24 de dezembro de 2011

Ciência e Fé

“A Ciência e a Religião são as duas alavancas da inteligência humana: uma revela as leis do mundo material e a outra as do mundo moral. Tendo, no entanto, essas leis o mesmo princípio, que é Deus, não podem contradizer-se.” (Allan Kardec)

Há opinião generalizada de que não é possível haver acordo entre a Ciência e a Fé. Para muitos, Ciência e Religião jamais poderão ser integradas, posto que se colocam hoje em dia em posições diametralmente opostas no que diz respeito à maneira como o Mundo deve ser visto e interpretado. Como a Ciência - entendida como conhecimento e não meramente como opinião acadêmica - foi capaz de prodigalizar avanços nunca imaginados e de produzir conhecimento útil a respeito desse Mundo, enquanto que a Religião estabelecida é herdeira de um passado pouco memorável, prevalece o ponto de vista de que a Ciência deve substituir a Fé em todos os setores da vida humana.

Semelhante estado de coisas é apenas produto de um ponto de vista muito particular sobre o que Ciência e Fé realmente são. Quase sempre a última é descrita como filha da ignorância e herdeira da presunção humana que assume uma imagem do Universo sem a necessidade de provas. Os exageros pintados em cores escuras que cercam a noção de Fé, se contrapõem aos exageros semelhantes mas em tons coloridos que se formam em torno da Ciência. Esta é vista como produto da exação e da lógica, da aplicação rigorosa de um método isento de erros e acima de todos os interesses humanos. A favor desse quadro apresentaram-se versões de fatos históricos, que se cristalizaram como verdades absolutas seguindo a opinião de maior gosto e interesse de nossa época.

Entretanto, esse estado de tensão desaparece ao se encontrar uma nova noção de Fé que se completa a partir de uma nova visão da Ciência, nascida da compreensão integral de como esta opera e se estabelece realmente.  Tal mudança de ponto de vista com relação às noções de Ciência e Fé são parte dos fundamentos que deverão estabelecer uma nova sociedade, mais equânime e menos dogmática em seus pontos de vista. 

Pois, apenas a uma causa deve-se imputar o aparente conflito que existe entre Ciência e Fé: ao dogmatismo que ainda existe na sociedade humana. É a opinião dogmática que devemos combater como sendo o pior dos vícios quando a questão é fazer verdadeiramente Ciência e Religião caminharem lado a lado. Elimine o dogmatismo e veremos aparecer uma nova Ciência e uma nova Religião prontas as se darem as mãos em direção à Verdade. Elimine o dogmatismo e teremos uma síntese perfeita do que pode a alma humana alcançar em termos do que é belo e verdadeiro em sua plenitude: a respeito de nossas origens como espécie, de nossa posição no Mundo, sobre nossas aptidões em realizar o ideal de beleza no campo das artes, com relação a nossa 'religação' com a fonte primordial da Vida, que constitui Religião no sentido mais exato do termo. 

Repetimos que o dogmatismo é o responsável por todos os desvirtuamentos da Religião: ele pode ser encontrado em todas as decisões a respeito de assuntos que não eram de sua alçada, mas que se ligaram a ela por puro interesse. E, quando se trata de defender seus maiores interesses (ainda que tais interesses sejam inúteis e imaginários) é preciso ser dogmático. É o dogmatismo o responsável por negar à Ciência sua capacidade de estudar e compreender assuntos transcendentes porque tais assuntos fogem aos interesses imediatos de se fazer Ciência. Logo é preciso alimentar o dogmatismo. 

Em essência, nunca houve conflito genuíno entre o conhecimento puro a respeito do mundo e a necessidade humana de se conectar à fonte geradora desse mesmo mundo. Ambas são forças que nascem da ânsia de transcender a nossa vida cotidiana, em procurar e se ligar a nossa verdadeira origem. Mas, por causa dos interesses que se multiplicaram no meio do caminho que se traçou para essa busca, Ciência e Fé tornaram-se, de acordo com esse ponto de vista popular, pontos de vista antagônicos para se interpretar o Mundo. 

Um novo continente haverá de surgir desse oceano profundo, de águas escuras e enodoadas por sangrentas e cruéis batalhas de outrora. Que morram os interesses mesquinhos e veremos nascer uma nova Terra como uma nova síntese de estado de coisas, de noções mais perfeitas e conhecimentos ainda mais exatos.  Nesse novo mundo, desaparecerão as concepções de 'Religião' e 'Ciência', confundidas em uma mesma busca, em um mesmo método de procura da Verdade que é por si mesma a fonte de tudo que existe.

11 de dezembro de 2011

Entrevista IV - Dra. Ana Carolina Xavier fala sobre o câncer infantil e as consequências da visão espiritualista no trato com a doença.

Apresentamos aqui uma entrevista com a Dra. Ana Carolina Xavier que é professora assistente em hematologia pediátrica e oncologia no Medical University of South Carolina em Charlestown, Carolina do Sul, Estados Unidos, que nos conta um pouco de sua visão  e experiência no tratamento de uma doença como o câncer, principalmente quando ela afeta crianças. Ana Xavier tem Bacharelado e Residência médica pela Universidade de São Paulo, além de Doutorado em medicina pela mesma instituição.

Talvez os leitores já possam imaginar porque escolhemos esse tema dentro do contexto das consequências práticas da visão espiritualista do mundo. Torna-se bastante evidente que é fácil defender uma visão cética em relação à realidade espiritual quando não se passa por um problema que lida diretamente com a ameaça à vida ou, melhor ainda, com a necessidade da  existência da continuidade dela. Devemos analisar, pois os efeitos da visão oposta, a que sabe que aqueles seres que ontem estavam conosco, na esperança de vencerem uma batalha gigantesca contra uma enfermidade que não lhes ouviu os apelos infantis, hoje não mais estão mas que, não obstante isso, continuam vivos.

Ao invés de discutir fundamentos sobre esse ou aquele aspecto do mundo conforme a concepção de mundo adotada, podemos nos perguntar sobre quais seriam as consequências práticas de cada uma delas, sabendo que 'árvores boas produzem bons frutos, enquanto que árvores más produzem péssimos frutos'. Neste caso, preferimos analisar as consequências da visão espiritualista da vida.

Perguntas

EE - 1) Ana, conte-nos um pouco de seu dia a dia e do seu trabalho.

Meu dia a dia no trabalho é bastante interessante. Eu divido minhas atividades entre a clínica e enfermaria, onde passo visita a cerca de 15 a 20 pacientes e supervisiono médicos residentes e estudantes de medicina. A rotina diária da enfermaria pode ser bastante intensa e temos uma estrutura organizada que permite que as coisas funcionem um pouco mais eficientemente. Nosso time é composto não apenas do médico, mas também das enfermeiras, um farmacologista, uma assistente social e uma nutricionista. Cada caso é discutido detalhadamente e cada um contribui com sua experiência e opinião, objetivando o melhor para cada um dos nossos pacientes.

Costumamos ver pacientes com variadas patologias hematológicas ou oncológicas, mas a maioria deles são pacientes com alguma forma de câncer ou pacientes que vão receber transplante de medula óssea. De maneira semelhante ao Brasil, temos também um grande numero de pacientes com doença falciforme.

Na clínica, além dos pacientes recebendo algum tipo de terapia oncológica, tenho 2 sextas-feiras do mês dedicadas apenas a pacientes que completaram quimioterapia há pelo menos 5 anos e estão “oficialmente” curados. Esse é um grupo muito especial de crianças, porque eles são sobreviventes de uma doença que pode ser fatal e de um tratamento bastante intenso, que, muito frequentemente, causa sérios problemas mentais ou físicos que podem se estender pelo resto da vida.

