19 de abril de 2021

Comentários sobre "Uranografia geral" de "A Gênese" de A. Kardec - IV

Ilustração das várias formas das nebulosas conhecidas em 1853.
(Working Men's Educational Union, Museu Marítimo Nacional, Greenwich, Londres, UK) 
 

Continuação do post anterior: Comentários sobre "Uranografia geral" de "A gênese" de A. Kardec - III.

Obra completa contendo todos os comentários e a conclusão.

Comentários sobre "A criação universal"

17

Retoma-se o tema sobre o  fluido (cósmico) universal. Essa matéria é descrita como contendo "os elementos materiais, fluídicos e vitais de todos os Universos" já que, como vimos, o Universo presente não é a manifestação física e una do Universo real, que sempre existiu. Criada desde o princípio, essa substância descrita como a "avó" e "eterna geratriz" de tudo, nunca deixou de criar e receber os despojos das criações em estágios avançados de decomposição de "mundos que se apagam do livro eterno".

O autor ilustra o tema com exemplos da Astronomia: 
...esse fluido cósmico que enche o mundo, mais ou menos rarefeito, nas regiões imensas, ricas de aglomerações de estrelas; mais ou menos condensado onde o céu astral ainda não brilha; 
O que quereria o autor implicar com essa passagem? Trata-se provavelmente da descrição dos diversos tipos de densidade observáveis nas chamadas "nebulosas" que enchem o céu e que podem ser observadas com ou sem instrumentos ópticos. Em especial, a referência ao "céu astral" nos faz lembrar da famosa "nebulosa do Saco de Carvão" (Coalsack nebula) ou "Macula Magelani" (a mancha de Magalhães) encrustada na região do Cruzeiro do Sul, como mostra a Fig. 1. Ela é a mais extensa região escura pertencente à Via-Láctea, descoberta em 1499, e pode ser vista no hemisfério sul em regiões sem poluição luminosa [19].

Fig. 1 Região "onde o céu astral ainda não brilha" mostrando uma nebulosa de absorção na região do Cruzeiro do Sul. É uma prova da distribuição de uma matéria primitiva no espaço, responsável por criar novas estrelas e mundos.

Essa grande região no céu está localizada a 590 anos-luz de distância e ilustra bem a presença de uma matéria espalhada por vastas regiões do céu e que, por ser bastante densa, bloqueia a luz das estrelas. Hoje sabemos que, da condensação de nuvens como essa, nascem novas estrelas e novos mundos, em concordância com o texto do "Uranografia geral".

O comentário de Kardec prove uma comparação que nos permite entender como é possível que o fluido universal, como princípio, possa estar na "substância mesma que o produz". Kardec fornece como exemplo a elasticidade (princípio), que é uma propriedade da mola e, ao mesmo tempo, depende da maneira como os átomos se agregam na matéria. Com isso, ele ilustra como, de um mesmo princípio, é possível extrair tantos comportamentos ou "aparências" diversas. Em consonância com o ensino do autor de "Uranografia Geral", há dependência tanto com a densidade como com a maneira pela qual a matéria se distribui  ou "é modificada", o que explica a variedade dos efeitos.

18

A criação da vida é proposta em “Uranografia Geral” a ocorrer no interior das nuvens interestelares pela presença do fluido:
Esse fluido penetra os corpos, como um oceano imenso. É nele que reside o princípio vital que dá origem à vida dos seres e a perpetua em cada globo, conforme a condição deste, princípio que, em estado latente, se conserva adormecido onde a voz de um ser não o chama.
Essa seção contém afirmativas que merecem um texto de análise, pois se referem ao processo de criação da vida, mencionando uma forma de vitalismo que, aparentemente, foi “suplantado” pela teoria da abiogênese. Sou do entendimento, entretanto, que é necessário reinterpretar essas concepções antigas, considerando que a abiogênese não foi ainda demonstrada, embora seja a crença dominante. 

O fluido cósmico, de fato, já contém esse princípio que resulta na vida:
Muito importa nos compenetremos da noção de que a matéria cósmica primitiva se achava revestida, não só das leis que asseguram a estabilidade dos mundos, como também do universal princípio vital que forma gerações espontâneas em cada mundo, à medida que se apresentam as condições da existência sucessiva dos seres e quando soa a hora do aparecimento dos filhos da vida, durante o período criador.
Coincidentemente, técnicas modernas detectaram a presença de inúmeras moléculas orgânicas complexas em nuvens interestelares. Por exemplo, o álcool etílico foi detectado por meio de assinaturas espectrais em nuvens cósmicas por meio de radiotelescópios [20]. Esse é um exemplo de composto encontrado na Terra como subproduto do metabolismo de seres vivos, mas que também está disseminado no espaço. 

