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31 de janeiro de 2019

A questão sobre o magnetismo animal e o nome "magnetismo" II


Continuação do post A questão sobre o magnetismo animal e o nome "magnetismo" I.

Kardec fez referência ao magnetismo 'físico' (1) , assunto de nosso post anterior:
Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com água, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do Universo e da marcha dos mundos. (grifo meu)
Nada mais natural do que a designação 'magnetismo animal' diante de tantos magnetismos: 'ambárico', 'vitreo', da 'magnesia' e entre corpos celestes ou 'gravitacional'. A semelhança entre o 'motus operandi' desse novo magnetismo para o dos magnetos ou terrestre justificava a apropriação de nomes. Certamente, a figura de F. A. Mesmer (1734-1815) é responsável pela uso desses termos no último quartel do Século 18.

O próprio Kardec já afirmava que a analogia era errônea:
Demonstrou a experiência que não existe tal analogia ou que é apenas aparente. Assim a denominação não é exata. Como, porém, foi consagrada pelo emprego universal, e como, por outro lado, o epíteto que é adicionado não permite equívocos, haveria mais inconveniente do que utilidade em substituir a expressão. (2)
O erro tinha a ver com a crença de que se poderia usar imãs como instrumentos de cura no magnetismo animal. Do que se tratava o novo fenômeno? Kardec define de forma bastante didática e sumária esse novo 'magnetismo':
O magnetismo animal pode assim ser definido: ação recíproca de dois seres vivos por meio de um agente especial chamado fluído magnético. (2)
Essa definição nos leva a outro termo: o fluido magnético. Como no caso da apropriação que aconteceu com o próprio termo 'magnetismo', aqui também, por uma sequêcia de assimilações agora no mecanismo de atuação do fenômeno, um fluido é evocado como responsável pela intermediação dos efeitos. A floresta terminológica agora se adensa, porque mais de um nome é usado para o mesmo fluido: fluido vital, fluido nervoso etc.

Não só isso: chegamos a uma bifurcação conceitual importante, que está na raiz dos conceitos de cura frequentemente tema de dissertações espíritas, e as explicações da moderna ciência médica propriamente dita. 
Para alguns, o princípio vital é uma propriedade da matéria, um efeito que se produz quando a matéria se acha em dadas circunstâncias. Segundo outros, e esta é a idéia mais comum, ele reside em um fluido especial, universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parcela durante a vida, tal como os corpos inertes absorvem a luz. Esse seria então o fluido vital que, na opinião de alguns, em nada difere do fluido elétrico animalizado, ao qual também se dão os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc (3, grifos nossos).
Kardec parecia estar bem informado a respeito do debate entre o fisicalismo e o vitalismo, conforme esse trecho acima sugere. O vitalismo é uma linha de  raciocíno que argumenta ser a vida essencialmente irredutivel às leis físicas. Para o fisicalismo, a vida nada mais é do que uma manifestação mecânica dessas leis. Embora seja crença universal que o fisicalismo ganhou o debate, as grandes mudanças que aconteceram em nossa compreensão sobre as leis físicas podem ainda revelar surpresas (4). De qualquer forma, seja porque tivesse preferência pelo vitalismo ou porque os Espíritos usaram largamente o fluido magnético como explicação para muitas curas, Kardec tomou claramente a via não fisicalista (4b).

O magnetismo animal continua vivo por meio de inúmeros tratamentos alternativos e complementares tais como o passe espírita, o toque terapêutico, o Reiki dentre outros.
A ideia de que um fluido é transmitido entre seres vivos sustenta um número grande de terapias alternativas, como é o caso do Reiki, do Johrei, do Toque Terapêutico e do próprio passe espírita. Independente de qual 'teoria' esteja certa no contexto do debate considerado 'terminado' entre o vitalismo e o fisicalismo, evidências importam na demonstração de que, de fato, 'algo' é transferido entre os seres vivos, notadamente de curadores para pacientes e também para outros seres vivos.  Basta uma simples pesquisa para se levantar uma quantidade grande de estudos que mostram a existência do efeito (5), indepentende da opinião de céticos:
  • O "toque terapêutico estimula a proliferação de células humanas em culturas", ver (5), ref. 2. 
  • O "impacto potencial do tratamento do biocampo sobre células de tumor cerebral" (5, ref. 7).
  • "Efeito do passe espírita no crescimento de culturas de bactérias." (5, ref. 8) 
  • "O Toque Terapêutico tem efeitos significativos sobre metástases de câncer mamário de ratos e resposta imunológica, mas não sobre tamanho do tumor primário". (5 ref. 9)
  • "O Johrei, uma técnica de cura Japonesa, é capaz de aumentar o crescimento de cristais de sucrose". (5, ref .10)
Para mim está claro que o magnetismo animal sobrevive como causa desses fenômenos. Os efeitos, porém, são pequenos (6), não só porque se desconhece os mecanismos pelos quais eles poderiam ser aumentados, como também, a despeito da boa vontade, muitos dos 'doadores de fluidos' não dispõem de recursos maiores. Hoje o magnetismo animal encontra-se travestido por outros nomes tais como 'biocampo', 'terapias energéticas' e 'campo energético', entretanto, trata-se do mesmo efeito de ação à distância entre seres vivos.

