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25 de novembro de 2012

Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 2/2.

"No estado material em que vos achais, só com o auxílio de seus invólucros semimateriais podem os Espíritos manifestar-se. Esse invólucro é o intermediário por meio do qual eles atuam sobre os vossos sentidos. Sob esse envoltório é que aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou com outra qualquer, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, assim em plena luz, como na obscuridade." (A. Kardec. O Livro dos Médins, 2a parte, "Das manifestações espíritas". Cap. VI.)

Em post anterior (ref 1), discutimos brevemente trechos do artigo de Michael Nahm (2011) sobre o contexto de experiências de quase morte. Nesta segunda parte, comentamos outros trechos igualmente interessantes para compor nossa análise final do trabalho.

Relação entre NDE, Mediunidade e CORTs: do inglês 'Case of Reencarnation type'. Aqui o autor traça relações aparentes que existem entre relatos de experiências de quase morte (EQM =NDEs), fenômenos mediúnicos e eventos de lembranças de vidas anteriores (CORT):
Por exemplo, Giovetti (1999) descreve um caso no qual um NDEr reportou ter encontrado uma mulher de nome Mara durante uma experiência fora do corpo. Ela disse que ele poderia escolher entre permanecer naquele estado ou retornar ao seu corpo. O NDEr decidiu retornar. Mais tarde, descobriu-se que Mara era também um comunicante regular em um grupo mediúnico e que ela tinha dado uma comunicação independente em uma sessão descrevendo o encontro com o NDEr. 
Tal ocorrência singular está totalmente de acordo com o estado de liberdade do Espírito, na possibilidade de seu encontro com outros Espíritos e de trânsito de informação de forma não convencional, como nunca seria esperado por qualquer outro processo que jamais admitisse a independência e comunicabilidade dos Espíritos. Mas qual a relação com lembranças de vidas passadas? Em outro trecho do artigo, Nahm descreve:
No contexto presente, é relevante que várias crianças, de diferentes traços culturais, deram descrições complementares sobre como elas passaram o período intermediário entre duas existências. Frequentemente tais descrições começam dizendo que deixaram o corpo da personalidade anterior com a morte e que perceberam cenas a partir de cima. Algumas crianças também dizem que as pessoas presentes próximas ao corpo não conseguiam ouvi-las ou vê-las, embora as crianças tentassem fazer contato. Outras ainda descrevem corretamente o que aconteceu com o corpo da personalidade anterior, por exemplo, fornecendo informação verídica sobre eventos do funeral (Hassler, 2011; Stevenson, 1997; Tucker, 2006).
Tais descrições são ainda mais extraordinárias (sempre do ponto de vista que não admite a sobrevivência e reencarnação), pois provêm de fontes consideradas de difícil influenciação por ideias aprendidas. Vimos como crianças também podem fornecer relatos de experiências de quase morte (ver post da nota 2). Aqui, Nahm considera a existência de relatos de NDE por crianças que não experimentaram uma NDE realmente, mas que se lembram de experiência semelhante vivida por sua personalidade anterior. A descrição da NDE é, portanto, indireta e fornecida a partir de uma lembrança de uma vida anterior. Tais descrições sancionam não só a existência integral e consistente da personalidade após a morte como também as vidas sucessivas.


Anúncios de nascimento e posterior confirmação: Outra variedade de fenômeno relacionado a sonhos compartilhados, são os casos de lembranças nos pais de visitas de Espíritos de crianças antes de seu nascimento. Pensemos em toda controvérsia que existe em torno da questão do aborto e sua ética, diante de evidências de sonhos compartilhados desse tipo em que a criança posteriormente confirma a visita!
Mas, os casos mais típicos de anúncios oníricos CORT não recíprocos são bastante notáveis. Neles os futuros pais sonham frequentemente com uma personalidade falecida que declara ser seu interesse nascer a partir deles. Posteriormente, a criança nascida fala de uma vida que corresponde à existência da personalidade que apareceu durante os sonhos, sendo que a criança pode apresentar marcas de nascença que corresponde àquelas da personalidade anterior (por exemplo, o caso de Necip Ünlütaskiran em Stevenson, 1997)
Um interessante caso também é apresentado pelo Dr. Moody conforme vimos em um post anterior (ver ref. 4).

