1 de março de 2018

Chamada para o 14º Enlihpe – Belo Horizonte/MG


Desde 2003, o Encontro Nacional da ENLIHPE tem sido o espaço de encontro da LIHPE - Liga de Pesquisadores do Espiritismo. A Liga é um grupo de pessoas interessadas no estudo do Espiritismo nos moldes acadêmicos. Isto quer dizer que se estuda a temática espírita de acordo com regras acadêmicas. 

A LIHPE foi criada para incentivar o registro e discussão da história do Espiritismo, e aos poucos, foi agregando interessados que trabalhavam na fronteira entre o Espiritismo e as chamadas áreas do conhecimento: filosofia, física, psicologia, ciências sociais, antropologia e muitas outras.

Desde seu fundador, Eduardo Carvalho Monteiro, percebeu-se que apenas o intercâmbio à distância era insuficiente para estabelecer grupos de trabalho e aproximar os membros. Foi então criado o ENLIHPE, que é o encontro nacional, este de caráter presencial.

Se você tem algum trabalho na fronteira entre o Espiritismo e as ciências reconhecidas e até outras não reconhecidas, comece a preparar seu artigo para submissão. O ENLIHPE de 2018 ocorrerá entre 25 e 25 de agosto e, este ano, será na cidade de Belo Horizonte/MG.

Tema central: 'Sobrevivência da alma'
25 e 26 de agosto de 2018
Belo Horizonte – MG
Data final de submissão de trabalhos: 30 de abril de 2018.
INSCRIÇÕES: Site da LIHPE

Local do evento:

União Espírita Mineira – UEM
Avenida Olegário Maciel, nº 1627
Lourdes, Belo Horizonte – Minas Gerais, em frente ao Diamond Mall.


24 de fevereiro de 2018

O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica

por Nubor Orlando Facure


"É preciso nascer de novo" passando por experiências múltiplas no decurso das encarnações. Uma questão em aberto e extremamente complexa é: até onde podemos saber o quanto e como são transferidos para o cérebro físico de uma criança, que está por nascer, o conteúdo de sabedoria e talentos adquiridos pelo Espírito no decurso de suas existências

O desenvolvimento do sistema nervoso

O patrimônio genético dessa criança põe ordem no seu desenvolvimento, acrescentando aptidões por etapas, que coincidem, essas fases, com a progressiva mielinização das fibras nervosas. Primeiro, são mielinizadas fibras de baixo para cima, que permitem a atividade motora das pernas e depois dos braços. No cérebro, a organização é de trás para frente, primeiro as áreas visuais nos polos occipitais e depois o lobo frontal que só completa sua formação depois dos 17 anos.

A memória – quem eu sou? Sou o que minhas memórias dizem.

O bebê humano ao nascer não está zerado em suas memórias. Os testes especializados confirmam que ele tem arquivado a voz da mãe e possivelmente outros sons que ouviu enquanto no útero, sem que haja confirmação que ouvir músicas de Mozart dará a essa criança um cérebro de um músico de talento.

O que é do conhecimento geral é que a criança não consolida, armazena ou retém como memória suas experiências até aos três anos de idade – esse esquecimento é conhecido como "amnésia infantil''.

Do ponto de vista espiritual não temos, como regra geral, nenhuma lembrança de nossas vidas passadas. Ensinam os autores espíritas que, mesmo não tendo essas lembranças, de uma maneira ou de outra, podemos perceber em cada um de nós certas tendências trazidas de outras vidas – ideias inatas ou mesmo pendores que se revelam sem maior esforço. Um determinado profissional, com formação acadêmica numa área específica, pode perceber suas tendências e habilidades em competências completamente diferente. Um professor de matemática ou uma psicóloga podem exercer em paralelo um talento para música, artesanato, ou um talento literário como fez o médico Guimarães Rosa.

Personalidade, caráter e temperamento têm uma base genética e, seguramente, uma influência da bagagem espiritual de outras vidas. Um Espírito amigo nos ensinou que podemos não saber o que fomos, mas, não é difícil saber o que fizemos em vidas anteriores.

