19 de março de 2019

Anotações sobre a concepção espírita dos sonhos

"O sonho" (Pierre-Cécile Puvis de Chavannes, 1883)Fonte: Wikipedia.
"A lembrança que conserva, ao desper­tar, 
daquilo que viu em outros lugares 
e em outros mundos ou em existências passadas, 
constitui o sonho propriamente dito". A. Kardec (1). 

"Um dia será oficialmente admitido que 
aquilo que chamamos realidade é uma ilusão 
ainda maior do que o mundo dos sonhos". Salvador Dali

Uma parte importante da existência humana é passada dormindo. Em aproximadamente um terço de nossa existência como encarnados dormimos (2). O que acontece nesse estado? Embora seja fácil entender a necessidade do sono - tão natural que nem questionamos sua importância - algo mais difícil é caracterizar e entender os sonhos. O que a compreensão da natureza dual do ser humano,  permitida pela Revelação Espírita, revela sobre nosso entendimento dos sonhos ? 

A experiência onírica é bastante diversa das percepções ordinárias da vigília. Essas últimas admitem "testemunhas" pelas quais as pessoas compartilham experiências publicamente. Se viajo com minha família para um lugar turístico, as experiências que eu tenho são as mesmas que meus parentes também têm. Mas, nos sonhos, isso não se aplica. Toda a experiência dos sonhos é, em princípio, privada, ou seja, vivida apenas em "primeira pessoa", apenas por mim. Se sonho que estou com minha família fazendo turismo, provavelmente ao questionar meus parentes, eles não confirmarão a mesma experiência. Essa característica marcante é o que faz com que sonhos sejam, em sua grande maioria, tomados como experiências geradas exclusivamente pela mente de quem sonha. 

Outra característica marcante dos sonhos (eu mesmo já experimentei isso) é a aparente ausência de conexões causais dentro de um sonho. O que acontece em um determinado momento - mesmo tendo como causa aparente algo anterior durante o sonho - não se apresenta exatamente assim em um momento depois. Um exemplo: lembro-me de um sonho em que estacionei um carro em determinado local. Depois de outros fatos no sonho, quando retornei para pegar o carro, ele não estava mais lá ou, ao menos, não me lembrava de onde tinha deixado o carro... Por outro lado, também me lembro de sonhos em que recordei, no próprio sonho, ter estado em lugares (de sonhos) anteriores. Nesse caso, eu apenas continuava uma aventura ocorrida algumas noites antes e tive, no sonho, consciência disso: tratava-se de um "sonho lúcido".

O sonho como uma síntese mnemônica recriada das vivências da alma durante o sono

Como sintetizou Kardec, o sonho não se reduz ao estado da vida da alma livre do corpo. Se assim fosse, embora uma experiência privada, ele deveria ter coerência. O sonho é uma síntese mnemônica (a "lembrança que conserva") do que ocorreu durante o sono. Essa síntese, recriação ou montagem é bastante afetada por memórias ou lembranças já existentes, daquilo que interessa à mente nas experiências durante o sono (ou seja, ao Espírito), ou do que fica impregnado como lembrança para ela no momento do despertar. Na formação dessa síntese (através de mecanismos ainda desconhecidos), quase tudo que é relevante ao indivíduo dá sua contribuição: os desejos, temores, experiências reinterpretadas da véspera, lembranças dessa e de vidas anteriores e, inclusive, vivências que o Espírito livre teve, ou seja, as próprias lembranças de sonhos anteriores.

Para mim, a imensa maioria das pessoas (nas quais me incluo) não é capaz de reter perfeitamente, pelo prisma do cérebro, lembranças que vieram pelos sentidos da alma durante o sonho. Assim, o que acontece é que a lembrança dos sonhos é recriada em termos de um "banco de memórias" adquirido dessas vivências anteriores. É como querer criar um filme novo usando sequência de cenas de filmes velhos ou já editados. Assim, nesse processo de "reedição", o banco de memórias é usado como uma sequência de símbolos, cenas ou poses que tentam "sintetizar uma lembrança" da vivência real. É por isso que, ao acordar, muitas vezes, a sequência que surge é errática e não parece fazer sentido racional.

Por exemplo: imagine que eu, em Espírito, tenha estado em contato com outras pessoas, durante o sono. Quando acordar, provavelmente, o processo de lembrança preecherá as personalidades com quem tive contato com figuras ou pessoas que eu conheço de fato: a vezes, um amigo que sei depois estava acordado, uma pessoa com quem tive amizade há muito tempo etc. É possível até mesmo que o sonho seja preenchido com uma imagem de um parente desencarnado. E, assim, em geral acordamos pensando que estivemos com "fulano" já morto, mas na verdade era outro... Trata-se assim de uma recriação. De forma alguma minha lembrança reproduz fielmente o que passei em Espírito, apenas o 'script' é mais ou menos parecido. Essa montagem mnemônica é necessária para dar sentido durante a vigília para a experiência vivida no sonho. É assim porque as experiências durante o sono atingem a alma não pelas vias comuns dos sentidos materiais. Logo, ao impregnarem o cérebro no acordar são reinterpretadas.