Eu posso ter dias muito bons ou extremamente ruins, quando nada parece dar certo para os pacientes. De qualquer maneira, eu me sinto bastante privilegiada de fazer parte da vida dessas crianças e poder atender a tais grupo de pacientes.

EE - 2) Sabemos que o trabalho do médico, principalmente quando ele escolhe como serviço o atendimento a doentes infantis de câncer, é pontuado de muitas vitórias, mas um número igualmente grande de aparentes derrotas. Como você encara isso?

Esse é uma questão fundamental. Na verdade, todo estudante de medicina ou residente que está seriamente interessado no campo da pediatria oncológica deve avaliar sua própria capacidade de lidar com constantes derrotas no dia-a-dia para tomar a decisão final na escolha da carreira. Você está certo quando diz que temos muitas vitórias: hoje é possível se curar quase 80% das crianças que são diagnosticadas com câncer. O grande problema é que o caminho até a cura é bastante tortuoso e longo, e representa um grande sofrimento não só para a criança, mas como para toda a família e pode durar anos a fio. A derrota maior é obviamente quando perdemos um paciente. Como profissional médico, compreendo bem o problema fisiológico, e me é bastante fácil saber quando as coisas não vão tão bem assim como gostaríamos. O problema é que todo esse processo pode ser emocionalmente desgastante. Quando perdemos um paciente, todos os que estiveram envolvidos no cuidado daquele paciente sofrem muito. A fé individual ajuda bastante. No meu caso, penso que a vida continua e que o sofrimento atual é, como disse uma vez Chico Xavier, um meio para expurgar as culpas que trazemos em nós mesmos, e eles saem dessa vida em uma condição superior àquela em que entraram. Isso me conforta e ajuda, mas mesmo assim, muitas vezes choro bastante…

EE - 3) Como você lida com o processo de separação dos familiares das crianças quando a 'sorte' se coloca contra as expectativas?

Geralmente tento estar por perto. Isso pode ser difícil também, porque não quero interferir naquele momento tão único da família e sua criança. É um balanço delicado, e temos que ser bastante cuidadosos. Na grande maioria das vezes, conheço bem a família e sei de suas crenças e o que pode ou não ser apropriado para uma determinada família. Procuro falar pouco e ficar ao lado deles, porque sei que o momento é de dor intensa. Também tento ir a todos os funerais, mas confesso que algumas vezes não consigo, porque dói bastante. 

É impossível ser absolutamente impassível diante de tamanho sofrimento. O que funciona como uma “vantagem” aqui é o fato de que esses pacientes, na maioria das vezes, passam por um longo período de sofrimento ate o evento final, caso esse seja o destino. Isso é certamente desgastante, mas ao mesmo tempo dá tempo para as pessoas aceitarem o fato de maneira mais pacífica, sem muito do desespero que acentua demasiadamente o sofrimento do paciente. Além do mais, muitas das crianças já sabem que o finzinho delas esta próximo, e muitas vezes, elas avisam.

EE - 4) Você acha que a visão espiritualista do ser humano, aquela que postula a continuidade da vida, pode ajudar no processo de separação?

Sim, certamente. É muito mais fácil acreditar que nos uniremos novamente após a “longa viagem”, como se diz no Brasil. Tambem acredito que os pais, mesmo sem acreditar que a vida continua, anseiam desesperadamente por isso. A Doutrina Espirita tal como conhecemos no Brasil, não é bem divulgada nos EUA, de maneira que o conceito de vida após a morte é um tanto diferente por aqui. Muitas pessoas já me perguntaram o porquê de tamanho sofrimento. Geralmente respondo que, por ser Deus justo, Sua causa deve ser igualmente justa.

EE - 5) Em que grupos de familiares (personalidade ou visão de vida) a dor da separação se mostra menos pungente? Em qual grupo ela é maior?

Acredito que a intensidade da dor de se perder um filho é a mesma para os pais independente do credo ou religião  O que é diferente é a maneira com que as pessoas lidam com a situação. Muito raramente a postura é de completo desespero ou revolta diante dos fatos. A aceitação sem muita revolta é uma característica comum a várias familias que passam pelo problema. Isso acontece porque o curso da doença é bastante prolongado, o que confere tempo para que as pessoas aceitem de maneira um pouco mais pacífica. Muito recentemente tivemos um caso de um adolescente com câncer terminal que faleceu cercado por seus familiares mais próximos e que estavam ao seu lado rezando para que o momento de transição fosse o mais calmo e pacífico possível. Quando ele finalmente expirou, os pais estavam certamente tristes, mas aliviados e agradecidos a Deus pela passagem aparentemente tranquila de seu filho. Diante do fato consumado, muitas vezes os pais querem ver os seus filhos libertos de todo aquele sofrimento.

EE - 6) Você pode nos descrever o comportamento característico de seus pequenos pacientes quando eles sabem do destino que os aguarda, ou seja, no momento em que a separação se mostra inexorável? Tem algum caso especial que gostaria de nos relatar?

Crianças de uma maneira geral são bastante resilientes (1). Elas aceitam as dificuldades de modo mais fácil que adultos. Crianças com doenças crônicas são ainda mais especiais. Acho que intimamente sofrem muito, pois sabem que não podem fazer a maioria das coisas que as outras crianças da mesma idade fazem – como ir a escolar, ou praticar esportes, ou brincar com os amiguinhos. Mas eles entendem, independentemente da idade, que a situação delas é especial naquele momento. 

Crianças com câncer são geralmente altruístas, muito preocupadas com o bem de outras crianças e de sua própria família, e os mais velhos tendem a “fazer de conta” que estão muito bem para acalmar os pais. Quando a doença se torna incurável,  muitas das crianças comunicam à familia que vão morrer, ou que tiveram um sonho em que estavam no céu ou que um anjo veio visitá-las no quarto. Esses fatos são para mim bastante interessantes. 

EE - 7) Você acha que a sua visão espiritualista ajuda você no dia a dia e no trato com seus pacientes? No que ela mais te ajuda?

Sim, sem dúvida. Eu estou completamente consciente de minhas próprias limitações em meu trato diário. Entendo bem que o que define o destino de cada um é algo muito superior a mim mesma. Mesmo ao dar o melhor de mim e oferecer o que há de melhor em termos de tratamento e apoio médico, lido constantemente com derrotas, sem me revoltar ou me sentir ofendida. Além do mais, acreditar que a vida continua e que o sofrimento existe para nos fazer melhor é sempre reconfortante.


EE - 8) Quais os maiores obstáculos, na sua visão, contra a efetiva aceitação da realidade espiritual do ser humano?

Acredito que o maior obstáculo contra a efetiva aceitação da realidade espiritual do ser humano seja nós mesmos. Nós ainda temos dificuldades enormes em aceitar algo que nao pode ser sentido através de nossos 5 sentidos elementares. Ainda precisamos sentir em nossa pele o abraço daquele filho ausente, ouvir a voz da filha distante para acreditar que aqueles que se foram estão realmente vivos.

EE - 9) Você tem algumas palavras finais para famílias que estejam hoje com pacientes infantis de câncer?

O que eu gostaria de dizer é que me sinto profundamente honrada de poder ajudar no tratamento dessas crianças e suas famílias. Obviamente, não gostaria que ninguém tivesse que passar por isso. A grande maioria dos pais me pergunta o porquê de sua criança ter desenvolvido câncer. Sentem-se culpados e procuram entender no que falharam. Porém, a causa fundamental do câncer é ainda um mistério médico a ser desvendado com a ajuda e permissão de Deus. A aceitação pacífica dos fatos ajuda a compreender melhor o que é preciso ser feito e a providenciar o melhor cuidado para a criança. Além do mais, é muito importante que se comunique com a criança o que esta acontecendo com ele ou ela. Percebo que os pais que tentam esconder o diagnóstico do filho tendem a ter maiores dificuldades no dia a dia. Também acredito que esses momentos terríveis de dificuldades que temos que passar são grandes oportunidades de melhorar a nós mesmos, nossa família, nossas relações e provar o nosso amor aos que estão ao nosso lado. Tenho certeza que no final, de uma maneira ou de outra, todos sairão vencedores. 