Uma nota breve sobre os tipos de memórias

Podemos tirar da classificação das memórias três expressões fundamentais:

A memória semântica,  a episódica, que fazem parte da memória declarativa e, a memória implícita ou de procedimentos.

A memória semântica se refere ao conhecimento adquirido pelas lições que aprendemos de uma forma ou de outra: quem nasce no Brasil é brasileiro, Paris é a capital da França, Voltaire foi um grande filósofo do iluminismo, a América foi descoberta por Cristóvão Colombo.

A memória episódica, é personalizada, refere-se a fatos pessoais vividos por nós, é narrativa e por isso falha. Sua consolidação é mais firme nos dados autobiográficos: meu nome, meu endereço, meu estado civil, a cidade onde nasci, minha nacionalidade, de quem sou filho, que profissão exerço, quem são meus filho. A memória episódica de eventos pessoais, se refere a acontecimentos vividos por nós, recentes ou não: O que almocei ontem? Quem me telefonou essa tarde? Que praia fui nesse fim de ano? Quem me visitou nesse domingo? Esse modo de memória (episódica) tem uma marca temporal e é fortemente contextualizada. Com as marcas do tempo: fui na praia no natal, viajei na semana santa, fui pescar em fevereiro do ano passado, troquei de carro em dezembro. Ligadas ao contexto: assisti aquele filme no Shopping com minha esposa. Adorei o camarão daquele restaurante de Joinville, eu estava no hotel quando ouvi aquela notícia, foi no jogo de futebol que torci o tornozelo, fiquei em casa porque chovia muito. Essas memórias podem ser resgatadas, mas, como são retidas principalmente no hipocampo, ao serem lembradas nós sempre fazemos uma nova descrição dos fatos. Daí a incerteza dos testemunhos nos episódios da vida.

As memórias episódicas para eventos pessoais são fugidias e enganosas. Quem relatar sua festa de casamento faz o mesmo que os pescadores ou os jogadores, a cada relato produzem uma nova versão. É o que diziam os antigos: "quem conta um conto aumenta um ponto".

As memórias de procedimento são as habilidades aprendidas. Andar de bicicleta, dirigir o automóvel, pilotar o avião, dedilhar o teclado, lidar com a prensa da fábrica, talhar a madeira numa peça de artesanato, tocar ao piano, desenhar ou pintar uma paisagem.

Por outro lado, são extremamente corriqueiras, no ambiente familiar de muitos de nós, a ocorrência das memórias de procedimento. Há em quase toda família os desenhistas, os pintores, os pianistas, os artesões habilidosíssimos que fazem castelos na areia ou na madeira sem qualquer ensinamento prévio. Observando bem, em cada um de nós podemos perceber que as memórias episódicas são consolidadas firmemente até que alguma demência nos atinja nos fazendo esquecer até mesmo o nome. 

Recordando a história de vidas anteriores. Isso é possível?

São ocorrências raras, mas, vez por outra encontramos crianças fazendo relatos de terem vivido em outro lugar e dando as identificações necessárias para essa comprovação. A literatura médica e o cinema têm relatos enriquecedores que atestam a reencarnação e a ocorrência de permanência dessas memórias episódicas. Geralmente, com o crescimento da criança essas memórias se perdem. São também excepcionais, mas bem descritos, casos de persistência das memórias semânticas. São algumas crianças rotuladas de autistas, ou “idiots savans” que são capazes de responder brilhantemente sobre determinado tema de conhecimento geral ou de um domínio particular como literatura ou matemática. 