Algumas outras moléculas encontradas nas vastidões do espaço foram: acetona, éter dimetílico, acetato de metila, benzeno, ácido acético, metilacetileno, metanol, etileno, acetona, benzonitrila etc [21]. Finalmente, ácido cianídrico foi encontrado no espaço. Essa molécula é uma importante ingrediente para a formação da guanina, um dos elementos do ácido desoxirribonucleico (DNA) conhecido como a "hélice da vida". 

Nada disso era sequer imaginado na época em que "A Gênese" de Kardec foi publicada, e hoje podemos afirmar que, de fato, os "elementos da vida" estão disseminados no espaço. 

19 

Finalmente a descrição da criação toca na difícil questão da origem dos Espíritos. O autor deixa claro que não é autoridade no assunto “em virtude de sua própria ignorância”. Como que pressentindo ecos de debates acirrados em um futuro distante, exorta o leitor a não tomar suas palavras de forma literal. O dilema até hoje não resolvido é sobre o papel dos animais na criação dos Espíritos. As questões 606, 607 e 607(a) de "O Livros dos Espíritos" (Capítulo 11) estabelecem de alguma forma a origem comum da alma humana e a dos animais. Consoante esse princípio também declara o autor:
O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização.
Tudo isso está de acordo com o que já havia sido passado a Kardec quando da preparação de “O Livro dos Espíritos”. Ainda assim, o auto teria preferido calar-se “sobre tão elevadas questões, tão acima das nossas meditações ordinárias” a desnaturar o sentido do estudo que procura desenvolver.

Referências

[20] Zuckerman, B.; et al. (1975), "Detection of interstellar trans-ethyl alcohol", Astrophysical Journal, 196 (2): L99–L102.
[21] Wikipedia. List of interstellar and circumstellar molecules. https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_interstellar_and_circumstellar_molecules#cite_note-apj196-165

12 de março de 2021

Comentários sobre "Uranografia geral" de "A Gênese" de A. Kardec - III

Mapa do universo observável como concebido em 1875.
A posição do sol é indicada cuidadosamente fora do "centro".

Continuação do post anterior: Comentários sobre "Uranografia geral" de "A gênese" de A. Kardec - II.


Comentários sobre "A criação primária".

12

O autor apresenta um planejamento para sua discussão sobre a origem do Universo.

13

A distinção entre a noção de tempo e eternidade é relembrada. Essa última é um conceito único, anterior ao próprio tempo e responsável pela “fecundação do espaço”. Ela se associa ao Criador que tem poder infinito. Para o autor de “Uranografia Geral”, não é possível um começo para o Universo – ou seja, ele sempre existiu – nem sua manifestação presente é aquela que sempre existiu.

14
Existindo, naturalmente, desde toda a eternidade, Deus criou por toda esta eternidade e não poderia ser de outro modo, visto que, por mais longínqua que seja a época a que recuemos, pela imaginação, os supostos limites da criação, haverá sempre, além desse limite, uma eternidade...
Aqui é retomada ideia semelhante à da invariância em relação à extensão do espaço, que foi assunto tratado em “O espaço e o tempo”. Mas, agora, uma invariância do tempo. Se o Universo não tem fim espacialmente, ele não deve ter tido começo no tempo – o que leva à ideia de um universo que “sempre existiu”. A palavra “hipóstase” é usada na Seção 14 no seu sentido religioso: a substância ou estado subjacente como realidade a alimentar tudo que existe. Assim, as “divinas hipóstases” jamais teriam permanecido inativas no passado, uma “eternidade de morte aparente para o Pai eterno”, ou “mutismo indiferente do Verbo”. De novo: o autor não reconhece a existência de um princípio definível para o início do Universo.

A Cosmologia moderna afirma que o Universo teve um início há 13 bilhões de anos segundo a chamada teoria da “grande explosão” (Big Bang). A ideia está baseada em parte no “desvio para o vermelho” observado nas galáxias, que seria uma prova de que o Universo está em expansão e que, portanto, houve uma época em que toda a matéria estaria confinada em um único ponto: a “grande singularidade”. 

Entretanto, essa não é a única teoria que existe. Recentemente, uma equipe de astrônomos indianos [15] desafiou a hipótese ao mostrar que, usando uma base de dados maior, os desvios para o vermelho exibem, de fato, uma oscilação que torna a ideia de expansão em larga escala inviável. Pode-se dizer assim que, modernamente, as teorias repousam sobre medidas experimentais [16] que podem ser refeitas e resultar na modificação dessas mesmas teorias. 

Fig. 1 Como seria o fim do Universo? Em uma teoria cosmológica, depois da "fase de expansão" ocorreria a "grande contração" (Big Crunch) e o Universo voltaria ao seu estágio super denso original. Na verdade, assim, não haveria uma "origem" do Universo, mas nossa época é apenas uma em uma infinidade de "universos sucessivos".

Ainda que o “universo presente” tenha tido sua origem na singularidade postulada, nada impede que nosso universo seja apenas uma de suas inúmeras fases. Isso seria possível se, depois da “grande expansão” viesse a “grande contração” como algumas teorias cosmológicas afirmam (Fig. 1). Dessa forma, a questão da “origem última” ou o “fiat lux do início” permanece inacessível.

