Vá para a 1a. Parte.
Esta é a 3.a Parte.
Seria assim muito mais fácil explicar a capacidade paranormal acima em um arcabouço teórico que não considerasse problemas de pragmática tais como: a presença de expressões linguisticamente ambíguas, mensagens contendo informação sobre coisas particulares referenciadas (isto é, coisas que somente o recipiente tem conhecimento para ‘completar’ a referência), transmissão de intenção, o assim chamado ‘problema da subdeterminação de intenção comunicativa’ (Bach, 1979), presença de conteúdo através de expressões semanticamente mal definidas (comunicação não literal) e, finalmente, o problema dos ‘atos não comunicativos’ – o objetivo da mensagem não é comunicar, mas produzir um efeito no recipiente. Em face disso, as seguintes observações são pertinentes à carta em análise (ver post anterior)
1. Referência ao nome que Patrick chamava a sua mãe privadamente (seu nome correto era Christiane e não o referenciado);
2. Referência ao nome da cidade de onde Patrick deveria ter retornado. O acidente foi a 500 metros da residência de férias da família em Itaipava/RJ. A mãe confirmou ter afirmado ao médium que o acidente ocorrera no Rio de Janeiro (estado);
3. Referência não literal. O emissor não retornou de nenhuma guerra, mas utilizou essa expressão para se referir a sua situação anterior;
4. Referência à irmã residente à época na França;
5. Referência à namorada;
6. Referência à avó materna residente à época na França;
7. Referência ao avô paterno residente à época na França;
8. O emissor se refere aqui a preocupações de natureza privada de sua mãe de alguém ter sido responsável por sua morte;
9. Referência à bisavó materna (Margeritte Yvetot), falecida em França em 1974;
10. Referência ao apego da mãe do emissor aos objetos pessoais de Patrick;
11. Referência ao pai;
12. O emissor pede a sua mãe que perdoe sua irmã por uma discussão ocorrida ao telefone após a morte de Patrick. O fato era de conhecimento privado;
13. Patrick era muito sensível à natureza e gostava de animais.
Tais observações foram feitas pelos pais de Patrick depois de receber a carta e mostram claramente a existência de uma ‘decodificação’, devido à existência de intenções, objetivos, crenças e desejos por parte do emissor. Sabe-se que qualquer modelo satisfatório de comunicação deve levar em conta o contexto e a inferência (Bach, 1979), simplesmente porque é muito difícil caracterizar ou acessar elementos que são reconhecidamente privados no processo de comunicação humana. Primeiro é preciso reconhecer que, para que a estratégia do emissor dê certo, um conjunto de crenças compartilhadas entre ele e seu receptor deve existir (Capone, 2006) e que tal conjunto não está disponível ao médium antes da ocorrência do fenômeno psicográfico. Não se trata, assim, simplesmente de se transmitir e receber símbolos linguísticos o que está envolvido em um processo de psicografia. Dada a quantidade e frequência de ocorrências pragmáticas nas cartas produzidas por C. Xavier, é difícil explicar tal fenômeno usando o ‘senso comum’ ou abordagens ‘naturalistas’. Além disso, a situação torna-se mais complexa diante de mensagens escritas em outras línguas, uma vez que elementos léxicos, sintáticos e semânticos acrescentam uma quantidade grande de informação linguística. Portanto, é razoável esperar que teorias e análises linguísticas tenham um papel importante na defesa da idéia da imortalidade da alma em muitas composições psicográficas (Beischel, 2009; Rock, 2008b). Por exemplo, um aspecto interessante que se vê nas mensagens de C. Xavier é o aumento da letra, como se mão do médium estivesse sendo assistida na produção das mensagens.
Acreditamos que um novo campo de estudos está aberto com a análise das composições 'anômalas' de C. Xavier. Isso também é facilitado uma vez que muitos familiares podem ser contatados para fornecer detalhes adicionais sobre as cartas. A quantidade e qualidade de material produzido por C. Xavier é pouco conhecido fora do Brasil porque está disponível em sua maior parte em Português. Traduções são, portanto, necessárias. Esperamos poder preencher essa lacuna no futuro.
Agradecimentos
Agradeço a Ana C. Xavier (Medical University of South California/USA) por me ajudar na tradução para o inglês da mensagem de Patrick.
Akmajian A., Demers R. A., Farmer A. K. & Harnish R. M. (2001), Linguistics: an Introduction to Language and Communication, The MIT Press.
Arantes H. M. C & Xavier F. C (2008a), Estamos no Além, 11ª edição, Editado pelo Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
____(1981), Eles voltaram, 1ª edição , Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1982a) Lealdade, 1a edição, Editado por GEEM.
___(1982b), Reencontros, 1a edição, Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1984a), Caravana de Amor, 1a edição, Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1984b), Retornaram contando, 1a edição, Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1986), Vozes da outra margem, 1a edição, Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1988), Gratidão e Paz, 1a edição, Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1990), Porto de Alegria, 1a edição, Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
___(1998), Amor sem Adeus, 13th edição, Editado por Instituto de Difusão Espírita, Araras, SP.
Bach K. & Harnish R. M. (1979), Linguistic communication and speech acts, Cambridge Mass: MIT Press.