Quer dizer então que não eram eles os que estavam naquele sonho que tive com minha mãe, pai ou parente falecido?  Não necessariamente. Situação algo diversa ocorre nos já citados sonhos lúcidos, que são uma categoria de sonhos mais raros e bem peculiares. Neles o indivíduo que sonha sabe que está sonhando, ou que está tendo a experiência. Nos sonhos que tive com minha mãe já desencarnada, tive a nítida impressão que ela veio me visitar e, coisa estranha, o sonho se passo no leito onde eu repousava e quase sempre terminava com o meu acordar em lágrimas. Esses tipos de sonho diferem intensamente da imensa maioria que tenho, formado por imagens banais, as vezes sequências que pouco ou nenhum sentido fazem. Sei que os primeiros são sonhos especiais porque são cheios de significações e muito diferentes dos últimos.

Essa ideia dos sonhos como um processo de recriação da experiência da alma durante o sono por meio de imagens preexistentes permite explicar os chamados "sonhos premonitórios". De fato, esses podem ser recriados com imagens anteriores, mas tratam de eventos futuros com base em experiências da alma no Além a respeito desses fatos. Tentar interpretá-los é uma experiência frustrante, pois eles só fazem sentido para quem teve o sonho e que mantem, inconscientemente, seu real significado. Além disso, quem sonha premonições pode não ser  competente em transmitir seu significado a tempo, uma fonte de inúmeras confusões.

Em suma podemos dividir em vários níveis as impressões dos sonhos e como eles se manifestam:
  1. O sentido profundo, que só existe para alma, muitas vezes de forma inconsciente. Esse sentido pode ser recapitulado em outros sonhos ou invocado em sonhos lúcidos. Certamente sobrevive à morte física,
  2. O sentido fragmentado, que é recriado com imagens ou memórias preexistentes, é o sonho "materializado" para o Espírito na vigília, talvez acabe esquecido com a morte física,
  3. O sentido transmitido para os outros, ou como descrevemos para os outros, durante a vigília, as nossas experiências oníricas. Elas podem causar, nos outros, impressão muito diferente do original, o que torna difícil sua "interpretação", embora em alguns "sonhos anômalos" ela  pode ser bem clara.
A importância dos "sonhos anômalos"


José interpretando o sonho do Faraó (Gen 41, 14-36).
Imagens da Torá por P. Medhurst (Wikipedia)

A grande parte do impasse teórico das concepções mais populares para explicar a mente se deve porque elas se referem apenas ao que passa com a imensa maioria. Entendo a razão disso de um ponto de vista prático. Estatisticamente, parece fazer sentido se dedicar ao que acontece na maior parte das vezes. Porém, com isso, sacrificamos a compreensão das causas mais profundas em detrimento do que é mais frequente. Assim, as anomalias que ocorrem com alguns poucos são varridas para "debaixo do tapete" por meio de explicações aparentemente aplicáveis apenas ao que é geral. Mas, será que a explicação mais verdadeira é aquela que serve para a maioria ou a que não deixa nenhum fato de lado? Na medicina, não se aprende nada sobre doenças estudando apenas os sãos. Portanto, é preciso estudar o anômalo, pois só ele permite estabelecer novas correlações, e explicar a exceção além da regra

Isso é justamente o que acontece nos chamados sonhos anômalos. Seriam eles sonhos comuns, não fosse o fato de que se aproximarem dos sonhos lúcidos e trazerem mensagens que contêm "conteúdo anômalo", além de bastante significativos. Um trabalho interessante é o de S. Krippner e L. Faith, entitulado "Sonhos exóticos: um estudo intercultural" (3). Nesse trabalho, os autores conseguiram separar (de um conjunto com quase 1700 relatos de sonhos), aproximadamente 185 (ou 8%) considerados "exóticos". Os sonhos receberam uma classificação conforme o tipo: sonhos de curas, sonhos lúcidos, sonhos criativos, sonhos com experiências fora do corpo, sonhos compartilhados, sonhos dentro de sonhos (como eu tive), sonhos com vidas passadas, sonhos de visitas etc.

Interessante, por exemplo, são os chamados "sonhos compartilhados". São relatos de pessoas que têm sonhos mútuos, ou seja, os sonhos são posteriormente descritos como coincidentes para mais de uma pessoa, o que revela um enfraquecimento do caráter "primeira pessoa" do sonho (4).

Nos sonhos criativos, Krippner e Faith registraram casos em que pessoas foram auxiliadas em sonho na solução de problemas da vida da vigília.