Por outro lado, certos eventos de nossa vida podem ocorrer carregados de forte emoção e um susto ou uma ameaça pode consolidar com mais força determinada ocorrência. Uma batida com o nosso carro em que alguém sai ferido, a ameaça de um assalto ou um sequestro, o medo de enfrentar uma cirurgia de risco, a dor de um fêmur fraturado na queda de uma bicicleta

Considerando a reencarnação, é provável que as memórias episódicas, carregadas de forte emoção física ou psíquica, podem ser uma boa explicação para nossos medos, as crises de pânico, as fobias, as dificuldades para enfrentar o elevador, o avião, uma picada da vacina, uma cobra, uma aranha, uma simples barata ou falar em público

As memórias de procedimentos

No decorrer da vida vamos aprendendo habilidade e adquirindo competências comuns a nós humanos: andar, correr, escrever, nadar, dirigir, pilotar, andar de bicicleta, soltar uma pipa e outras de maior destaque: tocar piano, violino, cantar com o violão, pintura, artesanato entre muitas outras.

O maior destaque nesse tipo de memória é que ela é mais ou menos permanente. Ninguém esquece como nadar ou andar de bicicleta. O dedilhar o violão ou o piano, por outro lado, exige treinamento constante, mas, os rudimentos básicos permanecem para sempre. Nunca me esqueço que o primeiro paciente que conheci com a doença de Alzheimer era um alfaiate. Não sabia dizer o nome da esposa, nem o seu endereço, mas, gesticulava com as mãos e mostrava como fazia o corte de tecido para fazer um terno – o paciente com essa doença é treinável e capaz de aprender certas habilidades motoras novas, mas, não retém um conhecimento novo, como por exemplo o endereço do hospital.

Pode-se conjecturar que as memórias de procedimento são as que mais se conservam de uma encarnação para outra. Elas permanecem sempre mais firmemente consolidadas em nosso cérebro – principalmente nos núcleos basais e no cerebelo – e os exemplos são parte da história de todas famílias – são as aptidões, os talentos, as tendências, os pendores artísticos e os desempenhos que surgem facilmente no artesanato, na música, na pintura, no esporte entre tantos outros.

Um resumo simples

A memória autobiográfica é firme, confiável, nos acompanha pela vida todo sem distorções. Nós a perdemos quando ocorrem leões cerebrais graves. Dificilmente ela permanece no transcurso de uma vida para outra.

A memória episódica é facilmente distorcida. Ela é regatada sempre com uma nova versão, não é recuperada. É recontada. É sensível aos eventos emocionais que aumentam os seus traços. Podem justificar o que sentimos hoje em forma de medos, fobias, traumas psíquicos, déjà-vu e outros fenômenos da psicopatologia humana.

A memória de conhecimentos, semântica, é acumulativa é pode favorecer o aprendizado em determinadas áreas de uma vida para outra.

E, finalmente, as memórias de procedimento que se expressam, geralmente, em habilidades motoras. São mais sólidas, costumamos dizer que ninguém esquece como andar de bicicleta. De uma encarnação para outra, elas podem permanecer como uma tendência profissional, talentos artísticos diversos, predisposição para esse ou aquele esporte.

E o que a morte fará com as nossas memórias?

Diz o povo que “dessa vida nada se leva”. Eu costumo dizer que, obrigatoriamente, vamos levar os nossos neurônios, estão impressos neles a nossa identidade. Um neurocirurgião famoso fazia suas cirurgias com o paciente acordado. Com o crânio aberto ele estimulava eletricamente várias áreas cerebrais. Além das repostas motoras e sensitivas ele conseguia estimular a região temporal onde produzia reminiscências guardadas pelo paciente. Sabemos todos, como espíritas, que o que ocorre no cérebro é transferido ao Espírito através e um veículo sem imaterial, o perispírito. Mas, durante toda nossa vida, as redes neurais acumulam um rico aprendizado que consolida nossos comportamentos e enriquece nossas memórias. Os exames de Ressonância Funcional e a estimulação direta nos neurônios detectam essas competências.

A pergunta é: tudo isso se desfaz com a morte? Aprendemos com a doutrina espírita que esse material é inteiramente transferido para o perispírito. Esse fenômeno nos permite conjecturar algumas consequências:

Logo após a morte, seremos exatamente os mesmos que somos hoje. Com as mesmas memórias, comportamentos e experiências. Isso explica porque, mesmo desencarnados, há Espíritos que continuarão duvidando da reencarnação. E, para maioria de nós, não será de um dia para o outro que teremos acesso as memórias do nosso passado.

