1 de dezembro de 2018

Notícias de trabalhos científicos para o Movimento Espírita: novembro 2018


Grübelei/Liszt por Érico Bomfim (novembro de 2018)

Imagem do vídeo de Érico Bomfim contendo a mais nova versão de Grübelei por Brown/Liszt. Clique na imagem para acessar o video.
A conhecida médium inglesa Rosemary Brown, uma das mais importantes mediunidades musicais no Século XX, compos uma peça em frente às câmeras de TV ditada pelo Espírito de Liszt. Diz-se que críticos musicais ficaram bastante impressionados com o feito, dado que a música refere-se ao estilo tardio de Franz Liszt e não ao de suas composições popularmente mais conhecidas. 

Diversas versões de Grübelei foram lançadas e podem ser achadas no youtube. Agora, um músico brasileiro acaba de gravar uma nova versão. Para ouvir a belíssima composição mediúnica tocada por Érico Bomfim (disponível no Youtube):


Mais sobre Rosemary Brown: A colaboração Schubert-Rosemary Brown.
Lançamento de "A Sobrevivência da Alma em Foco" 

Recebi de Jáder Sampaio o Vol. 8 da "Série Pesquisas Brasileiras sobre Espiritismo" editado pela CCDPE que contém a coletânea de textos do 14o ENLIHPE  realizado em 2018. Esse livro traz artigos interessantes de pesquisas científicas recentes em mediunidade e história do Espiritismo que foram apresentados na reunião deste ano.

Sem prejuízo aos diversos autores que contribuiram para a obra, considero particularmente interessante destacar o trabalho de natureza empírica em mediunidade "Experimentos de Evocação de Pessoas Falecidas por Meio do Método de Varredura Medianímica" de Raphael V. Carneiro e L. P. de Souza. Trata-se de uma proposta inovadora para a pesquisa em mediunidade, que visa extrair o máximo de informação de um grupo de médiuns, principalmente naqueles que não dispõem de colaradores com mediunidade muito extensiva. Essa proposta é interessante porque pode ser replicada por qualquer grupo sério de médiuns nos inúmeros centros espíritas que existem no país. 

Interessados em adquirir a obra podem consultar o site do CCDPE.

Dados de "A Sobrevivência da Alma em Foco".

  • Série Pesquisas Brasileiras Sobre o Espiritismo – Vol. 8
  • Organizadores Jáder dos Reis Sampaio e Marco Antônio F. Milani Filho
  • Autores Diversos
  • Gênero: Cursos e Estudos
  • Assunto: Estudos e Pesquisas
  • Idioma: Português
  • Editora: CCDPE-ECM
  • ISBN: 978-85-64907-09-6
  • Número de Páginas: 272
  • Tamanho: 16,00 x 23,00 cm

15 de novembro de 2018

A natureza do argumento espírita


É vaidade imaginar que se pode introduzir 
uma nova filosofia ao refutar um ou outro autor. 
Primeiro, é necessário ensinar a reforma do espírito humano, 
e torná-lo capaz de distinguir a verdade da falsidade...o que só Deus pode fazer!

Galileu Galilei

É importante que o espírita, principalmente aquele que se dedica à argumentação nos tempos conturbados das opiniões democráticas das redes sociais, preste atenção antes de tudo à natureza do argumento espírita. Como bem demonstou Schopenhauer [1], para se vencer um embate argumentativo não é necessário estar certo. A vitória demonstrada por Schopenhauer depende do grau de sugestibilidade da plateia, em sua facilidade de convencimento por argumentos psicologicamente fortes, mas não necessariamente certos. Disso vem que o embate muitas vezes é aparentemente vencido por quem tem melhores predicados retóricos e não conhecimentos filosóficos ou científicos.