Em um sonho precognitivo, um indivíduo sonhou antecipadamente com a pessoa com quem iria se casar mais tarde.

Em um sonho de visitação, uma pintora do Japão relatou ter sido aconselhada por seu pai, falecido na Segunda Guerra mundial, a escolher certos tipos de pintura e até sobre como usar o pincel. A experiência foi bastante significativa para ela, que melhorou seu desempenho profissional.

Os autores também descobriram que nem sempre sonhos sobre tragédias terminam de forma fatal, mas se manifestam antes como anúncios de doenças ou de situação vulnerável de pessoas à distância.

Finalmente, os autores em (3) parecem ter descoberto uma correlação entre a incidência de sonhos anômalos e o tipo de cultura em que ocorrem. De fato, essa correlação faz sentido, considerando que os sonhos são interpretados em termos de uma bagagem mental prévia. Assim, quanto maior for o discernimento que o indivíduo tem a respeito das realidades do espírito, tanto mais claros espiritualmente serão os registros deixados nos sonhos, cuja manifestação se dá como sonhos exóticos ou peculiares.

É possível ainda que a maioria das pessoas já tenha experimentado - ao menos uma vez na vida - esse tipo de sonho.

Conclusões

Nessa pequena anotação, elencamos alguns aspectos que parecem relevantes para entender a gênese e o processo dos sonhos.

A compreensão do mecanismo dos sonhos deve tanto explicar a dinâmica dos sonhos com a imensa maioria das pessoas, como também aquelas experiências bastante peculiares, que ocorrem com grupos específicos, e que podem também se manifestar ao menos uma vez na existência dessa maioria.

Não é possível entender os sonhos sem a compreensão da natureza dual do ser humano, que explica os sonhos peculiares como um semi-desdobramento da alma. Aquilo que chamamos de sonhos são, na verdade, lembranças de ocorrências durante o sono, na sua maioria remontadas a partir de lembranças ou memórias já vividas. Essa explicação está de acordo com a ideia de que, no estado do sonho, o Espírito não pode sensibilizar diretamente o corpo (leia-se o cérebro), porque está dele afastado. No processo de "remontagem" da lembrança, tanto experiências da vida presente (fatos corriqueiros, pessoas etc) são usados, como também lembranças não ordinárias (p. ex., de vidas anteriores, de outros sonhos etc).

O caráter aleatório, estranho ou sem sentido da maioria dos sonhos é consequência dessa remontagem a partir de um banco de fragmentos de lembranças. De forma geral, o sentido dos sonhos só existe para a pessoa que o tem. É muito difícil interpretar corretamente os sonhos, embora isso possa acontecer excepcionalmente.

O entendimento de que sonhos são lembranças da vida do Espírito permite explicar uma grande variedades de relatos de sonhos considerados "anômalos", que são importantes fontes reveladoras do mecanismo dos sonhos. Sem atenção a esses relatos anômalos, a explicação dos sonhos fica reduzida a meros "alucinações" ou "fantasias" do cérebro, sem correlação com a verdadeira realidade que os explica.

Em particular, além da divisão entre "sonhos ordinários" e "peculiares", para a maioria das pessoas, os sonhos ainda se dinstinguem entre "comuns" e "lúcidos". Nos sonhos lúcidos, o indivíduo que sonha sabe que sonha e por isso, teoricamente pode "controlar" o que sonha. Aparentemente, esse controle estaria sujeito a treinamento (5).

Parece evidente que o sonhar é fase importante do desenvolvimento ou progresso da alma encarnada, quando ela exercita, por repetição, sua libertação do corpo físico e rememora sua vida desencarnada. Em certo sentido, sonhar é um treino para a libertação final da morte.

Notas e referências

(1) A. Kardec. "Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas". Vocabulário Espírita. Sonho.

(2) O que também é verdade com os animais. Essa observação se baseia na contatação de certos padrões de ondas cerebrais em mamíferos, o que seriam indícios de sonhos em semelhança com  os humanos. Sobre a questão do sonho nos animais ver: Pearlman, C. A. (1979). REM sleep and information processing: evidence from animal studies. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, 3(2), 57-68.

(3) Krippner, S., & Faith, L. (2001). "Exotic dreams: A cross-cultural study". Dreaming, 11(2), 73-82.

(4) Outro trabalho relacionado a sonhos compartilhados é Davis, W. J., & Frank, M. (1994). "Dream sharing: A case study". The Journal of psychology, 128(2), 133-147.

(5) Ver, p. ex.: May E. C & LaBerge S. (1991) "Anomalous Cognition in Lucid Dreams". Science Applications International Corporation. Interessantemente, uma página da CIA (Agência de Inteligência Americana) hospeda esse documento. Em Março de 2019, pode ser encontrada aqui:

31 de janeiro de 2019

A questão sobre o magnetismo animal e o nome "magnetismo" II


Continuação do post A questão sobre o magnetismo animal e o nome "magnetismo" I.