Notas

(1) Resiliência (ref. resiliente): diz respeito à capacidade que se tem de lidar com uma situação angustiante, superar obstáculos e vencer dificuldades.  No caso aqui, uma doença.


3 de dezembro de 2011

Física Quântica e os espiritualistas no século 21 (análise preliminar)

Representação gráfica da molécula de DNA.
Do ponto de vista filosófico, espiritualista é todo aquele que acredita haver algo além da matéria, que justifique os fenômenos da consciência, do ser e da personalidade humana (e, porque não dizer, dos animais). Deixa de ser espiritualista aquele que acredite que a matéria seja a base para se compreender os fenômenos psíquicos e psicológicos. Essa é uma maneira muito didática de apresentar conceitos que sempre geram muita confusão e é de autoria de Allan Kardec (*).

Mas, no que consiste esse materialismo? Já que a física moderna demonstrou que existem modalidades de matéria muito distantes dos nossos sentidos, deixa de ser viável acreditar que fenômenos como o da consciência sejam explicáveis por meio de interação simples entre átomos entendidos como blocos rígidos de matéria. Além desses 'blocos constitutivos', existem outras entidades na forma de campos ou forças que atuam à distância, além de outros conceitos fundamentais que são necessários para explicar como a matéria pode se organizar para constituir algo vivo primeiro e, então, como esse ser vivo pode manifestar consciência. O materialismo moderno, portanto, deve fazer uso dessas ideias e conceitos abstratos para explicar como a vida e a consciência podem existir em nosso mundo. Mas então, a raiz da palavra 'materialismo' na forma de 'matéria' ou aquela coisa sólida e tangível deixa de ter seu significado original.

Visto meramente do ponto de vista das definições que se faz para coisas e conceitos, pode-se defender a ideia hoje em dia que há menos distância entre as noções espiritualistas do ser do que antes, durante o século 19, por exemplo. No auge do positivismo lógico, a matéria que impressionava os sentidos era tudo o que poderia existir. Hoje, há meios de se compreender que o espírito (Nota 1) seria também uma força, outro elemento, inacessível aos sentidos ordinários como  ingrediente fundamental para a formação da consciência. Entretanto, há uma clara dificuldade quando se trata de validar essa noção do ponto de vista considerado 'científico'.

A visão de Mundo pelos cientistas modernos (início do século 21)

Em paralelo com tal constatação, existe uma queixa por parte do mundo acadêmico com relação a qualquer tentativa de explicação do mundo a nossa volta por meio de conceitos que não nascem diretamente do  processo considerado adequado de se fazer ciência. É que o pensamento científico de nossa época se desenvolveu a partir da ideia de que noções como a existência de deuses ou forças invisíveis conscientes que atuariam diretamente no mundo são desnecessárias. No passado, a religião organizada ditava as normas sobre o que seria considerado razoável e não havia problema em se acreditar que o mundo era de fato regido diretamente pelas mãos de Deus. Desde que a física clássica conseguiu explicar muitos dos fenômenos mecânicos e elétricos do Universo com base na existência de leis cegas e sempre operantes (não são leis arbitrárias como arbitrário pareciam ser os caprichos de Deus), todas as outras ciências (principalmente a Biologia e a Medicina) também buscaram desenvolver suas teorias dentro da noção de que leis cegas são suficientes para explicar os fenômenos naturais.

Essa visão do mundo, conjugada à maneira positiva de se encarar as entidades (coisas que existem no mundo, de fato) que trabalham como 'atores' nas teorias científicas, levou a uma situação onde aparentemente não mais seria possível acreditar na possibilidade de forças inteligentes (além daquelas que tem como causa a existência dos seres humanos) atuarem diretamente no Universo. Há uma imensa categoria de fenômenos naturais (que são objeto de estudo das ciências físicas) que são claramente produto de forças ou leis cegas. Entretanto,  a comunidade acadêmica acabou se especializando neles e são hoje  incapazes de aceitar que há uma limitação de escopo na ciências que trabalham. Por se referirem a fenômenos simples, colecionáveis, reprodutíveis etc, as teorias deles derivados são necessariamente limitadas a esses objetos que criam uma visão de mundo igualmente limitada. Acrescenta-se a isso o espírito corporativista das associações científicas e teremos um ambiente notoriamente cético em sua maneira de considerar determinados fenômenos e avesso a qualquer tentativa de mudança ou novidade, que é mal vista como um enxerto desnecessário e suspeito.

Surge a psicologia quântica

No que a física quântica mudou esse quadro? Uma resposta a essa questão pareceria envolver necessariamente grande conhecimento dessa nova física. Mas, no que nos interessa aqui, não deixa de ser interessante observar o fenômeno recente de como essa nova física tem sido invocada para justificar a crença de determinados grupos espiritualistas, psicólogos e até de grupos de acadêmicos marginalizados (Zohar, 1999). O exemplo que encabeça a lista é a do físico e escritor Amit Goswami que, numa série de livros, palestras e congressos, se fez conhecido como um 'ativista quântico' e propõe uma 'interpretação' radicalmente quântica do ser humano.  Além disso, vários parapsicólogos (Kugel, 2000) aderiram à ideia de que é preciso utilizar a física quântica para explicar os fenômenos psíquicos. Essa física também surge como uma novidade capaz de motivar uma nova psicologia (Zohar, 1990).

O fenômeno é curioso porque a física quântica, não obstante ter introduzido uma modificação bastante radical na maneira de se encarar as entidades que fazem parte das teorias da física anterior, apenas é aplicável ao mundo infinitamente pequeno. Trata-se da microfísica ou física das partículas e agregados atômicos, que só atua em escalas muito pequenas. Como então que essa nova física veio parar em compêndios de psicologia e artigos de parapsicologia?

Nossa introdução procurou fornecer um quadro muito resumido da atual maneira de se encarar o mundo por parte dos cientistas. Uma vez que a física quântica é um mistério - sua interpretação ainda é motivo de calorosos debates entre os especialistas - parece ser conveniente para tais grupos invocar a física quântica na psicologia, parapsicologia e até ecologia que também lidam com mistérios. Como a física quântica é um mistério e a consciência é um mistério, então o cérebro é quântico... Dessa forma, a física quântica surge como uma validação científica de mistérios para uma ciência que aprendeu a encarar os fenômenos naturais como se eles não o fossem. É compreensível a irritação de muitos acadêmicos com a 'onda quântica' na psicologia e outras disciplinas.