15

Considerado como sem origem no tempo, nosso universo, entretanto, teve uma infância. Aparentemente apoiado na ideia de “criações sucessivas” (“as sucessivas aparições delas no domínio da existência constituem a ordem da criação perpétua”), o autor apresenta uma descrição da época quando o “Universo nasceu criança”:
Que mortal poderia dizer das magnificências desconhecidas e soberbamente veladas sob a noite das idades que se desdobraram nesses tempos antigos, em que nenhuma das maravilhas do universo atual existia; nessa época primitiva em que, tendo-se feito ouvir a voz do senhor, os materiais que no futuro haviam de agregar-se por si mesmos e simetricamente, para formar o templo da natureza, se encontraram de súbito no seio dos vácuos infinitos...
Houve um tempo assim em que nosso Universo não existia como o vemos hoje, a matéria estava desagregada no espaço – ainda que criada a partir da aglomeração de uma substância primitiva (o fluido universal). As leis físicas já existentes deram “impulso” a essa matéria primitiva de forma a criar “turbilhões” e “amontoados de matéria nebulosa” que se dividiram e se modificaram ao longo do tempo. Foram inúmeros os “centros de criações simultâneas e sucessivas” que se produziram no espaço. As diferenças de densidade produziram centros que haveriam de dar à luz a “focos de uma vida especial”, não, porém, na mesma intensidade.

16

E também houve um tempo em que a Terra não existia. Curiosamente, o autor declara que, nessa época,
...já esplêndidos sóis iluminam o éter; já planetas habitados dão vida e existência a uma multidão de seres, nossos predecessores na carreira humana; que as produções opulentas de uma natureza desconhecida e os maravilhosos fenômenos do céu desdobram, sob outros olhares, os quadros da imensa criação.
Isso está absolutamente de acordo com a opinião científica moderna, de que outras civilizações já existiam muito antes da Terra ter sido criada. Essa, com uma idade de “apenas” 4 bilhões de anos, foi um dos últimos mundos a florescer em um Universo que já era velho quando ela se formou. Por outro lado, muitos desses mundos antigos não mais existem, “já deixaram de existir esplendores que muito antes fizeram palpitar o coração de outros mortais”. E, da mesma forma como a humanidade encarnada crê erroneamente estar perdida em um único ponto do espaço, ela também acreditar ser a última fase da evolução do Universo,  "nos cremos contemporâneos da criação”.

Para o leitor desatento, a leitura do último parágrafo da Seção 16 parece repetir algum assunto já colocado pelo autor de "Uranografia geral". Na verdade esse último parágrafo é muito interessante, porque nele o autor expões sua opinião sobre a "controvérsia da nebulosas", que não foi resolvida antes de 1920 com o chamado "Debate Shapley-Curtis" (Fig. 2). 

Fig. 2 H. Shapley (esquerda) e H. Curtis protagonizaram um debate sobre a "controvérsia das nebulosas". Curiosamente, o assunto é esclarecido também no "Uranografia Geral" de "A Gênese".

Primeiro o contexto: até o desenvolvimento de placas fotográficas sensíveis, a observação das chamadas “nebulosas”, mesmo que feita com telescópio potente, nunca pôde revelar sua verdadeira origem. Também contava o fato de que não existiam métodos confiáveis de se medir distâncias estelares. Apenas algumas estrelas (mais próximas) tinham permitido cálculos precisos de distância. A imensa maioria delas permanecia fixada em um “fundo” aparentemente equidistante da Terra, porque se localizavam a uma distância muito superior ao que a técnica podia medir.

Na época de “A Gênese” (e mesmo depois), formaram-se dois grupos rivais na astronomia:
  • Um grupo que acreditava que todas as nebulosas pertenciam a nossa “Via-Lactéa” que representava tudo o que existiria em nosso Universo.
  • Outro grupo achava que algumas nebulosas, principalmente aquelas que se mostravam como espirais ou “redemoinhos” como se dizia na época, eram, na verdade outras “Vias-Lácteas” (essa ideia foi defendida desde o Séc. XVIII por I. Kant [17]).
O problema era nitidamente de resolução ou limitação experimental, mas também implicava visões distintas do universo. Acreditar que algumas nebulosas eram “universos-ilhas” iria muito além do concebível para a visão do final do Século XIX.

A controvérsia somente foi resolvida a favor da ideia das galáxias em um debate público [18] promovido pelo Museu Smithsonian de História Natural em abril de 1920, quando argumentos favoráveis e contra a noção de galáxias foram colocados por dois grandes expoentes da astronomia do Século XX: H. Shapley (1885-1972) e H. Curtis (1872-1942). 