A transformação do magnetismo de Mesmer em Hipnotismo

Desde o início do magnetismo animal, era necessário dar uma explicação convincente sobre as inúmeras curas e comportamentos insólitos observados junto aos pacientes tratados por Mesmer. Por 'convincente' entende-se explicações que satisfaçam ao senso comum e que fossem aceitas amplamente.

Já em 1784, uma comissão de notáveis (7) organizada pelo Rei Luis XVI - a incluir Lavoisier e Franklin - verificou a realidade das curas obtidas por ele. O objetivo da comissão era não só atestar as curas, mas também saber se a explicação dada por Mesmer (que envolvia o fluido magnético) era correta. Como tal fluido não pôde ser visto, ela concluiu pela sua inexistência. A comissão também concluiu que as curas observadas eram devidas ao efeito da 'imaginação' dos pacientes.

Começava então a fase das explicações de produto da sugestão, a partir de trabalhos de Abbe Faria (1756-1819) e James Braid (1795-1860), que criou o termo hipnotismo. A partir de então, por um processo de assimilação e explicação simplificada, o magnestimo animal foi associado inteiramente ao hipnotismo como explicação. Nas palavras de Braid:
...E em oposição ao Mesmerismo Transcendental (a saber, metafísico) dos mesmeristas... [supostamente] induzido pela transmissão de uma influência oculta do [corpo do operador para o do sujeito], o Hipnotismo, [pelo qual] eu quero dizer uma condição peculiar do sistema nervoso, na qual ele pode ser lançado por uma manobra artificial ....[é uma posição teórica] interiamente consistente com os princípios geralmente admitidos da ciência fisiológica e psicológica e, portanto [deve ser mais apropriadamente] chamado Mesmerismo Racional. (8)
A ideia de que pessoas seriam 'sugestionáveis' ou poderiam cair em um estado de percepção exacerbada foi tanto uma descoberta como uma explicação conveniente para os desafetos de Mesmer, que incluiam grande parte do mundo médico de sua época, praticantes de uma medicina que pouco tinha evoluido desde a antiguidade. Essa explicação, entretanto, desconsiderou sem razão as inúmeras curas e peculiaridades dos fenômenos  do magnetismo animal. E curas o hipnotismo não foi capaz de prodigalizar, ainda que se integrasse à prática médica (9).  Com vimos, o que fazer com as centenas de evidências de alterações observadas em tecidos biológicos por meio do processo de imposição de mãos?

É inquestionável que o fenômeno hipnótico existe, porém, ele não é a explicação correta para o magnetismo animal, que permanece como um fenômeno de fronteira.

Conclusões

A explicação popular de que o mesmerismo ou magnetismo animal nada mais é do que um fenômeno de sugestão, modernamente conhecida como hipnotismo, é falsa. O magnetismo animal sobrevive conforme atestam centenas de trabalhos científicos com amostras inanimadas ou com vida orgânica simples, desbancando as 'teorias de placebo', que propõem esse efeito como causa única das curas observadas em humanos.

Não obstante isso, o efeito placebo e o hipnotismo existem e são amplamente usados em medicina. Provavelmente o placebo é de causa ainda mais complexa, porque envolve um ser consciente que pode atuar sobre si. Todas esses efeitos secundários (sugestibilidade, excitabilidade etc) podem atuar junto ao magnetismo animal, tornando ainda mais difícil compreender o fenômeno das cura observadas em seus diverso componentes.