Lucidez terminal: Um fenômeno que tem sido observado durante eventos de EQM é o súbito retorno à lucidez de pessoas consideradas incapazes mentalmente ou doentes em estado avançado de ausência de consciência nos momentos que se aproximam da morte. Esse fenômeno pode ser chamado de lucidez terminal. Segundo Nahm:
Presentemente, conheço cerca de 85 casos publicados desse tipo. Eles incluem pacientes com tumores no cérebro, demência  doença de Alzheimer, derrame, meningite, esquizofrenia e outros sem diagnóstico médico preciso. Vários outros casos me foram relatados por comunicação pessoal. Os incidentes mais perplexos são aqueles em que a doença mental é causada por degeneração ou destruição de estruturas cerebrais no paciente tal como a doença de Alzheimer, tumores e derrames.
Sobre esse retorno à lucidez por alguns momentos, há ainda uma observação perspicaz:
A lucidez inexplicável que é mostrada por alguns pacientes pode também ser relacionada ao estado de extraordinária claridade mental que é reportada durante as EQMs e, como mencionado, aos momentos de lucidez que ocorrem nas visões de leito de morte (DBV). Guy Lyon Playfair reportou um caso de um DBV que torna evidente esse tipo de relação (correspondência eletrônica de 22 de Dezembro de 2009). Nesse caso, uma paciente em estado de demência experimentou uma DBV no dia anterior ao da sua morte. Nessa visão, a paciente viu e reconheceu membros familiares falecidos, a saber, um irmão e uma irmã que já haviam falecido há bastante tempo. A visão foi tão real que a mulher pediu a sua enfermeira, de forma surpreendente, que a servisse três xícaras de chá. Isso, considerando que no último ano ela era incapaz de reconhecer sequer membros da família que viviam com ela na mesma casa.
Ou seja, há uma relação entre a percepção de estado de grande lucidez durante uma EQM e sua ocorrência quanto o paciente encontra-se em um estado de doença mental. Não podemos deixar de lembrar aqui que a lucidez terminal é comprovação do que foi revelado no 'Livro dos Espíritos' em várias questões desde # 371 a #378 sobre o Idiotismo e a Loucura. Reproduzimos aqui a questão #375 do LE para comparação (ref. 3):
375. Qual, na loucura, a situação do Espírito?

"O Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e diretamente exerce sua ação sobre a matéria. Encarnado, porém, ele se encontra em condições muito diversas e na contingência de só o fazer com o auxílio de órgãos especiais. Altere-se uma parte ou o conjunto de tais órgãos e eis que se lhe interrompem, no que destes dependam, a ação ou as impressões. Se perde os olhos, fica cego; se o ouvido, torna-se surdo, etc. Imagina agora que seja o órgão que preside às manifestações da inteligência o atacado ou modificado, parcial ou inteiramente, e fácil te será compreender que, só tendo o Espírito a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, uma perturbação resultará de que ele, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso não lhe está nas mãos deter."
A lucidez terminal é, portanto, um fenômeno previsto pela teoria espírita que afirma a natureza dual do ser  humano. Evidências de lucidez terminal são fornecidas por Nahm nas seguintes referências: (Barrett, 1926, Bozzano, 1947, Kelly, Greyson, & Kelly, 2007)