Shapley era contra a ideia de galáxias e achava que a Via-Láctea era tudo que existia no Universo. Curtis era favorável à teoria dos “universos-ilhas”. Curtis aparentemente venceu o debate mostrando que se podiam observar muitas “novas estrelas” na nebulosa de Andrômeda, o que não seria o caso se essa se localizasse na Via-Láctea. A controvérsia somente foi definitivamente resolvida quando E. Hubble (1889-1953) mediu finalmente as distâncias das nebulosas espirais, mostrando que elas estavam muito mais distantes do que as estrelas da Via-Láctea.

Eis, porém, o que havia colocado o Espírito de Galileu em um trecho do último parágrafo da Seção 16:
Tais nebulosas, que mal percebemos nos mais longínquos pontos do céu, são aglomerados de sóis em vias de formação; tais outras são vias lácteas de mundos habitados; outras, finalmente, sedes de catástrofes e de perecimento.
Ele esclarece corretamente, que algumas das nebulosas eram “aglomerados de sóis em vias de formação” ou “sedes de catástrofes e de perecimento” – o que corresponde às nebulosas pertencentes à Via-Láctea (respectivamente, tanto os “berçários estelares” como as “nebulosas de explosão de estrelas”), enquanto que “outras são vias-lácteas de mundos habitados”, ou seja, correspondem à noção moderna de “galáxias”.

Para o autor de “Uranografia Geral”, há uma simetria entre nossa posição entre uma “infinidade de mundos” e o fato de nos colocarmos no meio de uma infinidade de “durações, anteriores e ulteriores”, tudo porque “atrás de nós, como à nossa frente, está a eternidade”.

Referências

[15] Mal, A., Palit, S., Bhattacharya, U., & Roy, S. (2020). Periodicity of quasar and galaxy redshift. Astronomy & Astrophysics, 643, A160. https://www.aanda.org/articles/aa/abs/2020/11/aa30164-16/aa30164-16.html 
[16] Arp, H. (2001). O Universo Vermelho: desvios para o vermelho, cosmologia e ciência acadêmica. Ed. Perspectiva.
[17] Schultz, D. (2012). The Andromeda Nebula and the Great Island-Universe Debate. In The Andromeda Galaxy and the Rise of Modern Astronomy (pp. 135-155). Springer, New York, NY.
 


14 de fevereiro de 2021

Comentários sobre "Uranografia geral" de "A Gênese" de A. Kardec - II

Aparelho para produção de espectros (1878).



Comentários sobre "As leis e as forças"


8

O autor faz uso de uma bela comparação (que faz eco à alegoria da "caverna de Platão" [12]) para descrever o estado de conhecimento da ciência. Uma imagem em que seres oceânicos, deixando o fundo do mar, tomam conhecimento da realidade acima da superfície. O conhecimento que podemos fazer da Natureza que nos cerca está ainda no primeiro estágio, em que ainda apenas exploramos as cercanias das profundezas do oceano em que vivemos, muito longe da realidade acima da superfície. A comparação é clara e se aplica mesmo ao estágio de conhecimento em que chegamos. Por mais que tenhamos avançado, os passos são pequenos diante da grandiosidade do Universo. Kardec faz um comentário relevante sobre essa comparação em que ele a estende ao estado do conhecimento humano sobre a vida além da morte.

9

Explica-se aqui o escopo da discussão sobre "as leis e as forças". Como desencarnado, o autor está em uma posição privilegiada para estudar fenômenos inacessíveis para os encarnados. Mas, ao mesmo tempo, é um "ser relativamente ignorante em face da ciência real", o que reafirma seu despojamento e modéstia: ele não se apresenta como autoridade do assunto.

10 

Há um "fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos". Hoje, algumas pessoas poderiam entender isso como ecos da "teoria do éter" de que falava os “eletricistas” do século XIX. Essa teoria soçobrou no início do século XX com a relatividade, que dispensou o "éter luminífero" para explicar o comportamento da luz e da radiação. Entretanto, cremos que se trata de uma interpretação precipitada e literal. O texto sequer toca em outros detalhes relevantes que conduziriam a essa conclusão. O éter luminífero postulado pela Física do século XIX era algo inerte, passivo, apenas imaginado como meio que facultava a propagação da radiação e nada mais.

Ao contrário, o autor descreve o fluido como uma substância em que:
...são inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo.
Conceitos dominantes posteriormente, como a ideia de "campos", estavam em fase embrionária de desenvolvimento. O éter universal é aqui descrito como responsável pela "gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa", além de ser capaz de presidir "às metamorfoses da matéria". Isso seria, certamente, algo fantasioso para a época, mas hoje faz muito mais sentido. Para entender  isso, é preciso apreciar para onde conduziram as investigações da Física desde as descobertas da radioatividade no final do século XIX. 

