2 de novembro de 2020

Comentários a um trabalho recente sobre psicografias


Fazemos aqui alguns comentários ao trabalho recente de Freire et al "Testando a alegada escrita mediúnica: um estudo experimental controlado", apresentado na lista de referências como a Ref. [1] e citado em [1b]. Nosso objetivo é fazer uma apreciação inicial dele, sobre como seus resultados podem ser interpretados diante de eventuais críticas ou contra-críticas - tanto espíritas como céticas.

Resumo

Por ser bastante elucidativo como apresentação, traduzimos abaixo o resumo de [1]:

Contexto: a mediunidade é entendida como um tipo de experiência espiritual em que uma pessoal (isto é , um médium) diz estar em comunicação com, ou sob o controle de seres espirituais. Nas últimas décadas, ressurgiram estudos sobre aspectos psicológicos, psiquiátricos e neurocientíficos da mediunidade, assim como estudos avaliando alegações de que médiuns podem obter informação anômala de pessoas falecidas.

Objetivo: avaliar a evidência da recepção de informação anômala de pessoas falecidas em textos produzidos através da alegada mediunidade de escrita (cartas psicografadas) sob rigorosas condições eperimentais de controle.

Método: oito médiuns e 94 consulentes participaram no estudo. Dezoito sessões de escrita mediúnica foram realizadas usando consulentes organizados em protocolo duplo-cego. Depois, cada consulente recebeu uma carta alvo e cinco cartas de controle pareadas por gênero e idade. Os consulentes pontuaram às cegas a acurácia das seis cartas tanto com conforme uma escala global como para cada um dos itens objetivamente verificáveis de informação apresentada nas cartas. Pontuações de cartas de controle e tratamento foram comparadas. 

Resultados: não houve diferenças na avaliação global e adequação específica das pontuações entre cartas de controle e alvo. Os médiuns envolvidos na pesquisa não foram capazes de mostrar evidências de fornecer informação anômala sobre pessoas falecidas sob condições de controle rigoroso. Discutimos sobre o estabelecimento de um compromisso razoável entre condições ecologicamente válidas e de controle.  

​Não foram poucos as pesquisas desde a época de Kardec que provaram que a mediunidade "não existe" com base em resultados negativos de experimentos. Mas, cada nova negativa sempre foi pontuada por manifestações mais ou menos extraordinárias, obtidas em condições de "inexistência de controle" ou com médiuns igualmente extraordinários que são, entretanto, muito raros.  O consenso presente, envolvendo as chamadas "ciências psi" é de que não é possível reproduzir facilmente (leia-se "replicar à vontade") o fenômeno. De qualquer forma, não foi objetivo do trabalho [1] "provar" qualquer coisa em relação à realidade do fenômeno ou demonstrar sua inexistência.

A seção "Discussão" de [1] discorre sobre três possíveis causas para o resultado negativo: i) que a mediunidade não existe; ii) que os médiuns usados não são, de fato, (bons) médiuns para produzir  fenômeno e; iii) não observância das "condições ecológicas" da manifestação pelo uso das condições de controle rigoroso. Os autores de [1] tomam a maior parte do espaço da seção citada discutindo sobre tais condições ecológicas, e sobre a influência negativa da presença dos consulentes "representantes" (proxy sitters).

Os autores propõem ser desnecessário usar de tais representantes porque "não há realimentação imediata enquanto um médium está escrevendo uma carta psicográfica", ou seja, não ocorreria "cold reading" (leitura fria), supostamente existente em sessões em que médiuns, estando face a face com seus consulentes, "leem mensagens ocultas" nas expressões e gestos  desses últimos, o que permitiria aos primeiros escreverem sobre os parentes falecidos. 

Em síntese: o protocolo usado é uma exigência da teoria cética da leitura fria como causa da mediunidade. Obviamente que isso gerou consequências para o resultado da pesquisa.

O problema da replicabiliade de "psi"

No contexto da parapsicologia, fenômenos psíquicos são explicados pela chamada "hipótese psi". Psi é concebido como uma causa difusa e desconhecida, que é supostamente captada pela mente humana nos "sensitivos".  Alguns parapsicólogos associam faculdades praticamente oniscientes a psi, que pode acessar o passado, o presente e o futuro, e é independente da distância. 

Além disso, psi se comporta como um deus caprichoso: não é possível garantir que atuará da mesma forma em todos os experimentos em que supostamente atuou, nem mesmo se agirá de fato. No trabalho "Porque a maior parte das descobertas em psi são falsas: a crise da replicabilidade, o paradoxo de psi e o mito de Sísifo" [2],  T. Rabeyron explora e fornece uma descrição atualizada das principais interpretações e trabalhos sobre psi. 