Conclusões

Comentamos abaixo algumas outros trechos do excelente artigo de M. Nahm como conclusão deste post. Em primeiro lugar sobre as evidências existentes para o retorno à lucidez de pacientes terminais com doenças mentais:
Se essas observações forem substanciadas em investigações futuras, elas representam problemas sérios aos modelos amplamente aceitos para a consciência e processamento de memória. Segundo essas, a mente humana é considerada um subproduto de interação de disparos de neurônios. Mas, como no caso das EQMs, somos obrigados a nos perguntar: como pode a cognição e a memória funcionarem sob condições severas de paralisia cerebral ou mesmo degeneração avançada das estruturas neuronais necessárias? 
Aqui há pouco a ser comentado, deixando claro nossa concordância com essa observação de Nahm. Ele ainda desenvolve:
A hipótese de que uma EQM não depende do estado da organização orgânica no cérebro constitui-se em um modelo explicativo capaz de lidar com o enigma sobre porque as experiências NDE podem ser tão notavelmente similares sob condições tão variadas de fisiologia do cérebro.
Em outras palavras, as experiências de EQM são manifestações da parte espiritual do ser humano e, dessa forma, manifestam-se de forma independente do estado particular ou condição neurológica em que se encontre o corpo (embora, sua manifestação exige que partes inteiras do cérebro estejam profundamente comprometidas). Nesse sentido, as observações feitas com pacientes dementados em estado terminal são muito relevantes:
Se pacientes em estado de demência podem subitamente reconhecer membros familiares próximos vivos durante a lucidez terminal, outros podem muito bem reconhecer membros familiares falecidos durante uma visão de leito de morte ou EQM, talvez porque entrem semelhantemente em um processo de enfraquecimento de vínculos com a matéria física cerebral. De fato, é uma afirmação antiga do Espiritualismo que muitas doenças mentais podem ser revertidas ou curadas no estado desencarnado.

Como vimos, isso é corolário do que apresentamos acima com a questão # 375 de 'O Livro dos Espíritos'. Sobre desdobramentos empíricos das EQM, Nahm também lembra a existência de eventos onde múltiplas pessoas foram envolvidas simultaneamente em um evento de EQM (Gibson, 1999), o que possibilitaria a descrição simultânea da ocorrência entre diferentes indivíduos:
Se tais descrições puderem ser independentemente corroboradas por participantes diferentes em uma mesma experiência, isso forneceria um argumento forte a favor da possibilidade de experiências intersubjetivas durante o estado aparentemente desencarnado do ser. A crença de que aqueles que deixam seus corpos físicos - seja durante a vida ou durante a morte - são capazes de ver outros Espíritos desencarnados é parte de antigas tradições de muitas culturas ao redor do mundo.
Experiências de quase morte reciprocamente confirmadas, comunicações mediúnicas que confirmam experiências de EQM, crianças que lembram EQMs vividas pelas personalidades de uma vida anterior, pais que sonham recorrentemente com personalidades que pedem para nascer a partir deles e seus filhos então confirmam os sonhos dos pais, doentes mentais que repentinamente recobram a lucidez pouco antes da morte, pessoas afetadas por problemas neuronais graves que subitamente recordam EQMs exibindo um estado de grande lucidez, EQMs que relembram experiências vividas em outras existências...

Tais são os fenômenos desprezados e desconsiderados pelo conhecimento especializado da medicina, casos que ocorrem talvez aos milhares todos os dias, previstos e prescritos na lei, porque revelam a natureza real do ser humano, alma consciente e viva dentro da grande Eternidade que é a vida verdadeira do Espírito imortal.   

Notas
  1. Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.
  2. Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)
  3. A. Kardec. 'O Livro dos Espíritos'. Referência do IPEAK.
  4. Palestra do Dr. Raymond Moody sobre Experiências de quase-morte compartilhadas. (Set, 2011).
Referências
  • Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London: Methuen.
  • Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
  • Gibson, A. S. (1999). Fingerprints of God. Bountiful, UT: Horizon
  • Giovetti P. (1999). Visions of the dead. Death-bed vision and and near death experiences in Italy. Human Nature 1, 38-41.
  • Hassler D (2011). Spontanenerinnerungen kleiner kinder an ihr 'früheres leben'. Aachen. Shaker Media.
  • Kelly, E. W., Greyson, B., & Kelly, E. F. (2007). Unusual experiences near death and related phenomena. Em E. F. Kelly, E. W. Kelly, A. Crabtree, A. Gauld, M. Grosso, & B. Greyson (Eds.), Irreducible Mind: Toward a Psychology for the 21st Century, Lanham, MD: Rowman & Littlefi eld, pp. 367–421.
  • Nahm, M (2011). Reflections on the Context of Near-Death Experiences, Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
  • Stevenson I. (1997). Reincarnation and Biology. Westport. CT Praeger.
  • Tucker J. T.(2006). Life before life. London: Piatkus Books.