Como entendemos que o primeiro compromisso do espírita deve ser com a verdade, recomenda-se meditar profundamente sobre o tipo de argumento ou contra-argumento apresentado em qualquer discussão. Com relação aos embates que envolvem o Espiritismo - conforme apresentada por A. Kardec e os Espíritos - são escassas as chances de falha se o objetivo for defender a verdade e promover o progresso e não simplesmente ganhar uma discussão.  Em síntese: mais vale sair certo porém vencido em uma discussão do que vitorioso na mentira. 

Em que pese a divisão bastante didática apresentada por Kardec do Espiritismo como religião, ciência e filosofia, convem não se esquecer de que as bases sobre as quais se fundamenta todo esse alicerce é de natureza empírica. Não foi se não por meio de uma cadeia de raciocínios lógicos que Kardec chegou à conclusão de que seria possível questionar os Espíritos, que eram apenas as almas dos falecidos e não, como supunham as religiões dogmáticas, almas penadas ou demônios, iniciando uma revolução ainda não totalmente compreendida pelo pensamento humano. A sobrevivência da alma é um fator chave para a revolução desse pensamento, algo que não poderia se basear tão somente em uma assunção mantida pela afirmação de uma crença. Ela teria que ser demonstrada experimentalmente, de onde se extrai toda sua força.

A comunicabilidade (base empírica) levaria imediatamente à conclusão da sobrevivência (conhecimento) como corolário da interação entre humanos e desencarnados. Então, assim como é possível perguntar a um povo indígena recem descoberto sobre seus constumes e crenças, também seria possível perguntar aos Espíritos sobre sua condição de vida no além-túmulo. Eis ai a pedra de toque de Kardec: diante dela caem todos os argumentos daqueles que pretendem destruir o espiritismo filosofico fora do contexto "experimental" da sobrevivência. Essa é a razão também para se concluir, como fez Kardec, que o argumento espírita jamais terá natureza dogmática.

Dogmas são desnecessários quando se explicam as coisas em conformidade com as leis da Natureza [2].

Em suma, de que adianta contrapor milênios de crenças fundamentada em tradições, em conclusões aparentemente justas, mas baseadas em premissas imaginadas, se basta uma simples entrevista com um desencarnado para se conhecer o estado de ventura ou sofrimento a que a alma está sujeita conforme foram suas ações durante a vida? Por mais respeitáveis e bem apresentadas que sejam, tradição e cultura religiosas ou argumentação cética,  sejam elas oportunistas ou sinceras, de nada servem frente à manifestação de leis naturais que sempre existiram, mas que os homens, por ignorância, deixaram de valorizar porque suporam que jamais seria possível conhecer cientificamente tais assuntos. 

Assim, o Espiritismo representa verdadeiramente avanço no conhecimento humano tanto quanto foi um avanço perceber que seria possível usar as forças da Natureza (eletricidade, magnetismo, calor) em benefício da suavização do trabalho humano e do progresso material pela multiplicação dos meios de produção. À evolução do progresso material, o Espiritismo acrescentou a possibilidade da aceleração do progresso moral pelo conhecimento e bom aproveitamento das leis que regem as recompensas ou reparações em conformidade com as ações durante a vida. O Espiritismo forneceu assim as bases para a justificativa científica das máxima evangélicas, não como imposições de um Deus vingativo em que se acredita, mas como consequências lógicas da ação de leis automáticas de evolução incessante, que operam no âmago da consciência de cada indivíduo. 

Entretanto, parece pequeno o contingente de espíritas que conhecem a força do eixo empírico dado por Kardec a toda argumentação espírita. Ela torna quase que inabaláveis as deduções filosóficas e morais do Espiritismo. Uma prova dessa força se encontra na malícia de alguns inimigos do Espiritismo. Essa foi a razão para o surgimento de tantos "padre parapsicólogos" que passaram a  desconstruir aparentemente a descoberta espírita, dissemiando teorias ridículas, fantásticas ou aparentemente em "acordo" com a ciência, sendo que essa última nunca teve interesse em pesquisar seriamente a sobrevivência.  Sabiam eles que, destruidas as possibilidades de comunicação, a defesa de suas próprias concepções religiosas poderia ter alguma chance de triunfo. Tratava-se, porém, de uma velha tática sem sucesso, que já fora usada muitas vezes contra os próprios avanços da ciência material.

