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14 de fevereiro de 2021

Comentários sobre "Uranografia geral" de "A Gênese" de A. Kardec - II

Aparelho para produção de espectros (1878).



Comentários sobre "As leis e as forças"


8

O autor faz uso de uma bela comparação (que faz eco à alegoria da "caverna de Platão" [12]) para descrever o estado de conhecimento da ciência. Uma imagem em que seres oceânicos, deixando o fundo do mar, tomam conhecimento da realidade acima da superfície. O conhecimento que podemos fazer da Natureza que nos cerca está ainda no primeiro estágio, em que ainda apenas exploramos as cercanias das profundezas do oceano em que vivemos, muito longe da realidade acima da superfície. A comparação é clara e se aplica mesmo ao estágio de conhecimento em que chegamos. Por mais que tenhamos avançado, os passos são pequenos diante da grandiosidade do Universo. Kardec faz um comentário relevante sobre essa comparação em que ele a estende ao estado do conhecimento humano sobre a vida além da morte.

9

Explica-se aqui o escopo da discussão sobre "as leis e as forças". Como desencarnado, o autor está em uma posição privilegiada para estudar fenômenos inacessíveis para os encarnados. Mas, ao mesmo tempo, é um "ser relativamente ignorante em face da ciência real", o que reafirma seu despojamento e modéstia: ele não se apresenta como autoridade do assunto.

10 

Há um "fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos". Hoje, algumas pessoas poderiam entender isso como ecos da "teoria do éter" de que falava os “eletricistas” do século XIX. Essa teoria soçobrou no início do século XX com a relatividade, que dispensou o "éter luminífero" para explicar o comportamento da luz e da radiação. Entretanto, cremos que se trata de uma interpretação precipitada e literal. O texto sequer toca em outros detalhes relevantes que conduziriam a essa conclusão. O éter luminífero postulado pela Física do século XIX era algo inerte, passivo, apenas imaginado como meio que facultava a propagação da radiação e nada mais.

Ao contrário, o autor descreve o fluido como uma substância em que:
...são inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo.
Conceitos dominantes posteriormente, como a ideia de "campos", estavam em fase embrionária de desenvolvimento. O éter universal é aqui descrito como responsável pela "gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa", além de ser capaz de presidir "às metamorfoses da matéria". Isso seria, certamente, algo fantasioso para a época, mas hoje faz muito mais sentido. Para entender  isso, é preciso apreciar para onde conduziram as investigações da Física desde as descobertas da radioatividade no final do século XIX. 

Depois das investigações iniciais, ficou claro que os constituintes da matéria, os átomos, poderiam ser divididos em partículas menores. Essas, por sua vez, mostraram-se igualmente fluidas: por meio de colisões feitas em equipamentos especiais (aceleradores de partículas), uma vasta e complexa rede de “interações elementares” entre as partículas foi revelada. Algumas dessas interações ocorriam de forma espontânea: alguma coisa no “espaço vazio” provocava a decomposição “automática” das partículas que começaram a ser interpretadas como “estados ligados” de uma matéria ainda mais elementar [13]. 

Esse conhecimento finalmente transformou a ideia do antigo éter estático da propagação da luz na noção do "vácuo quântico" como uma substância que permeia todo o Universo, que não pode ser "esvaziado" de nenhum lugar e que tem papel fundamental na criação da matéria. O qualificativo "quântico" modifica completamente a noção de vazio como uma região do espaço onde toda a matéria tenha sido retirada e em que apenas propriedades geométricas podem ser associadas. Para a Física Quântica não é possível anular o conteúdo de energia de um sistema. Assim, o vácuo quântico é definido como o estado de menor energia possível para um "campo", o novo conceito que substituiu a noção de matéria clássica. Por isso, embora vazio de partículas "físicas", esse novo vácuo permite a criação incessante de partículas "reais " a partir de sua "energia de ponto zero".

O "efeito Casimir" é uma fraca força mecânica que aparece entre placas paralelas pela presença do vácuo quântico.

Além de suas ricas propriedades dinâmicas, como exemplo, citamos um dos efeitos notáveis do vácuo : "efeito Casimir" [14].  Esse efeito é uma força mecânica de atração que aparece quando placas metálicas são colocadas face a face. O vácuo quântico é responsável pelo aparecimento dessa força. Esse novo vazio é, na verdade, uma nova substância, que, se modificada ou excitada de forma particular, pode gerar a enorme variedade de partículas e campos que compõe a matéria tangível. Nosso despretensioso estudo conduz naturalmente assim para uma possível interpretação do "fluido cósmico" de que fala o autor de "Uranografia Geral" para essa nova noção de vácuo. Ainda assim, é preciso cautela porque é bem possível que não tenhamos conhecimento científico "final" sobre esse estado primitivo da matéria cósmica fundamental. 