15 de setembro de 2012

Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.


"Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados como ele." (A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo 23).

Em um artigo recente e muito interessante, Michael Nahm (2011), "Reflections on the Context of Near-Death Experiences", apresenta uma introdução ao fenômeno de experiências de quase morte (em inglês NDE, near death experiences) como visto pela perspectivas de fenômenos correlacionados a NDE e que ocorrem um pouco antes, durante ou depois dele. Tais ocorrências constituem o que Nahm chama de 'contexto' das NDEs. Ele chama a atenção para o fato de que muitos pesquisadores que buscam explicações 'naturalistas' para a NDE não prestam atenção devida a tais eventos, gerando assim, explicaões incompletas. Esse estudo é interessante pois demonstra a amplitude explanativa da tese espiritualista que descreve o ser humano como composto de um 'duplo': primeiro a noção filosófica dualista de corpo e espírito e, depois, a tese espírita de um novo corpo (perispírito) que sobrevive a morte e que também não deve ser confundido com o Espírito.

Aqui apresentamos a 1a parte (de 2) de um resumo do artigo de Nahm com citação de referências contidas nesse artigo. O estudo mostra também que essas referências modernas confirmam o que Kardec já havia descoberto e descrito em muitos de suas obras. No que consistiria tal contexto? O artigo analisa os seguintes fenômenos registrados na literatura:

Modificações corporais inexplicáveis (Unexplained Bodily Changes): tais modificações ocorrem durante ou logo após uma NDE. São curas ou alívios momentâneos que trazem lucidez ao paciente que passa pela NDE. Há entretanto relatos de modificações físicas inexplicáveis (Pasricha, 2008) que parecem corresponder à experiências que ocorreram durante o estágio de NDE. Há estudos que demonstram a existência de ocorrências de marcas corporais durante estados hipnóticos ou durante sonhos, o que forneceria uma possível mecanismo para explicação das marcas observadas durante NDEs. 

Experiências fora do corpo reciprocamente confirmadas (Reciprocally Confirmed OBEs During Near-Death States), De acordo com Nahm :
Em casos típicos, uma pessoa em um estado de NDE afirma ter visitado membros da família à distância, pessoas que muito se deseja encontrar.  A visita ocorre por meio de uma 'experiência fora do corpo' (OBE: em inglês 'Out-of-the-body experience). Posteriormente, esses membros da família confirmam terem recebido uma impressão da presença da pessoa no momento assinalado por ela. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção, 'Originais do artigo', 1)
Isso seria uma variedade de aparições durante as crises que tem sido narradas na literatura (Fenwick, Lovelace e Brayne, 2010) sobre eventos psíquicos. Já em 1868 em 'A Gênese', Kardec descreveu esse tipo de ocorrência (Nota 1). Pode-se também correlacionar tais experiências como uma variedade dos chamados fenômenos de 'aparições dos vivos' que foi abundantemente tratado por Kardec (Nota 2) e outros (Gurney, Myers e Podmore, 1886). Estudos recente apontam para ocorrência de 'comunicações pós falecimento' (LaGrand, 1997) que seriam curtas notícias verificados junto a familiares:
Em todos esse casos, o modo geral de ocorrência parece ser idêntico ao das aparições durante as crises de vivos ou pessoas quase falecidas, mas as motivações para seu aparecimento ou as mensagens a serem passadas são diferentes: as aparições de crise tendem a informar a pessoa sobre a crise ou a própria morte, enquanto que as aparições de recém falecidos transmitem frequentemente mensagens de bem estar, esperança ou encorajamento aos que ficaram enlutados. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 2)
O primeiro caso caracterizaria o que é chamado de DBV (deathbed visions), ou visões do leito de morte. Com relação a esses últimos, Nahm considera: (a) as DBVs trazem mensagens consoladoras; (b) quase sempre surgem imagens de parentes falecidos durante as DBVs; (c) as DBV compartilham de aparência semelhante a de muitas outras 'aparições' tais como visões de emanação de luzes; (d) Muitas DBVs são 'testemunhadas' por apenas uma pessoa, mas há casos de várias pessoas, de forma coletiva, servirem de testemunhas (Bozzano, 1947, Barrett,1926). Não foge de nossa memória o Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos' sobre a 'Emancipação da alma'. O leitor deve comparar a descrição de Nahm com as questões # 413-418.