Tanto os termos 'fluido magnético' como 'sugestão' ou 'placebo' são containeres genéricos que carecem, eles mesmos da determinação de causas subjacentes. Embora seja possível traçar a atuação bioquímica de processos metabólicos que induzam ou suprimam os sintomas de várias doenças, existem inúmeros caminhos desconhecidos que também desembocam nesses processos, resultando nos mesmos efeitos. Considero particularmente problemático chamar esses mecanismos de 'não-físicos', visto que tudo que existe na Natureza pode ser explicado por uma via racional, dispensando-se qualificativos 'místicos' ou 'miraculosos'.

Para complicar ainda mais as coisas, o Espiritismo vai além e descobriu um terceiro elemento na complexa cadeia de processos de cura: os Espíritos desencarnados. Um médium de cura é um curador ou magnetizador capaz de manipular o fluido magnético potencializado pela ação dos Espíritos. Os Espírios podem tanto aumentar a capacidade curativa do fluido como suprimi-la completamente. Essa é a razão, talvez, porque muitos desses fenômenos não ocorrem de forma homogênea em todos os lugares da Terra. Também é a razão para não acreditar que eles possam atualmente prover uma terapia bem definida, ainda que complementar, tendo em vista seu caráter incontrolável.

Referências e comentários

(1) A. Kardec. O Livro dos Espíritos. 4a Parte, "Das esperanças e consolações". Conclusão, I. Versao www.ipeak.com

(2) A. Kardec. Instruções prátias sobre as manifestações espíritas. Termo "Magnetismo animal". Kardecpedia.com

(3)  A. Kardec. O Livro dos Espíritos. "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", II. Versao www.ipeak.com

(4) Aqui temos claramente um problema pois, se entendemos por 'leis físicas' aquelas conhecidas no século 19, o fisicalismo disso resultante deixará muito a desejar. Mas, não parece ser fácil negar esse argumento mesmo com a física moderna, afinal quem tem certeza de que temos as leis finais ?

(4b) A posição de Kardec pode também ter sido motivada pela identificação mais forte do fisicalismo com o materialismo.

(5) Ver, por exemplo:
  1. Burden, B., Herron-Marx, S., & Clifford, C. (2005). The increasing use of Reiki as a complementary therapy in specialist palliative care. International Journal of Palliative Nursing, 11(5), 248-253.
  2. Gronowicz, G. A., Jhaveri, A., Clarke, L. W., Aronow, M. S., & Smith, T. H. (2008). Therapeutic touch stimulates the proliferation of human cells in culture. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, 14(3), 233-239.
  3. Radin, D., Schlitz, M., & Baur, C. (2015). Distant Healing Intention therapies: An overview of the scientific evidence. Global advances in health and Medicine, 4(1_suppl), gahmj-2015.
  4. Monroe, C. M. (2009). The effects of therapeutic touch on pain. Journal of Holistic Nursing, 27(2), 85-92.
  5. VanderVaart, S., Gijsen, V. M., de Wildt, S. N., & Koren, G. (2009). A systematic review of the therapeutic effects of Reiki. The Journal of alternative and complementary medicine, 15(11), 1157-1169.
  6. Wardell, D. W., & Engebretson, J. (2001). Biological correlates of Reiki Touch's healing. Journal of advanced nursing, 33(4), 439-445.
  7. Trivedi, M. K., Patil, S., Shettigar, H., Mondal, S. C., & Jana, S. (2015). The potential impact of biofield treatment on human brain tumor cells: A time-lapse video microscopy. HAL archives ouverteshttps://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01416895/document
  8. Lucchetti, G., de Oliveira, R. F., de Bernardin Gonçalves, J. P., Ueda, S. M. Y., Mimica, L. M. J., & Lucchetti, A. L. G. (2013). Effect of Spiritist “passe”(Spiritual healing) on growth of bacterial cultures. Complementary therapies in medicine, 21(6), 627-632.
  9. Gronowicz, G., Secor, E. R., Flynn, J. R., Jellison, E. R., & Kuhn, L. T. (2015). Therapeutic touch has significant effects on mouse breast cancer metastasis and immune responses but not primary tumor size. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2015. http://downloads.hindawi.com/journals/ecam/2015/926565.pdf
  10. Teixeira, P. C. N., Rocha, H., & Neto, J. A. C. (2010). Johrei, a Japanese healing technique, enhances the growth of sucrose crystals. Explore: The Journal of Science and Healing, 6(5), 313-323.
(6) Com isso queremos dizer que não é possível a cura ostensiva de doenças. A grande maioria dos trabalhos tratado do alívio e da melhora dos sintomas associados a determinadas enfermidades que são devidamente acompanhadas por seus tratamentos médicos. Isso não significa que a cura completa de doenças não possa acontecer por meio do magnetismo animal. Para isso importa determinar o mecanismo de sua atuação que tornaria possível o seu controle e aumentar seus efeitos.