11

Esta seção se apresenta como uma conclusão da exposição sobre "as leis e as forças": a síntese  se encontra na unidade observada das leis universais (algo que, modernamente, tem relação com a possibilidade de "unificação" das leis da Física) que são eternas. É um sonho antigo - ainda não plenamente realizado - descrever todas as leis e forças a partir de uma única lei. A causa dessa incapacidade em se chegar até a lei mais fundamental de todas é que "são restritas e limitadas as forças que a representam no campo das vossas observações". Há, portanto, outras manifestações de força ainda ocultas à observação da ciência da época e, provavelmente, mesmo da nossa. 

Além da dualidade "unidade-variedade", o texto também faz referência ao princípio de conservação: "Percorrendo os degraus da vida, desde o último dos seres até Deus, patenteia-se a grande lei de continuidade". A aplicação das leis universais "secundárias" (em oposição à lei primária "universal") é descrita como agindo:
...necessariamente em tudo e em toda parte, modificando suas ações pela simultaneidade ou pela sucessividade, predominando aqui, apagando-se ali, pujantes e ativas em certos pontos, latentes ou ocultas noutros, mas, afinal, preparando, dirigindo, conservando e destruindo os mundos em seus diversos períodos de vida, governando os maravilhosos trabalhos da Natureza, onde quer que eles se executem, assegurando para sempre o eterno esplendor da criação.
Então, a partir de modificações e gradações de aplicação dessa, surgem "leis secundárias" e outros princípios que atuam como causas para a enorme variedade de manifestações observadas no Universo. Essa conclusão corresponde à ideia moderna de que podemos "reduzir" as variedades de fenômenos observados a causas mais fundamentais. Porém, nossa incapacidade em reconstruir essa redução repousa em nossa limitação de observação. Como nossos sentidos são limitados, não temos acesso a todo conjunto de fenômenos que existem. Portanto, não temos informação suficiente para se remontar à causa mais fundamental da lei universal. 

Continua no próximo Post com "A criação primária".

A conclusão de nosso estudo será publicada no último post. 

Referências

[12] Wright, J. H. (1906). The origin of Plato's Cave. Harvard Studies in Classical Philology, 17, 131-142.
[13] Moreira, M. A. (2009). O modelo padrão da física de partículas. Revista Brasileira de Ensino de Física, 31(1), 1306-1.
[14] M. V. Cougo-Pinto, C. Farina e A. Tort (2000). O Efeito Casimir. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 22, n. 1.





15 de janeiro de 2021

Comentários sobre "Uranografia geral" de "A Gênese" de A. Kardec - I

Cometa de Donati sobre uma Paris sem luz elétrica como visto em 1858.

Obra completa contendo todos os comentários e a conclusão.

Fazemos aqui alguns comentários sobre o Capítulo VI “Uranografia Geral” de "A Gênese" de A. Kardec. Nosso objetivo é comentar o conteúdo desse capítulo no contexto de sua época, e indicar algumas mudanças que aconteceram nas concepções científicas de Astronomia e Cosmologia desde que o texto desse capítulo foi publicado.

Não nos move nenhum interesse em “atualizar” a Gênese, o que seria algo absurdo, mas apenas informar o leitor sobre o que teria eventualmente mudado em nossas concepções científicas desde o Século XIX. O uso da 5ª edição não afetará quaisquer conclusões a respeito do que apresentamos aqui sobre a Uranografia. Isso porque o referido capítulo tem como base em textos de C. Flammarion (como médium) que foram produzidos na Sociedade Espírita de Paris entre 1862 e 1863.

No que segue, pare evitar que o texto do post fique muito longo, comentamos as passagens identificando-as conforme o parágrafo em que aparecem na referência [4]. Quando necessário é feita citação expressa da passagem. É importante dizer que o relato da "Uranografia Geral" se refere a detalhes que pouco afetam o caráter da Revelação Espírita e sua importância. Entretanto, Kardec provavelmente resolveu incluir esse capítulo, pois ele seria uma "síntese" do que se conhecia na época no tema em consonância com a nova doutrina então nascente.


Comentários sobre “O Espaço e o tempo”

1

Atenção: chamamos de "seção" os itens numerados conforme a denominação de "parágrafos".

Essa seção se inicia com uma definição e alguns comentários sobre concepções antigas de espaço na forma da “extensão que separa dois corpos”. O autor do texto declara que o espaço é “infinito, pela razão de ser impossível imaginar-se lhe um limite qualquer”. O argumento é que é mais fácil imaginar um espaço em que se avança “eternamente” do que algo que chegue a um fim, o que seria a “fronteira do Universo” além da qual nada existiria. Essa concepção de espaço (que tem implicações para o tamanho do Universo) é, de fato, bem antiga e já aparecia aos antigos gregos. 

O que sabemos hoje: do ponto de vista científico apenas podemos afirmar que o Universo observável é limitado, mas não fazemos ideia se ele é finito ou não. Alguns teóricos, movidos pelas novas concepções de “curvatura do espaço” da Relatividade Geral acreditaram ser possível dizer que o Universo é “finito, mas ilimitado”. Com isso, um caminhante jamais atingiria limite algum ao percorrer uma superfície curva (fechada sobre si), que, apensar disso é finita. A realidade é que não sabemos a resposta para essa questão porque ela depende de forma crucial do avanço do conhecimento em Cosmologia. 