Kardec fez referência ao magnetismo 'físico' (1) , assunto de nosso post anterior:
Quem, de magnetismo terrestre, apenas conhecesse o brinquedo dos patinhos imantados que, sob a ação do imã, se movimentam em todas as direções numa bacia com água, dificilmente poderia compreender que ali está o segredo do mecanismo do Universo e da marcha dos mundos. (grifo meu)
Nada mais natural do que a designação 'magnetismo animal' diante de tantos magnetismos: 'ambárico', 'vitreo', da 'magnesia' e entre corpos celestes ou 'gravitacional'. A semelhança entre o 'motus operandi' desse novo magnetismo para o dos magnetos ou terrestre justificava a apropriação de nomes. Certamente, a figura de F. A. Mesmer (1734-1815) é responsável pela uso desses termos no último quartel do Século 18.

O próprio Kardec já afirmava que a analogia era errônea:
Demonstrou a experiência que não existe tal analogia ou que é apenas aparente. Assim a denominação não é exata. Como, porém, foi consagrada pelo emprego universal, e como, por outro lado, o epíteto que é adicionado não permite equívocos, haveria mais inconveniente do que utilidade em substituir a expressão. (2)
O erro tinha a ver com a crença de que se poderia usar imãs como instrumentos de cura no magnetismo animal. Do que se tratava o novo fenômeno? Kardec define de forma bastante didática e sumária esse novo 'magnetismo':
O magnetismo animal pode assim ser definido: ação recíproca de dois seres vivos por meio de um agente especial chamado fluído magnético. (2)
Essa definição nos leva a outro termo: o fluido magnético. Como no caso da apropriação que aconteceu com o próprio termo 'magnetismo', aqui também, por uma sequêcia de assimilações agora no mecanismo de atuação do fenômeno, um fluido é evocado como responsável pela intermediação dos efeitos. A floresta terminológica agora se adensa, porque mais de um nome é usado para o mesmo fluido: fluido vital, fluido nervoso etc.

Não só isso: chegamos a uma bifurcação conceitual importante, que está na raiz dos conceitos de cura frequentemente tema de dissertações espíritas, e as explicações da moderna ciência médica propriamente dita. 
Para alguns, o princípio vital é uma propriedade da matéria, um efeito que se produz quando a matéria se acha em dadas circunstâncias. Segundo outros, e esta é a idéia mais comum, ele reside em um fluido especial, universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parcela durante a vida, tal como os corpos inertes absorvem a luz. Esse seria então o fluido vital que, na opinião de alguns, em nada difere do fluido elétrico animalizado, ao qual também se dão os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc (3, grifos nossos).
Kardec parecia estar bem informado a respeito do debate entre o fisicalismo e o vitalismo, conforme esse trecho acima sugere. O vitalismo é uma linha de  raciocíno que argumenta ser a vida essencialmente irredutivel às leis físicas. Para o fisicalismo, a vida nada mais é do que uma manifestação mecânica dessas leis. Embora seja crença universal que o fisicalismo ganhou o debate, as grandes mudanças que aconteceram em nossa compreensão sobre as leis físicas podem ainda revelar surpresas (4). De qualquer forma, seja porque tivesse preferência pelo vitalismo ou porque os Espíritos usaram largamente o fluido magnético como explicação para muitas curas, Kardec tomou claramente a via não fisicalista (4b).

O magnetismo animal continua vivo por meio de inúmeros tratamentos alternativos e complementares tais como o passe espírita, o toque terapêutico, o Reiki dentre outros.
A ideia de que um fluido é transmitido entre seres vivos sustenta um número grande de terapias alternativas, como é o caso do Reiki, do Johrei, do Toque Terapêutico e do próprio passe espírita. Independente de qual 'teoria' esteja certa no contexto do debate considerado 'terminado' entre o vitalismo e o fisicalismo, evidências importam na demonstração de que, de fato, 'algo' é transferido entre os seres vivos, notadamente de curadores para pacientes e também para outros seres vivos.  Basta uma simples pesquisa para se levantar uma quantidade grande de estudos que mostram a existência do efeito (5), indepentende da opinião de céticos:
  • O "toque terapêutico estimula a proliferação de células humanas em culturas", ver (5), ref. 2. 
  • O "impacto potencial do tratamento do biocampo sobre células de tumor cerebral" (5, ref. 7).
  • "Efeito do passe espírita no crescimento de culturas de bactérias." (5, ref. 8) 
  • "O Toque Terapêutico tem efeitos significativos sobre metástases de câncer mamário de ratos e resposta imunológica, mas não sobre tamanho do tumor primário". (5 ref. 9)
  • "O Johrei, uma técnica de cura Japonesa, é capaz de aumentar o crescimento de cristais de sucrose". (5, ref .10)
Para mim está claro que o magnetismo animal sobrevive como causa desses fenômenos. Os efeitos, porém, são pequenos (6), não só porque se desconhece os mecanismos pelos quais eles poderiam ser aumentados, como também, a despeito da boa vontade, muitos dos 'doadores de fluidos' não dispõem de recursos maiores. Hoje o magnetismo animal encontra-se travestido por outros nomes tais como 'biocampo', 'terapias energéticas' e 'campo energético', entretanto, trata-se do mesmo efeito de ação à distância entre seres vivos.