(7) IML Donalson (20150. Reports on the Royal Commission of 1784 on Mesmer's system of Animal Magnetism. Disponível em :

https://www.rcpe.ac.uk/sites/default/files/files/the_royal_commission_on_animal_-_translated_by_iml_donaldson_1.pdf

(8) J. Braid (1850). "Observations on Trance: Or, Human Hybernation". "Ver vocábulo 'Animal Magnetism' na Wikipedia. 


(9). De fato, a hipnose não constitui terapia. Ver Spiegel, H., & Spiegel, D. (2008). Trance and treatment: Clinical uses of hypnosis. American Psychiatric Pub.




7 de julho de 2013

Entrevista com Ricardo Monezi (Parte II)


Para acessar a primeira parte da entrevista, clique aqui.

Apresentamos aqui a segunda parte em áudio de uma entrevista com o Dr. Ricardo Monezi, conhecido pesquisador dos efeitos da imposição de mãos, em particular do uso do Reiki. 

Ricardo defendeu recentemente sua tese de doutorado "Efeitos Psicofisiológicos da Prática do Reiki em Idosos com Sintomas de Estresse: Estudo Placebo e Randomizado" pela Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina). Para um resumo do trabalho ver a primeira parte da entrevista (1).

Para mais informações deste blog sobre a prática de imposição de mãos e seus efeitos ver (2) e (3).

Segunda parte da entrevista (áudio).

Alguns trechos da entrevista
Hoje eu diria que o pesquisador que tem, entre aspas, essa coragem, para não dizer loucura para se envolver com temas que, há bem pouco tempo eram polêmicos, mas que são bem interessantes..., ele vai ter que ler muito e não ler apenas sobre a imposição de mãos, mas quando pensar em imposição de mãos, ela vai ter que pensar em aspectos da religiosidade relativa à imposição de mãos, ela vai ter que pensar em aspectos históricos da imposição de mãos... 
O grande desafio agora é projetar estudos no pós-doutorado que tenham uma metodologia mais rigorosa  e que buscam sanar as arestas que foram deixadas abertas com esse trabalho... Eu não creio em abandonar esse caminho, mesmo porque, muitas vezes, não somos nós que escolhemos o caminho, mas ele que nos escolhe...
Hoje em dia você tem muitos trabalhos que falam da importância de se realizar trabalhos que comparem técnicas diferentes que estejam dentro de um mesmo eixo..., acho que um grande pensamento para um projeto de pós doc seria pegar diferentes técnicas de imposição de mãos e fazer estudos comparativos...
Espiritualidade é o que nos reconecta, é o que nos faz vivos, é o que nos dá a vida...A espiritualidade é o fator que promove a vida..., é o que dá apoio à sociedade. Hoje em dia a ciência, cada vez mais reconhece a espiritualidade como um fator chave, não apenas para o indivíduo, mas para a sociedade como um todo, para o planeta...
Para mais informações sobre o trabalho ver também (4).

Ver também:

12 de junho de 2013

Entrevista com Ricardo Monezi (Parte I)


Para acessar a segunda parte da entrevista, clique aqui.
Apresentamos a partir deste post, a primeira parte em áudio de uma entrevista com o Dr. Ricardo Monezi, conhecido pesquisador dos efeitos da imposição de mãos, em particular do uso do Reiki. 

Ricardo defendeu recentemente sua tese de doutorado "Efeitos Psicofisiológicos da Prática do Reiki em Idosos com Sintomas de Estresse: Estudo Placebo e Randomizado" pela Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina). Para um resumo do trabalho ver (1).

O trabalho do Ricardo é um divisor de águas no Brasil quanto ao estudo de efeitos de técnicas de imposição e mãos por meio de métodos sistemáticos. Nesta primeira parte da entrevista, ele fala sobre o trabalho de sua tese de doutorado, sobre os seus principais resultados e dificuldades, o que pode ser importante para aqueles que quiserem iniciar nessa área de investigação.