Depois das investigações iniciais, ficou claro que os constituintes da matéria, os átomos, poderiam ser divididos em partículas menores. Essas, por sua vez, mostraram-se igualmente fluidas: por meio de colisões feitas em equipamentos especiais (aceleradores de partículas), uma vasta e complexa rede de “interações elementares” entre as partículas foi revelada. Algumas dessas interações ocorriam de forma espontânea: alguma coisa no “espaço vazio” provocava a decomposição “automática” das partículas que começaram a ser interpretadas como “estados ligados” de uma matéria ainda mais elementar [13]. 

Esse conhecimento finalmente transformou a ideia do antigo éter estático da propagação da luz na noção do "vácuo quântico" como uma substância que permeia todo o Universo, que não pode ser "esvaziado" de nenhum lugar e que tem papel fundamental na criação da matéria. O qualificativo "quântico" modifica completamente a noção de vazio como uma região do espaço onde toda a matéria tenha sido retirada e em que apenas propriedades geométricas podem ser associadas. Para a Física Quântica não é possível anular o conteúdo de energia de um sistema. Assim, o vácuo quântico é definido como o estado de menor energia possível para um "campo", o novo conceito que substituiu a noção de matéria clássica. Por isso, embora vazio de partículas "físicas", esse novo vácuo permite a criação incessante de partículas "reais " a partir de sua "energia de ponto zero".

O "efeito Casimir" é uma fraca força mecânica que aparece entre placas paralelas pela presença do vácuo quântico.

Além de suas ricas propriedades dinâmicas, como exemplo, citamos um dos efeitos notáveis do vácuo : "efeito Casimir" [14].  Esse efeito é uma força mecânica de atração que aparece quando placas metálicas são colocadas face a face. O vácuo quântico é responsável pelo aparecimento dessa força. Esse novo vazio é, na verdade, uma nova substância, que, se modificada ou excitada de forma particular, pode gerar a enorme variedade de partículas e campos que compõe a matéria tangível. Nosso despretensioso estudo conduz naturalmente assim para uma possível interpretação do "fluido cósmico" de que fala o autor de "Uranografia Geral" para essa nova noção de vácuo. Ainda assim, é preciso cautela porque é bem possível que não tenhamos conhecimento científico "final" sobre esse estado primitivo da matéria cósmica fundamental. 

11

Esta seção se apresenta como uma conclusão da exposição sobre "as leis e as forças": a síntese  se encontra na unidade observada das leis universais (algo que, modernamente, tem relação com a possibilidade de "unificação" das leis da Física) que são eternas. É um sonho antigo - ainda não plenamente realizado - descrever todas as leis e forças a partir de uma única lei. A causa dessa incapacidade em se chegar até a lei mais fundamental de todas é que "são restritas e limitadas as forças que a representam no campo das vossas observações". Há, portanto, outras manifestações de força ainda ocultas à observação da ciência da época e, provavelmente, mesmo da nossa. 

Além da dualidade "unidade-variedade", o texto também faz referência ao princípio de conservação: "Percorrendo os degraus da vida, desde o último dos seres até Deus, patenteia-se a grande lei de continuidade". A aplicação das leis universais "secundárias" (em oposição à lei primária "universal") é descrita como agindo:
...necessariamente em tudo e em toda parte, modificando suas ações pela simultaneidade ou pela sucessividade, predominando aqui, apagando-se ali, pujantes e ativas em certos pontos, latentes ou ocultas noutros, mas, afinal, preparando, dirigindo, conservando e destruindo os mundos em seus diversos períodos de vida, governando os maravilhosos trabalhos da Natureza, onde quer que eles se executem, assegurando para sempre o eterno esplendor da criação.
Então, a partir de modificações e gradações de aplicação dessa, surgem "leis secundárias" e outros princípios que atuam como causas para a enorme variedade de manifestações observadas no Universo. Essa conclusão corresponde à ideia moderna de que podemos "reduzir" as variedades de fenômenos observados a causas mais fundamentais. Porém, nossa incapacidade em reconstruir essa redução repousa em nossa limitação de observação. Como nossos sentidos são limitados, não temos acesso a todo conjunto de fenômenos que existem. Portanto, não temos informação suficiente para se remontar à causa mais fundamental da lei universal. 

Continua no próximo Post com "A criação primária".

A conclusão de nosso estudo será publicada no último post. 

Referências

[12] Wright, J. H. (1906). The origin of Plato's Cave. Harvard Studies in Classical Philology, 17, 131-142.
[13] Moreira, M. A. (2009). O modelo padrão da física de partículas. Revista Brasileira de Ensino de Física, 31(1), 1306-1.
[14] M. V. Cougo-Pinto, C. Farina e A. Tort (2000). O Efeito Casimir. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 22, n. 1.





15 de janeiro de 2021

Comentários sobre "Uranografia geral" de "A Gênese" de A. Kardec - I

Cometa de Donati sobre uma Paris sem luz elétrica como visto em 1858.

Obra completa contendo todos os comentários e a conclusão.