Entendemos a importância de muitos argumentos que têm por fundamento bases filosóficas e religiosas exclusivamente. Porém, tal como ocorreu nas ciências, o peso das descobertas sobre como realmente funciona a Natureza (do ser, da vida maior, da relação entre espírito e corpo etc) ainda terá que ser melhor valorizado pelos que gostam de debates sem levar em conta esses fundamentos. Uma vez convencidos de sua importância, nossa visão se aclara e reconhecemos os erros do passado e a pretenção dos que seguem as escuras sem as luzes providas pela evidências sobre como as coisas de fato acontecem no Universo. Além disso, os argumentos com base natural reforçam todos os outros dele derivados (seja filosóficos ou religiosos), provendo uma base ainda mais sólida para a crença, ou seja, uma base que não poderá ser abalada por qualquer descoberta científica, visto que ela mesma se baseia nessas descobertas.

Referências e notas

[1] A. Schoepenhauer (2003). Como vencer um debate sem ter razão. Ed. Topbooks. 1a Ed. Trad. O. de Carvalho.

[2] Disso segue também que dogmatismo nas ciências não tem sentido: é mais fruto da ignorância humana e do mau uso que faz do conhecimento. Quando a criatura é vaidosa ou arrogante, ela faz do pouco que sabe sua arma de auto-afirmação. Com isso passa a defender de forma dogmática esse  saber (ou o que ela aparenta saber de forma precária) como se a sua vida (na verdade, sua reputação) dependesse dele para existir.

16 de outubro de 2018

Espiritismo, política e problemas atuais


Discute-se a política que move os interesses gerais; 
discutem-se os interesses privados; 
apaixona-se pelo ataque ou pela defesa das personalidades; 
os sistemas têm partidários e detratores, mas as verdades morais,
 que são o pão da alma, o pão da vida, 
são deixadas no pó acumulado pelos séculos. 
Todos os aperfeiçoamentos são úteis aos olhos da multidão, salvo os da alma. 

J. J. Rousseau, Médium Sra. Costel, Revista Espírita, Agosto de 1861. 
"Dissertações e ensinos espíritas" (1)

A economia, as eleições e os embates políticos atuais nos convidam a meditar sobre conceitos como governo, política e temas administrativos. O que o Espiritismo teria a dizer sobre o assunto? 

É evidente que o tema é complexo e exige conhecimento especializado. A multiplicidade de interesses, crenças filosóficas e de pensamento são tão grandes entre aqueles que se aproximam do poder que é muito difícil dar uma resposta única a esses problemas. Assim, ainda que houvesse acordo em relação aos princípios que devem nortear programas de governo, existe discordância em relação à maneira como tais princípios devem se organizar na administração, tendo em vista os conflitos de interesse entre diversos grupos que pretendem realizar essa organização.

Assim, é impossível a definição de apenas uma maneira de governar. Por outro lado, ainda que os os interesses coincidissem, mas de forma desorganizada - o que obviamente não ocorre - o excesso de ideias, de pontos de vista e heurísticas de organização do poder tornariam novamente inviável qualquer solução simples. A julgar porém que muitas nações conseguiram transitoriamente razoável estabilidade e aparente equidade social (pelo menos do ponto de vista material), temos a certeza de que uma solução próxima do ótimo também deve existir para um país tão complexo como o Brasil.

Mas, será que podemos usar o Espiritismo para descobrir qual o melhor caminho a seguir em problemas administrativos e políticos?