Já tivemos a chance de discutir anteriormente as dificuldades envolvidas na investigação de efeitos do tipo "imposição de mãos" (ver post: "Algumas considerações sobre o passe"). Sem dúvida, elas são enormes e vão desde a própria definição de "doença" até os procedimentos experimentais que devem ser usados para sua investigação, que tem como escopo o elemento humano. Em que pese os estudos com animais, a validação dos efeitos de imposição de mãos em humanos é particularmente delicada, por causa de inúmeros efeitos adversos e particularidades do ambiente de investigação (necessidade de se aplicar repetidamente procedimentos que, muitas vezes, não são de fácil aceitação pelos humanos, dificuldades na análise dos dados, variações incontroláveis no ambiente etc).  

Junte a isso tudo o preconceito generalizado existente no ambiente acadêmico e temos literalmente uma das áreas de pesquisa mais difíceis que existem no campo das ciências médicas. Por isso, consideramos o trabalho do Ricardo Monezi um marco.

Primeira parte da entrevista (áudio).

Alguns trechos da entrevista
"Ambos os grupos tiveram alguns resultados positivos. Mas, a performance do Reiki foi superior, demonstrando que existe uma diferença entre o simples tocar e o tocar com a técnica".
 "Um resultado que chama muito a atenção é o resultado em relação à Espiritualidade, onde a gente viu o comportamento do grupo Reiki extremamente diverso do grupo placebo; mas me chamou bastante a atenção os resultados relativos à temperatura e a eletromiografia do músculo frontal".
 "A dificuldade principal é a dificuldade metodológica...A questão de se fazer um grupo placebo é que é uma coisa complicada....Como, por exemplo, fazer um grupo placebo para meditação? Simplesmente pedir para a pessoa esvaziar a mente, ou focar o seu pensamento em um determinado ponto? Isso é muito complicado...E na questão da imposição de mãos um grande desafio é ajustar a metodologia, o desafio é o controle das variáveis..."
"A questão de você entender que o modelo de cuidado não é unidimensional, ele é multidimensional..., você está lidando com um ser humano que tem dimensões e aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais, ele tem os seus próprios paradigmas, os seus dogmas, ele tem um vida e uma estória de vida".

Na segunda parte: recomendações de Ricardo Monezi para futuros investigadores do efeito da imposição de mãos, projetos futuros e espiritualidade na visão do entrevistado. Aguardem!

Nota

(1) Resumo: O estresse é como um desvio da homeostase, podendo contribuir para o desenvolvimento de uma série de sintomas que podem representar um prejuízo à saúde do idoso. Essa crescente parcela da população mundial tem procurado práticas integrativas e complementares como o Reiki, técnica de imposição de mãos, para o controle de doenças crônicas e melhora do bem estar. Com o objetivo de avaliar se a terapêutica Reiki poderia produzir alterações psicofisiológicas em idosos com sintomas de estresse, este estudo, que durou oito semanas, mensurou, em um grupo de voluntários que receberam Reiki e um grupo que recebeu um tratamento Placebo, respostas psicológicas como níveis de estresse, ansiedade, depressão, percepções de tensão, bem estar e qualidade de vida, além de respostas fisiológicas como temperatura periférica, tensão muscular e condutância elétrica da pele. O conjunto dos resultados obtidos sugere que a terapêutica Reiki produz alterações psicofisiológicas em idosos compatíveis com uma redução significativa de estresse. (tese de Doutorado "Efeitos Psicofisiológicos da Prática do Reiki em Idosos com Sintomas de Estresse: Estudo Placebo e Randomizado", UNIFESP, 2013 )

Ver também:

23 de setembro de 2012

Algumas considerações sobre o passe.


O passe é prática muito popular na maioria das casas e centros espíritas. Práticas semelhantes ao do passe também são ou foram comuns em outras religiões e filosofias espiritualistas (1).  São abundantes também descrições encontradas nos evangelhos de que essa prática também era comum no cristianismo primitivo (1). Tanto que esse costume evangélico cristalizou-se na forma de rituais de proferimento de 'bênçãos' e 'imposição de mãos' que se tornaram comuns entre diversas igrejas no movimento cristão posterior. 

