Fig 1. Ilustração do interior de um laboratório (provavelmente de química) no Século XIX (Wikipedia). |
Continuação do post anterior: "Comentários sobre a Gênese Orgânica de 'A Gênese' - II". Estudo sobre o Capítulo X de "A Gênese" de A. Kardec.
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Kardec faz uma breve introdução à química como resultado do reconhecimento de sua importância para a gênese orgânica. Enumera alguns dos elementos químicos, inclusive o nitrogênio que é o termo técnico para "azoto" [1], ainda presente no Português europeu. Kardec também cita um conjunto de condições externas necessárias para que algumas reações químicas ocorram como o calor, a presença de água, a agitação etc. Modernamente, pode-se falar em "condições ambientais" tais como temperatura, pressão, presença de elementos catalíticos e outras substâncias pelas quais uma determinada reação ocorre da forma mais eficiente possível.
O resultado de uma reação é sempre um "terceiro corpo" (ou mais corpos) que se pode chamar "produto da reação", com eliminação total ou parcial dos elementos iniciais conhecidos como "insumos" ou "ingredientes". Pode-se citar como prova, por exemplo, a reação de fotosíntese pela qual as plantas convertem o dióximo de carbono e a água em glicose e oxigênio. Para funcionar, a reação precisa de energia luminosa que, para as plantas, vem do sol:
Luz do sol + 6CO2(g) + H2O(l) = C6H12O6(aq) + 6O2(g)
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A decomposição e formação da água são apresentados por Kardec como exemplo de reações que podem ser feitas indefinidamente. Ou seja, as propriedades dos insumos e dos produtos são sempre recobradas após a reação, sem nenhum limite identificável. Logo, essas propriedades ligam-se exclusivamente aos elementos, não se esgotam ao longo de vários ciclos de reações. A decomposição da água pode ser feita por meio da eletrólise (Fig. 2), enquanto que a formação da água é uma reação química facilmentte obtida ao se combinar os dois gases na proporção certa (hidrogênio e oxigênio) usando calor.
Fig. 2 Diagrama da decomposição da água (Wikipedia). |
As propriedades das substâncias químicas depende do arranjo molecular delas. Esse arranjo define como ela interage com o ambiente (com outros gases, com a luz etc) e as propriedades sensíveis, isto é, como seres humanos percebem cada coisa formada por elas.
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É uma introdução sumária ao conceito de "afinidade química". Essa afinidade existe em determinados graus e depende do tipo de combinação, ou seja, dos compostos químicos que entram em reação. Em termos modernos:
Na química física, a afinidade química é uma propriedade eletrônica pela qual espécies químicas diferentes são capazes de formar compostos químicos. A afinidade química pode também se referir à tendência de um átomo ou composto combinar por meio de reação química com atomos e compostos de composição diferente [2].
O leitor deve observar que essa definição moderna considera a afinidade química como uma "propriedade eletrônica". No Século XIX, quando "A Gênese" foi publicada, o elétron não era ainda conhecido. De fato, a teoria atômica tinha caráter especulativo, visto que se entendia não haver "provas diretas" da existência dos átomos. A definição de afinidade química dada por Kardec está, porém, completamente de acordo com o conhecimento empírico da química, que não se alterou desde então.
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Dessa forma, era conhecimento empírico que, nas reações químicas, as quantidades têm que ser adicionadas em certas proporções entre os elementos. Kardec novamente usa como exemplo a água, que, nas condições normais de temperatura e pressão, se forma na proporção de dois volumes de hidrogênio para um de oxigênio. Hoje sabemos que essas combinações se devem à natureza atômica dos constituintes dos insumos. Mas, na época, isso era apenas uma especulação entre os cientistas. Essa teoria (chamada "atômica") foi lançada por J. Dalton (1766 – 1844) em 1803 e tinha como princípios [3]:
Elementos são feitos de particula extremamente pequenas chamadas átomos;
Átomos de um certo elemento são idênticos em tamanho, massa e outras propriedades; átomos de diferentes elementos diferem em tamanho, massa e outras propridades;
Átomos não podem ser subdivididos, criados ou destruídos;
Átomos de diferentes elementos combinam-se em razões inteiras para formar compostos químicos;
Nas reações químicas, átomos são combinados, separados ou rearranjados.
Embora possa soar natural a nós hoje em dia, essa era apenas uma das teorias existentes para explicar o comportamento das reações químicas.
