempo, do "modelo organizador biológico" de Carlos A. Tinoco [5] e Hernani G. Andrade (1913-2003) [6] ou os campos "L" de Harold Saxton Burr (1889-1973). Antes, porém, que espíritas vejam nos campos elétricos morfogênicos do Dr. Levin uma comprovação das ideias de Sheldrake, Burr, Tinoco e Andrade, é preciso compreender as motivações das pesquisas do Dr. Levin que são bastante práticas. 

O objetivo é desenvolver novas formas de tratamento e regeneração de tecidos humanos, visando o projeto de futuros orgãos ou até membros no corpo humano. Não seria possível fazer crescer um novo braço em um amputado como aconteces nos axolotes? Além disso, algumas doenças como tumores poderiam ser tratados fazendo com que células tumorais reconhecessem o ambiente e passassem a se comportar como células normais com já se demonstrou em girinos... 

Para isso, separação de cargas (polarização) e campos elétricos específicos seriam "desenhados" ou "induzidos" por drogas específicas ou "quimioelétricas". Essas drogas seriam supridas por uma "eletroceutica" específica que começa pelo projeto de campos elétricos morfogênicos induzidas por elas. 

Consequências para a visão espírita

Feita essa introdução é possível especular com respeito à amplitude dessas descobertas recentes sobre o eletroma e o "corpo elétrico". Inicialmente, as conclusões sobre a importância dos "canais iônicos" [10] me fizeram lembrar do fragmento de texto citado no início deste post. Parece ser uma validação de uma ideia trazida por André Luiz em seu livro "A Evolução em dois mundos" [1]. Seria por isso que o autor espiritual já falava em 1958 sobre os "elementos quimioelétricos"? Mas nessa época, a descoberta do DNA e os avanços na genética destacavam a importância do "genoma" na formação do corpo humano. Não se via qualquer importância para a eletricidade no contexto da formação do corpo humano ou das doenças.

Notem bem a distância que essas novas descobertas [9] colocam a biologia: a morfogênese não se deve unicamente à ação de "genes" no "genoma" e reações bioquímicas, mas faz uso de um elemento invisível orientador e intermediário que é gerado no interior da matéria viva. Lembramos que campos elétricos são entidades físicas invisíveis e sem fronteiras definidas. O mecanismo de ação à distância que move íons e proteinas no citoplasma das células [8] é o conhecido "efeito de dieletroforese". Para a biologia, trata-se de um efeito "epigenético" que atua sobre as células fazendo-as modificar seu comportamento muito além do que está "programado"  pelos genes.

O primeiro passo dado em direção às consequências dos estudos do grupo do Dr. Levin para a visão espírita está na própria noção de inteligência que usa. Pois, se essa é definida como uma propridade sem referência ao tipo de "veículo de manifestação" (que é material), é que a inteligência é um princípio independente, o próprio "princípio inteligente" encontrado nas Questões 23-25 de "O Livro dos Espíritos" de A. Kardec.

Um dos experimentos do Dr. Levin  fornece a prova [2b]. Ao isolar células embrionárias que se tornariam a pele de um sapo, os pesquisadores da Universidade de Tufts descobriram que, ao invés de morrerem ou se desenvolverem como uma massa disforme de células de pele, elas se transformam em seres multicelulares novos, os Xenobots [7]. Esses nadam, se viram sozinhos em labirintos e até conseguem gerar novos xenobots pela assimilação de células da pele! Ou seja, é como se Xenobots tivessem uma "memória" de experiências passadas (que nunca teriam tido pela evolução Darwinista) quando não eram células de pele...

Assim, além da existência de um interface morfogênica, esses experimentos demonstram a existência do princípio inteligente em cada célula que compõe um organismo complexo. Cada célula de nosso corpo tem memória, inteligência e competência para resolver problemas desde que estimulada. É um ser a parte, que contribui com a sua "parte" no ambiente multicelular que  o envolve e cujo comportamento está apenas parcialmente "programado" nos genes que  carrega.

Ao mesmo tempo em que essas descobertas recentes parecem colocar um ponto final nos debates sobre "camposo morfogênicos", no meu entendimento, elas têm consequências tremendas para uma nova visão da vida e do papel do princípio inteligente (o espírito) na matéria.

Referências e comentários

[1] A. Luiz (1958). Evolução em dois Mundos, 2a  Parte 4a Ed. FEB.  Ver Cap. XIX.

[2]  V. Smink (2023) O que é electroma, rede do corpo humano recém-descoberta que pode revolucionar tratamento do câncer. Saúde "G1". Acessível em: https://g1.globo.com/saude/noticia/2023/03/04/o-que-e-electroma-rede-do-corpo-humano-recem-descoberta-que-pode-revolucionar-tratamento-do-cancer.ghtml 

[2b] Youtube (2023). From Mind to Matter - Dr. Michael Levin. Ver vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Ed3ioGO7g10      

[3] Levin, M., Pezzulo, G., & Finkelstein, J. M. (2017). Endogenous bioelectric signaling networks: exploiting voltage gradients for control of growth and form. Annual review of biomedical engineering, 19, 353-387. Acesso aqui.



[6] H. G. Andrade. O psi quântico. Ed. Casa Editora Espírita "Pierre-Paul Didier". H. G. Andrade chamou esse campo de "CBM" ou "campo biomagnético" e acreditava ser possível induzir campos eletrostáticos em um "continuum" quadridimensional a partir de campos magnéticos. As descobertas modernas apontam para algo bem mais simples: os campos são eletrostáticos, porém, são estabelecidos por correntes de íons (os tais "canais iônicos") que existem em torno e dentro de qualquer célula viva. 

[7] Blackiston, D., Lederer, E., Kriegman, S., Garnier, S., Bongard, J., & Levin, M. (2021). A cellular platform for the development of synthetic living machines. Science Robotics, 6(52). Acesso aqui.

[8] Henslee, E. A. (2020). Dielectrophoresis in cell characterization. Electrophoresis, 41(21-22), 1915-1930.

[9] Nunn, A. (2023). We Are Electric: The New Science of Our Body's Electrome, by Sally Adee. Bioelectricity, 5(2), 147-149.

[10] Funk, R. H., Monsees, T., & Özkucur, N. (2009). Electromagnetic effects–From cell biology to medicine. Progress in histochemistry and cytochemistry, 43(4), 177-264.