O problema da replicabilidade é a tendência observada em estudos (não só em parapsicologia, mas em psicologia e em medicina) de um determinado efeito "deixar de ser observado" ao se tentar replicá-lo posteriormente. Uma das causas imaginadas para isso são as chamadas "práticas de pesquisa questionáveis" que existiriam nos trabalhos iniciais de um pesquisa e deixariam de existir - com o suposto efeito - em trabalhos aprimorados posteriores. 

Conforme analisado por Rabeyron, esse não é, entretanto, o problema de psi. Houve muitas tentativas de replicação em parapsicologia, algumas em que o fenômeno se manifestou, enquanto outras não. O problema parece se relacionar com uma interferência do "observador" (ou experimentador), porque psi supostamente também interage com ele. O experimento do artigo [1], se interpretado segundo psi, seria mais uma instância do problema da replicabilidade. A situação é tão grave que o autor de [2] conclui ser impossível, simplesmente por repetição exaustiva de experimentos (dai a referência ao "Mito de Sísifo"), demonstrar de forma satisfatória o efeito e nem sua causa:

O problema subjacente é que, mesmo se um efeito significativo seja encontrado a cada passo, não há como concluir nada sobre a natureza do efeito e, consequentemente, não há como se produzir conhecimento científico sobre a fonte de psi: ele provém dos participantes? Do experimentador? Ele tem origem em cada experimentador separadamente? Ou ele é uma influência mais forte do primeiro que analisa os dados? Ou, talvez, daquele que projetou o experimento? [2]
O "efeito do declínio" ou "desparecimento de "psi" é então entendido como um problema de replicabilidade genuíno devido à interação do experimento com o experimentador:  
Um experimento de psi é como um ovo onde a casca encerra um sistema organizado fechado. Pode ser possível manter o efeito psi desde que esse envólucro organizacional não seja rompido, isto é, desde que o ovo não seja quebrado para ver o que há dentro. Nessa interpretação, as interações de psi são possíveis desde que o observador não interfira no sistema. Uma vez feito isso, "o jogo acabou". Isso explicaria porque a fonte de psi não pode ser determinada precisamente porque o processo de determinação destruiria as condições necessárias para a emergência de psi. [2]

É importante reconhecer que, em nenhum momento, o trabalho [1] considera a hipótese "psi". Porém, para a comunidade científica em que ele se insere, o resultado podem ser interpretados em função da replicabilidade de psi (ou seja, fora da "hipótese da sobrevivência").

Apelo a Kardec

Numa época em que se fala tanto de Kardec nos meios espíritas (o que é muito bom), como ele procedia nesse tipo de pesquisa? Certamente, não usava o método de "grupo de controle e tratamento" para analisar mensagens psicografadas. Seu procedimento foi desenvolvido ao longo de 15 anos de investigações. Consistia essencialmente  na observação comparada do ambiente onde o fenômeno ocorria na presença de médiuns. Kardec sempre esteve ciente de que o fenômeno, para acontecer, depende de inúmeros detalhes e não apenas do(s) médiun(s). 

Sua advertência justificada em fatos é:

Os fenômenos espíritas diferem essencialmente dos das ciências exatas: não se produzem à vontade; é preciso que os colhamos de passagem; é observando muito e por muito tem­po que se descobre uma porção de provas que escapam à pri­meira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se pode encontrá-las, e ainda mais quando se vem com o espírito prevenido. (Grifos nossos) [3]
Ao longo de mais de uma década, Kardec desenvolveu uma espécie de intuição ou sensibilidade sobre quem seria um bom médium para cada tipo de mediunidade possível. Então, passou a convidar pessoas que ele julgava por essa intuição para as sessões da Sociedade Espírita. É óbvio que, dispondo de bons médiuns desde essa perspectiva e conhecendo as condições de ocorrência do fenômeno [3b], ele conseguiu resultados extraordinários. 

Finalmente, é importante ressaltar a postura de Kardec em suas pesquisas. Ele não considerava a sobrevivência como uma mera "hipótese de trabalho", nem buscou orientar seu trabalho de forma a ressaltar a comunicação com "supostos falecidos". O impacto que essa postura tem sobre o sucesso das manifestações ainda merece ser estudado.