A partir do 4º parágrafo da seção, o autor usa de uma analogia para explicar o que ele entende por infinitude do espaço. Nessa figura, a “velocidade da centelha elétrica” é usada para descrever o movimento de um observador a “milhões de léguas por segundo”. Hoje sabemos que essa velocidade é da ordem de 100 mil quilômetros por segundo (ou 1/3 da velocidade da luz) [5]. A palavra “légua” refere-se a uma unidade antiga usada antes do sistema métrico e que correspondia a uma distância entre 5 ou 6 quilômetros (a légua imperial tem 4,82 quilômetros). Ou seja, nessa unidade, a velocidade do relâmpago seria algo como 16 mil léguas por segundo. 

A velocidade mais rápida que existe é a velocidade da luz no espaço livre: cerca de 300 mil quilômetros por segundo. Esse valor, ou algo próximo dele, já era conhecido desde, pelo menos, 1676 quando Olaf Römer [6] mediu o valor de 211 mil quilômetros por segundo. E, já em 1848, H. Fizeau [7] foi capaz de medir um valor mais próximo do atual. 

Chama a atenção este trecho:
Ora, há apenas poucos minutos que caminhamos e já centenas de milhões de milhões de léguas nos separam da Terra, bilhões de mundos nos passaram sob as vistas e, entretanto, escutai! Em realidade, não avançamos um só passo que seja no Universo.
Mesmo viajando a velocidade da luz, para “passar de vista” bilhões de mundos, seriam necessários centenas ou milhares de “anos-luz” e não “poucos minutos” (pelo menos para os encarnados...). Embora a imprecisão na descrição (?), o autor teve como objetivo passar a ideia de que, por mais que se caminhe em qualquer direção no Universo (isotropia) a partir de qualquer ponto (homogeneidade) muito pouco se avança diante de um universo infinito. Se o Universo for realmente infinito, essa conclusão é correta.

2

O autor do texto repete nessa seção por três vezes a definição: “o tempo é apenas uma medida relativa da sucessão de tempo das coisas transitórias”, o que o torna indistinguível da ideia de “duração”. Numa época em que espaço e tempo não poderiam ser vistos com aspectos de uma mesma realidade, o autor conclui acertadamente que, se o espaço é infinito, então o tempo também deve ter duração infinita. A infinitude do espaço exige a eternidade do tempo: “Imensidade sem limites e eternidade sem limites, tais as duas grandes propriedades da natureza universal”. 

Para a noção de eternidade o autor usa da mesma figura da infinitude do Universo:
O inconcebível amontoado de séculos que nos passaria sobre a cabeça seria como se não existisse: diante de nós estaria sempre toda a eternidade.
Junto a tal conclusão, a Seção 2 descreve uma imagem para a origem do tempo que nos lembra uma descrição bíblica:
Mas, silêncio! soa na sineta eterna a primeira hora de uma Terra insulada, o planeta se move no espaço e desde então há tarde e manhã. Para lá da Terra, a eternidade permanece impassível e imóvel, embora o tempo marche com relação a muitos outros mundos.
Com isso o autor quis dizer que a noção de tempo se prende a um local, o tempo terreno (como medida de sucessão das coisas) começou assim que a Terra se formou e terminará quando ela tiver o seu último dia. Isso não impede que existam “outros tempos” em outros mundos: “tantos mundos na vasta amplidão, quantos tempos diversos e incompatíveis”. Essa ideia diferia da concepção então vigente na época – a noção clássica de simultaneidade universal porque o tempo era considerado absoluto. Para ver isso, relembramos a definição de Newton [8]:
O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, por si mesmo e da sua própria natureza, flui uniformemente sem relação com qualquer coisa externa e é também chamado de duração.
Hoje sabemos, com a teoria da Relatividade Restrita, que a noção de tempo “como sucessão das coisas” é, de fato, uma medida local e que não há compatibilidade entre as “medidas de tempo” entre referenciais diferentes que não estão “sincronizados”.  

Comentários sobre "A matéria"

3

Essa seção se inicia chamando a atenção para a diversidade de aparências da matéria. Disso concluímos que, “à primeira vista”, matéria é aquilo que sensibiliza diretamente aos sentidos humanos. Mas, logo no segundo parágrafo, o autor anuncia um “princípio absoluto” pelo qual:
Todas as substâncias, conhecidas e desconhecidas, por mais dessemelhantes que pareçam, quer do ponto de vista da constituição íntima, quer pelo prisma de suas ações recíprocas, são, de fato, apenas modos diversos sob que a matéria se apresenta; variedades em que ela se transforma sob a direção das forças inumeráveis que a governam. 
Para entender isso, é preciso rever a questão, p. ex., 30 de “O Livro dos Espíritos” [9] onde se lê que a matéria é formada “de um só elemento primitivo”. Esse é um conceito fundamental no Espiritismo de Kardec, que contrastava com o conhecimento da Química e da Física do Século XIX. Sua origem está na definição de matéria, que é dada na questão 22a em “O Livro dos Espíritos” e no desenvolvimento subsequente que podemos ler nas questões 32 e 33. 