Desvantagens da abordagem quântica em assuntos espiritualistas

Alguns de nossos leitores poderiam nos questionar porque alguém que se afirma espiritualista poderia ser contra essa abordagem 'quântica'. Minha argumentação, em ordem de importância é conforme segue:
  1. Embora concorde que a física quântica alterou nossa visão do mundo (microscópico), não é possível querer extrapolar essa nova física para a psicologia porque os objetos de estudo dessa disciplina podem não ser quânticos (Jahn, 2011, ver Nota (2)). Abusa-se demais de analogias e interpretações para forçar uma nova maneira de ver o mundo derivada de coisas que não são os objetos da vida cotidiana. Isso tem consequências ainda maiores quando buscamos descrever os fenômenos oriundos da atuação do espírito sobre a matéria. Para mim o princípio inteligente (que é a fonte de toda informação dos seres) não é quântico, os que assim pensam ainda precisam demonstrar que é possível levar adiante essa ideia não apenas como uma simples extrapolação; 
  2. Ao se buscar descrever o comportamento da mente, do espírito ou da consciência com base em analogias da física quântica, será que poderemos também exportar diretamente os métodos de pesquisa da microfísica para esses objetos de estudo? A tarefa de criar uma nova ciência não está apenas em encontrar uma nova explicação para certos fatos, mas criar um método de pesquisa que seja consistente, dê resultados práticos e possibilite relacionamento harmônico entre diversas disciplinas correlacionadas. Em suma: é preciso demonstrar a fertilidade heurística das analogias quânticas nos estudos da consciência e psicologia;
  3. A psicologia e até doutrinas espiritualistas de forma geral não precisam de interpretações quânticas para descrever o principal objeto de seus estudos. É possível conceber aplicações e métodos de grande valor prático para essas disciplinas sem que seja necessário se recorrer à analogia com a física quântica. Podemos argumentar que recorrer a analogias da nova física pode prejudicar o desenvolvimento de novas ideias e novos métodos de investigação nesses campos de conhecimento;
O conhecimento completo dos fundamentos da física quântica, ao ponto que seria possível fazer propostas de aplicações inovadoras na pesquisa corrente da física é uma atividade que leva anos de estudo e exige conhecimento nada elementar de álgebra, geometria e cálculo. Será que as propostas de se interpretar o fenômeno da consciência desde o ponto de vista da física quântica chegarão ao ponto de incorporar também a necessidade de se conhecer e aplicar esses métodos de pesquisa? De outra forma, como a ciência do 'psi quântico' irá se desenvolver? Essas são questões que devem ser respondidas de forma satisfatória, antes que se propague uma ideia que pode estar condenada desde seu princípio.

Além das justificativa pouco convincentes do ativista quântico Goswami (Fonseca, 2010), sabemos que é um fenômeno mais de aceitação, da necessidade de se ter o endosso da ciência - que se crê popularmente ser a guardiã da verdade sobre o mundo - do que qualquer outra coisa. Ao aplicar conceitos da microfísica na psicologia humana, estamos diante de um quadro nunca visto antes de desespero intelectual, um quadro sem nenhum respaldo de evidência possível, permitido por uma brecha de interpretação surgida dentro da própria física.

E que brecha é essa?  As forças admitidas cegas que guiam os fenômenos naturais continuam cegas nos fenômenos quânticos. Mas, mesmo assim, por sugerir fortemente que podemos estar enganados com relação à maneira como vemos o mundo, a física quântica fornece um contexto de conhecimento que se coloca fortemente em desacordo com uma visão mecânica e puramente sensorial do mundo. Nossa visão do mundo macroscópica (não quântica) pode ser apenas um epifenômeno sensorial, não estamos vendo a realidade que é manifestamente oculta. É principalmente isso que os 'ativistas quânticos' querem chamar atenção.  Mas duvido que isso seja um caminho prático para se gerar conhecimento útil no que concerne à realidade do Espírito.

Referências
  • (*) Ver a Introdução de "O Livro dos Espíritos", Parte I.
  • Fonseca, A. F. (2010), Uma análise espírita da obra "A Física da alma" de Amit Goswani, O Espiritismo visto pelas áreas de conhecimento atuais, Textos selecionados Ed. por CCDPE-ECM, São Paulo.
  • Goswami, A. (1993) The self-awere universe. New York, Puttnam’s Sons;
  • Goswami, A. (1998). O universo autoconsciente. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos;
  • Jahn R. G., Dunne B. J. (2011), Journal of Scientific Exploration, Vol. 25, No. 2, pp. 339–341.
  • Kugel,W. (2000) Quantum correlation as a potencial detector for Psi-phenomena. Proceeding of 43rd Annual Convention of Parapsychological Association, Frieburg, Alemanha;
  • Zohar, D (1999), O Ser quântico, Editora Best Seller.
Notas


(1) espírito; de acordo com 'O Livro dos Espíritos' (Questão #23) o espírito é o princípio inteligente, necessário para 'espiritualizar' a matéria.  

(2) Os pesquisadores pioneiros em interpretações quânticas para a consciência Robert Jahn e Brenda Dunne alertaram recentemente (Jahn, 2011):
Muitas pessoas envolvidas em áreas de fronteira de estudo científico mostram uma tendência de invocar a nomenclatura da mecânica quântica para aumentar sua credibilidade acadêmica tanto com o público leigo como acadêmico. Embora essa estratégia seja efetiva no esclarecimento de conceitos sutis e podem ser caminhos úteis para se enfatizar a necessidade de perspectivas alternativas à realidade, se levado ao excesso pode se tornar contra produtivo e deve ser cuidadosamente evitado. Primeiro de tudo, existe uma tendência compreensível, se não totalmente legítima, das comunidades das 'ciências exatas' em evitarem a aplicação  do que entendem ser suas conceituações e classificações quânticas a outras áreas menos precisas e rigorosas do conhecimento, especialmente quando tais apropriações são escandalosamente vazias, se não totalmente incorretas.  Em nossa luta continua para o desenvolvimento de um referencial conceitual capaz de acomodar a dimensão subjetiva da realidade, tais tentativas ingênuas parecem ser mais ofensivas do que persuasivas. Mas, além disso, elas tentam obscurecer o fato importante de que a mecânica quântica, como qualquer estrutura teórica, é, em si mesma, uma técnica metafórica para se formalizar e comunicar representações objetivas de observações e interpretações de dados subjetivos. (...)


23 de novembro de 2011

Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)

"Of course it is happening inside your head, Harry, but why on earth should that mean that it is not real?" J. K. Rowling, em "Harry Potter and the Deathly Hallows"

O Dr. Sam Parnia é conhecido pesquisador da área médica, especialista em cardiologia, com uma grande virtude: tem interesse declarado pelas ocorrências de 'experiências de quase morte' (EQM ou NDE - ver vocabulário abaixo para os termos comumente usados em inglês). Em seu livro 'O que acontece quando morremos - Um estudo sobre a vida após a morte', ele nos fornece um relato interessante de suas primeiras pesquisas no fascinante mundo das experiências de quem esteve a um passo de se encontrar com a 'morte', mas voltou para nos contar como é.

Embora o subtítulo sugestivo da edição em português 'um estudo sobre a vida após a morte', o livro é, em essência, uma introdução ao tema discorrendo de forma paralela como um relato em primeira pessoa do interesse do autor pelo assunto. A 'vida após a morte' aqui é uma referência ao curto estado em que passam determinados pacientes em coma profundo que descreveram posteriormente NDEs. Do ponto de vista espírita, uma EQM é um evento de desdobramento espontâneo causado pela parada cardíaca que revela de forma independente a natureza dual do ser humano.

Divisão de capítulos

O livro está dividido nos seguintes capítulos: 1 - Experiências de quase morte: da antiguidade aos dias atuais; 2 - Organizando o estudo de Southampton; 3 - Como é morrer?; 4 - Paradoxo científico; 5 - Compreendendo a mente, o cérebro e a consciência; 6 - Os ingredientes da vida; 7 - Isso é real; 8 - A Horizon; 9 - Implicações para o futuro. 