A transformação do magnetismo de Mesmer em Hipnotismo

Desde o início do magnetismo animal, era necessário dar uma explicação convincente sobre as inúmeras curas e comportamentos insólitos observados junto aos pacientes tratados por Mesmer. Por 'convincente' entende-se explicações que satisfaçam ao senso comum e que fossem aceitas amplamente.

Já em 1784, uma comissão de notáveis (7) organizada pelo Rei Luis XVI - a incluir Lavoisier e Franklin - verificou a realidade das curas obtidas por ele. O objetivo da comissão era não só atestar as curas, mas também saber se a explicação dada por Mesmer (que envolvia o fluido magnético) era correta. Como tal fluido não pôde ser visto, ela concluiu pela sua inexistência. A comissão também concluiu que as curas observadas eram devidas ao efeito da 'imaginação' dos pacientes.

Começava então a fase das explicações de produto da sugestão, a partir de trabalhos de Abbe Faria (1756-1819) e James Braid (1795-1860), que criou o termo hipnotismo. A partir de então, por um processo de assimilação e explicação simplificada, o magnestimo animal foi associado inteiramente ao hipnotismo como explicação. Nas palavras de Braid:
...E em oposição ao Mesmerismo Transcendental (a saber, metafísico) dos mesmeristas... [supostamente] induzido pela transmissão de uma influência oculta do [corpo do operador para o do sujeito], o Hipnotismo, [pelo qual] eu quero dizer uma condição peculiar do sistema nervoso, na qual ele pode ser lançado por uma manobra artificial ....[é uma posição teórica] interiamente consistente com os princípios geralmente admitidos da ciência fisiológica e psicológica e, portanto [deve ser mais apropriadamente] chamado Mesmerismo Racional. (8)
A ideia de que pessoas seriam 'sugestionáveis' ou poderiam cair em um estado de percepção exacerbada foi tanto uma descoberta como uma explicação conveniente para os desafetos de Mesmer, que incluiam grande parte do mundo médico de sua época, praticantes de uma medicina que pouco tinha evoluido desde a antiguidade. Essa explicação, entretanto, desconsiderou sem razão as inúmeras curas e peculiaridades dos fenômenos  do magnetismo animal. E curas o hipnotismo não foi capaz de prodigalizar, ainda que se integrasse à prática médica (9).  Com vimos, o que fazer com as centenas de evidências de alterações observadas em tecidos biológicos por meio do processo de imposição de mãos?

É inquestionável que o fenômeno hipnótico existe, porém, ele não é a explicação correta para o magnetismo animal, que permanece como um fenômeno de fronteira.

Conclusões

A explicação popular de que o mesmerismo ou magnetismo animal nada mais é do que um fenômeno de sugestão, modernamente conhecida como hipnotismo, é falsa. O magnetismo animal sobrevive conforme atestam centenas de trabalhos científicos com amostras inanimadas ou com vida orgânica simples, desbancando as 'teorias de placebo', que propõem esse efeito como causa única das curas observadas em humanos.

Não obstante isso, o efeito placebo e o hipnotismo existem e são amplamente usados em medicina. Provavelmente o placebo é de causa ainda mais complexa, porque envolve um ser consciente que pode atuar sobre si. Todas esses efeitos secundários (sugestibilidade, excitabilidade etc) podem atuar junto ao magnetismo animal, tornando ainda mais difícil compreender o fenômeno das cura observadas em seus diverso componentes.

Tanto os termos 'fluido magnético' como 'sugestão' ou 'placebo' são containeres genéricos que carecem, eles mesmos da determinação de causas subjacentes. Embora seja possível traçar a atuação bioquímica de processos metabólicos que induzam ou suprimam os sintomas de várias doenças, existem inúmeros caminhos desconhecidos que também desembocam nesses processos, resultando nos mesmos efeitos. Considero particularmente problemático chamar esses mecanismos de 'não-físicos', visto que tudo que existe na Natureza pode ser explicado por uma via racional, dispensando-se qualificativos 'místicos' ou 'miraculosos'.