À medida que o conhecimento da Humanidade se esclarece, porém, ocorre um processo de liberação de antigos hábitos e rituais. Antigamente a prática médica era indistinguível da magia e do preparo de poções. Da mesma forma, o passe não deve ser visto como um ritual em si, mas como um recurso terapêutico sobre o qual ainda muito é necessário pesquisar. Essa pesquisa se faz necessária tanto para dizer a extensão da atuação da prática como também o que ela não é capaz de fazer.

A mim parece que não se pode considerar como objetivo do passe, por exemplo, obter cura de doenças.  Entretanto, como o ser humano é um sistema muito complexo, é possível que determinadas patologias possam encontrar no passe um valioso recurso adicional para se obter a cura. Isso é diferente de se dizer que o passe cura. Do mesmo modo, com muitas doenças - principalmente aquelas que têm mecanismo bioquímico bem conhecido - há procedimentos e explicações médicas que, não obstante reconhecidas como suficientes para a compreensão e o tratamento, não deixam de sofrer a influência de outros fatores.   

De qualquer forma, o passe espírita é uma prática que deve ser estudada dentro da ciência espírita de forma geral, a fim de que os mecanismos operacionais sejam mais bem compreendidos. Quanto mais isso ocorrer, tanto menor será a 'carga ritualística' sobre essa prática, já que a maioria das pessoas, por falta de esclarecimento ou tendências atávicas (2), se acostuma a considerar o passe dessa forma.

Minha experiência pessoal

Ainda é difícil delimitar e especificar todos os fatores que interferem na eficácia da prática do passe. Por exemplo, é reconhecido em geral que qualquer pessoa em estado de equilíbrio emocional e físico pode aplicar o passe. Por outro lado, também existem 'médiuns curadores' (3), cuja força ou eficiência de atuação através do passe é muito maior do que de uma pessoa comum e bem intencionada. Ora, entre um extremo (4) e outro se pode assumir que há uma gradação enorme de indivíduos com variadas capacidades de atuação, a respeito das quais não se tem nenhuma indicação ou evidência direta.

O efeito do passe parece estar intrinsecamente ligado ao estado psicológico de quem o recebe. Assim, para promover um estudo sistemático, é preciso isolar fatores diversos que interferem no processo (algo que é parecido a se estabelecer 'controle' sobre um experimento (5)). De início já confirmamos que a interação entre os vários elementos que compõem a prática do passe constitui um sistema muito complexo, sujeito a uma ampla gama de fatores intrínsecos e extrínsecos. Ou seja, o estudo do passe é um tema difícil.

Passo a narrar minha experiência pessoal com o assunto. Era bastante comum que experimentássemos, na troça de estações dentro de um ano, uma sequência de resfriados ou gripes que podiam apresentar sintomas mais sérios (como febre, indisposição etc). Esse estado é particularmente comum e, por muitos anos, notamos que ele se apresentava de forma regular (com uma ou duas ocorrências anuais mais 'sérias'). 

Entretanto, essa sequência parece ter sido interrompida depois que passamos a frequentar regularmente aplicações de passe. Entendemos que, se estamos com um resfriado ou gripe mais forte, não se observa 'cura' ou, ao menos, redução do tempo normal de recrudescimento do estado febril ou da gripe. Ao contrário, após uma sucessiva sequência de aplicações, notamos que, depois de certo tempo, as chances de se 'pegar uma gripe' reduziram drasticamente.

Como podemos explicar esse fenômeno? É possível que outras pessoas tenham experimentado a mesma situação, mas não descrevam resultados semelhantes (de fato, fenômeno não ocorreu apenas comigo, mas também com outros parentes). Talvez seja possível se acumular evidências fortes com  relação à ocorrências do mesmo tipo. É provável que o passe, atuando por mecanismos ainda inexplicados sobre o corpo espiritual, equilibre o estado emocional de forma que o sistema imunológico se fortalece. É bem conhecido que estados 'psicológicos' tem influência direta sobre o sistema imunológico (6). Como e por quanto tempo é possível atuar sobre esse estado interno do ser humano é algo ainda desconhecido. De qualquer forma, parecem ser inegáveis os benefícios da aplicação do passe (pelo menos no nível da experiência pessoal). Essa é também a razão porque ele seja tão popular.