4

O texto chama a atenção para as descobertas recentes da Química, de que se poderia reduzir a matéria a combinações de elementos. Na p. 110 de [4], há uma nota com a relação dos elementos conhecidos então. Na época em que “A Gênese” foi lançada, os estudos sobre pesos atômicos já indicavam a “natureza quantizada” das massas dos elementos químicos, o que era uma indicação de que eles seriam formados por unidades discretas. Mas, tão só pela manipulação química, nunca foi possível decompor ainda mais nenhum dos elementos. A intenção do autor foi indicar possíveis “reduções adicionais” uma vez que declara que:
(a ciência da época)...os considera primitivos e indecomponíveis e que nenhuma operação, até hoje, pode reduzi-los a frações relativamente mais simples do que eles próprios. 
O ponto fundamental, que deve prender a atenção o leitor, é que ainda não havia sido descoberta a radioatividade. Essa nova área da Física permitiria a “redução a frações mais simples” dos elementos químicos então conhecidos. A história da radioatividade [10] se iniciou com a descoberta por H. Becquerel em 1895 de raios específicos gerados por determinados materiais, a partir da busca por “novos raios” como o Raio-X feita por W. Röntgen em 1895. Destacam-se ainda as descobertas do elétron (por J. J. Thomson em 1897) e da fissão nuclear (por L. Meitner e O. R. Frisch em 1938). 

Imagem de um antigo laboratório de farmácia. Na época de "A Gênese", a química tinha reduzido a matéria a um conjunto de "elementos químicos" irredutiveis. Nossa situação presente é a mesma: a matéria foi reduzida a um conjunto de "partículas e subpartículas elementares" (quarks, elétrons etc) que também são "irredutíveis".

Hoje podemos afirmar que todos os elementos químicos são de certa forma redutíveis a combinações de: o hidrogênio ionizado H+ (também conhecido como próton, que é o elemento mais leve e abundante no Universo conhecido), o nêutron (sem carga e com massa equivalente ao próton), além do elétron, de carga negativa, necessário para dar estabilidade ao conjunto. Cada elemento químico seria então formado por combinações dessas "substâncias mais primitivas". 

Mas prótons, nêutrons e elétrons não podem ser decompostos? A ideia de continuar a decomposição teve que esperar inúmeros outros desenvolvimentos na física de partículas. Chegamos hoje, por exemplo, à “teoria dos quarks” (de Gell-Mann e Zweig em 1964 [11]) que seriam os blocos fundamentais dos “hádrons” (prótons e nêutrons). Entretanto, essas partículas não podem ser “isoladas” e seus efeitos são inferidos indiretamente. 

Portanto, voltamos à mesma situação da Química do século XIX que não conseguia decompor os elementos então conhecidos em unidades ainda menores...Em certo sentido, isso é um retorno à "teoria dos quatro elementos" de que fala o autor de "Uranografia Geral". Embora os conceitos sejam muito diferentes e não possam ser comparados, a ideia é reduzir todas as variedades possíveis de matéria à combinações de elementos primitivos, no caso presente, partículas e subpartículas atômicas.

5

O autor reafirma a crença de que a matéria é formada de apenas um elemento: a "matéria cósmica primitiva" que participa, por associação aos corpos, da constituição desses. Como toda matéria, para existir, precisa de certa energia para se formar, a afirmação pode hoje ser interpretada como uma referência à energia primordial de que o Universo foi dotado desde sua criação, sem a qual não seria possível ter todas as variedades de matéria. Para "formar o Universo" não seria suficiente dotá-lo de matéria apenas, mas também de energia. Por causa das transformações nucleares, as duas coisas - matéria e energia  - acabam se confundindo. 

Hoje sabemos que essa energia existe disseminada em todo o espaço e, de suas flutuações, a matéria é  "criada".

6

O autor espiritual confessa o estado de ignorância em que ele se encontra para emitir opiniões sobre determinadas questões (de caráter científico). Isso é uma demonstração de sua humildade, talvez a razão de Kardec ter incluído a  "Uranografia Geral" em "A Gênese". Ele reafirma então sua crença na "unicidade da matéria", no sentido que ele conferiu anteriormente.

7

Outros argumentos são fornecidos para a ideia da matéria cósmica primitiva: a de que as diversidades observadas da matéria tangível se devem a um "número ilimitado de forças" que atuam transformando seus constituintes, o que foi plenamente verificado pelo desenvolvimento científico. 