Fazemos aqui alguns comentários sobre o Capítulo VI “Uranografia Geral” de "A Gênese" de A. Kardec. Nosso objetivo é comentar o conteúdo desse capítulo no contexto de sua época, e indicar algumas mudanças que aconteceram nas concepções científicas de Astronomia e Cosmologia desde que o texto desse capítulo foi publicado.

Não nos move nenhum interesse em “atualizar” a Gênese, o que seria algo absurdo, mas apenas informar o leitor sobre o que teria eventualmente mudado em nossas concepções científicas desde o Século XIX. O uso da 5ª edição não afetará quaisquer conclusões a respeito do que apresentamos aqui sobre a Uranografia. Isso porque o referido capítulo tem como base em textos de C. Flammarion (como médium) que foram produzidos na Sociedade Espírita de Paris entre 1862 e 1863.

No que segue, pare evitar que o texto do post fique muito longo, comentamos as passagens identificando-as conforme o parágrafo em que aparecem na referência [4]. Quando necessário é feita citação expressa da passagem. É importante dizer que o relato da "Uranografia Geral" se refere a detalhes que pouco afetam o caráter da Revelação Espírita e sua importância. Entretanto, Kardec provavelmente resolveu incluir esse capítulo, pois ele seria uma "síntese" do que se conhecia na época no tema em consonância com a nova doutrina então nascente.


Comentários sobre “O Espaço e o tempo”

1

Atenção: chamamos de "seção" os itens numerados conforme a denominação de "parágrafos".

Essa seção se inicia com uma definição e alguns comentários sobre concepções antigas de espaço na forma da “extensão que separa dois corpos”. O autor do texto declara que o espaço é “infinito, pela razão de ser impossível imaginar-se lhe um limite qualquer”. O argumento é que é mais fácil imaginar um espaço em que se avança “eternamente” do que algo que chegue a um fim, o que seria a “fronteira do Universo” além da qual nada existiria. Essa concepção de espaço (que tem implicações para o tamanho do Universo) é, de fato, bem antiga e já aparecia aos antigos gregos. 

O que sabemos hoje: do ponto de vista científico apenas podemos afirmar que o Universo observável é limitado, mas não fazemos ideia se ele é finito ou não. Alguns teóricos, movidos pelas novas concepções de “curvatura do espaço” da Relatividade Geral acreditaram ser possível dizer que o Universo é “finito, mas ilimitado”. Com isso, um caminhante jamais atingiria limite algum ao percorrer uma superfície curva (fechada sobre si), que, apensar disso é finita. A realidade é que não sabemos a resposta para essa questão porque ela depende de forma crucial do avanço do conhecimento em Cosmologia. 

A partir do 4º parágrafo da seção, o autor usa de uma analogia para explicar o que ele entende por infinitude do espaço. Nessa figura, a “velocidade da centelha elétrica” é usada para descrever o movimento de um observador a “milhões de léguas por segundo”. Hoje sabemos que essa velocidade é da ordem de 100 mil quilômetros por segundo (ou 1/3 da velocidade da luz) [5]. A palavra “légua” refere-se a uma unidade antiga usada antes do sistema métrico e que correspondia a uma distância entre 5 ou 6 quilômetros (a légua imperial tem 4,82 quilômetros). Ou seja, nessa unidade, a velocidade do relâmpago seria algo como 16 mil léguas por segundo. 

A velocidade mais rápida que existe é a velocidade da luz no espaço livre: cerca de 300 mil quilômetros por segundo. Esse valor, ou algo próximo dele, já era conhecido desde, pelo menos, 1676 quando Olaf Römer [6] mediu o valor de 211 mil quilômetros por segundo. E, já em 1848, H. Fizeau [7] foi capaz de medir um valor mais próximo do atual. 

Chama a atenção este trecho:
Ora, há apenas poucos minutos que caminhamos e já centenas de milhões de milhões de léguas nos separam da Terra, bilhões de mundos nos passaram sob as vistas e, entretanto, escutai! Em realidade, não avançamos um só passo que seja no Universo.
Mesmo viajando a velocidade da luz, para “passar de vista” bilhões de mundos, seriam necessários centenas ou milhares de “anos-luz” e não “poucos minutos” (pelo menos para os encarnados...). Embora a imprecisão na descrição (?), o autor teve como objetivo passar a ideia de que, por mais que se caminhe em qualquer direção no Universo (isotropia) a partir de qualquer ponto (homogeneidade) muito pouco se avança diante de um universo infinito. Se o Universo for realmente infinito, essa conclusão é correta.

2

O autor do texto repete nessa seção por três vezes a definição: “o tempo é apenas uma medida relativa da sucessão de tempo das coisas transitórias”, o que o torna indistinguível da ideia de “duração”. Numa época em que espaço e tempo não poderiam ser vistos com aspectos de uma mesma realidade, o autor conclui acertadamente que, se o espaço é infinito, então o tempo também deve ter duração infinita. A infinitude do espaço exige a eternidade do tempo: “Imensidade sem limites e eternidade sem limites, tais as duas grandes propriedades da natureza universal”. 