Para complicar ainda mais as coisas, o Espiritismo vai além e descobriu um terceiro elemento na complexa cadeia de processos de cura: os Espíritos desencarnados. Um médium de cura é um curador ou magnetizador capaz de manipular o fluido magnético potencializado pela ação dos Espíritos. Os Espírios podem tanto aumentar a capacidade curativa do fluido como suprimi-la completamente. Essa é a razão, talvez, porque muitos desses fenômenos não ocorrem de forma homogênea em todos os lugares da Terra. Também é a razão para não acreditar que eles possam atualmente prover uma terapia bem definida, ainda que complementar, tendo em vista seu caráter incontrolável.

Referências e comentários

(1) A. Kardec. O Livro dos Espíritos. 4a Parte, "Das esperanças e consolações". Conclusão, I. Versao www.ipeak.com

(2) A. Kardec. Instruções prátias sobre as manifestações espíritas. Termo "Magnetismo animal". Kardecpedia.com

(3)  A. Kardec. O Livro dos Espíritos. "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", II. Versao www.ipeak.com

(4) Aqui temos claramente um problema pois, se entendemos por 'leis físicas' aquelas conhecidas no século 19, o fisicalismo disso resultante deixará muito a desejar. Mas, não parece ser fácil negar esse argumento mesmo com a física moderna, afinal quem tem certeza de que temos as leis finais ?

(4b) A posição de Kardec pode também ter sido motivada pela identificação mais forte do fisicalismo com o materialismo.

(5) Ver, por exemplo:
  1. Burden, B., Herron-Marx, S., & Clifford, C. (2005). The increasing use of Reiki as a complementary therapy in specialist palliative care. International Journal of Palliative Nursing, 11(5), 248-253.
  2. Gronowicz, G. A., Jhaveri, A., Clarke, L. W., Aronow, M. S., & Smith, T. H. (2008). Therapeutic touch stimulates the proliferation of human cells in culture. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, 14(3), 233-239.
  3. Radin, D., Schlitz, M., & Baur, C. (2015). Distant Healing Intention therapies: An overview of the scientific evidence. Global advances in health and Medicine, 4(1_suppl), gahmj-2015.
  4. Monroe, C. M. (2009). The effects of therapeutic touch on pain. Journal of Holistic Nursing, 27(2), 85-92.
  5. VanderVaart, S., Gijsen, V. M., de Wildt, S. N., & Koren, G. (2009). A systematic review of the therapeutic effects of Reiki. The Journal of alternative and complementary medicine, 15(11), 1157-1169.
  6. Wardell, D. W., & Engebretson, J. (2001). Biological correlates of Reiki Touch's healing. Journal of advanced nursing, 33(4), 439-445.
  7. Trivedi, M. K., Patil, S., Shettigar, H., Mondal, S. C., & Jana, S. (2015). The potential impact of biofield treatment on human brain tumor cells: A time-lapse video microscopy. HAL archives ouverteshttps://hal.archives-ouvertes.fr/hal-01416895/document
  8. Lucchetti, G., de Oliveira, R. F., de Bernardin Gonçalves, J. P., Ueda, S. M. Y., Mimica, L. M. J., & Lucchetti, A. L. G. (2013). Effect of Spiritist “passe”(Spiritual healing) on growth of bacterial cultures. Complementary therapies in medicine, 21(6), 627-632.
  9. Gronowicz, G., Secor, E. R., Flynn, J. R., Jellison, E. R., & Kuhn, L. T. (2015). Therapeutic touch has significant effects on mouse breast cancer metastasis and immune responses but not primary tumor size. Evidence-Based Complementary and Alternative Medicine, 2015. http://downloads.hindawi.com/journals/ecam/2015/926565.pdf
  10. Teixeira, P. C. N., Rocha, H., & Neto, J. A. C. (2010). Johrei, a Japanese healing technique, enhances the growth of sucrose crystals. Explore: The Journal of Science and Healing, 6(5), 313-323.
(6) Com isso queremos dizer que não é possível a cura ostensiva de doenças. A grande maioria dos trabalhos tratado do alívio e da melhora dos sintomas associados a determinadas enfermidades que são devidamente acompanhadas por seus tratamentos médicos. Isso não significa que a cura completa de doenças não possa acontecer por meio do magnetismo animal. Para isso importa determinar o mecanismo de sua atuação que tornaria possível o seu controle e aumentar seus efeitos.

(7) IML Donalson (20150. Reports on the Royal Commission of 1784 on Mesmer's system of Animal Magnetism. Disponível em :

https://www.rcpe.ac.uk/sites/default/files/files/the_royal_commission_on_animal_-_translated_by_iml_donaldson_1.pdf

(8) J. Braid (1850). "Observations on Trance: Or, Human Hybernation". "Ver vocábulo 'Animal Magnetism' na Wikipedia. 


(9). De fato, a hipnose não constitui terapia. Ver Spiegel, H., & Spiegel, D. (2008). Trance and treatment: Clinical uses of hypnosis. American Psychiatric Pub.