Os médiuns julgados

Recomendamos vivamente ao leitor a leitura do artigo "Médiuns julgados" na Revue Spirite de janeiro de 1858 [4]. Nele Kardec analisa um caso de não replicabilidade obtida com médiuns americanos (ou seja, isso não acontece apenas com "médiuns brasileiros" como destacado em [1b]). Para não cansar nosso leitor, destacamos desse artigo um importante comentário de Kardec:
Essa experiência prova, uma vez mais, da parte de nossos adversários, a absoluta ignorância dos princípios sobre os quais repousam os fenômenos das manifestações espíritas. Entre eles há a idéia fixa de que tais fenômenos devem obedecer à vontade e reproduzir-se com a precisão de uma máquina. Esquecem completamente ou, melhor dizendo, não sabem que a causa deles é inteiramente moral e que as inteligências, que lhes são os agentes imediatos, não obedecem ao capricho de ninguém, sejam médiuns ou outras pessoas. Os Espíritos agem quando e na presença de quem lhes agrada; freqüentemente, quando menos se espera é que as manifestações ocorrem com mais vigor, e quando as solicitamos elas não se verificam. (Grifos nossos) [4]
Eis ai boa parte da razão para a não replicabilidade dos fenômenos psi dada por Kardec em 1858. O leitor deve notar que não estamos a falar nada novo, mas de algo que, logo nas primícias da Codificação, era conhecido. 

Essa descoberta original de Kardec confirma as conclusões do trabalho de Rabeyron [2], porque nunca se produzirá conhecimento sobre a verdadeira causa de psi enquanto não se souber exatamente o que ele é. E não há como saber o que ele é, pois, em grande parte dos experimentos "projetados" para isso, ele se recusa a manifestar...

Conclusão

Com relação ao trabalho [1] nossa conclusão, baseada na seção "Discussão", é que os autores consideram relevante o problema da manutenção das "condições ecológicas" para a replicação positiva do efeito buscado. Tais condições ecológicas concordam com a necessidade de observar ou medir o fenômeno onde ele ocorre, sem amarras metodológicas e sem impor condições que possam destruir a manifestação. Isso concorda com as conclusões de Kardec logo no início da Codificação.

O que então aconteceu? Pode ser que o resultado negativo não se deve à presença dos consulentes proxy (como grupo) sem força de vontade suficiente para permitir comunicação, mas à própria tentativa de forçar comunicações, o que não agradou aos responsáveis "do lado de lá". Pode ser também que alguém (uma única pessoa) tenha atuado como escolho ao experimento (ou várias pessoas). Dado a descrição que fazem dos médiuns (de que eles são considerados bons em relatos "anedóticos" de sessões), a ideia de que a culpa seria deles é mais remota. A "hipótese da sobrevivência" é um fundamento que gera inúmeras consequências: se há comunicação, pode não ser o caso que ela seja possível no intervalo de tempo projetado para o experimento: "é preciso que sejam colhidas de passagem", como diria Kardec.

Se existem problemas de percepção da excelência mediúnica em grupos espíritas no Brasil, eles não serão resolvidos pela aplicação da metodologia do trabalho comentado aqui. Como na época de Kardec, não será simplesmente pela separação entre grupos em "controle" e "tratamento" dos recipientes das mensagens que se resolverá esses problemas. 

Do ponto de vista epistemológico, um experimento é sempre um resultado de uma teoria que tem determinadas hipóteses subjacentes. É importante, entretanto, prever ou considerar o risco de que uma metodologia, baseada em hipóteses que não correspondem à realidade do fenômeno, pode se tornar um escolho para a manifestação dele. Portanto, deve-se considerar protocolos que anulem todas efeitos que não a "hipótese nula", porém, não demais ao ponto de destruir todas as condições para a manifestação dessa mesma hipótese.  

De forma geral: é plenamente justificável em algumas ciências (como é o caso da fisiologia, medicina, sociais etc) estabelecer controles para tornar evidente um efeito. A ideia é que, a aleatorização de amostras e a separação entre grupo de controle e tratamento, elimine todas as condições externas que não aquelas ligadas ao efeito que se pretende tornar relevante. Mas, o que acontece se o fenômeno depender de condições externas para ocorrer? É uma consequência lógica (ou seja, independente da ciência em particular) que, nesse caso, o efeito a ser pesquisado desaparece, não se observando diferenças entre grupo de controle e de tratamento. 

A história da fenomenologia mediúnica mostra que médiuns extraordinários são muito raros. A regra geral é que mesmo excelentes médiuns não podem ser encontrados facilmente. E mais, ainda na presença desses, eles não são capazes de fornecer comunicações conforme desejos ou caprichos dos sitters

Dos problemas discutidos aqui, o mais grave, segundo nosso entendimento, é tentar forçar comunicações. É provável que, mesmo médiuns medianos, comunicações excelentes sejam possíveis, desde que observadas as condições naturais e não forçadas de ocorrência. 

É quando se pretende encerrar o fenômeno dentro de um quadro ou contexto pré-definido que ele deixa de ocorrer. E isso é válido tanto nos ambientes de pesquisa acadêmica do assunto como provavelmente nos muitos ambientes espíritas (independente da nacionalidade) em que comunicações são buscadas "a qualquer preço". 