Faremos alguns comentários breves sobre alguns capítulos, enfatizando o que acreditamos ser mais relevante no que é apresentado pelo Dr. Parnia. O Capítulo 1 é, na verdade, uma introdução ao assunto, revelando que, desde cedo (adolescência), o autor teve grande interesse pelas questões relacionadas à "tanatologia". Há poucos relatos de NDE em 'casos da antiguidade' conforme relatado no Capítulo, exceto por uma citação de Platão (*). Os exemplos históricos de eventos de NDE fornecidos são muito mais recentes.  Mas o Capítulo 1 não deixa de ser interessante, pois o autor faz um resumo das teorias existentes para explicar as NDEs. Antes disso, convém apresentamos grosso modo uma visão cética sobre o assunto:
Todas as sensações de espiritualidade que sentimos ocorrem na mente. Os cientistas já provaram esse fato, e afirmam que isso tudo não passa de reações químicas, falta de oxigênio ou qualquer outro distúrbio mental que provoca alucinações, sensações de expansão da consciência, e outras variedades dos chamados " fenômenos espirituais; sendo assim, a viagem para fora do corpo poderia ser explicada como um fenômeno mental....também! (retirado da Internet: ver Blog 'Crônicas do Frank')
Para essa crítica, 'todas as sensações de espiritualidade que sentimos ocorrem na mente'. E as sensações "reais" ocorrem onde? Para muitos que não conseguem ver o problema de forma mais profunda, elas ocorrem no mundo externo... Para sabermos se os cientistas "estão realmente provando isso" convém consultarmos Parnia. Ele relaciona nos seguintes grupos as explicações chamadas 'ortodoxas' para o fenômeno:
  • Teoria das alucinações;
  • Teoria do cérebro moribundo (depleção de oxigênio);
  • Teoria do dióxido de carbono;
  • Teoria das drogas (e seus efeitos);
  • Teoria dos receptores químicos do cérebro;
  • Teoria da epilepsia do lobo temporal;
  • Teorias psicológicas;
Se existisse qualquer consenso aceito para o fenômeno, então não haveria tantas explicações propostas. O conjunto de 'explicações não ortodoxas' (na verdade só existe uma) é chamada por Parnia de 'teorias transcendentais'. Trata-se daquela que postula a continuidade da vida após a morte e que explica as NDEs como relatos de experiências reais passadas pelo indivíduo (NDEr).  Das explicações acima, a mais aceita nos meios acadêmicos (e que constantemente se vê colocada como uma 'explicação' para os fenômenos pela grande mídia) é a 'teoria do cérebro moribundo' que supostamente explica a NDE como efeito de falta de oxigênio. Entretanto, Parnia vai a fundo na questão e pondera:
Do ponto de vista médico, a falta de oxigênio é um problema corriqueiro num hospital. Muitos médicos operando em emergência deparam com o problema frequentemente, particularmente com pacientes cujos pulmões ou corações não estão funcionando muito bem, por exemplo, em casos de asma ou falência cardíaca. Cuidei de mais de 100 pacientes com falta de oxigênio. Quando os níveis caem, os pacientes ficam confusos e bastante agitados. Esse 'estado agudo de confusão', como é conhecido na medicina, é muito diferente da experiência de quase morte. (Parnia, 2008, p. 44)
Parnia argumenta que as 'teorias químicas do cérebro' (todas baseadas em alguma modificação severa nos níveis de substâncias presentes no tecido cerebral, seja oxigênio, drogas, receptores químicos etc) não são boas explicações porque elas não preveem as condições em que os NDE ocorrem. Em outras palavras, eventos de NDE não são observados costumeiramente quando essas condições estão presentes. Experiências de quase morte são eventos singulares, únicos, imprevisíveis, mas com estatística de ocorrência alarmante para serem desprezados. De nossa parte nos perguntamos: será que isso demonstra que os NDE não são produzidos apenas a partir de condições endógenas (e. g. parada cardíaca etc) mas também exigem fatores externos (independentes do indivíduo) para acontecer? Isso certamente explicaria a aleatoriedade dos eventos.

Quanto às 'teorias psicológicas', elas se aglomeram em torno da tese de que as experiências seriam supostamente produzidas pela mente como resposta a uma situação potencialmente traumática. Para lidar com a situação, o cérebro supostamente inventa toda cadeia de eventos relatados pelos paciente que passa por uma NDE. Parnia chama a atenção que muitas teorias simplesmente partem do pressuposto de que os relatos são invenções e alucinações, descartando anomalias observadas durante as ocorrências. 

O Capítulo 2 (Organizando o estudo de Southampton) é uma descrição algo irônica das dificuldades de se estudar esse tipo de fenômeno na prática. Nesse capítulo, Parnia descreve com humor sua tentativa frustrada de iniciar um estudo das EQM por meio de cartazes fixados em salas de UTI no hospital de Southampton. A ideia é que, se as visões de NDErs forem reais (no sentido de se referirem a eventos externos), eles seriam capazes de ver e descrever posteriormente o que está escrito nesses cartazes, fixados de forma que os dizeres se voltam para o teto. A narrativa de Parnia mostra que um estudo considerado minimamente 'científico' exige tratar  fatores que vão muito além daqueles disponíveis quando se manipulam coisas simples de laboratório. Esse é mais um exemplo que mostra que a chamada 'metodologia científica', se exportada ou extrapolada sem modificações e cuidados, nunca irá funcionar de forma satisfatória. A cada fenômeno, um método.

Relatos infantis de EQMs

No Capítulo 4 (paradoxo científico), Parnia descreve vários relatos de crianças (com idade que pode chegar a 6 meses de vida) que passaram por experiências de quase morte. Esses são, para mim, os relatos mais impressionantes.  Em muitos desenhos feitos posteriormente, é possível ver que a criança reproduz a situação de se ver a si própria fora do corpo, em outro corpo e de se encontrar com outros seres ou pessoas, gente 'morta' como elas mesmas relatam posteriormente.
Desenho infantil como um relato de uma EQM. É possível ver como a criança se vê, 
estendida sobre a mesa e flutuando acima dela. Fonte: HubPages.
No que consiste esse 'paradoxo científico' ? O Dr. Richard Mansfield, colega de Parnia, nos conta um caso de um paciente que sofreu parada cardíaca por mais de 20 minutos e permaneceu por 15 minutos totalmente sem assistência de ressuscitação. Segundo Mansfield:
Quando o vi, ele me contou que tinha visto tudo de cima e descreveu em detalhes absolutamente tudo o que aconteceu. Disse tudo o que eu tinha dito e feito, como checar seu pulso, decidir parar com a ressuscitação, sair do quarto, voltar depois, olhar para ele, checar novamente seu pulso e não recomeçar o processo de ressuscitação. Ele contou todos os detalhes de forma correta e precisa, o que era impossível, uma vez que não apenas ele estava sob parada cardíaca, e não possuía pulso durante a parada, mas sequer estava sendo ressuscitado por cerca de 15 minutos depois. O que ele me contou realmente me arrepiou, e até hoje eu nunca havia contado a ninguém porque sabia que não conseguiria explicar...  (Parnia, 2008, p. 103) 
De outra forma, se a consciência é produto da atividade cerebral, como pode alguém ficar privado de oxigênio por quase meia hora e se lembrar de detalhes durante o ocorrido? Se a consciência é simples produto de atividade de circuitos neuronais, como alguém pode ter consciência perfeita de acontecimento quando seus circuitos neuronais sequer tem energia para cumprir os processos primitivos de controle metabólico? O paradoxo está na consciência anômala adquirida pelo paciente quando da parada cardíaca, consciência que se manifesta inclusive como total ciência, visão e audição dos eventos ao redor, produzindo informação verificável. Portanto, na medida em que se consideram muitos detalhes nos eventos de EQM (ou seja, que se estudem a fundo esses fenômenos), descobre-se que elas não são meras alucinações ou invenções do cérebro. 

O Capítulo 5 (Compreendendo a mente, o cérebro e a consciência) é uma introdução ao conhecimento presente sobre as teorias de funcionamento do cérebro e da mente. O estilo de Parnia é bastante livre e ele consegue passar de uma descrição autobiográfica para técnica em poucas linhas. Nesse capítulo, o autor discorre sobre limitações das teorias convencionais do cérebro e adentra no campo da filosofia e de física quântica, esta última entendida como explicação não convencional. O Capítulo 6 (Os ingredientes da Vida) é uma extensão do capítulo anterior e o autor descreve alguns fundamentos de física quântica que ele entende serem importantes para tentar responder às questões fundamentais. Na verdade, esse capítulo descreve que o que entendemos como 'matéria' não é algo tão 'tangível' como se pode pensar e que é possível, portanto, que no nível mais elementar, a mente seja formada por outro tipo de coisa.