Existem muitos relatos durante tais aparições de crises de encontro com pessoas falecidas (Osis e Haraldsson, 1997). Explicações não espíritas tem dificuldade em justificar porque isso ocorre com pessoas falecidas e não com pessoas vivas (que, afinal, não poderiam comparecer para um último adeus). Ao contrário, quando o paciente deseja insistentemente se encontrar com um vivo é que ocorrem eventos de visualização desse paciente junto aquele parente-alvo que está vivo (o que seria uma 'aparição de um vivo').

Fato muito interessante que também é descrito por Nahm é quanto a ocorrência de aparições de vivos a pacientes em estado de NDE. A princípio, poder-se-ia imaginar que o surgimento de vivos a pacientes de NDE demonstra o caráter fantasioso da ocorrência. Mas, Nahm descreve que tais aparições se dão em momentos especiais,seja quando o vivo também tem presentimentos a respeito da morte iminente do paciente ou quando o vivo encontra-se em um estado alterado de consciência (dormindo, acamados etc, os chamados casos 'reciprocally confirmed', ver mais adiante).  Portanto, Nahm admite que, nesses casos, o vivo tenha se 'projetado' de alguma forma em direção ao paciente. Além disso, segundo Nahm:
Há inúmeros casos registrados em que o paciente erroneamente achou que estivesse vendo um vivo - mas tal indivíduo em questão já estava morto. Além disso, pacientes de NDE frequentemente tem visões de pessoas totalmente desconhecidas, o que é algo difícil de explicar usando wishful thinking. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 3)
Uma referência de casos sobre isso é (Greyson, 2010).
 
Sonhos e NDEs compartilhados: conforme descrito pelo Dr. Moody (2010), há casos de indivíduos absolutamente sãos que têm sonhos onde experimentam sensações e informações semelhantes ao do paciente que passa pelo NDE. Essas experiências podem assim ser compartilhadas, o que dificulda a explicação de que NDE são fenômenos causados por danos cerebrais no paciente. Como explicar as visões compartilhadas por pessoas sãs? Conforme explica Nahm:
NDEs compartilhadas também podem ser consideradas como ND-OBEs compartilhados, que, além disso, incluem estágios posteriores de NDEs onde persistem aspectos mais transcendentais. Dados esses paralelos, parece que NDEs e sonhos (lúcidos) são experiências que podem ser compartilhadas com outras pessoas vivas em um tipo de espaço não físico ou mental. Nesse contexto, é interessante ver que uma grande quantidade de experiências psíquicas sejam reportadas a partir de sonhos onde a morte e o morrer sejam temas predominantes, e que muitos dos sonhos ostensivamente paranormais sejam descritos com uma vivacidade ou intensidade que é ausente na maioria dos sonhos ordinários.(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 4)
Aqui "ND-OBE" são 'near death out-of-the-body experiences'. Lendo isso, não há como não citar Kardec (Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos': da emancipação da alma, o sonho e os sonhos), Q #402:
O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância é de molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias morreis, como disse um santo.
O leitor deve considerar ainda as respostas a outras questões, como a #406 (sobre o 'sonhar com pessoas vivas') e toda a questão #402 da qual reproduzimos acima apenas um parágrafo.