A referência aos "fluidos propriamente ditos" não diz respeito somente aos "fluidos magnéticos" ou de natureza "espiritual" que encontramos em "O Livro dos Espíritos" e que fundamentam o Espiritismo, mas também a outros, que, no século XIX eram responsáveis pela atuação de "forças a distância" (como o fluido elétrico e o magnético propriamente dito). 

Hoje sabemos que, o Universo, mesmo onde ele é considerado "vazio", está repleto de um tipo de matéria que nos escapa à apreensão direta. Das flutuações nesse vazio, a matéria pode nascer, o que não era conhecido na época em que "A Gênese" foi lançada.

Não sabemos, entretanto, se os constituintes das partículas elementares podem ser decompostos ainda mais. Recentemente, inúmeros outros problemas - como o da "matéria escura" [12] - apareceram e desafiam as teorias vigentes. Entretanto, todos esses fluidos, para existir, necessitam de energia, o que é uma razão para associar esse elemento primitivo à energia primordial. Como o espaço considerado "vazio" (o vácuo) está cheio de energia [13] de onde pode nascer a matéria, talvez possamos dizer que a afirmativa do autor se concretizou em certo sentido.

Continua no próximo Post com "As leis e as forças".

A conclusão de nosso estudo será publicada no último post. 

Referências

[4]  A. Kardec (1991). A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo. 34ª Edição, Trad. G. Ribeiro a partir da 5ª Edição de 1868. FEB. 

[5]  Idone, V. P., Orville, R. E., Mach, D. M., & Rust, W. D. (1987). The propagation speed of a positive lightning return stroke. Geophysical research letters, 14(11), 1150-1153.

[6]  Van Helden, A. (1983). Roemer's speed of light. Journal for the History of Astronomy, 14(2), 137-141.

[7] Aparelho de Fizeau-Foucault - Wikipedia Fizeau–Foucault apparatus 

[8] I. Newton (1990). Principia: princípios matemáticos de filosofia natural - Vol.I (Trad. Trieste Ricci et al.), São Paulo: Nova Stella / EDUSP,pp. 6-7.

[9] A. Kardec (1991). “O Livro dos Espíritos”. 71ª Edição traduzida por Guillon Ribeiro. FEB.

[10] Xavier, A. M., De Lima, A. G., Vigna, C. R. M., Verbi, F. M., Bortoleto, G. G., Goraieb, K., ... & Bueno, M. I. M. S. (2007). Landmarks In The History Of Radioactivity And Current Tendencies [marcos Da História Da Radioatividade E Tendências Atuais]. Química Nova.

[11] Quark – Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Quark

[12] Matéria escura - Wikipedia https://pt.wikipedia.org/wiki/Mat%C3%A9ria_escura

[13] Sidharth, B. G. (2005). The universe of fluctuations (pp. 73-115). Springer Netherlands.



1 de março de 2018

Chamada para o 14º Enlihpe – Belo Horizonte/MG


Desde 2003, o Encontro Nacional da ENLIHPE tem sido o espaço de encontro da LIHPE - Liga de Pesquisadores do Espiritismo. A Liga é um grupo de pessoas interessadas no estudo do Espiritismo nos moldes acadêmicos. Isto quer dizer que se estuda a temática espírita de acordo com regras acadêmicas. 

A LIHPE foi criada para incentivar o registro e discussão da história do Espiritismo, e aos poucos, foi agregando interessados que trabalhavam na fronteira entre o Espiritismo e as chamadas áreas do conhecimento: filosofia, física, psicologia, ciências sociais, antropologia e muitas outras.

Desde seu fundador, Eduardo Carvalho Monteiro, percebeu-se que apenas o intercâmbio à distância era insuficiente para estabelecer grupos de trabalho e aproximar os membros. Foi então criado o ENLIHPE, que é o encontro nacional, este de caráter presencial.

Se você tem algum trabalho na fronteira entre o Espiritismo e as ciências reconhecidas e até outras não reconhecidas, comece a preparar seu artigo para submissão. O ENLIHPE de 2018 ocorrerá entre 25 e 25 de agosto e, este ano, será na cidade de Belo Horizonte/MG.

Tema central: 'Sobrevivência da alma'
25 e 26 de agosto de 2018
Belo Horizonte – MG
Data final de submissão de trabalhos: 30 de abril de 2018.
INSCRIÇÕES: Site da LIHPE

Local do evento:

União Espírita Mineira – UEM
Avenida Olegário Maciel, nº 1627
Lourdes, Belo Horizonte – Minas Gerais, em frente ao Diamond Mall.


11 de dezembro de 2010

Crenças Céticas VII - A vida além da vida e a necessidade de uma nova Ciência.


Vimos anteriormente que, para que haja Ciência, são necessárias ao menos três coisas: um objeto de estudo, uma linguagem e um método. O pseudoceticismo, em geral, invoca a autoridade da Ciência para si para desqualificar determinadas afirmações sobre o mundo, justamente aquelas que não se alinham com as crenças pseudocéticas.