Para a noção de eternidade o autor usa da mesma figura da infinitude do Universo:
O inconcebível amontoado de séculos que nos passaria sobre a cabeça seria como se não existisse: diante de nós estaria sempre toda a eternidade.
Junto a tal conclusão, a Seção 2 descreve uma imagem para a origem do tempo que nos lembra uma descrição bíblica:
Mas, silêncio! soa na sineta eterna a primeira hora de uma Terra insulada, o planeta se move no espaço e desde então há tarde e manhã. Para lá da Terra, a eternidade permanece impassível e imóvel, embora o tempo marche com relação a muitos outros mundos.
Com isso o autor quis dizer que a noção de tempo se prende a um local, o tempo terreno (como medida de sucessão das coisas) começou assim que a Terra se formou e terminará quando ela tiver o seu último dia. Isso não impede que existam “outros tempos” em outros mundos: “tantos mundos na vasta amplidão, quantos tempos diversos e incompatíveis”. Essa ideia diferia da concepção então vigente na época – a noção clássica de simultaneidade universal porque o tempo era considerado absoluto. Para ver isso, relembramos a definição de Newton [8]:
O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e da sua própria natureza, flui uniformemente sem relação com qualquer coisa externa e é também chamado de duração.
Hoje sabemos, com a teoria da Relatividade Restrita, que a noção de tempo “como sucessão das coisas” é, de fato, uma medida local e que não há compatibilidade entre as “medidas de tempo” entre referenciais diferentes que não estão “sincronizados”.  

Comentários sobre "A matéria"

3

Essa seção se inicia chamando a atenção para a diversidade de aparências da matéria. Disso concluímos que, “à primeira vista”, matéria é aquilo que sensibiliza diretamente aos sentidos humanos. Mas, logo no segundo parágrafo, o autor anuncia um “princípio absoluto” pelo qual:
Todas as substâncias, conhecidas e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam, quer do ponto de vista da constituição íntima, quer pelo prisma de suas ações recíprocas, são, de fato, apenas modos diversos sob que a matéria se apresenta; variedades em que ela se transforma sob a direção das forças inumeráveis que a governam. 
Para entender isso, é preciso rever a questão, p. ex., 30 de “O Livro dos Espíritos” [9] onde se lê que a matéria é formada “de um só elemento primitivo”. Esse é um conceito fundamental no Espiritismo de Kardec, que contrastava com o conhecimento da Química e da Física do Século XIX. Sua origem está na definição de matéria, que é dada na questão 22a em “O Livro dos Espíritos” e no desenvolvimento subsequente que podemos ler nas questões 32 e 33. 

4

O texto chama a atenção para as descobertas recentes da Química, de que se poderia reduzir a matéria a combinações de elementos. Na p. 110 de [4], há uma nota com a relação dos elementos conhecidos então. Na época em que “A Gênese” foi lançada, os estudos sobre pesos atômicos já indicavam a “natureza quantizada” das massas dos elementos químicos, o que era uma indicação de que eles seriam formados por unidades discretas. Mas, tão só pela manipulação química, nunca foi possível decompor ainda mais nenhum dos elementos. A intenção do autor foi indicar possíveis “reduções adicionais” uma vez que declara que:
(a ciência da época)...os considera primitivos e indecomponíveis e que nenhuma operação, até hoje, pode reduzi-los a frações relativamente mais simples do que eles próprios. 
O ponto fundamental, que deve prender a atenção o leitor, é que ainda não havia sido descoberta a radioatividade. Essa nova área da Física permitiria a “redução a frações mais simples” dos elementos químicos então conhecidos. A história da radioatividade [10] se iniciou com a descoberta por H. Becquerel em 1895 de raios específicos gerados por determinados materiais, a partir da busca por “novos raios” como o Raio-X feita por W. Röntgen em 1895. Destacam-se ainda as descobertas do elétron (por J. J. Thomson em 1897) e da fissão nuclear (por L. Meitner e O. R. Frisch em 1938). 

Imagem de um antigo laboratório de farmácia. Na época de "A Gênese", a química tinha reduzido a matéria a um conjunto de "elementos químicos" irredutiveis. Nossa situação presente é a mesma: a matéria foi reduzida a um conjunto de "partículas e subpartículas elementares" (quarks, elétrons etc) que também são "irredutíveis".

Hoje podemos afirmar que todos os elementos químicos são de certa forma redutíveis a combinações de: o hidrogênio ionizado H+ (também conhecido como próton, que é o elemento mais leve e abundante no Universo conhecido), o nêutron (sem carga e com massa equivalente ao próton), além do elétron, de carga negativa, necessário para dar estabilidade ao conjunto. Cada elemento químico seria então formado por combinações dessas "substâncias mais primitivas". 