1 de dezembro de 2018

Notícias de trabalhos científicos para o Movimento Espírita: novembro 2018


Grübelei/Liszt por Érico Bomfim (novembro de 2018)

Imagem do vídeo de Érico Bomfim contendo a mais nova versão de Grübelei por Brown/Liszt. Clique na imagem para acessar o video.
A conhecida médium inglesa Rosemary Brown, uma das mais importantes mediunidades musicais no Século XX, compos uma peça em frente às câmeras de TV ditada pelo Espírito de Liszt. Diz-se que críticos musicais ficaram bastante impressionados com o feito, dado que a música refere-se ao estilo tardio de Franz Liszt e não ao de suas composições popularmente mais conhecidas. 

Diversas versões de Grübelei foram lançadas e podem ser achadas no youtube. Agora, um músico brasileiro acaba de gravar uma nova versão. Para ouvir a belíssima composição mediúnica tocada por Érico Bomfim (disponível no Youtube):


Mais sobre Rosemary Brown: A colaboração Schubert-Rosemary Brown.
Lançamento de "A Sobrevivência da Alma em Foco" 

Recebi de Jáder Sampaio o Vol. 8 da "Série Pesquisas Brasileiras sobre Espiritismo" editado pela CCDPE que contém a coletânea de textos do 14o ENLIHPE  realizado em 2018. Esse livro traz artigos interessantes de pesquisas científicas recentes em mediunidade e história do Espiritismo que foram apresentados na reunião deste ano.

Sem prejuízo aos diversos autores que contribuiram para a obra, considero particularmente interessante destacar o trabalho de natureza empírica em mediunidade "Experimentos de Evocação de Pessoas Falecidas por Meio do Método de Varredura Medianímica" de Raphael V. Carneiro e L. P. de Souza. Trata-se de uma proposta inovadora para a pesquisa em mediunidade, que visa extrair o máximo de informação de um grupo de médiuns, principalmente naqueles que não dispõem de colaradores com mediunidade muito extensiva. Essa proposta é interessante porque pode ser replicada por qualquer grupo sério de médiuns nos inúmeros centros espíritas que existem no país. 

Interessados em adquirir a obra podem consultar o site do CCDPE.

Dados de "A Sobrevivência da Alma em Foco".

  • Série Pesquisas Brasileiras Sobre o Espiritismo – Vol. 8
  • Organizadores Jáder dos Reis Sampaio e Marco Antônio F. Milani Filho
  • Autores Diversos
  • Gênero: Cursos e Estudos
  • Assunto: Estudos e Pesquisas
  • Idioma: Português
  • Editora: CCDPE-ECM
  • ISBN: 978-85-64907-09-6
  • Número de Páginas: 272
  • Tamanho: 16,00 x 23,00 cm

15 de novembro de 2018

A natureza do argumento espírita


É vaidade imaginar que se pode introduzir 
uma nova filosofia ao refutar um ou outro autor. 
Primeiro, é necessário ensinar a reforma do espírito humano, 
e torná-lo capaz de distinguir a verdade da falsidade...o que só Deus pode fazer!

Galileu Galilei

É importante que o espírita, principalmente aquele que se dedica à argumentação nos tempos conturbados das opiniões democráticas das redes sociais, preste atenção antes de tudo à natureza do argumento espírita. Como bem demonstou Schopenhauer [1], para se vencer um embate argumentativo não é necessário estar certo. A vitória demonstrada por Schopenhauer depende do grau de sugestibilidade da plateia, em sua facilidade de convencimento por argumentos psicologicamente fortes, mas não necessariamente certos. Disso vem que o embate muitas vezes é aparentemente vencido por quem tem melhores predicados retóricos e não conhecimentos filosóficos ou científicos.

Como entendemos que o primeiro compromisso do espírita deve ser com a verdade, recomenda-se meditar profundamente sobre o tipo de argumento ou contra-argumento apresentado em qualquer discussão. Com relação aos embates que envolvem o Espiritismo - conforme apresentada por A. Kardec e os Espíritos - são escassas as chances de falha se o objetivo for defender a verdade e promover o progresso e não simplesmente ganhar uma discussão.  Em síntese: mais vale sair certo porém vencido em uma discussão do que vitorioso na mentira. 

Em que pese a divisão bastante didática apresentada por Kardec do Espiritismo como religião, ciência e filosofia, convem não se esquecer de que as bases sobre as quais se fundamenta todo esse alicerce é de natureza empírica. Não foi se não por meio de uma cadeia de raciocínios lógicos que Kardec chegou à conclusão de que seria possível questionar os Espíritos, que eram apenas as almas dos falecidos e não, como supunham as religiões dogmáticas, almas penadas ou demônios, iniciando uma revolução ainda não totalmente compreendida pelo pensamento humano. A sobrevivência da alma é um fator chave para a revolução desse pensamento, algo que não poderia se basear tão somente em uma assunção mantida pela afirmação de uma crença. Ela teria que ser demonstrada experimentalmente, de onde se extrai toda sua força.