O propósito do Espiritismo

Convencer intelectualmente a alma humana (2) da continuidade da vida após a morte, da progressão sem fim em todos os sentidos e da necessidade de fraternidade com consequência desse destino final é um dos objetivo do Espiritismo. Assim, em qualquer relacionamento que se faça entre Espiritismo e tais assuntos, não se deve nunca perder de vista  que o Espiritismo jamais terá como objetivo sugerir (e, muito menos ditar) orientações para governos e instituições por uma questão de princípios próprios do Espiritismo. Entendemos que célula última da sociedade (o indivíduo) deve inicialmente se convencer da importância dos princípios universais do bem e da caridade como condição necessária para que esses problemas administrativos sejam, de fato, resolvidos. Por isso, o foco principal da Doutrina Espírita será, por enquanto, trabalhar no aprimoramento do ser humano através de sua educação moral.

É evidente que a base de todo o progresso, inclusive o material, está na evolução da alma. Primeiro porque se ela for mais educada, terá seus apetites materiais reduzidos, o que permite o compartilhamento de recurso entre todos. Segundo porque uma moral superior na sociedade torna a vida de todos mais fácil, por melhorar as relações humanas que também são a base para todas as trocas, inclusive aquelas que interessam aos aspectos materiais da vida presente. De fato, tudo é mais fácil quando as relações se dão entre almas verdadeiramente educadas. Mas educação, para o Espiritismo, não é apenas conhecimento intectual, mas também dos valores infinitos que o ser deve cultuar de forma a se harmonizar com seus semelhantes, com Deus e consigo mesmo.

Lembramos aqui o que Kardec já afirmava ao nascente movimento espírita de sua época (que é plenamente válidos para o momento atual):
Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças. Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quando se refere à política e a questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa (Grifos nossos, 3). 
Assim, além da relevante questão de separação entre "religião e Estado", deve-se procurar também afastar os assuntos espíritas de quaisquer influências de envolvimento com tais questões irritantes, de forma que o movimento espírita não se contamine com utopias de natureza política promovida por grupos de interesses diversos. Jamais o espírita deverá se deixar levar pelo "canto de sereia" daquilo que nasceu fora do contexto espírita (e, principalmente, com claras idealizações materialistas) e que com ele nada tenham a ver a não ser um vago anseio pela melhoria da vida dos homens sem se especificar a que custo.  

Ora, que se tenha tais anseios é muito fácil de defender, pois é desejo compartilhado por qualquer um. Quem se colocaria contra uma corrente de pensamento, doutrina ou partido que pretenda melhorar as condições de vida dos cidadãos? Quem se oporia à redução das injustiças sociais? Quem reprovaria a distribuição equitativa de riquezas? Disso não seque que qualquer meio para se atingir tal objetivo deva contar com o apoio de uma doutrina de caráter moral e que prega a continuidade da vida após a morte com consequências claras para vida futura. Além disso, como as reais intenções dos indivíduos não estão disponíveis publicamente, não existem garantias quanto à credibilidade de seus proponentes, ainda mais em uma época em que as pessoas guardam tão pouco apreço pela verdade.

Existe uma distância imensa entre os diversos métodos propostos para se chegar a esse estado de justiça e aquilo que realmente deve ser feito, considerando-se a conjuntura presente da sociedade, os inúmeros conflitos de interesse e a existência de indivíduos sem escrúpulo que se apropriam desses anseios em benefício próprio. Dessa forma, o leitor deve considerar as consequências para sua vida futura de seu engajamento em ações eticamente inconsistentes e que prejudicam diretamente determinadas pessoas em nome da "defesa de interesses" de outras. Por fim, deve ainda considerar que o silêncio, omissão ou não ação diante de situações claramente vexatórias e discriminantes também trará consequências futuras.
Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras. (Romanos 2:6)
Está vedado ao espírita sua manifestação política? Obviamente que não, porém, o indivíduo que se diz espírita deve procurar meditar sobre a consistência lógica de seu posicionamento diante dos princípios imortalistas que diz defender. Se ele não fizer isso, estará propagando por seus atos uma crença incoerente ou propaganda falsa. O primeiro compromisso do espírita deve ser com a verdade.

Enquanto espera, conseguisse ele corrigir um único defeito...

