A aula ambiental de Aniceto
Mas, poderíamos nos perguntar, existem referências explícitas na literatura espírita sobre a necessidade de preservação do meio ambiente? O assunto era demais novo para Kardec no Século XIX. Existem, entretanto, algumas referências indiretas nele como, p. ex., citado em [2] que se refere à citação de A Gênese:
Tudo no Universo se liga, tudo se encadeia, tudo se acha submetido à grande e harmoniosa lei de unidade.
Depois de citar uma passagem da Epístola aos Romanos (8, 19-21, reproduzida no início deste post), Aniceto dá início a seus comentários sobre ela:
Há milênios a Natureza espera a compreensão dos homens. Não se tem alimentado tão somente de esperança, mas vive em ardente expectação, aguardando o entendimento e o auxílio dos Espíritos encarnados na Terra, mais propriamente considerados filhos de Deus. Entretanto, as forças naturais continuam sofrendo a opressão de todas as vaidades humanas. Isto, porém, ocorre, meus amigos, porque também o Senhor tem esperança na libertação dos seres escravizados na Crosta, para que se verifique igualmente a liberdade na glória do homem. (grifos meus)
É a confirmação de que há um laço de fraternidade a unir a Humanidade a todos os seres e que esse coletivo de seres (e os recursos não bióticos) aguarda sua consideração. Por enquanto, ela sofre a "opressão de todas as vaidades humanas".
Conheço-vos de perto os sacrifícios, abnegados trabalhadores espirituais do solo terrestre! Muitos de vós aqui permaneceis, como em múltiplas regiões do planeta, ajudando a companheiros encarnados, acorrentados às ilusões da ganância de ordem material. Quantas vezes, vosso auxílio é convertido em baixas explorações no campo dos negócios terrestres? (grifos meus)
É referência ao auxílio dos Espíritos nas atividades humanas (questão 459 de O Livro dos Espíritos), mas que têm sido corrompidas por meio de "baixas explorações" nos negócios da Terra. A preleção continua ainda mais vigorosa:
A maioria dos cultivadores da terra tudo exige sem nada oferecer. Enquanto zelais, cuidadosamente, pela manutenção das bases da vida, tendes visto a civilização funcionando qual vigorosa máquina de triturar, convertendo-se os homens, nossos irmãos, em pequenos Moloques de pão, carne e vinho, absolutamente mergulhados na viciação dos sentimentos e nos excessos da alimentação, despreocupados do imensa débito para com a Natureza amorável e generosa. (grifos meus)
Eles oprimem as criaturas inferiores, ferem as forças benfeitoras da vida, são ingratos para com as fontes do bem, atendem às indústrias ruralistas, mais pela vaidade e ambição de ganhar, que lhes são próprias, que pelo espírito de amor e utilidade, mas também não passam de infelizes servos das paixões desvairadas. Traçam programas de riqueza mentirosa, que lhes constituem a ruína; escrevem tratados de política econômica, que redundam em guerra destruidora; desenvolvem o comércio do ganho indébito, colhendo as complicações internacionais que dão curso à miséria; dominam os mais fracos e os exploram, acordando, porém, mais tarde, entre os monstros do ódio! (grifos meus)
Essa parece ser uma análise bastante real da situação presente, ainda que feita em 1944. Desde então, somente pioraram as condições ambientais, e nosso mundo já está sofrendo com possíveis rupturas climáticas imprevisíveis. A corrupção que leva à poluição e ao desequilíbrio ambiental é fruto dessas forças inferiores em busca de "ganho indébito". Nessa passagem, Aniceto também descreve as consequências da "colheira obrigatória" a que exploradores desenfreados das forças naturais estão sujeitos pela exploração sem considerações para os recursos da Natureza.
Por fim, considera o destino espiritual dos "seres sacrificados":
O Senhor reserva acréscimos sublimes de valores evolutivos aos seres sacrificados. Não olvidará Ele a árvore útil, o animal exterminado, o ser humilde que se consumiu em benefício de outro ser!
Conclusões
Referências
[1] Por que educação ambiental e ecologia são relevantes para o movimento espírita? (Parte I). Ver: https://eradoespirito.blogspot.com/2024/03/por-que-educacao-ambiental-e-ecologia.html
[2] FEB (2023). O Espiritismo e a consciência ecológica. Acessado conforme disponível em março de 2024: https://www.febnet.org.br/portal/2023/04/22/o-espiritismo-e-a-consciencia-ecologica/
[3] Xavier F. C. (2023). Os Mensageiros, Ed. FEB. 47a Edição.
[4] Trigueiro A. (2022). Espiritismo e Ecologia. FEB Editora; 5ª edição.ISBN-13 : 978-6555704372[5] Miguel S. H. (2023). Espiritismo e desenvolvimento sustentável: caminhos para a sustentabilidade.Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano XV, n. 45
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