Como evidência da necessidade de combinações em proporções inteiras e corretas, Kardec considera que, se um volume adicional de oxigênio for adicionado à reação inicial para formação da água, essa não se formará, mas, ao invés dela, o peróximo de hidrogênio (deutoxyde d'hydrogène na versão original em Francês), que é a água oxigenada.
Fig. 3 Ilustração moderna da molécula de água oxigenada ou o deutoxyde d'hydrogène citado por Kardec. |
Essa é uma substância líquida, viscosa e altamente tóxica, com propriedades bem diferentes da água (que, não é tóxica para o organismo humano).
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Kardec ilustra a "inumerável variedade" de compostos que resulta de "um número pequeno de princípios elementares" pela combinação desses princípios "em proporções diferentes". Na tabela abaixo, apresentamos as representações modernas dos compostos citados neste Parágrafo por Kardec com o objetivo de ilustrar seus exemplos de combinações químicas inorgânicas.
Citações de compostos químicos do Parágrafo
8 do Capítulo X de "A Gênese" de A. Kardec. |
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Oxigênio (O) |
Combinado a |
Formação |
Observação |
Carbono (C) |
Ácido Carbônico (H2CO3) |
Também chamado "dihidroxicabonila". |
|
Enxofre (S) |
Ácido Sulfúrico (H2SO4). |
Ou "sulfato de hidrogênio". |
|
Fósforo (P) |
Ácido Fosfórico (H3PO4). |
Ou "ácido ortofosfórico". |
|
Ferro (Fe) |
É citado o óxido de ferro da ferrugem que é formado
de Fe III (Fe3O4). |
Exisem ao menos 16 formas diferentes de óxidos de
ferro. |
|
Chumbo (Pb) |
PbO em diversas formas. |
Litargírio:
é o óxido de chumbo II com elevado grau de pureza, altamente tóxico e
encontrado na natureza [4]. Alvaiade:
carbonato de chumbo (2PbCO3·Pb(OH)2) [5]. Mínio:
também conhecido como Zarcão, é o tetróxido de chumbo (Pb3O4). |
|
Cálcio (Ca) |
Óxido de cálcio (CaO). |
Cal viva ou cal virgem [6]. |
|
Sódio (Na) |
Óxido de sódio ( Na2O). Hidróxido de sódio
(NaOH). |
O óxido de sódio é raramente encontrado [7]. NaOH também
é conhecido como soda cáustica. A soda é formada irreversivelmente
pelo óxido pela combinação com a água. |
|
Potássio (K) |
O hidróxido de potássio (KOH), mas também pode-se
falar do óxido de potássio (K2O). |
Também chamda potassa cáustica. O óxido de
potássio reage violentamente com a água. Raramente é encontrado. |
|
Cal (CaO) |
Ácido Carbônico (H2CO3) |
H2CO3 + CaO → CaCO3 + H2O |
Referência à formação do carbonato de cálcio. Cré (craie
em Francês): também conhecido como giz (chalk em Inglês) |
Ácido Sulfúrico (H2SO4) |
CaO + H2SO4 → CaSO4 + H2O |
Referência à reação de produçao de sulfato de cálcio
também conhecido como gesso. Alabastro pode tanto referir-se ao gesso
(sulfato) como à calcita (carbonato). |
|
Ácido Fosfórico (H3PO4) |
CaO + 2 H3PO4 → Ca(H2PO4)2 + H2O |
O fosfato de monocálcio (diortofosfato de monocálcio)
é usado como fertilizante. Os fosfatos de cálcio são de grande importância
para os ossos. |
|
Cloro (Cl) |
Hidrogênio (H) |
Cloreto de hidrogênio (HCl) |
Em condições ambientais é um gás que, ao contato com
o ar úmido forma o ácido hidroclórico (ou "ácido muriático"). |
Sódio (Na) |
Cloreto de Sódio (NaCl) |
Principal composto do sal de cozinha. |
Referências
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Azoto
[2] https://en.wikipedia.org/wiki/Chemical_affinity
[3] https://en.wikipedia.org/wiki/John_Dalton
[4] Litargírio: https://pt.wikipedia.org/wiki/Litarg%C3%ADrio
[5] Alvaiade: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alvaiade
[6] Cal: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cal
[7] Óxido de sódio: https://en.wikipedia.org/wiki/Sodium_oxide
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