Vejamos uma afirmação clássica do pseudoceticismo:
A Ciência não comprova a existência de vida depois da morte. A Ciência não comprova a existência de Espíritos.
Qual o significado aqui da palavra 'Ciência'? Em quase todas as discussões que vemos sobre o assunto, parece que podemos interpretar 'Ciência' como o corpo de pesquisadores, o conjunto de cientistas, a opinião de técnicos ou especialistas em assuntos considerados científicos. Se este for o caso, já vimos anteriormente que a opinião dos cientistas não pode ser tomada como autoridade, principalmente no que diz respeito àquilo que foge à especialidade deles. Se não, vejamos:

Qual pode ser o 'objeto de estudo' dessa ciência que desaprova a vida além da vida? Será que a ciência contemporânea, entendida como opinião dos cientistas, tem se debruçado sobre essa questão específica que é negada pelos céticos? A resposta é claramente um não, uma vez que a comunidade científica tem coisas muito bem definidas - objetos de estudo específico - com que se ocupar.

Mas não podemos interpretar como 'comunidade de cientistas' a palavra 'Ciência' na afirmação em análise, mas sim esta como o corpo de conhecimento, sem apelo algum à autoridade de seus principais executores e responsáveis.

Nesse caso, somos obrigados a apontar o objeto de estudo, o método e a linguagem que seriam responsáveis por tal negação... Onde, na ciência contemporânea poderemos encontrar isso? Que ramo da Física, Astronomia, Biologia, Química poderia ser invocado para afirmar que, de fato, inexiste vida após a morte?

Muitos céticos dizem que é isso que vemos ocorrer todos os dias quando animais são mortos ou pessoas deixam a vida em hospitais. Não há evidências - repetem eles - diante de um corpo inanimado, que nunca mais demonstrará nenhum sinal de vida após os momentos derradeiros, de qualquer coisa além. Fisiologistas e bioquímicos de renome poderiam ser invocados para descrever os processos celulares internos que ocorrem após a morte de tecidos biológicos, neurofisiologistas poderiam enfileirar imagens de tomográficas mostrando o apagar das luzes na massa encefálica e chegaríamos realmente a formar uma imagem completa da morte?

Sobre as consequências dela para o corpo: sim, o corpo, eis aqui o objeto de estudo que procurávamos. Aqui há ciência positiva, há uma linguagem descritiva e há um método de pesquisa muito bom. Mas será que isso nos autoriza a dar o passo que permite negar a afirmação que analisamos? Será que não estão fazendo como o Cardeal Bellarmino - do caso Galileu - que afirmou não existir evidências diante de uma Terra que parecia bem fixa, imóvel, e do movimento do Sol, todos os dias a se levantar a leste e se por a oeste?

Ao se tentar ir além, afirmarão: isso é metafísica...Mesmo sem saber o significado dessa palavra, aprenderam sua conotação negativa. O problema aqui é simples: trata-se de uma deficiência na compreensão da existência de uma multiplicidade de objetos de estudos no mundo em que vivemos. Se não se reconhece a existência de um determinado objeto de estudo, não pode haver Ciência. Mas o que fazer para que a questão não se prenda às fronteiras da mera especulação metafísica? O fato de eles, os céticos (veja que não estou me referindo aos pseudocéticos, mas aos céticos bem intencionados), não se darem ao trabalho de buscar, pesquisar e procurar.  Muitos céticos não sabem que a Natureza oculta muito bem os seus segredos. Mas uma das coisas que a nova visão do mundo revela pela Ciência é que existem muitos objetos de estudo que não sensibilizam diretamente nossos sentidos.

Tomemos o exemplo do vírus (figura abaixo) e façamos o exercício mental de nos colocar em uma época onde microscópios eletrônicos não estavam disponíveis. Hoje é  fácil acreditar na existência desses seres. Eles foram 'revelados' pela Ciência e são a causa de muitas patologias. Mas, ao dizer isso, estamos numa posição privilegiada. Há razões para acreditarmos que, no que diz respeito à continuidade da vida além da vida, não detemos tantos privilégios.

Imagem do vírus da gripe espanhola. Se microscópios eletrônicos não estivessem disponíveis, como poderíamos ter 'evidências' sobre a existência desses seres microscópicos? Hoje, estamos numa situação privilegiada em relação ao conhecimento da existência desses seres,  mas o mesmo não é verdade com muitas outras proposições a respeito do Universo.
Se não conseguem 'encontrar' o Espírito, sede da consciência, é porque dele formaram uma ideia errada. Usam concepção arcaica, antiga, de uma época quando nosso conhecimento do mundo era muito pequeno, tão pequeno que ainda nos julgávamos no centro dele. Como se recusam a postular a existência de um novo objeto de estudo, não podem aceitar novos fatos, não podem ir além.

Entretanto... ela se move! afirmaria Galileu. Precisamos de uma nova ciência para nos revelar nosso futuro. Novos Galileus, novos Newtons e novos Laplaces deverão se debruçar sobre esse novo tema, a fim de descobrir suas leis, desenvolver uma nova linguagem e um novo método. Essa será o principal tema da Ciência do futuro.