A realidade 

No Capítulo 7 (Isso é real?), Parnia se põe a discutir métodos ou meios pelos quais seria possível separar uma experiência real de algo imaginário. A maior novidade na discussão são as propostas de  metodologias baseadas em imagens de tomografia que permitem observar em tempo real as áreas que são ativadas no cérebro quando um indivíduo está realizando uma atividade ou simplesmente pensando em algo.  Como vimos, a maior parte das teorias ortodoxas para as NDEs parte da hipótese de que as experiências não são reais, mas alucinações. Segundo Parnia:
Isso é uma maneira bem simplista de se olhar um assunto complexo que precisa de mais esclarecimentos e explicações. O que muitos que apoiam este argumento não mencionam é que exatamente as áreas do cérebro envolvidas com alucinações estão igualmente envolvidas com muitas das experiências 'reais' e 'normais' e emoções como o amor, ódio etc. Por conseguinte, simplesmente identificar essas áreas do cérebro como aquelas envolvidas em EQM não pode nos dizer se são experiências reais ou alucinações. (Parnia,  2008, p. 166)
De outra forma: exames de tomografia do cérebro não permitem que se diferenciem experiências 'privadas' das experiências 'públicas'. Os circuitos neuronais envolvido na atividade de se contemplar uma lâmpada acesa são os mesmos de simplesmente imaginar ver uma cena com essa lâmpada acesa. Não parecem existir bases em mapeamento neuronal suficientemente seguras para se caracterizar determinadas experiências como alucinações ou experiências reais. Isso complica bastante os métodos laboratoriais de pesquisa no assunto, já que não é possível diferenciar um caso de outro e todo o assunto, por essa via, parece muito complexo. Mais uma vez estamos diante de um objeto de estudo que escapa aos métodos presentes de pesquisa considerados científicos.

A Horizon (Capítulo 8) é uma fundação criada por Parnia que tem como objetivo apoiar estudos na área de EQM. De certa forma, essa foi a solução encontrada pelo autor para dar vazão à pesquisa na área, ainda incipiente ou pouco tolerada pelo meio acadêmico convencional. Há vários projetos em andamento e é bom sempre verificarmos esse link para sabermos das novidades na fascinante área da pesquisa das experiências de quase morte. 

Finalmente, no último capítulo (9 -Implicações para o futuro), Parnia  faz um resumo do que apresentou anteriormente, traça planos para o futuro e discute as consequências para  a humanidade de uma aceitação global do pós-vida a partir de evidências fornecidas pelas EQMs. Não seria apenas uma nova ciência, mas uma revolução como nunca antes vista:
Isto levaria a um estudo objetivo do que comumente é considerado assunto religioso e filosófico e, portanto, terminando muitos desacordos e levando, por conseguinte, a uma sociedade muito mais tolerante. Da mesma forma que a ciência revolucionou nossa compreensão do mundo externo, ela também poderia revolucionar nosso entendimento do mundo subjetivo dentro de nós.
De certa forma, isso já está acontecendo. Em síntese, o livro de Parnia é bastante elucidativo, trazendo discussões e contra argumentos ao ponto de vista cético padrão de considerar as EQM como meras alucinações. Certamente, as experiências de quase morte são uma via alternativa através da qual podemos acessar parte da realidade maior em que estamos envolvidos. Para a imensa maioria dos que passaram por essa experiência, hoje não há mais dúvidas: elas existem e são reais.

(*) A citação está no livro 'A República', Livro X, última parte onde Platão narra a fábula de Er. Parnia não fornece a referência completa. Ver o blog  Rotas Filosóficas.
  
Dados sobre o livro

O que acontece quando morremos - Um estudo sobre a Vida após a Morte.
Autor: Sam Parnia (2008).
Ed. nacional com tradução de Emanuel Mendes Rodrigues.
ISBN: 978-85-7635-360-7
Número de páginas: 246.
Editora Larrouse, São Paulo, SP.

Vocabulário

NDE (inglês) - 'Near Death Experiences'  ou experiências de quase morte (EQM em português) são relatos de vítimas de coma ou 'instâncias de quase morte' (em geral sobreviventes de paradas cardíacas) que mantem entre si determinadas características comuns. Dentre as mais marcantes está a de separação do corpo, sensação de grande paz, presença de pessoas já falecidas, visualização de uma luz ou tunel de onde retornam para continuar a presente existência. A experiência é descrita como não traumática e de grande impacto na vida do paciente. 
NDEr (inglês): É o indivíduo que passa por uma EQM.

Outros artigos de Parnia e colaboradores (ver www.horizonresearch.org)
  • Parnia S, Fenwick P, Near Death Experiences in Cardiac Arrest: Visions of a dying brain or visions of a new science of consiousness. Resuscitation 2002 Jan 52, 5-11;
  • Parnia S, Fenwick P: Do reports of consciousness during cardiac arrest hold the key to discovering the nature of consciousness? Medical Hypothesis 2007;
  • Parnia S, Waller D, Yeates R, Fenwick P, A qualitative and quantitative study of the incidence, features and aetiology of near death experiences in cardiac arrest survivors. Resuscitation, Feb 2001 48, 149-156.
Outros links

Outra página de referência (em inglês) é a da Near Death Experience Research Foundation.

16 de novembro de 2011

Aniversário do EE - Principais Posts do Blog (até Novembro 2011)

16 Novembro 2010: Primeiro post do blog! Bem vindo à Era do Espírito.

Segue abaixo uma lista dos principais posts do blog em 1 ano de trabalho.

A maioria dos 'posts' segue mais a estrutura de artigos, com vários links para outras referências que você pode utilizar para conhecer mais sobre um determinado assunto. As palavras-chave também servem para orientar, além da busca (pesquisa de postagens).

Os três artigos mais acessados até Novembro 2011
  1. Crenças Céticas X - Positivismo lógico e indutivismo: as duas bases do ceticismo dogmático.
  2. Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitos físicos.
  3. Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier.
Artigos

  1. Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier (1/3)Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier (2/3)Pragmática e intenção nas psicografias de Chico Xavier (3/3).
  2. II/1 - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.II/2 - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.II/3 - Como se deve entender a relação entre o Espiritismo e a Ciência.;
  3. I/2 - Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos.II/2- Considerações sobre as ideias de verdade e controvérsias em torno dos ensinos dos Espíritos.
  4. Novo Jornal de Estudos Antropológicos
  5. Nova Edição de Paranthropology (Vol. 2, Número 1) - Destaque: ectoplasmias recentes no FEG.
  6. Anomalias nos sinais elétricos do Cérebro com a morte do corpo;
  7. Fim da Religião ou do Irracionalismo Religioso?
  8. Usos e mal usos da palavra 'energia' entre espiritualistas.
  9. Kardec sobre o Ceticismo.
  10. Pragmática e intenção nas cartas psicografadas de Chico Xavier.
  11. Uma abordagem estatística para a determinação do tempo de vida entre encarnações sucessivas.
  12. Usos e mal usos da palavra 'energia' entre espiritualistas.
  13. Obras históricas raras sobre materializações e fenômenos de efeitos físicos.
Entrevistas
Sobre o ceticismo dogmático: Série Crenças Céticas

XIV- "Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias."
XVI - O ceticismo dogmático como charlatanismo intelectual.
XVII - Teoria das evidências fotográficas e de outros tipos.

Comentários sobre Livros

I - Introdução à Ciência Espírita de Aécio P. Chagas

9 de novembro de 2011

Crenças Céticas XVII - Teoria das evidências fotográficas e de outros tipos.