Referências e comentários adicionais

[1] E. S. Freire et al. Testing alleged mediumistic writing: An experimental controlled study. EXPLORE, 2020. https://doi.org/10.1016/j.explore.2020.08.017

[1b] J. Sampaio (2020). Muitos resultados negativos na análise de cartas psicografadas por médiuns brasileiros. Disponível em: http://espiritismocomentado.blogspot.com/2020/10/muitos-resultados-negativos-na-analise.html (acesso em outubro de 2020)

[2] Rabeyron, T. (2020). Why most research findings about psi are false: the replicability crisis, the psi paradox and the myth of Sisyphus. Frontiers in Psychology, 11, 2468. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2020.562992/full (Acesso em outubro de 2020)

[3] A. Kardec. O que é o Espiritismo? Capítulo I - Pequena conferência Espírita, Primeiro diálogo - O crítico. Versão www.ipeak.com

[3b] Tanto isso é verdade que, em inúmeras passagens da Revue Spirite, Kardec registra sempre ter pedido autorização a S. Luís para invocar os Espíritos. Ela sabia muito bem que não se pode forçar comunicações, pois são vários os impecilhos para sua ocorrência genuína.

[4]  A. Kardec (1858). Revue Spirite. Os Médiuns julgados. Janeiro de 1858, p. 50. Versão FEB disponível em https://www.febnet.org.br/ba/file/Downlivros/revistaespirita/Revista1858.pdf (acesso em outubro de 2020).


19 de outubro de 2020

O Halloween e comemoração do dia dos mortos


A chamada festa de Halloween ou a  "vigília de todos os santos" é comemorada na véspera do chamado "Dia dos Mortos", que a tradição colocou no início de novembro. Como acontece com todas as festas religiosas - o que inclui a data de Natal, considerada a mais "cristã" de todas, mas que na verdade nasceu dentro do Paganismo - o Halloween tem sua origem em tradições muito mais antigas. No Brasil, dada a influência dos Estados Unidos, os costumes têm se modificado para "festejar" tal data quando então as pessoas e as crianças vestem fantasias horripilantes, algumas criativas outras ridículas. Em outra visão, o Halloween é um grande festa comercial, onde muitos negócios e oportunidades de ganhos financeiros prosperam [1].

A tradição do Halloween se iniciou com a festa de Samhaim dos celtas, ou povos que viviam na Europa, e que tinham a tradição de acender fogueiras, assim diz a lenda, para afastar "espíritos". Uma suposta "abertura" das comunicações e relações com as criaturas do além celta ocorreria no final de outubro, o que explicaria a festa. Segundo [2], essa interpretação é incorreta e não corresponde ao verdadeiro sentido da festa de Samhaim, que nada tinha de relação com os mortos. A razão era muito mais banal: a data coincidia com meados do outono, um tempo de colheita e prenunciava uma época de menores ganhos agrícolas, com a chegada do inverno e dias mais curtos. Os celtas dividiam o ano em verão e inverno; com início em 1 de maio para o verão e começo do inverno em 1 de novembro. O nome Samhaim significava "quando o verão acaba".

Por volta do ano 1000, com a Europa completamente cristianizada, o papa Gregório III decretou a data de 2 de novembro como o dia final do tempo em honra aos santos, que se extendia de 13 de maio a 1 de novembro. A data do dia 13 tem a ver com a festividade de "Lemuria", uma festa romana de homenagem aos mortos. A data de 2 de novembro se deve a Santo Odilo, um monge de Cluny que decretou em 998 que todos os monastérios ligados a Cluny deveriam homenagear os mortos no dia seguinte ao dia 1 de novembro (provavelmente sob influencia ainda da data celta ou romana). 

A festa, portanto, teve origem em um conjunto de sincretismos de difícil identificação, com contribuições de inúmeros povos diferentes. Seu relacionamento com a intervenção dos "mortos" tem origem cristã, provavelmente na tradição Clunisiana. Além disso, os Druidas, que se diz influenciaram as tradições do Halloween dos celtas, não permitiram que suas crenças fossem escritas e apenas compartilhavam conhecimento por via oral [2]. Em suma: pouco do que sabemos da contribuição dos Druidas ao Halloween pode ser confiado.

Muitos podem se perguntar: qual a relação entre o Espiritismo e o Halloween? A resposta mais correta é: nenhuma. Quem hoje identifica qualquer relação, o faz sem qualquer base na história, mesmo das tradições, e apenas estabelece uma relação a posteriori que nunca existiu.