Sei que muitos podem se decepcionar com essa conclusão bastante clara do pensamento espírita escorado em seus princípios. A outros ela parecerá excessivamente utópica ou impraticável. Convém revisar, entretanto, a resposta à questão # 800 de "O Livro dos Espíritos":
800. Não será de temer que o Espiritismo não consiga triunfar da negligência dos homens e do seu apego às coisas materiais? 
“Conhece bem pouco os homens quem imagine que uma causa qualquer os possa transformar como que por encanto. As idéias só pouco a pouco se modificam, conforme os indivíduos, e preciso é que algumas gerações passem, para que se apaguem totalmente os vestígios dos velhos hábitos. A transformação, pois, somente com o tempo, gradual e progressivamente, se pode operar. A cada geração uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo veio para rasgá-lo de alto a baixo; mas, enquanto espera, conseguisse ele corrigir num homem apenas um único defeito que fosse e já o haveria ajudado a dar um passo. Ter-lhe-ia feito, só com isso, grande bem, pois esse primeiro passo lhe facilitará os outros.” (Grifo nosso, 1)
De onde se depreende que os métodos usados pela lei Divina (que o Espiritismo toma como orientação da vida do indivíduo) são bastante diferentes daqueles idealizados pelos encarnados que têm pressa em mudar a situação atual com base na crença de que a presente existência é a única que existe. 

Não sabemos quando o estado final de felicidade perene se concretizará, mas temos como certo que a proposta de aprimoramento do ser por enquanto tem sido relegada ao "pó dos séculos" pelo desprezo que o progresso material da civilização deu às questões da alma, que sequer é considerada como a existir. Assim, muitos dos métodos  criados para se chegar a esse estado de justiça e equidade partem do pressuposto que apenas os aspectos materiais devem ser privilegiados, o que cria um conflito entre esses objetivos e a realidade do destino final da alma humana que existe e sempre existirá.  Que o progresso material deva ser conseguido a qualquer custo não parece também ser um objetivo defensável, haja vista as diversas consequências negativas desse progresso em outros sentidos (problemas ambientais e climáticos, conflitos e desequilíbrios psicológicos vários etc).

Os princípios espíritas estão ligados a objetivos que talvez nunca se generalizem na superfície do Terra um dia. Seu alvo é a vida paralela imortal do ser e claramente levariam a uma rápida modificação das condições materiais e principalmente morais da vida na Terra se eles fossem sistematicamente buscados. Como haveremos, porém,  de convencer aos não espíritas de sua excelência se nós, que dizemos neles acreditar, agimos de forma inconsistente? É impossível ao espírita - que tem zelo por sua doutrina - esquecer os aspectos imanentes da vida humana nas horas em que ele é obrigado a decidir sobre todos os outros aspectos em sua presente e transitória encarnação.

Referências e Notas

(1) Ref: ver www.ipeak.com

(2) Dizemos intelectualmente, porque, todos os dias, milhares de pessoas entram em contato com o mundo invisível seja através de suas atividades durante o sono ou de algum grau de mediunidade. Assim, inconscientemente todos guardamos noção da sobrevivência e da vida maior. Além disso outros tantos milhares partes para o mais além através da morte. Entretanto, esse conhecimento ou lembrança permanece inconsciente na vigília dos encarnados cujas crenças mais ligadas aos sentidos e ao aprendizado acabam por dominar muito de suas decisões.  

(3) Kardec A. "Cumprimentos de Ano Novo". Revue Spirite, Fevereiro de 1862. (versão IPEAK www.ipeak.com). O artigo original em Francês tem como título "Les souhaits de nouvel an: Réponse à l'adresse des Spirites Lyonnais à l'occasion de la nouvelle année".



2 de setembro de 2018

Visões de Leito de Morte


Relatos de pessoas muito próximas da morte podem conter descrições lúcidas do que nos aguarda além da vida.