Não há dúvida que vivemos numa época de grandes inovações tecnológicas. A começar pelo uso de recursos de imagem e som e de manipulações de elementos desse tipo, o que é hoje parte da grande indústria cinematográfica. Mas, poderiam imagens serem usadas como evidência da realidade de fenômenos insólitos?

Nossa principal tese neste texto é demonstrar que a alegação cética que rejeita a proposição de fotos ou imagens para demonstrar a existência de fenômenos paranormais (transporte de objetos, telecinese, materializações etc) também pode ser usada com objetivo oposto: a de negar a validade da argumentação cética que consideram tais fenômenos como fraude. Nesse assunto, a solução não é tão simples como proponentes ou críticos frequentemente imaginam. A base ou fundamento de nossa tese é uma concepção apropriada de imagens, filmes e sons  no contexto em que são muitas vezes apresentados. 

Veja que não estamos a propor que não existem fraudes. Mas, diante da complexidade que a Natureza exibe, com uma diversidade de fenômenos e interações, será que o 'método cético' é realmente eficiente? Será que ele realmente leva a conhecer a verdade? Será que devemos apenas acreditar naquilo que nossos sentidos aprovam? Reiteramos que não é razoável insistir em teorias de fraude com certas evidências para desqualificar fenômenos considerados insólitos, que requerem condições especiais de ocorrência. Justamente por ser muito fácil 'fraudar' uma evidência, esse tipo de prova não pode ser usada para se negar um determinado fenômeno, embora seja possível usá-las para se afirmar dentro de determinadas circunstâncias. 

Do ponto de vista lógico, assim, muitos céticos não percebem que as condições que pregam para 'validar' o que considerariam contra-evidências, extrapola certos aspectos lógicos não explícitos em cada caso, tornando-se uma tentativa condenada desde o princípio. 

Prova fotográfica

Para começar, analisemos o que é uma 'prova' fotográfica. Uma vez que recursos técnicos podem ser usados para múltiplas imagens, as mesmas considerações que fazemos aqui para fotos também valem para filmes. A fig.1 abaixo mostra uma imagem razoavelmente compreensível de um evento singular.

Trata-se da imagem de um avião 'tentando' decolar mas demonstrando certa dificuldade, talvez na iminência de um desastre total. Se nos perguntarmos sobre a 'validade' dessa imagem, uma pesquisa feita com a maioria das pessoas não demonstraria nenhuma dificuldade em aceitar que se trata, realmente, de um avião tentando decolar com dificuldade, com parte de sua asa quebrada etc. Em suma, um flagrante de um acidente.
Fig. 1 Um avião na iminência de um desastre?
Entretanto, essa imagem é uma fotomontagem (isto é, uma fraude). Ela é o produto de alterações feitas por um programa de computador que é capaz de manusear parcelas da imagem e integrá-las de forma a constituir um todo final convincente.  

Uma imagem está assim longe de ser uma evidência autosuficiente. Há algo mais, externo à foto que deve existir para que seja considerada verdadeira. O que é isso? Uma pista para conhecer esse algo mais é se questionar sobre onde esse algo fica. A resposta simples é que ele fica na cabeça de quem vê a imagem. Por causa disso, uma imagem ou reprodução fotográfica de um objeto externo não existe por si mesma:
I) Uma imagem ou filme é, em essência, uma representação de um objeto que só existe na mente de quem o contempla.
É importante que esse 'algo' realmente 'exista', onde por 'existir' entendemos a noção interna de quem observa, que obrigatoriamente teve uma experiência sensorial com o objeto representado. Podemos clamar sobre a existência de outros tipos de entidades não sensoriais, que existem sem nenhuma relação com nossos sentidos. Mas, então, o que seria uma imagem ou foto de uma entidade desse tipo? Quanto mais próximo a representação dessa 'coisa' estiver da experiência sensorial, tanto mais realística será a impressão causada, tanto maior será a 'força' expressiva da representação, tanto maior será a crença na validade da representação. 

Alguns fatos validam essa noção:
  • Uma vez que as crianças - principalmente com menos de 5 anos de idade - ainda não tem experiência sensorial plenamente formada, elas tendem a ver o mundo de forma diferente dos adultos. A 'representação da realidade' para as crianças não precisa ter os mesmos detalhes de um adulto. Desenhos simples ou bonecos já são suficientes para se manipular conceitos e idéias na mente infantil;
  • A busca pelo realismo incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias, como a do cinema ou televisão 3D;
  • Ilusões de óptica: a existência de imagens dúbias e mutantes sugere que o que se vê está mais dentro da mente do que fora;
Exemplo de Ilusões de óptica: o que se vê depende do que estamos acostumados a ver. Esta imagem não é um 'gif' animado.
Onde está a verdade então sobre a foto que analisamos? Sendo a representação de um objeto externo, não temos dificuldades em identificar do que se trata. Ainda que não tenhamos contemplados fisicamente decolagem de aviões, já os temos visto muitas vezes em outras ocasiões, seja na tv ou e filmes de cinema ou internet que também são representações assertivamente válidas no contexto em que são apresentadas.

Surge assim o segundo elemento importante em nossa análise:
II) O contexto de uma imagem ou filme é o segundo elemento que determina a escolha que o observador faz internamente sobre a validade da representação (imagem ou vídeo).
Em outras palavras, não é razoável que duvidemos de toda e qualquer foto ou filme de desastre de avião só porque mostramos um exemplo forjado. Nosso princípio I não é suficiente para garantir a validade da representação apresentada como imagem. Desastres de avião são eventos raros e mais rara ainda é a chance de se registrar um evento desse tipo. O fato de ser fácil forjar imagens de desastres de avião utilizando tecnologia de ponta não significa que tais desastres não ocorram ou que seja impossível registrá-los. 

Esse é um exemplo clássico que demonstrar a dificuldade de se utilizar evidências de foto ou filme em determinados casos. Imagine que, se para 'demonstrar' que desastres de aviões existem, tivéssemos que reproduzir essa ocorrência em seus mínimos detalhes para convencer os céticos desses desastres.

Aplicação para fenômenos insólitos

Fig. 2  'Raio verde'. Fenômeno raro que pode
ocorrer durante o ocaso ou nascer do sol. 
No que segue, por 'fenômenos supostamente insólitos' não nos referimos apenas aos fatos registrados na fenomenologia psíquica. Um fenômeno supostamente insólito parece ter as seguintes características:
  1. Uma ocorrência imprevisível (condições de ocorrência desconhecidas);
  2. Uma ocorrência rara (a frequência com que ela ocorre é muito pequena);
  3. De difícil registro fotográfico ou filmagem (no sentido de não serem frequentes as oportunidades de registrá-lo, ou porque ele ocorre sob condições em que não é possível usar com facilidade métodos de registro fotográfico ordinário);
  4. Diz respeito a um objeto ou coisa para o qual não existe uma 'representação local e privada' para a maioria dos observadores;
  5. Não existe um contexto estabelecido que apoie a aceitação de sua ocorrência.
Fig. 3 Raríssimas nuvens do tipo 'mamatus' .
O objetivo de toda evidência parece ser a característica 5, ou seja, reunir 'provas' que ajudem a criar o contexto de aceitação. Uma 'prova fotográfica' é, assim, uma peça ou material que pretende formar uma opinião, um contexto, a respeito de um determinado fato. A tarefa é simples com eventos ordinários. Por exemplo, no caso do uso de uma filmagem como testemunho de um crime: aqui é fácil ver que não obstante se cumpram quase todos os quesitos, um crime de difícil solução não tem a característica 4, ele não se refere a objetos ou coisas para as quais a imensa maioria não dispõe de uma 'representação local e privada'. Um crime é uma ocorrência suficientemente ordinária para que essa característica não se aplique.   