Com o advento da compreensão espírita, sabemos que as forças mais próximas de nós no além são única e exclusivamente as almas dos homens (e mulheres que são de  mesma natureza que a dos homens), e que não podem ser destruídas, além, obviamente, de Deus e dos espíritos superiores que presidem ao destino dos mundos. Muitas aguardam novas oportunidades de renascimento em nosso mundo material. Dispondo da compreensão do Evangelho e do esclarecimento sobre a verdadeira natureza da vida humana, sabemos hoje que somos muito favorecidos pelas amizades que guardamos no Além dos que partiram antes de nós. Fora disso, não se confirma a existência independente de nada representado na festividade do Halloween. 

 Referências

 [1] BELK, Russell W. Halloween: An evolving American consumption ritual. ACR North American Advances, 1990.

 [2] GEORGE, Arthur. Halloween: Eve of Transformation. In: The Mythology of America's Seasonal Holidays. Palgrave Macmillan, Cham, 2020. p. 149-173.


25 de agosto de 2020

A razão das antipatias que sofremos na Terra

Bobo risonho, J. Cornelisz van Oostsanen (~1500). Fonte: Wikipedia.

(...) Um espírito mau antipatiza com quem quer que o possa julgar e desmascarar. Ao ver pela primeira vez uma pessoa, logo sabe que vai ser censurado. Seu afastamento dessa pessoa se transforma em ódio, em inveja e lhe inspira o desejo de praticar o mal. O bom Espírito sente repulsão pelo mau, por saber que este o não compreenderá e porque díspares dos dele são os seus sentimentos. Entretanto, consciente da sua superioridade, não alimenta o ódio, nem inveja contra o outro. Limita-se a evitá-lo e a lastimá-lo. ("O Livro dos Espíritos, resposta à questão 391.)

A ciência espírita não só trata do conhecimento das manifestações espíritas ou dos mecanismos entre o espírito e o perispírito. Essa ciência, que ainda está em sua tenra infância, permite compreender de forma racional um conjunto de influências tanto boas como más que recebemos durante nossas vidas. 

Essa compreensão se alicerça na imagem nova que a revelação traz, principalmente, da verdadeira razão da existência humana. É verdade que a moderna psicologia propõe procedimentos e elabora recomendações sobre como devemos proceder psicologicamente em nossas vidas. Porém, a revelação dos Espíritos nos traz ingredientes adicionais pelos quais é possível absorver um pouco mais racionalmente essas recomendações. Há obviamente racionalidade em todo tratamento psicológico: o de melhorar a vida e restaurar a felicidade e a paz de espírito. Mas, todo e qualquer ensinamento adicional que colabore com esse objetivo é bem-vindo. Não há maior ensinamento sobre a vida do que conhecer sua razão de ser e objetivo final. 

As causas das simpatias, mas principalmente, antipatias que enfrentamos na vida está bem descrito no Cap. VII da 2a Parte de "O Livro dos Espíritos". Ainda motivado pelas complexidades da "Volta do Espírito à Vida Corporal" (O Capítulo VII), há  uma seção inteira dedicada a "simpatia e antipatia terrenas". É importante dizer que não há nada de inerentemente ruim ou bom no fato de dois Espíritos sentirem, por exemplo, antipatia recíproca. Isso está bem claro na resposta à Questão 390:

De não simpatizarem um com o outro, não se segue que dois Espíritos sejam necessariamente maus. A antipatia, entre eles, pode derivar da diversidade no modo de pensar. À proporção, porém, que se forem elevando, essa divergência irá desaparecer e a antipatia deixará de existir.

Como consequência dessa independência, a antipatia não nasce primeiro naquele Espírito de natureza inferior: "Numa e noutra indiferentemente, mas distintas são as causas e os efeitos nas duas" diz o início da questão 391, cuja segunda parte citamos no começo deste post. Não obstante a antipatia ser recíproca, ela provoca em cada Espírito reações diferentes.

No inferior, ela amplifica sentimentos já existentes de inveja, ódio e do "desejo de praticar o mal". Disso segue que, embora o sentimento seja recíproco, a parte mais inferior quase sempre toma a iniciativa da prática lamentável, da perseguição, da injúria ou da maledicência, ações que, sem freio, são a causa de muitos crimes que assistimos todos os dias nos noticiários. 

"Minha mãe não gosta de mim" ou as antipatias na família.

Uma leitura desatenta da seção que estudamos aqui pode levar a pensar que os Espíritos apenas se referiam a antipatias 'fortuitas' que encontramos em nossas vidas, problemas entre amigos ou nas relações profissionais. A mais difícil lição para os Espíritos encarnados é a de serem obrigados a enfrentar antipatias dentro da própria família. Pois, como consequência do ensino dos Espíritos, não há obrigações inatas ou genéticas para que uma mãe, um pai ou filhos amem-se, caso sejam Espíritos antipáticos.