27 de novembro de 2010

Crenças Céticas V - O caso Galileu e a fraude do movimento da Terra.


Terceiro, digo que, se houvesse verdadeira demonstração de que o Sol esteja no centro do mundo e a Terra no 3º céu, e de que o Sol não circunda a terra, mas a Terra circunda o Sol, então seria preciso proceder com muita atenção na explicação das Escrituras que parecem contrárias a dizer, antes, que não as entendemos, do que dizer que é falso aquilo que se demonstra. Mas não crerei que há tal demonstração até que me seja mostrada...

...Mas, no que se refere ao Sol e à Terra, não há nenhum perito na matéria que tenha necessidade de corrigir o erro porque experimenta claramente que a Terra está parada e que o olho não se engana quando julga que o Sol se move, como também não se engana quando julga que a Lua e as estrelas se movem. E baste isto por agora...

Cardeal Bellarmino (In: Galileu Galilei. Ciência e Fé. São Paulo: Nova Stella Editorial; Rio de Janeiro: MAST. , 1988)

Em algum lugar da Europa, antes do final do primeiro quartel do Século 17, um cético empedernido escreve uma carta a um amigo distante...
"Ouvi dizer que em Roma, certo professor de nome Galileu Galilei afronta a verdade ao pretender mostrar que não é o Sol que gira em torno da Terra, mas o contrário, defendendo a ideia de Copérnico, o idiota que quer reformar toda a astronomia (1).
Galileu Galilei utilizou um tubo 'mágico' (só Deus sabe por quais artimanhas do demônio...) feito por arte trazida de um holandês, que é capaz de amplificar, diz ele, imagens de marinheiros em mastros de navios distantes. Comenta-se que as imagens são por demais toscas para não criar a impressão de que o o tubo introduz ilusões aos órgãos da vista (2), ao ponto de não serem críveis as descrições que esse professor fez de suas observações do céu.

Além disso, é fato provado que Galileu fez pequena fortuna com tal tubo (3) vendendo a vários mercadores venezianos e de outras regiões e, agora mesmo, pretende que o exército o compre para suas campanhas militares, uma prova de sua astúcia e falta de decoro.

Numa noite, resolveu apontar o tal tubo para a lua e descreve supostas crateras, como se a Lua não fosse uma esfera perfeita, mas quer convencer a todos que ela é como a Terra, cheia de planícies, mares e montanhas (4).

Ao apontar seu instrumento mágico para Júpiter, disse e quer que todos acreditem ter visto esse planeta não como uma estrela andarilha, como toda Humanidade sempre o viu (5), mas como uma pequena esfera rodeada de pontos brilhantes que ele afirma tratar-se de satélites. Esse professor chegou ao ponto de sugerir que o tal astro é um mini sistema solar que tem Júpiter como o maior corpo e que, portanto, o Sol seria por comparação o centro de nosso Universo e não a Terra. Esse professor afirma que isso não prova ser o Sol o centro mas é uma forte evidência a favor disso (6).

Pela feitiçaria de seu tubo mágico afirmou que Vênus passa por fases e que seu tamanho varia junto com essas fases, a ponto de acreditar ter provado que Vênus gira em torno do Sol. Fez isso mesmo agora, quando todos os astrônomos da Europa (7) sabem que o sistema de Tycho Brahe resolve maravilhosamente o problema, ao propor que os planetas internos - e externos - girem ao redor do Sol que, por sua vez, gira em torno da Terra como todos sabemos ser fato comprovado.

Ao observar Saturno, o planeta mais lento do céu, foi enganado por sua própria artimanha, ao constatar que esse planeta tem orelhas, e quer que todos acreditem nisso!(8)
Para o bem de todos, Galileu já começou a ser punido por sua presunção posto que esse homem, já meio velho, está ficando cego depois de ter apontado seu tubo para o Sol. Mesmo diante da punição, descreve que a superfície do Sol é repleta de manchas escuras que se movem em sua superfície, outra farsa que ele inventou para nos provocar (9).
Não existem evidências nem pelas santas escrituras (que lhe é totalmente contrária), nem na comunidade dos sábios que a Terra gire em torno do Sol (10). Essa é questão já resolvida para todos, que diariamente vêem o Sol se levantar a Leste e se por a Oeste e que ficam a imaginar o que seria dos continentes e mares se a Terra (11), nem que fosse por alguns milésimos de palmo, se movesse - haja vista os acontecimentos recentes de Terremotos no oriente e no ocidente.
Sendo assim, Galileu Galilei trata-se da maior farsa já perpetrada entre a comunidade dos astrônomos (12) a suportar as idéias perigosas de Copérnico. Ele é uma fraude que merece encarceramento e processo inquisitorial, conforme o tribunal eclesiástico já começou a estabelecer."
Analisando com cuidado os documentos da época e colocando-se no papel daqueles que participaram da trama que levou ao julgamento de Galileo bem como sua abjuração daquilo que havia professado, vemos que se tratou de mais um caso onde as 'evidências' não foram aceitos, antes renegados e considerados 'inconclusivos' ou 'insuficientes' para mover o dedo das opiniões a favor da mobilidade da Terra...