Mas prótons, nêutrons e elétrons não podem ser decompostos? A ideia de continuar a decomposição teve que esperar inúmeros outros desenvolvimentos na física de partículas. Chegamos hoje, por exemplo, à “teoria dos quarks” (de Gell-Mann e Zweig em 1964 [11]) que seriam os blocos fundamentais dos “hádrons” (prótons e nêutrons). Entretanto, essas partículas não podem ser “isoladas” e seus efeitos são inferidos indiretamente. 

Portanto, voltamos à mesma situação da Química do século XIX que não conseguia decompor os elementos então conhecidos em unidades ainda menores...Em certo sentido, isso é um retorno à "teoria dos quatro elementos" de que fala o autor de "Uranografia Geral". Embora os conceitos sejam muito diferentes e não possam ser comparados, a ideia é reduzir todas as variedades possíveis de matéria à combinações de elementos primitivos, no caso presente, partículas e subpartículas atômicas.

5

O autor reafirma a crença de que a matéria é formada de apenas um elemento: a "matéria cósmica primitiva" que participa, por associação aos corpos, da constituição desses. Como toda matéria, para existir, precisa de certa energia para se formar, a afirmação pode hoje ser interpretada como uma referência à energia primordial de que o Universo foi dotado desde sua criação, sem a qual não seria possível ter todas as variedades de matéria. Para "formar o Universo" não seria suficiente dotá-lo de matéria apenas, mas também de energia. Por causa das transformações nucleares, as duas coisas - matéria e energia  - acabam se confundindo. 

Hoje sabemos que essa energia existe disseminada em todo o espaço e, de suas flutuações, a matéria é  "criada".

6

O autor espiritual confessa o estado de ignorância em que ele se encontra para emitir opiniões sobre determinadas questões (de caráter científico). Isso é uma demonstração de sua humildade, talvez a razão de Kardec ter incluído a  "Uranografia Geral" em "A Gênese". Ele reafirma então sua crença na "unicidade da matéria", no sentido que ele conferiu anteriormente.

7

Outros argumentos são fornecidos para a ideia da matéria cósmica primitiva: a de que as diversidades observadas da matéria tangível se devem a um "número ilimitado de forças" que atuam transformando seus constituintes, o que foi plenamente verificado pelo desenvolvimento científico. 

A referência aos "fluidos propriamente ditos" não diz respeito somente aos "fluidos magnéticos" ou de natureza "espiritual" que encontramos em "O Livro dos Espíritos" e que fundamentam o Espiritismo, mas também a outros, que, no século XIX eram responsáveis pela atuação de "forças a distância" (como o fluido elétrico e o magnético propriamente dito). 

Hoje sabemos que, o Universo, mesmo onde ele é considerado "vazio", está repleto de um tipo de matéria que nos escapa à apreensão direta. Das flutuações nesse vazio, a matéria pode nascer, o que não era conhecido na época em que "A Gênese" foi lançada.

Não sabemos, entretanto, se os constituintes das partículas elementares podem ser decompostos ainda mais. Recentemente, inúmeros outros problemas - como o da "matéria escura" [12] - apareceram e desafiam as teorias vigentes. Entretanto, todos esses fluidos, para existir, necessitam de energia, o que é uma razão para associar esse elemento primitivo à energia primordial. Como o espaço considerado "vazio" (o vácuo) está cheio de energia [13] de onde pode nascer a matéria, talvez possamos dizer que a afirmativa do autor se concretizou em certo sentido.

Continua no próximo Post com "As leis e as forças".

A conclusão de nosso estudo será publicada no último post. 

Referências

[4]  A. Kardec (1991). A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. 34ª Edição, Trad. G. Ribeiro a partir da 5ª Edição de 1868. FEB. 

[5]  Idone, V. P., Orville, R. E., Mach, D. M., & Rust, W. D. (1987). The propagation speed of a positive lightning return stroke. Geophysical research letters, 14(11), 1150-1153.

[6]  Van Helden, A. (1983). Roemer's speed of light. Journal for the History of Astronomy, 14(2), 137-141.

[7] Aparelho de Fizeau-Foucault - Wikipedia Fizeau–Foucault apparatus 

[8] I. Newton (1990). Principia: princípios matemáticos de filosofia natural - Vol.I (Trad. Trieste Ricci et al.), São Paulo: Nova Stella / EDUSP,pp. 6-7.

[9] A. Kardec (1991). “O Livro dos Espíritos”. 71ª Edição traduzida por Guillon Ribeiro. FEB.

[10] Xavier, A. M., De Lima, A. G., Vigna, C. R. M., Verbi, F. M., Bortoleto, G. G., Goraieb, K., ... & Bueno, M. I. M. S. (2007). Landmarks In The History Of Radioactivity And Current Tendencies [marcos Da História Da Radioatividade E Tendências Atuais]. Química Nova.

[11] Quark – Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Quark

[12] Matéria escura - Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mat%C3%A9ria_escura

[13] Sidharth, B. G. (2005). The universe of fluctuations (pp. 73-115). Springer Netherlands.