Muitos se escandalizam com essas conclusões, mas o sentimento de revolta é, na verdade, consequência dos ditames culturais e do que seria 'natural' encontrar, mas não da realidade oculta da Vida Maior que se mostra nos casos particulares. De fato, as leis de afinidade entre os Espíritos e as vidas pregressas explicam muitas das antipatias observadas no seio das famílias. Muitos se perguntam por quê? A resposta ai está. Tais espíritos podem ser antipáticos, mas não necessariamente maus, repetimos.

Mas, não importa a cor, a cultura, o laço de relação familiar ou a educação que adorne aquele que pratica atos como racismo, bulling, perseguições sistemáticas por motivos fúteis e outros. Serão sempre prova da natureza inferior da personalidade de seus Espíritos que estarão sujeitos à correção no futuro. Por outro lado, muito melhores são os pais e filhos que, não obstante antipatias entre si, seguem firmes os princípios de respeito e justiça.

Também não é verdade que a antipatia que sentimos por alguém próximo ou distante na família seja exclusivamente fundada em ações de vidas anteriores. Muitas vezes isso é afirmado entre os espíritas, mas uma leitura atenta da seção que estudamos aqui traz essa consequência lógica, que também vale para as afinidades:

Dois Espíritos, que se ligam bem, naturalmente se procuram um ao outro, sem que se tenham conhecidos como homens. (Resposta à questão 387)

Reconhecido uma antipatia mútua, é importante que cada um busque evitar qualquer contenda, criando uma atmosfera de respeito mútuo. Ora, isso nasce mais naturalmente em quem tem o Espírito mais desenvolvido. Reconhecida a antipatia, surge imediatamente a repulsa pela situação, a ânsia pela fuga ou distanciamento do outro. Segundo os Espíritos, isso é bastante natural, e a situação cai na classe das "vicissitudes" da vida - dos testes ou provas a que os Espíritos estão sujeitos para melhor controlarem seus sentimentos. 

Não há uma pergunta específica em "O Livro dos Espíritos" sobre o que acontece quando os dois Espíritos têm o mesmo grau de esclarecimento, mas são antipáticos. Mas a resposta, obviamente, é uma consequência lógica dos princípios enunciados.  Também, de acordo com a resposta à Questão 390, Espíritos verdadeiramente superiores não mantêm antipatias, pois não mais estão sob influência das paixões inferiores. Assim, à medida que se elevam, a "antipatia deixará de existir". Isso não implica que, em missões na Terra, não sofram eles também antipatias. De fato, isso é o que mais ocorre, pois são muito diferentes do meio que encontram.

Antipatias entre os não esclarecidos

Resta, porém, o dificílimo problema de como lidar com a antipatia que nasce entre Espíritos de natureza inferior. Desde que a razão não intervenha e induza a ambos reconhecer que o melhor para os dois é manterem a devida distância, a relação quase sempre evolui em espiral descendente de sentimentos, da prática abusiva de perseguições sem justificativas, que podem acabar em crimes, alguns até hediondos. Incapazes de compreender a origem da antipatia, procedem instigando-se uns aos outros. Adquirem assim débitos que somente poderão ser quitados em futuras existências - quase sempre em situações ainda mais difíceis. Muitos dos que estão no entorno desses Espíritos sofrem consideravelmente, quando não acabam se transformando em verdadeiros grupos antagônicos e inimigos declarados. 

Uma parte de "Cristo carregando a cruz" de Hieronymus Bosch (1490).

Incapazes de compreender a origem da antipatia que sempre permanece oculta - seja por uma falta de afinidade natural ou por reconhecimento mútuo com causas no passado, a escalada do mal que alimenta as antipatias entre os Espíritos somente pode ser contrabalançada pelo perdão das ofensas. Essa é a mais difícil lição a que os Espíritos libertos do mal em si próprios estão sujeitos: o de perdoarem os erros e as falhas daqueles que se apresentam como inimigos. 

É possível imaginar que, até que tenham atingido estágio de discernimento, continuam a lutar entre si. No cadinho dos sentimentos levianos, tornam-se afins por interesses pessoais. Incapazes de perdoar, fustigam seus rivais. Colhem, por tempo indeterminado, decepções e sofrimentos, gozando de forma muito momentânea da felicidade fugaz que alimenta ainda mais os sentimentos do momento. Não há ponto de retorno aqui, até que o sofrimento resultante disso corroa todo o ânimo de praticar o mal e faça nascer na alma uma luz. O arrependimento precede ao perdão, porque a duras penas o Espírito passa a entender que ele não será feliz no velho modo de agir.  O mundo para o Espírito assim regenerado se torna um grande campo de regeneração. Aqui e ali, entretanto, ainda encontrará suas antipatias, das quais, agora redimido, tentará fugir. 