A comunicabilidade (base empírica) levaria imediatamente à conclusão da sobrevivência (conhecimento) como corolário da interação entre humanos e desencarnados. Então, assim como é possível perguntar a um povo indígena recem descoberto sobre seus constumes e crenças, também seria possível perguntar aos Espíritos sobre sua condição de vida no além-túmulo. Eis ai a pedra de toque de Kardec: diante dela caem todos os argumentos daqueles que pretendem destruir o espiritismo filosofico fora do contexto "experimental" da sobrevivência. Essa é a razão também para se concluir, como fez Kardec, que o argumento espírita jamais terá natureza dogmática.

Dogmas são desnecessários quando se explicam as coisas em conformidade com as leis da Natureza [2].

Em suma, de que adianta contrapor milênios de crenças fundamentada em tradições, em conclusões aparentemente justas, mas baseadas em premissas imaginadas, se basta uma simples entrevista com um desencarnado para se conhecer o estado de ventura ou sofrimento a que a alma está sujeita conforme foram suas ações durante a vida? Por mais respeitáveis e bem apresentadas que sejam, tradição e cultura religiosas ou argumentação cética,  sejam elas oportunistas ou sinceras, de nada servem frente à manifestação de leis naturais que sempre existiram, mas que os homens, por ignorância, deixaram de valorizar porque suporam que jamais seria possível conhecer cientificamente tais assuntos. 

Assim, o Espiritismo representa verdadeiramente avanço no conhecimento humano tanto quanto foi um avanço perceber que seria possível usar as forças da Natureza (eletricidade, magnetismo, calor) em benefício da suavização do trabalho humano e do progresso material pela multiplicação dos meios de produção. À evolução do progresso material, o Espiritismo acrescentou a possibilidade da aceleração do progresso moral pelo conhecimento e bom aproveitamento das leis que regem as recompensas ou reparações em conformidade com as ações durante a vida. O Espiritismo forneceu assim as bases para a justificativa científica das máxima evangélicas, não como imposições de um Deus vingativo em que se acredita, mas como consequências lógicas da ação de leis automáticas de evolução incessante, que operam no âmago da consciência de cada indivíduo. 

Entretanto, parece pequeno o contingente de espíritas que conhecem a força do eixo empírico dado por Kardec a toda argumentação espírita. Ela torna quase que inabaláveis as deduções filosóficas e morais do Espiritismo. Uma prova dessa força se encontra na malícia de alguns inimigos do Espiritismo. Essa foi a razão para o surgimento de tantos "padre parapsicólogos" que passaram a  desconstruir aparentemente a descoberta espírita, dissemiando teorias ridículas, fantásticas ou aparentemente em "acordo" com a ciência, sendo que essa última nunca teve interesse em pesquisar seriamente a sobrevivência.  Sabiam eles que, destruidas as possibilidades de comunicação, a defesa de suas próprias concepções religiosas poderia ter alguma chance de triunfo. Tratava-se, porém, de uma velha tática sem sucesso, que já fora usada muitas vezes contra os próprios avanços da ciência material.

Entendemos a importância de muitos argumentos que têm por fundamento bases filosóficas e religiosas exclusivamente. Porém, tal como ocorreu nas ciências, o peso das descobertas sobre como realmente funciona a Natureza (do ser, da vida maior, da relação entre espírito e corpo etc) ainda terá que ser melhor valorizado pelos que gostam de debates sem levar em conta esses fundamentos. Uma vez convencidos de sua importância, nossa visão se aclara e reconhecemos os erros do passado e a pretenção dos que seguem as escuras sem as luzes providas pela evidências sobre como as coisas de fato acontecem no Universo. Além disso, os argumentos com base natural reforçam todos os outros dele derivados (seja filosóficos ou religiosos), provendo uma base ainda mais sólida para a crença, ou seja, uma base que não poderá ser abalada por qualquer descoberta científica, visto que ela mesma se baseia nessas descobertas.

Referências e notas

[1] A. Schoepenhauer (2003). Como vencer um debate sem ter razão. Ed. Topbooks. 1a Ed. Trad. O. de Carvalho.

[2] Disso segue também que dogmatismo nas ciências não tem sentido: é mais fruto da ignorância humana e do mau uso que faz do conhecimento. Quando a criatura é vaidosa ou arrogante, ela faz do pouco que sabe sua arma de auto-afirmação. Com isso passa a defender de forma dogmática esse  saber (ou o que ela aparenta saber de forma precária) como se a sua vida (na verdade, sua reputação) dependesse dele para existir.