Recentemente o JEE - Jornal de Estudos Espíritas - publicou um artigo nosso [1] sobre o tema "Visões de leito de morte". O que são tais visões? Trata-se de um grande número de relatos (encontrados em todas as épocas e povos) de pessoas que testemunham um aparente reacender de consciência de doentes terminais ou pessoas que se avizinham da morte. Durante tais lampejos, o doente descreve encontros ou visitas de pessoas já falecidas. Em [1] mostramos que tais visões: 
  • São relatos feitos por pessoas - moribundos - que não tem qualquer intenção em falsear ou mentir, já que estão muito próximas do fim da existência material.
  • São relatos que se distinguem de meras alucinações, pois não ocorrem sob as mesmas condições que se observam durante alucinações típicas.  
  • São relatos colhidos de testemunhas idôneas (frequentemente parentes) que afirmam ter o moribundo entrado em contato com parentes já falecidos antes de morrer.
  • Mostram que os parentes falecidos vem para ajudar o moribundo em sua "passagem", implicando diretamente na continuidade da vida após a morte;

O termo "Visões de leito de morte" (VLM), em inglês, "Deathbed Visions", tem uma história curiosa na literatura das pesquisas psíquicas. Não é preciso pesquisar muito para descobrir que A. Kardec se referiu a elas conforme informamos em [1]. Entretanto, foi apenas com o trabalho de E. Bozzano (1862-1943) que uma delimitação mais precisa - como uma classe de eventos com características peculiares comuns - foi feita.
E. Bozzano (1862-1943)

Uma ampla busca bibliográfica de artigos e livros já produzidos sobre o tema é feita em [1]. As VLMs são fenômenos que ocorrem todos os dias nos leitos de muitos hospitais. São típicas em mortes de doentes que têm a chance de se comunicar com seus parentes antes do momento final (não é o caso, por exemplo, de morte violentas). Esses parentes tornam-se testemunhas de um desdobramento momentâneo do doente, um recobrar de consciência por brevíssimo período em que o doente goza de uma lucidez incompatível com seu estado físico. A chamada "lucidez terminal" [2] dá origem a diversos fenômenos interessantes que são fáceis de se explicar pela concepção espírita da morte.

Assim, a explicação paras as VLMs é bastante trivial para o Espiritismo. É de se esperar que o enfraquecimento dos laços físicos torne o Espírito mais livre, ainda que ligado a seu corpo antes do desenlace definitivo. Entretanto, também em [1] mostramos que apenas o Espiritismo - como doutrina espiritualista - valorizou as VLMs como provas da continuidade da existência. Pode-se então dizer que apenas para alguns espiritualistas (os espíritas a partir de A. Kardec) as VLMs fazem sentido como relatos de vivências extracorpóreas que comprovam a continuidade da consciência além da morte. Isso pode parecer incrível, mas o leitor encontrará outras doutrinas chamadas "espiritualistas" para as quais tais relatos nada representam.

Nossa conclusão é as VLMs formam um consenso independente da fenomenologia mediúnica, ainda que pouco valorizado, de que vida continua após a morte. Tal conclusão é valida ainda que os relatos sejam desprezados de forma ampla por acadêmicos que têm preguiça em analisar e correlacinar fatos mais extensivos que ocorrem no momento da morte (simultaneidades, aparições, visões inesperadas, cheiros, sensações de presenças correlacionadas). 

Talvez o leitor facilmente tenha notícia de algum parente testemunho de uma VLM. Não deixe de compartilhar qualquer experiência que tenha ouvido falar sobre tais visões nos comentários abaixo. Seu testemunho é importante para o consenso em direção à sobrevivência da alma. 

O artigo [1] pode ser baixado gratuitamente através da plataforma online do JEE.

Referências

1 - Xavier, A. Jr. Fenomenologia das visões de leito de morte: em direção a um consenso sobre a sobrevivência da alma. Jornal de Estudos Espíritas. 6, 010207 (2018)
2 - Nahm, Michael et al. Terminal lucidity: A review and a case collection. Archives of gerontology and geriatrics, v. 55, n. 1, p. 138-142, 2012.