Isso assim será até que, completamente refeito em sua estrutura psicológica, o Espírito se torne tão sólido moralmente que nada abale seu ânimo. Haverá então conquistado a verdadeira salvação

Tal como os Espíritos, as sociedades também evoluem ao reconhecerem a origem do mal e ao procurarem rejeitá-lo sistematicamente. Mas esse é um assunto para um futuro post.

Outras referências

"O Evangelho segundo o Espíritismo", Capítulo X. 'Perdão as ofensas'.

10 de julho de 2020

Estudo de "O Livro dos Espíritos": flagelos destruidores (Cap. VI)


"Essas subversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos". ([1], Resposta à Questão # 737)
Flagelos destruidores são ocorrências naturais que provocam a extinção em massa de seres vivos, inclusive agrupamentos humanos. O que caracteriza os flagelos é a intensidade e a velocidade de propagação. A intensidade é medida em termos do total de mortes ou danos causados pelo flagelo. A velocidade é a taxa com que a destruição acontece.  

O início de 2020 foi marcado pelo inusitado aparecimento de uma epidemia local na China que logo se tornou uma pandemia, afetando a maioria dos países. A incidência pandêmica de um vírus chamado "Covid-19", a se manifestar aparentemente como uma gripe comum, é considerada um flagelo, dada a sua velocidade e intensidade de propagação. Do contágio à morte, contam-se algumas semanas, com maior taxa de mortalidade na população de idosos e pessoas que apresentam problemas de saúde pré-existentes. 

Uma geração inteira, que já nasceu conectada através de recursos da internet, foi surpreendida pela pandemia como uma novidade e uma gigantesca ameaça. Entretanto, como flagelo destruidor, a pandemia do Covid-19 é apenas uma das inúmeras pandemias ou epidemias de vastas proporções já vividas pela Humanidade [2]. Assim como surgem, desaparecem deixando atrás de si um rastro de morte e destruição. Para materialistas, essas ocorrências naturais são a prova das forças cegas que podem destruir a Humanidade inteira. Além do impacto econômico, sua maior influência é o pessimismo e a desolação mental que atingem principalmente aqueles que mais descreem na vida futura. O mundo se torna sombrio, e cada minuto confinado é momento de uma vida sem sentido.

Considerações espíritas

Para quem considera a vida desde a perspectiva da vida maior do Espírito, o momento da pandemia permite inúmeras reflexões em torno das questões 737 e 741 do Cap. VI, 3a Parte de "O Livro dos Espíritos". Da leitura atenta dessa parte destacamos algumas passagens:

Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é.

Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. 

Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real. Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. [1, trechos da resposta à Questão #738a] 

Quando a resposta afirma que "a vida do corpo bem pouca coisa é" devemos entender o contexto da pergunta. No caso, a vida humana é bem pouca coisa desde o ponto de vista daquilo que homem costuma pensar de si como encarnado, o que em uma afirmação anterior está representado por "o homem tudo refere ao seu corpo". É óbvio que a vida humana é relevante como oportunidade de aprimoramento do Espírito. Cessa essa importância, porém, quando o homem, orgulhoso, pensa que ela é a única coisa que existe. Como o objetivo último é esse aprimoramento, a vida pode chegar a um fim antecipado se sua continuação representar um estorvo tanto para o progresso da alma encarnada como para os grupos humanos (família, coletividade, etc) que são obrigados a suportá-la.

"O anjo da morte às portas de Roma". (Jules-Élie Delaunay. Fonte: Wikipedia)

Mas, não há como antecipar em que momento a continuação da existência humana representa um problema para o progresso da alma. Apenas a Providência Divina tem essa informação. Da mesma forma, nenhum de nós tem condição de sequer imaginar qual teria sido a sucessão de coisas ou fatos caso um flagelo destruidor como uma pandemia de longo curso não tivesse ocorrido. Não há como afirmar que a vida teria sido mais bela: no balanço geral dos ganhos, conta mais o avanço da alma humana em aspectos imortais que não existem para a mente imediatista ou demasiadamente ligada à matéria.

Assim, segundo os Espíritos, que ditaram as respostas para A. Kardec, o objetivo maior dos flagelos destruidores é:

...fazê-los progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, a cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? [1, início da resposta à Questão #737]

Esse progresso, entretanto, não é imediato. Ele se dá tanto do ponto de vista dos objetivos da alma como, possivelmente, do ponto de vista material. Conforme a resposta da Questão #739:

Mas, o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.
Quantas gerações para a frente da época de uma pandemia como a do Covid-19 serão beneficiadas? A resposta ignoramos. Assim, flagelos destruidores - o que incluem as epidemias - podem ser vistos também como "resgates coletivos" que afetam o organismo da sociedade com alvos de aprimoramento futuro que permanecem ocultos desde a perspectiva da vida imediata. 

