Tive a oportunidade de participar do último 'Encontro Nacional da Liga dos Historiadores e Pesquisadores de Espiritismo' e me vi cercado por uma atmosfera de seriedade e profundo interesse em estudar e fazer avançar a temática de estudos espíritas. Muitos poderiam se perguntar o que representaria essa iniciativa, já que 'Espiritismo' é francamente visto apenas como mais uma religião. Para o movimento espírita, os livros de Kardec e algumas obras consideradas fundamentais representam tudo o que o adepto deve procurar conhecer a respeito de sua doutrina. Para os críticos e céticos, é mais uma mania religiosa que provavelmente terminará algum dia.
O sucesso de encontros como o do ENLIHPE demonstram que qualquer que seja a impressão, venha ela de onde for, ela não corresponde à realidade. O Espiritismo, muito mais que um movimento religioso, fundamenta-se como uma maneira de raciocínio filosófico que tem amplas consequências para diversas áreas do conhecimento. É um empreendimento intelectual complexo, de muitas sutilezas, capaz de fornecer respostas que, muitas vezes, nem seus adeptos mais esclarecidos e, muito menos, seus críticos podem imaginar. Em primeiro lugar porque ele nasce a partir de eventos singulares na Natureza, muitas vezes considerados 'insólitos', mas que perdem seu caráter de anormalidade, uma vez que os postulados espíritas sejam compreendidos de forma correta, sem serem exagerados ou desprezados. Depois, porque os princípios espíritas, uma vez admitidos, têm alcance e validade que apenas começamos a vislumbrar. Isso ocorre com toda nova ciência ou novo conhecimento, pois é muito difícil aos pioneiros prever as consequências de um conhecimento genuíno a longo prazo.
No meu entender, embora se possa professar o ponto de vista de que o lugar onde se deve fazer avançar o conhecimento espírita seja o centro espírita e não a Universidade, ou, segundo outros, que a Universidade representa esse ambiente, associações como o ENLIHPE surgem como entrepostos avançados onde é possível discutir a temática espírita com liberdade, sem a pretensão de se desviar a arena verdadeira onde esse conhecimento se desenvolve. Na verdade, onde deve o conhecimento nascer? Parece-nos que ele pode nascer em qualquer lugar e a partir de qualquer indivíduo que tenha diante de si a chave para resolver um determinado problema. Para isso é preciso ter competência e conhecimento, além de recursos adequados para se fazer avançar o conhecimento.
O ENLHIPE é uma iniciativa desse tipo que, infelizmente, ainda não parece ter recebido a devida atenção do movimento espírita. Sua maior vantagem é agregar pessoas com interesses comuns, em que pese a ampla gama de disciplinas que contribuem na realização dos estudos. Entretanto, mesmo essa característica é um ponto favorável, já que ela permite o intercâmbio de ideias entre pesquisadores de várias áreas de conhecimento.
Alguns exemplos
Na edição deste ano (2011), muito me impressionou saber que psicólogos e psiquiatras debruçam-se sobre o problema dos gêmeos siameses ou pessoas que nascem irremediavelmente conectadas de forma vital e que permanecem assim por toda uma existência. Reza o conhecimento contemporâneo sobre o desenvolvimento da personalidade humana, que ela é formada pela contribuição de fatores genéticos e de influências do ambiente. Entretanto, como explicar que gêmeos siameses idênticos, tendo permanecidos conectados fisicamente por toda uma existência apresentem diferenças marcantes em suas personalidades? O psicólogo clínico Júlio Peres expôs esse problema durante o evento. Tal evidência demonstra a preexistência da personalidade humana, não depois da chamada 'morte' mas antes do que chamamos 'vida' ou nascimento.
A comunicação de projeto de Nadia Luz: "Simetrias Históricas: o conceito teórico e a prática na metodologia de Hermínio Miranda", também me impressionou bastante. Trata-se possivelmente de uma contribuição importante aos desenvolvimentos e estudos em historiografia utilizando um conceito que pode ser validado no futuro, à medida que identificações de personalidades em múltiplas existências tornarem-se mais frequentes. O trabalho de Nadia Luz, baseado em uma contribuição de Hermínio Miranda, parece revelar mais um tipo de simetria, daqueles que são tão frequentes na Natureza que, realmente, gosta bastante de simetrias. Elas nos permitem descrever o que está 'do outro lado', no caso, revelar o passado oculto de uma personalidade, baseado nos registros dos acontecimentos mais recentes de sua vida. A tese das simetrias que se apresenta como uma conjectura tem assim a vantagem de ser testável.
Prezado Ademir,
ResponderExcluirme sinto triste por ainda não poder participar de eventos como esses, onde o Espiritismo sério, como diria Kardec, aparece em sua forma mais ampla. Fico feliz pelo seu relato sucinto, mas gostaria que, se possível, você pudesse aprofundar um pouco mais este relato, trazendo outros detalhes. Creio que leitores como eu gostariam e ficariam muito felizes.
Outra coisa. Fiquei muito interessado neste estudo feito pela Nadia Luz sobre o trabalho do Hermínio Miranda. Tem algum lugar onde eu possa conseguir uma cópia do texto?
E a vida do Hermínio é, realmente, algo a ser analisado com mais carinho ainda pelo movimento espírita. De todas as biografias já lançadas, a do Hermínio seria para mim uma das mais importantes, dada a invergadura intelectual deste 'escriba' espírita. Fica aqui uma sugestão para meu colegas escritores e que tem condições de coletar informações mais próximas do biografado: por que não lançar uma biografia autorizada deste que é, hoje, para mim, a maior cabeça pensante do meb?
Fica a dica.
Um forte abraço.
Anderson Santiago
analisesespiritas.blogspot.com
Ola Anderson
ResponderExcluirGrato por seus comentários. De fato, o trabalho da Nadia será publicado pelo CCDPE-ECM no formato de livro. Ao que parece, não falta muito para isso, pois eles chegaram a mostrar a capa do projeto desta obra.
Devemos ficar ligados no CCDPE para novidades - principalmente na livraria deles - que tem livros muito bons.
Seus comentário são muito bem vindos e, pelo que sei, há planos de se fazer encontros reginais para decentralizar os encontros presentes. Quanto ao encontro passado, houve ainda uma discussão - proposta de projeto - na área de administração voltada para o gerenciamento de Centros espíritas, que foi muito interessante, apesar de tema polêmico. A pessoa indicada para mais informações sobre isso é o Marco Milani.
Abração,
Ademir
Essa informação é muito oportuna Ademir.
ResponderExcluirEste trabalho da Nadia é interessante já pelo título, imagine o conteúdo? Estou me organizando para adquirir alguns livros publicados qaue foram resultado destes encontros. E fico muito feliz em saber que se propõe esta descentralização. Espero que isto possa contribuir para fomentar ainda mais a produção de conhecimento e para estimular a participação de mais pessoas.
E espero que apareça algum corajoso escritor disposto a biografar o nosso querido escriba.
Um forte abraço.