Beischel, J. & Schwartz, G.E. (2007). Anomalous information reception por research mediums demonstrated using a novel triple-blind protocol. EXPLORE: The Journal of Science & Healing, 3, pp. 23–27.
Beischel, J. & Rock, A. J. (2009). Addressing the survival vs. psi debate through process-focused mediumship research. Journal of Parapsychology, 73, pp.71-90.
Borg E. (2006), Pragmatic Determinants of What is Said, in Concise Encyclopedia of Pragmatics, Editado Por J. L. Mey, 2nd edição, Elsevier.
Bosco F. M. (2006), Cognitive Pragmatics, em Concise Encyclopedia of Pragmatics, Editado por J. L. Mey, 2a edição, Elsevier.
Braude S. (2003a), Immortal Remains, Capítulo 2, Rowman & Littlefield Publishers, Inc.
____(2003b), Immortal Remains, Capítulo 5: Writing Samples.
____(2003c), Immortal Remains, Capítulo 3: Outline of Mrs. Piper Mediumship.
____(2003d), Immortal Remains, Capítulo 2: Drop-in communicators.
Capone A. (2006), Shared Beliefs, in Concise Encyclopedia of Pragmatics, Editado por J. L. Mey, 2nd edição, Elsevier.
Casper S. Y (1916), Patience Worth: a psychic mystery. Henry Hold & Company, NY. Também disponível em SpiritWritings.com.
Chaski, C. (2000). Empirical Evaluations of Language-Based Author Identication Techniques. Forensic Linguistics: The International Journal of Language and the Law, 8 (1).
Chibeni S. (1994), O Paradigma Espírita, Reformador, pp. 176-80. An English version of this paper (The Spiritist Paradigm) was published in Human Nature, vol. 1, n. 2, pp. 82-87, January 1999, and can be found at http://www.geeu.net.br/artigos/paradigm.htm
Cobley P., Editado (2001), Semiotics and linguistics, Routledge Group, London and New York.
Cutting J. (2002), Pragmatics and Discourse, Routledge, Taylor and Francis Group, NY.
Filho D. (2010), Chico Xavier: o filme, Columbia/Sony Pictures.
Grumbach C., Gentile L. A. & Pelele P. P. (2010), As cartas psicografadas de Chico Xavier, Crisis Produtivas e Ciclorama Filmes.
Kardec A. (1985), Le Livre des Esprits. Paris, Dervy-Livres.
Kardec A. (1996), The Spirit´s Book, Allan Kardec Educational Society.
Kardec A. (2000a) The book on Mediums, Samuel Wiser, Inc. Trad. por Emma Wood.
___(2000b), Capítulo 11.2r
Kopka J & Vogel C. (2004), Testing the Reliability of an Authorship Identification Method, Technical Report (TCD-CS-2004-40) of the School of Computer Science and Statistics, Trinity College Dublin.
Koyama W. (2006), Anthropology and Pragmatics, in Concise Encyclopedia of Pragmatics, Editado Por J. L. Mey, 2nd edição, Elsevier.
Olsson J. (2008). Forensic Linguistics, Segunda Edição. London: Continuum.
Oxon M. (1878), Psychography: a treatise on one of the objective forms of psychic or spiritual phenomena. Courtesy of SpiritWritings.com
Shannon, C. E. & Weaver W. (1949) A Mathematical Model of Communication. Urbana, IL: University of Illinois Press.
Perandrea C. L. (1991), A Psicografia à luz da Grafoscopia, Núcleo Espírita Universitário, Londrina/PR, Editado por Linha Gráfica Editora Ltda.
Piper A. L. (1929), The Life and Work of Mrs. Piper. London: Kegan Paul, Trench, Trubner & Co.
Ramacciotti C. & Xavier F. C. (1975), Jovens no Além, 1a edição, Editado por GEEM.
Rigotti E. & Greco S. (2006), Communication: Semiotic Approaches, em Concise Encyclopedia of Pragmatics, Editado Por J. L. Mey, 2nd edição, Elsevier.
Rocha A. C. (2001), A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo, Tese de Mestrado do Instituto de Estudos de Linguagem, UNICAMP.
Rock, A. J., Beischel, J., & Cott, C. C. (2008a). Psi vs. survival: A qualitative investigation of mediums' phenomenology comparing psychic readings and ostensible communication with the deceasEditado Transpersonal Psychology Review, 13, 76-89.
Rock, A. J., Beischel, J., & Schwartz, G. E. (2008b). Thematic analysis of research mediums' experiences of discarnate communication. Journal of Scientific Exploration, 22(2), pp.179-192.
Xavier F. C (1935), Parnaso de Além-Túmulo, 1a Edição, Federação Espírita Brasileira.
Xavier, F. C (1983), Lira Imortal, 3ª. Edição, Federação Espírita Brasileira.
Wales K. (2009), Unnatural conversations in unnatural conversations: speech reporting in the discourse of spiritual mediumship, Language and Literature, 18, pp. 347-356.
Nenhum comentário:
Postar um comentário