Na verdade, os críticos de Galileu na época estavam em uma posição muito mais confortável do que os pseudocéticos das anomalias que hoje se aquartelam exigindo evidências. Mas, mesmo assim, eles estavam errados. Se não vejamos:

(1) Essa frase é atribuída a Martinho Lutero. O reformista alemão obviamente sabia que a tese do movimento da Terra contrariava a Bíblia. Para o pensamento medieval, tudo estava muito bem do jeito que estava: a Bíblia (Velho Testamento) concordava maravilhosamente bem com o pensamento cristão dominante do homem no centro do Universo, feito 'a imagem e semelhança de Deus' e tendo o céu como enfeite de suas noites. Copérnico surge e diz o contrário. Portanto, Copérnico só poderia ser um idiota ou estar a serviço de Satanás;

(2) Aqui nosso crítico de Galileu tenta desqualificar a evidência. 'Não passa de uma ilusão dos sentidos'. Evidências extraordinárias sempre foram tomadas como alucinações ou fraudes, quando não se ajustam ao pensamento pseudocético. Temos que salvar nosso crítico pseudocético aqui, já que, na época de Galileu, a óptica sequer conhecia as leis de refração da luz. Logo, não é tão sem fundamento assim nos colocarmos na posição do crítico de Galileu como acreditando que o telescópio se tratava de um 'tubo mágico'.

(3) Aqui nosso personagem desvia o objetivo de sua crítica e sugere uma possível razão financeira por conta dos atos de Galileu. Isso é bastante comum no ceticismo dogmático, encontrar evidências ilícitas subjacentes aos atos ou comportamento de pessoas ligadas aos fenômenos.

(4) Nosso crítico simplesmente não aceita a evidência do telescópio. A Lua, para ele, é uma esfera perfeita, tal como a vista nos apresenta. Dizer que ela tem crateras e montanhas - ou seja, sugerir que é um mundo como a Terra, é querer contrariar a Bíblia também, afinal não foi a lua uma luminária colocada por Deus no céu para enfeitar a noite dos homens ?

(5) Nosso crítico recorre aqui à evidência dos sentidos. Júpiter é uma estrela e não um planeta!

(6) O argumento de Galileu foi desqualificado totalmente por nosso crítico. De fato, que adianta querer dizer que Júpiter, sendo o astro maior no grupo formado por ele e seus satélites, guarda a mesma posição do Sol em relação à Terra? Argumento muito sofisticado para a mente do cético dogmático.

(7) O crítico tenta aqui recorrer à autoridade da Ciência de sua época. Como vimos, a autoridade da Ciência está baseada em outros pressupostos e não o da autoridade. Mas, nessa época tanto quanto hoje, isso raramente é compreendido;

(8) O que Galileu viu apontando o telescópio para Saturno? A figura abaixo é uma reprodução do desenho original de Galileu:


Um 'planeta com orelhas'...

Por causa da baixa resolução óptica de seu telescópio, Galileu não conseguiu divisar os anéis tão conhecidos desse planeta hoje em dia. Ao invés disso, essa 'evidência extraordinária' corroborava a ideia de que, o que Galileu reportava não passava, na verdade, de produto de uma ilusão produzida por seu tubo mágico. As evidências eram assim altamente suspeitas...

(9) Galileu desconhecia os danos à visão causados pela exposição da retina ao fulgor solar amplificado por seu telescópio. Na cabeça de seu crítico isso é uma punição as suas provocações.

(10) De novo, aqui recorrência à autoridade, tanto da Bíblia com da comunidade científica.

(11) Aqui temos o ponto mais difícil de Galileu e uma razão peremptória para duvidarmos ainda mais do ceticismo dogmático! Por mais que se esforce em fornecer evidências, nada pode sensibilizar os críticos de Galileu de que a Terra se move, afinal, o contrário é o que sentimos e vivemos todos os dias... Entretanto, ela se move!

(12) Por tudo isso foi condenado Galileu, por se tratar de uma farsa colocada no rio da História como fronteira entre o conhecimento da Verdade e o ceticismo dogmático em nome da Religião e de Deus.

Também essa é a razão porque muitos consideram que a Igreja não errou no processo de Galileu. Ainda hoje podemos duvidar do movimento da Terra se adotarmos a mesma visão do cético. De fato, quais são as evidências de que a Terra se move? Não adianta dizer que 'a Ciência já aceita isso, ou já resolveu aquilo'. Há que se provar, com o mesmo tipo de exigência cética, a tese do movimento.

Tentem fazê-lo por si mesmo, assumindo a mesma força de dúvida e descrença dos mais combativos céticos dos fenômenos espíritas e verão que ainda restam dúvidas quanto ao movimento da Terra...