Abnegação, inteligência, resignação e paciência

A comparação com "doenças coletivas" também se estende a maneira como eles devem ser encarados no momento em que surgem:
Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se o não domina o egoísmo. [1, resposta à Questão 740]
Essa resposta contém inúmeras lições. Quando os Espíritos afirmam que os flagelos são "ocasião para exercitar a inteligência" querem dizer que o homem deve lançar mão de todos os recursos possíveis para abrandar ou mitigar seus efeitos. Desde o desenvolvimento de vacinas até a adoção de medidas de higienização, planejamento e isolamento protegem, em tese, a coletividade não só da doença em curso, mas de outras futuras. O "exercício da inteligência" significa principalmente o uso sistemático do conhecimento científico que nada mais é do que fonte de progresso material

Chama a atenção a parte final da resposta à Questão 741 (grifo nosso):
Contudo, entre os males que afligem a Humanidade, alguns há de caráter geral, que estão nos decretos da Providência e dos quais cada indivíduo recebe, mais ou menos, o contragolpe. A esses nada pode o homem opor, a não ser sua submissão à vontade de Deus. Esses mesmos males, entretanto, ele muitas vezes os agrava pela sua negligência.
Se o momento exige inteligência e resignação, a negligência desses aspectos pode levar ao agravamento dos males e de suas consequências. A resposta também contém a revelação do caráter de fatalidade ligado aos flagelos, pois estão entre os "decretos da Providência". Contra isso os Espíritos indicam o remédio: o exercício da paciência e da resignação, ao que se deve adicionar a abnegação e a ajuda aos que estão mais expostos às vicissitudes do momento. De fato, toda crise representa uma oportunidade para exercitar essas virtudes da alma que são patrimônios inalienáveis do futuro.

Para futuras reflexões

Como possíveis benefícios futuros do Covid-19, à luz do que vimos aqui, consideramos os seguintes pontos para futuras reflexões:

  • Os últimos 20 anos de desenvolvimento da Humanidade foram testemunhos de avanços consideráveis como o advento da internet. No seu início, a internet representou a esperança de uma globalização de costumes e culturas, o intercâmbio de ideias e o compartilhamento de soluções através do globo. Com o tempo, porém, os velhos costumes dominaram as perspectivas e a internet acabou refletindo mais ou menos a segregação própria de cada agrupamento humano. Não representa a pandemia uma oportunidade para novas formas de relacionamento (visando o desenvolvimento científico e cultural) entre os povos, aproveitando esses recursos de comunicação?
  • Ela não representa oportunidade de desenvolver soluções para outras doenças contagiosas, não só através de vacinas, mas pelo uso de medidas sanitárias eficientes e de condutas coletivas menos suscetíveis à transmissão de doenças?
  • Novas formas de trabalho, com aplicação mais racional de recursos, menos danosos ao meio-ambiente, não parecem emergir de um quadro pós-pandemia? 
  • Para a administração geral (pública e privada), não representa a pandemia a oportunidade de conduzir aos cargos administrativos aqueles que têm mais competência na condução das respostas que a crise exige?  
A explicação para a presente crise, provocado por um flagelo que inibe temporariamente a atividade econômica e a interação social, está nos objetivos da vida futura do homem. Para quem tudo considerada desde a perspectiva da vida imediata, a impressão é de arrefecimento do ânimo e de perda de oportunidades. Porém, a vida humana obedece a um propósito de natureza superior que permanece oculto à maioria.  Desse objetivo a alma encarnada, quando muito, guarda vaga impressão nos recessos do seu inconsciente, na medida necessária para que ela consiga viver e aguardar. 

Por isso, o exercício da abnegação e da paciência, pela conformação às medidas sanitárias necessárias para reduzir o alcance da doença tornam-se imperativos no momento. Em toda crise como essa, também lembramos o inesquecível "Mas quem perseverar até o fim, este será salvo" (Mateus, 24:13) como advertência do Evangelho e que transcende a todas as épocas da Humanidade. 

Referências

[1] A. Kardec, "O Livro dos Espírito". Ed FEB,  71 ed, 1991. 

[2] Além da "gripe espanhola" e "peste negra", uma interessante pandemia foi a "peste Antonina", ocorrida entre os anos de 165 e 180. Tratou-se de uma epidemia de Varíola que se originou também na China, segundo relatos e que dizimou milhares de pessoas na Europa. Para saber mais: "A Peste Antonina - Wikipedia" (acesso em julho de 2020).