O que distingue um fenômeno supostamente insólito de outras ocorrências raras mas ordinárias é sua causa considerada insólita. A característica 4 implica que não existe um objeto conhecido que possa ser usado como referência. Por causa disso, para os céticos sobre determinados fenômenos, o mais próximo que se chega para cumprir a exigência 4 é imaginar que uma fraude está envolvida. Uma fraude é uma ocorrência ordinária, facilmente concebível que torna nulo o requisito 4 e que, portanto, desqualificá-lo o fenômeno no discurso do cético dogmático.

Entretanto, há uma imensa classe de fenômenos naturais que se enquadram nesse tipo de fenômeno. Com são eles justificados? A partir de teorias ou modelos científicos que permitem prever sua ocorrência. A Fig. 2, por exemplo, traz um registro fotográfico do 'raio verde' ou 'flash verde' provocado pela refração excessiva, assim como absorção de comprimentos de onda longos de raios solares durante o nascer ou ocaso do sol. Trata-se de um fenômeno raro que dura somente alguns instantes. Para alguém que desconheça totalmente o fenômeno, esta imagem pode ser resultado de alguma edição digital, já que é fácil preencher digitalmente com cores variadas determinadas porções de uma imagem. Já a Fig. 3 trás uma foto das núvens tipo 'mamatus'. Para quem nunca contemplou o fenômeno, pode se tratar de uma montagem fotográfica feita com superposição de um fundo de algum líquido ou fumaça sobre uma imagem ordinária de uma paisagem. Mas, a existência dessas nuvens é validada pela fluidodinâmica aplicada a condições meteorológicas especiais (anda que o mecanismo exato de sua formação  seja presentemente desconhecido). 

Nesses casos extraídos das ciências naturais, as imagens apenas fornecem registros de ocorrência de fenômenos que são concebíveis. Portanto, as imagens não constituem 'prova' no sentido de validarem o contexto. Em outras palavras, a ordem com que se apresentam as circunstâncias está invertida: com tais fenômenos, o contexto (a teoria) vem primeiro, as evidências são colhidas depois. 

Conclusões

O que podemos dizer então da negativa sistemática das evidências tão comumente encontrada no ceticismo dogmático? Na análise de toda crítica cética - principalmente se ela se faz em tom agressivo ou debochado - o mais importante é considerar os aspectos não aparentes da crítica, quais suas reais intenções e objetivos. Esse é o contexto ou 'pano de fundo' que irá determinar como uma evidência proposta será considerada. Não importa o quão 'séria' e 'científica' ela pretenda se apresentar, na imensa maioria das vezes isso se dará de forma negativa por razão muito simples.

Por definição, para o ceticismo dogmático qualquer 'prova' será sempre suspeita até que se cumpram determinados requisitos, todos eles frequentemente considerados 'imprescindíveis', mas que fazem parte de uma estratégia maior de desqualificação de fenômenos. Quase sempre o cumprimento de determinadas exigências será virtualmente impossível, o que, para os céticos dogmáticos, facilita a tarefa de desqualificação dos fenômenos. É importante considerar a intenção: para esse tipo de ceticismo, por definição, determinados fenômenos não existem. É preciso entender que o cético dogmático é alguém que acredita que a Natureza não tem segredos para ele. Considera que não há mais nada 'debaixo do sol', o que serve para justificar sua crença. Logo todas as evidências que se apresentem são forjadas. Partindo-se desse princípio, explicações são formuladas para ou invalidar a ocorrência ou a evidência fornecida, o que é muito mais fácil.

Em síntese: se uma imagem é o que está na cabeça de cada um, qualquer 'evidência' fotográfica que se apresente será sempre uma fraude na cabeça do cético, por princípio, porque ele entende que nada pode existir que ele já não conheça.

Os fenômenos psíquicos, por outro lado, não pertencem à classe das ocorrências ordinárias. Portanto, tais como fenômenos físicos de natureza material (raros e contextualizados por uma teoria), eles não podem ser facilmente negados pela invalidação de evidências fotográficas que se apresentem. O que torna os fenômenos psíquicos tão especiais são as condições de ocorrência que são, na sua imensa maioria, desconhecidas e totalmente não aparentes.

A possibilidade de existência de fraude está sempre garantida para todos os fenômenos, inclusive os de natureza material. Como haveremos então de nos posicionar quanto à realidade dos fatos? Se isso não é uma questão de resposta simples, mesmo com os fenômenos naturais que são objeto de pesquisa científica de causas materiais reconhecidas, podemos fazer ideia do grau de dificuldade que encontramos com os fenômenos supostamente 'insólitos' ou 'sobrenaturais'. Eles exigem a aceitação tácita de teorias bem fundamentadas, sem as quais é impossível avançar na compreensão desses fatos.

2 de novembro de 2011

Vídeo III - 'Visitantes da outra margem' - Fenômenos de Materializações descritos por Tom Harrison (Inglaterra)

Escrita direta obtida pela mediunidade de Minnie Harrison.
Os versos abaixo são de autoria de Jack Bessant, irmão de Minnie Harrison e foram obtidos através dessa médium em 1954. (ver original em Inglês abaixo)

Não chorem por mim, meus amados, pois estou ao vosso lado.
Não fui arrebatado a reinos desconhecidos ou levado por ignotas marés.
Não vos deixei sem cuidados - nunca pensem que vos faria isso;
Secai vossas lágrimas, levantai e sorride, ainda estou convosco.

Meu olhos que se fecharam agora estão abertos, minha visão clara e brilhante;
Onde dantes podia ver por janelas esfumaçadas, agora vejo a perene luz.
O véu simplesmente se levantou e os meus amados que se foram
Agora esperam por mim como nos velhos tempos de então.

O amor deles ainda me cerca. Seus Espíritos não se perderam;
E, agora, sei como sou conhecido - NÓS VIVEMOS! Não há morte!
Então, confortai vossos corações, livrai-vos da dúvida e do pavor;
Vivemos e caminhamos ao vosso lado - os vossos amados estão aqui.

Não vos aflijais por mim, meus queridos, livrem-se dessas lágrimas;
Caminharei convosco pelas escuras noites terrenas até o amanhecer de um novo dia.
Levantai vossos corações em agradecimento para vos unir a nós e cantar:
Ó, túmulo, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?

Fenômenos de escrita direta e aparições de luzes

Terceira parte do vídeo Visitantes da 'outra margem' com entrevista de Tom Harrision.


Conteúdo (5' 18'')

00:00 Continuação da palestra de Tom Harrison sobre voz direta obtida por meio de uma corneta;
01:33 Continuação da entrevista para Pat Hamblig;
02:22 Nova palestra onde Harrison descreve os primeiros fenômenos luminosos e de escrita direta obtidos no grupo;

Outros Vídeos


Referência
  • Visits By Our Friends From the "Other Side". Tom Harrison. Saturday Night Press Publications; Revised edition edition (February 23, 2011)
Original em Inglês

Mourn not for me my loved ones, For I am by your side,
I have not sped to realms unknown or crossed the rolling tide.
I do not leave you comfortless—think not I ever will;
So dry those tears, look up and smile, for I am with you still.

My eyes once closed are opened, my vision clear and bright;
Where once I looked through darkened glass, I see perpetual light.
The veil has just been lifted and my loved ones gone before
Are waiting now to welcome me, as in the days of yore.

Their love is still enfolding me, Their spirits have not fed;
And now I know as I am known—WE LIVE! There are no dead!
So let your hearts be comforted, cast out all doubt and fear;
We live and walk beside you—your loved ones still are near.

Grieve not for me my dear ones, just dry those tears away;
I'll walk with you through Earth's dark night until the break of day.
So lift your hearts in thankful praise and join with us to sing—
Oh, Grave where is thy victory? Oh, Death where is thy sting?