Conclusões preliminares

Portanto, na revisão feita por Nahm da literatura sobre o contexto de NDEs encontramos resultados que validam parte inteiras do Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos'. Chama a atenção que essa confirmação não vem absolutamente da análise de fatos comuns tais como sonhos ordinários ou experiências menos relevantes. Ao contrário, é da análise das anomalias, de fatos não corriqueiros tais como NDEs e ocorrências de experiências psíquicas compartilhadas, que podemos reunir uma grande quantidade de fatos que atestam a realidade da 'emancipação da alma' e da natureza dual do ser humano.

Em um futuro post continuaremos com a exposição comentada da revisão de M. Nahm com os temas: ligações formais entre NDEs, mediunidade e lembranças de vidas  passadas; correspondência entre o conteúdo de NDEs, comunicações mediúnicas e lembranças de vidas passadas; fenômenos físicos registrados no momento da morte; audição de músicas não explicadas no momento da morte e memórias não ordinárias em crianças.

Aguardem!

Referências
  • Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London: Methuen.
  • Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
  • Fenwick, P., Lovelace, H., & Brayne, S. (2007). End of life experiences and their implications for palliative care. International Journal of Environmental Studies, 64, 315–323.
  • Greyson, B (2010). Seeing deceased persons not known to have died: "Peak in Darien" experiences. Anthropology and Humanism, 35, p. 159-171.
  • Gurney, E., Myers, F. W. H., & Podmore, F. (1886). Phantasms of the Living (2 vols). London: Trübner.
  • LaGrand, L. (1997). After Death Communication: Final Farewells. St. Paul, MN: Llewellyn.
  • Moody R. (2010), Glimpses of Eternity, New York: Guideposts.
  • Nahm, M (2011), Reflections on the Context of Near-Death Experiences, Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
  • Osis, K., & Haraldsson, E. (1997). At the Hour of Death (third edition). Norwalk, CT: Hastings House.
  • Pasricha, S. (2008). Near-death experiences in India: Prevalence and new features. Journal of Near-Death Studies, 26, 267–282.
Notas e referências a Kardec.

1. A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo 23: 
O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião da morte se rompe definitivamente; a separação completa somente se dá por efeito da extinção absoluta do princípio vital. Enquanto o corpo vive, o Espírito, a qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado à sua prisão, desde que a sua presença aí se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas intuições que lhe sugerem idéias e pensamentos novos e justificam o provérbio: A noite é conselheira.

Assim igualmente se explicam certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase, etc., e que mais não são do que manifestações da vida espiritual. (*)
(*) Casos de letargia e de catalepsia: Revue Spirite: “Senhora Schwabenhaus”, setembro de 1858, pág. 255; — “A jovem cataléptica da Suábia”, janeiro de 1866, pág. 18.
Originais do artigo
  1. In typical cases, a person in a near-death state claims to have visited family members at a distance whom he or she was intensely wishing to see. This visit was often accomplished by means of an OBE. Later, these family members confi rm that they had perceived a corresponding impression of this person at the time in question. 
  2. In these cases, the overall mode of appearing seems identical to crisis apparitions of the living or dying, although the motivations to appear and the messages conveyed seem different: Crisis apparitions tend to inform the perceiver predominantly about the crisis or of death itself, whereas apparitions of the longer-deceased convey more often messages of their own well-being, or of hope and encouragement for the bereaved.
  3. Moreover, there are numerous cases on record in which the dying erroneously thought they had seen apparitions of living persons - but the individuals in question had in fact died already. In addition, patients in near-death states often see visions of persons entirely unknown to them, a finding difficult to explain along the lines of wishful thinking.
  4. Shared NDEs could also be regarded as shared ND-OBEs - with the addition that they include mutual experiences of later stages of NDEs featuring more transcendental aspects. Given these parallels, it seems that NDEs and (lucid) dreams are experiences that can be shared with other living persons in a sort of nonphysical or mental space. In this context, it is of interest that a large proportion of spontaneous psychic experiences are reported from dreams, with death and dying constituting predominant themes, and that many of these ostensibly paranormal dreams are characterized by a vividness or an intensity missing in most ordinary dreams.