Ainda há muito a ser pesquisado

É preciso levantar os fatores externos que afetam diretamente seu mecanismo de sua atuação, as condições necessárias para 'amplificar' seus efeitos, bem como suas limitações. É preciso separar causas e efeitos em um contexto em que existem uma multiplicidade de causas atuantes. Dessa forma, algumas questões para respostas empíricas são:
  1. Qual seria o meio mais eficiente de se acessar os benefícios do passe (definição de um indicador de eficiência)?
  2. Onde se observam o maior impacto (animo do indivíduo, facilidade de recuperação de uma doença, resiliência etc)?
  3. Mantido todos os outros fatores invariantes, há dependência dos efeitos com o tempo de aplicação? (durante qual etapa do processo de aplicação ocorrem os maiores benefícios?)
  4. Qual a dependência dos efeitos com a experiência acumulada do passista ? (há dependência com o tempo em que o aplicador se dedicou à atividade do passe)?
  5. Como se comporta o indicador de eficiência como função da idade do indivíduo que recebe o passe?
  6. Qual a dependência dos efeitos com a distância do aplicador?
  7. Qual a dependência com o modo de aplicação?
É possível que, no futuro, o passe se insira como recurso de profilaxia de larga escala, mas antes que isso venha acontecer é preciso conhecer seus mecanismos e, principalmente, dissociá-lo de qualquer ritualística. Relatos que temos de experimentos feitos fora do Brasil informam que o passe pode não estar tão ligado à operação da vontade de quem o aplica e que não está sujeito à limitações de distância (7). Mas, talvez, essa 'independência da vontade' esteja ligado a que o aplica e não possa ser generalizada. Tais aspectos exigem uma abordagem totalmente diferente na explicação e operação do passe, uma abordagem que dificilmente métodos puramente materialistas terão qualquer sucesso.

Referências e notas

(1)  Um exemplo é o do Reiki e o Jorei em tradições espiritualistas japonesas (ver Igreja Messiânica). No cristianismo primitivo, temos como exemplo o Evangelho de Marcos, Cap. 3 e versículo 23: "E rogava-lhe muito, dizendo: Minha filha está moribunda; rogo-te que venhas e lhe imponhas as mãos para que sare e viva".

(2) 'Atavismo' é um termo usado em ciências sociais para designar práticas (cultos, ritos etc) que relembram ou invocam costumes e práticas anteriores (de 'atavus' ou ancestral). Assim, na casa espírita, o passe pode ser visto como uma substituição de ritos de outras denominações religiosas por conta da influência de pessoas convertidas que trazem inconscientemente a necessidade das práticas anteriores;

(3) Para saber mais, considere Kardec:
  • 'O livro dos Médiuns', 2a Parte, Das manifestações espíritas, Cap. XIV, Dos médiuns, Médiuns Curadores (via www.ipeak.com.br);
  •  Revista Espírita de março de 1868 (Ensaio teórico das curas instantâneas). 
Um excelente texto sobre o assunto é "Um Estudo sobre o Passe', de Clarice Chibeni".

(4) Na Revista Espírita de 1865, Edição de Setembro, encontramos no item 7 de uma resposta de A. Kardec a uma carta sobre a questão da mediunidade curadora.

(5) Não somos adeptos, no estudo de fenômenos psíquicos do uso da palavra 'controle'. Certamente, a crítica cética e materialista de que é necessário estabelecer critérios rigorosos sobre fenômenos psíquicos (ou psicológicos) não procede pois, ao se fazer isso, é possível que estejamos 'anulando' as causas. Portanto, preferimos sugerir que se isolem ao máximo fatores adversos e se dê livre curso à ocorrência dos fenômenos.

This article reviews evidence for the hypothesis that psychological interventions can modulate the inumme response in humans and presents a series of models depicting the psychobiological pathways through which this might occur. Although more than 85 trials have been conducted, meta-analyses reveal only in modest evidence that interventions can reliably alter immune parameters. The most consistent evidence emerges from hypnosis and conditioning trials. Disclosure and stress management show scattered evidence of success. Relaxation demonstrates little capacity to elicit immune change. Although these data provide only modest evidence of successful immune modulation, it would be premature to conclude that the immune system is unresponsive to psychological interventions. This literature has important conceptual and methodological issues that need to be resolved before any definitive conclusions can be reached.

(7) Efeitos de passe a distância são narrados também pelo Dr. Bengston. Ver: William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura).