25 de agosto de 2024

I Jornada de História do Espiritismo com tema sobre Kardec

De 29 de novembro a 30 de novembro de 2024 acontecerá a "I Jornada de História do Espiritismo" no ICH da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora). Uma descrição do evento pode ser apreciado na imagem abaixo.

O congresso tem como tema "Allan Kardec: vida, ideia, obra e influências". Houve uma atualização no formato do evento, que agora será tanto presencial como online.

O evento não é gratuito. Para o público em geral é cobrada uma taxa de R$60,00; para estudantes de graduação, R$40,00, independentemente do formato do evento, se presencial ou online.

Inscrição e mais informações desse evento estão disponíveis na página:

https://www.sympla.com.br/evento/i-jornada-de-historia-do-espiritismo/2598693

5 de maio de 2024

A mediunidade de Orlando Noronha Carneiro

 

A psicografia como fenômeno é de extraordinária versatilidade. No dizer de Kardec [1]:
De todos os meios de comunicação é a escrita o mais simples, o mais cômodo e, so­bretudo, o mais completo. É para ela que devem tender todos os esforços, pois que per­mite estabelecer com os Espíritos relações tão continuadas e tão regulares quanto as que existem entre nós. 
Essa versatilidade da psicografia ainda está por se revelar por completo. A prova disso foi a enorme quantidade de informação proveniente de desencarnados em psicografia de médiuns veteranos como Chico Xavier e Divaldo Franco. Se outros tipos de mediunidade quase que desapareceram (como é o caso da mediunidade de efeitos físicos, materializações etc), semelhante situação não aconteceu com a psicografia, cumprindo a esperança de Kardec. Esse também é o caso do médium Orlando Noronha Carneiro.

Orlando é natural de Osasco/SP e iniciou atividades dentro do Movimento Espíritas em 1980. Em suas visitas ao médium espírita Chico Xavier, esse lhe disse que Orlando continuaria na tarefa das cartas familiares. As principais informações sobre o trabalho com cartas psicografadas pode ser encontrado em diversos canais do YouTube dentre os quais se destaca o "Mensagens de Luz" [2], onde é possível acessar talvez centenas de mensagens que são lidas pelo médium diante dos parentes enlutados.  Uma entrevista recente com o médium pode ser assistida em [3].

O site "Portas do Amor" (https://www.portasdoamor.com.br/) traz informações e a agenda presencial do Orlando para o ano. Videos desse site também podem ser assistidos no Youtube pelo endereço [5].

Exemplos

A quantidade de videos já disponibilizados impressiona pela quantidade e qualidade das mensagens que trazem conteúdo altamente relevante aos parentes. Eles formam um conjunto demonstrativo importante - tanto em variedade como em quantidade - de como se processa o fenômeno. 

As informações mais relevantes passadas nas cartas são justamente os conteúdos pragmáticos (ou seja, informação dependente do contexto), que apenas fazem sentido aos parentes mais próximos e que não estão publicamente disponíveis. Também estão presentes desenhos (principalmente no caso de crianças) e assinaturas. 

Em um vídeo de 2018, os pais de Gabriel, desencarnado em maio de 2018, relatam sua experiência com a psicografia que receberam. De seu depoimento destamos em síntese: "Tudo bateu...Tudo o que ele descreveu, realmente é do Gabriel." De acordo com os pais, inúmeros detalhes na carta demonstraram a eles a procedência de seu filho, inclusives acontecimentos familiares simples, mas que só eram conhecidos dos familiares mais próximos. Outros depoimentos também podem ser encontrados relatando detalhes em cartas que muito confortaram parentes próximos diante do drama da morte e as dores do luto.

A importância das cartas psicografadas particulares

Nunca será demais reler o que diz Kardec sobre a "utilidade das evocações particulares", que está no Capítulo 25 de "O Livro dos Médiuns" (1):
Ora, os Espíritos superiores são as sumidades do mundo espírita; a própria elevação em que se acham os coloca de tal modo acima de nós, que nos assusta a distância a que deles estamos. Espíritos mais burgueses (que se nos relevem esta expressão) nos tornam mais palpáveis as circunstâncias da nova existência em que se encontram. Neles, a ligação entre a vida corpórea e a vida espírita é mais íntima, compreendemo-la melhor, porque ela nos toca mais de perto. Aprendendo, com eles mesmos, em que se tornaram, o que pensam e o que experimentam os homens de todas as condições e de todos os caracteres, assim os de bem como os viciosos, os grandes e os pequenos, os ditosos e os desgraçados do século, numa palavra, os que viveram entre nós, os que vimos e conhecemos, os de quem conhecemos a vida real, as virtudes e as fraquezas, bem lhes compreendemos as alegrias e os sofrimentos, a umas e outros nos associamos e destes e daquelas tiramos um ensinamento moral, tanto mais proveitoso, quanto mais estreitas forem as nossas relações com eles. Mais facilmente nos pomos no lugar daquele que foi nosso igual, do que no de outro que apenas divisamos através da miragem de uma glória celestial. 
Há outro ponto importante que se formará, inexoravelmente, com o acúmulo de cartas. Dado que muitas delas trazem citação de nomes, seu histórico formará um grande registro de intercâmbio, cujo objetivo é cumprir a função consoladora do Espiritismo no esclarecimento sobre a vida após a morte e sustentação aos parentes em luto.

Sobre isso, lançamos mão de um paralelo. No primeiro episódio de "Harry Potter" de autoria da escritora Britânica J. K. Rowling, Harry, o personagem principal é convidado à iniciação como mago na escola de Hogwarts por meio de uma carta enviada em correio especial, usando corujas. Acontece que seus parentes invejosos interceptavam as missivas. Não foi uma nem dez cartas que foram interceptadas, na tentativa inútil de impedir que Harry seguisse seu destino. O contra ataque foi devastador: não apenas centenas, mas milhares de cartas foram enviadas a Harry, até que uma fosse lida por ele. Assim acontece com as cartas psicografadas particulares: se algumas cartas não são suficientes para convencer da realidade maior da vida após a morte, o que dizer de milhares delas? Nada poderá impedir que elas continuem a vir e prover consolação aos que choram seus entes queridos provisoriamente transferidos para o mais além.

Referência

Nos links abaixo, referências acessíveis em abril de 2024.

1 -  A. Kardec. "Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas", Capítulo V – Dos médiuns, Médiuns escreventes ou psicógrafos. "O Livro dos Médiuns". Versão Ipeak, www.ipeak.com.br.
2 - https://www.youtube.com/@MensagensdeLuz-Oficial/videos 


3 de abril de 2024

Por que educação ambiental e ecologia são relevantes para o movimento espírita? (Parte II)

A aula ambiental de Aniceto


Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. 
Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 

Romanos 8:19-21

Conforme vimos no post anterior [1], a necessidade de educação ambiental e ecologia se impõe ao movimento espírita não como assunto de interesse meramente intelectual. Ao contrário, ela é o resultado da própria ética espírita aplicada não apenas aos semelhantes e a nossa relação com o Poder Superior, mas também com as coisas aparentemente menores que nós. Até hoje, acreditamos poder dispor e destruir essas coisas porque são "nossa propriedade". Dado que ainda não se pode forçar a lei de amor no coração da maioria dos homens, é preciso educar para essa lei, a começar talvez pela maneira como consideramos todos os seres e recursos naturais que nos cercam. Repetida milhares de vezes pela razão e compreendida pelo intelecto, quem sabe um dia essa lei finalmente encontre abrigo no coração.

Mas, poderíamos nos perguntar, existem referências explícitas na literatura espírita sobre a necessidade de preservação do meio ambiente? O assunto era demais novo para Kardec no Século XIX. Existem, entretanto, algumas referências indiretas nele como, p. ex., citado em [2] que se refere à citação de A Gênese:

Tudo no Universo se liga, tudo se encadeia, tudo se acha submetido à grande e harmoniosa lei de unidade.
Há obviamente a questão 750 de O Livro dos Espíritos, mas ainda como lição que exige dedução do leitor sobre qual lado ele deve se posicionar no debate da preservação ambiental. Conhecemos o argumento de que não é objetivo do Espiritismo se imiscuir com qualquer aspecto material da existência, mas prover lições que ajudem a alma a progredir moralmente apenas. 

Porém, essa conclusão permite certas observaçoes complementares.  Por exemplo, André Trigueiro escreveu recentemente Espiritismo e Ecologia [4], importante referência para esse despertar de consciência. Outros estudiosos também chamaram a atenção para a relevância do tema no Movimento Espírita [5]. Já em O Consolador, de Emmanuel [6], uma seção inteira "Biologia" (Primeira Parte) é dedicada à Natureza, com especial atenção às questões 27, 28 e 29 dessa obra.

Um tanto esquecido, mas muito mais direta é a preleção feita pelo Espírito Aniceto que pode ser lida no Cap. 42, "O evangelho no ambiente rural", de Os Mensageiros [3] de 1944. Como não assisti à versão para o cinema, não sei se foi explorada nessa nova versão para a sétima arte. Aqui analiso essa passagem dessa obra que apresenta muitos pontos de reflexão.

Depois de citar uma passagem da Epístola aos Romanos (8, 19-21, reproduzida no início deste post), Aniceto dá início a seus comentários sobre ela:

Há milênios a Natureza espera a compreensão dos homens. Não se tem alimentado tão somente de esperança, mas vive em ardente expectação, aguardando o entendimento e o auxílio dos Espíritos encarnados na Terra, mais propriamente considerados filhos de Deus. Entretanto, as forças naturais continuam sofrendo a opressão de todas as vaidades humanas. Isto, porém, ocorre, meus amigos, porque também o Senhor tem esperança na libertação dos seres escravizados na Crosta, para que se verifique igualmente a liberdade na glória do homem. (grifos meus)

É a confirmação de que há um laço de fraternidade a unir a Humanidade a todos os seres e que esse coletivo de seres (e os recursos não bióticos)  aguarda sua consideração. Por enquanto, ela sofre a "opressão de todas as vaidades humanas". 

Conheço-vos de perto os sacrifícios, abnegados trabalhadores espirituais do solo terrestre! Muitos de vós aqui permaneceis, como em múltiplas regiões do planeta, ajudando a companheiros encarnados, acorrentados às ilusões da ganância de ordem material. Quantas vezes, vosso auxílio é convertido em baixas explorações no campo dos negócios terrestres? (grifos meus)

É referência ao auxílio dos Espíritos nas atividades humanas (questão 459 de O Livro dos Espíritos), mas  que têm sido corrompidas por meio de "baixas explorações" nos negócios da Terra. A preleção continua ainda mais vigorosa:

A maioria dos cultivadores da terra tudo exige sem nada oferecer. Enquanto zelais, cuidadosamente, pela manutenção das bases da vida, tendes visto a civilização funcionando qual vigorosa máquina de triturar, convertendo-se os homens, nossos irmãos, em pequenos Moloques de pão, carne e vinho, absolutamente mergulhados na viciação dos sentimentos e nos excessos da alimentação, despreocupados do imensa débito para com a Natureza amorável e generosa. (grifos meus)

É uma referência explícita aos métodos de cultivo exploratório e às quase insaciáveis necessidades humanas que sustentam essa exploração insustentável. A civilização, não obstante seu avanço tecnológico, ainda dispõe dos recursos naturais como uma "máquina de triturar. "Moloques de pão, carte e vinho" é uma imagem-referência a Moloque do Velho Testamento, conhecido deus aterrorizante cujo culto exigia o sacrifício de crianças. Aniceto acusa assim a sociedade moderna de "viciação de sentimentos e excessos de almentação" e falta de consideração "para com a Natureza amorável e generosa".
Eles oprimem as criaturas inferiores, ferem as forças benfeitoras da vida, são ingratos para com as fontes do bem, atendem às indústrias ruralistas, mais pela vaidade e ambição de ganhar, que lhes são próprias, que pelo espírito de amor e utilidade, mas também não passam de infelizes servos das paixões desvairadas. Traçam programas de riqueza mentirosa, que lhes constituem a ruína; escrevem tratados de política econômica, que redundam em guerra destruidora; desenvolvem o comércio do ganho indébito, colhendo as complicações internacionais que dão curso à miséria; dominam os mais fracos e os exploram, acordando, porém, mais tarde, entre os monstros do ódio! (grifos meus)

Essa parece ser uma análise bastante real da situação presente, ainda que feita em 1944. Desde então, somente pioraram as condições ambientais, e nosso mundo já está sofrendo com possíveis rupturas climáticas imprevisíveis. A corrupção que leva à poluição e ao desequilíbrio ambiental é fruto dessas forças inferiores em busca de "ganho indébito". Nessa passagem, Aniceto também descreve as consequências da "colheira obrigatória" a que exploradores desenfreados das forças naturais estão sujeitos pela exploração sem considerações para os recursos da Natureza. 

Por fim, considera o destino espiritual dos "seres sacrificados":

O Senhor reserva acréscimos sublimes de valores evolutivos aos seres sacrificados. Não olvidará Ele a árvore útil, o animal exterminado, o ser humilde que se consumiu em benefício de outro ser!
Arrisco dizer que essas são as declaraçõeos mais diretas feitas na literatura espírita sobre as questões relacionadas à preservação do meio ambiente e ao respeitos aos recursos naturais.

Conclusões

A relação de propriedade formal como direito, ainda que transitória, tem como dever correspondente a obrigação de preservação. Presevar o meio ambiente e viver em estado de sustentabilidade é portanto, uma manifestação da lei de amor aplicada aos "mais fracos".

Da mesma forma como a geração presente sofre no clima a consequência de ações ambientais destrambelhadas do passado, o Espírito encarnado ou não, não poderá fazer jus a uma morada mais aprimorada no futuro com desprezo a esses novos princípios. Se podemos falar em "lei de causa e efeito" para as relações entre os homens, essa mesma lei atua com relação a esses e o meio ambiente.

Se em parte podemos atribuir a nossa ignorância a falhas no entendimento do respeito ao meio-ambiente, hoje isso não é mais possível. Tanto pela provas científicas dos impactos da exploração desenfreada do lado material, como pela negação do materialismo, que desconhece a relação de afinidade que liga todos os seres.

Se a missão do Espiritismo é destruir o materialismo, também é sua missão ensinar porque é relevante respeitar o todas os seres e recursos naturais pela redução da viciação de sentimenos e excessos de alimentação. Para o materialista, a preservação importa como meio de sobrevida presente; para o espiritualista, como chance de novas oportunidades no futuro além da morte que atesta sua fraternidade e seus laços de ligação com todas as coisas e seres viventes.

Referências

[1] Por que educação ambiental e ecologia são relevantes para o movimento espírita? (Parte I). Ver: https://eradoespirito.blogspot.com/2024/03/por-que-educacao-ambiental-e-ecologia.html

[2] FEB (2023). O Espiritismo e a consciência ecológica. Acessado conforme disponível em março de 2024:  https://www.febnet.org.br/portal/2023/04/22/o-espiritismo-e-a-consciencia-ecologica/

[3] Xavier F. C. (2023). Os Mensageiros, Ed. FEB. 47a Edição.

[4] Trigueiro A. (2022). Espiritismo e Ecologia. FEB Editora; 5ª edição.ISBN-13 ‏ : ‎ 978-6555704372

[5] Miguel S. H. (2023). Espiritismo e desenvolvimento sustentável: caminhos para a sustentabilidade.Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano XV, n. 45

[6] Xavier F. C (1940). O Consolador. 4a Edição, FEB

2 de março de 2024

Por que educação ambiental e ecologia são relevantes para o movimento espírita? (Parte I)

 
Isso parece simples: já não cantamos nosso amor por e como obrigação para com a terra dos livres e a morada dos bravos? Sim, mas exatamente o que e quem amamos? Certamente não o solo, que sem qualquer ordenamento despachamos rio abaixo. Certamente não as águas, que assumimos não ter qualquer função a não ser para girar turbinas, flutuar barcaças e transportar esgoto. Certamente não as plantas, das quais exterminamos comunidades inteiras sem pestanejar. Certamente não os animais, cujas maiores e mais belas espécies extirpamos. Uma ética da terra, é claro, não pode impedir a alteração, gestão e uso desses "recursos", mas afirma seu direito à existência continuada, e, pelo menos em alguns pontos, sua existência continuada em seu estado natural. (A. Leopold, “A ética da terra”).
Pode-se considerar a interação do indivíduo - espírito encarnado, no estágio de desenvolvimento moral do ser humano - como um conjunto de relações que ele tem consigo mesmo, com Deus e com o que está fora dele. Em termos mais específicos:
  • A relação do indivíduo com ele mesmo: o que sei sobre mim, quem penso que sou e como devo regular minhas ações para me beneficiar em inúmeros sentidos, por exemplo, moralmente. É a ética do "conhece-te a ti mesmo".
  • A relação do indivíduo com outrem: com o meu próximo; como devo me portar diante dos outros e quais são meus direitos e deveres. É a ética da "lei áurea" e do "Sermão das Bem-aventuranças" [2], que governa minhas ações para com o próximo, e de onde se origina a verdadeira felicidade, ainda que não reconhecida pela jurisprudência humana da atualidade.
  • A relação do indivíduo com a sociedade: qual o meu papel em minha comunidade e país? Quais são meus direitos e deveres do ponto de vista social? Democracia, direito à vida, ao trabalho e as diferentes obrigações (pagamento de impostos etc) refletem essa relação.
  • A relação do indivíduo com Deus: Como minha crença em um poder superior (qualquer que ele seja), regula minhas expectativas em relação ao futuro e diferem em intensidade e teor daqueles que não creem nesse poder? É o domínio da ética da espiritualidade e da Religião.
  • E a relação do indivíduo com o ambiente que o cerca.
À medida que progride moralmente, modifica-se a maneira como essas relações ocorrem. O indivíduo se sente cada vez menos dono do que tem a sua volta. Evoluimos com relação à como nos entendemos, a como tratamos nossos semelhantes, a como vivemos em sociedade e sobre como entedemos e nos relacionamos com Deus. Porém, como temos evoluído em relação ao meio ambiente? Falta ainda, no dizer de Aldo Leopold, uma "Ética da terra" [1], que regularia nossa relação com o meio natural.

Isso porque o ambiente que cerca o homem sempre foi visto como sua propriedade. Mesmo há pouco tempo, como propriedades também foram consideradas vidas de agrupamentos humanos inteiros escravizados por uma minoria dominante. 

Ora, é evidente que a evolução espiritual deve levar a uma mudança radical na maneira como consideramos esse ambiente. Passaremos a considerar a Natureza e suas vastas reservas de energia, matéria e vida, como entidades a serem respeitadas. Os animais, vegetais e todos os recursos abióticos não são apenas "propriedades" a serem exploradas e exauridas, mas recursos que devem ser aproveitados com a menor interferência e com o maior respeito possíveis. Essa não interferência leva a duas obrigações: utilizar-se da Natureza apenas naquilo que é necessário e repor o que for retirado. 

Essas obrigações se vinculam em torno dos conceito de sustentabilidade: 
  • é qualquer sistema capaz de subsistir indefinidamente a partir de seus próprios recuros ou, pelo menos, por um longo período de tempo. 
  • Ser sustentável significa abastecer-se conforme a medida do necessário - porque necessário é minimizar o impacto da interferência no ambiente natural - sem subprodutos que levem à deteriorização desse ambiente. 
Qualquer coisa que exceda ao necessário é consequência da ignorância e do egoísmo. E o egoísmo é marca de Espíritos ainda inferiores. Assim, ascender espiritualmente é desvencilhar-se do apego que leva à tentativa de dominação de tudo que é externo a nós.

Apenas muito recentemente a necessidade de preservação começou a ser valorizada pelas sociedades mais desenvolvidas. Na esteira dos impactos negativos sobre o clima e das ameaças evidentes ao equilíbrio econômico, setores mais esclarecidos passaram a considerar a necessidade de coordenação global para se preservar o meio-ambiente.  

Naturalmente, a discussão em torno da "ética da Terra" pode ganhar muito com a visão espiritualista, além do que a argumentação materialista pode fazer (como em [3]). Se, do ponto de vista materialista é necessário respeitar a Natureza por uma "necessidade ecológica'', "considerações morais" ou "valor intrínseco da vida", para os espiritualistas a vida deve ser respeitada simplesmente porque nossa essência é espiritual e compartilhamos com os seres vivos uma fraternidade universal. 

Assim, para os espíritas, ações de preservação ambiental não podem ter por base apenas a constação de degradação e ameaças ao clima. Elas são o resultado de: 
  • Uma concepção mais dilatadas que vê o homem como uma parte ínfima da Natureza e não seu senhor. 
  • Logo, o mesmo respeito que devemos aos semelhantes, devemos ao ambiente que nos cerca. É uma extensão da lei do amor ao próximo.
Esse respeito se fundamenta na grande irmandade que liga todos os seres, inclusive aqueles que vivem em outros mundos. Pois essa grande "fraternidade universal" é formada por uma vasta cadeia de ecosistemas e seres que se extendem por todo o Universo em marcha progressiva em direção à angelitude e a Deus.

Referências

[1] LEOPOLD, A. A ética da terra. Appris Editora; 1ª edição,, 2020. ISBN-13 ‏ : ‎ 978-6555231410

[2] Ver o post "Bens, direitos, deveres e obrigações da alma",  https://eradoespirito.blogspot.com/2022/12/bens-direitos-deveres-e-obrigacoes-da.html

[3]  CARDOSO, André. Os Fundamentos da Ética da Terra e o Problema do Ecofascismo. Sofia, v. 12, n. 1, 2023. https://doi.org/10.47456/sofia.v12i1.40454.