Ver também: Entrevista V - Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.

Referência

11 de janeiro de 2018

Sobre a mente inconsciente e sua perspectiva espírita.


A fronteira entre o Espiritismo e as experimentações psicológicas apresentam oportunidades interessantes de exploração e interpretação. Ela é tanto mais relevante para o lado espírita (que é o de nosso interesse imediato), pois mostra como alguns resultados recentes de experiências têm impacto na compreensão de fenômenos que estão na interface "espírito-corpo".

Um exemplo interessante discutimos brevemente aqui e diz respeito aos estudos algo recentes (um deles já tem 35 anos, ref. 1) sobre a importância da chamada "mente inconsciente" na tomada de decisões. Por "mente inconsciente" entendemos um conjunto de processos mentais que ocorrem sem que o indivíduo tenha "consciência" - aqui a palavra em inglês "awareness" é mais apropriada - dele. Essa consciência nos dá aquela sensação de que temos, de fato, controle sobre nossos atos. Assim como nos diversos órgãos do corpo que funcionam de forma autônoma (sem a deliberação da vontade por parte de quem o controla), o cérebro também operara de forma autônoma em muito da vida mental, quer dizer, ele funciona sem que o indivíduo tenha consciência disso. Eficiência e otimização parecem ser a principal causa para esse estado de coisas no campo mental.
Mente inconsciente

A noção de mente inconsciente não é nova. Já no começo do século 18, a ideia de "unbewußtsein" apareceu com o filósofo idealista alemão Friedrich Schelling (1775-1854). A crença popularmente aceita de que o homem poderia ser inspirado pelos deuses foi uma das razões para se suspeitar de que algo inconsciente operaria na mente humana e ajudou a consolidar o conceito sem, entretanto, qualquer aceitação científica. Uma outra fonte importante para a ideia do inconsciente veio da observação ordinária que pessoas, quando sob ação perturbadora de medicamentos ou drogas (p. ex., bebidas alcoólicas) agem de forma aparentemente inconsciente, e chegam a não se lembrar dos atos praticados, cessado essa ação externa. O grande popularizador do inconsciente foi sem dúvidas Sigmund Freud (1856-1939) que usou largamente desse princípio para o estudo de desvios do comportamento que ele explicou como resultado de desejos sexuais inconscientes reprimidos. Entretanto, a crença na existência do inconsciente demorou para ser estabelecida tendo em vista que sua aceitação leva a uma mudança radical na nossa concepção da mente humana e porque não se faz nenhuma ideia sobre como tal inconsciência operaria (2). Até hoje, a maior parte das pessoas nem desconfia do inconsciente, ou vive sem saber que ele existe e "controla" seus atos de forma sistemática.

Experimentos como o de Libet et al (1) foram um grande divisor de águas na comprovação da existência de uma "mente inconsciente" inicialmente descrita como um estado potencial de "prontidão" a operar sem qualquer intervenção consciente de seu dono. Antes dele, outras evidências de que sinais aparentemente não percebidos pelas pessoas poderiam determinar o curso de suas ações também forneceram provas indiretas da existência do inconsciente (2). O uso de técnicas de mapeamento cerebral (como é o caso da tomografia de pósitrons) permitiram observar em tempo real a operação do fenômeno. Essencialmente, distingue-se as áreas do cérebro responsáveis pela tomada de decisão e pela "consciência" dessa tomada. Por meio de técnicas experimentais é possível demonstrar que o decisão ocorre centenas de milissegundos antes de que as áreas de "awareness" sejam ativadas. Em suma: a decisão é tomada antes da consciência da escolha que precede, entretanto, o ato decisório como representado abaixo:


tomada de decisão -> consciência a decisão -> ato decisório.

Obviamente, a ciência moderna ainda debate a amplitude, origem e operação da mente inconsciente, mas sem as dúvidas sobre sua existência. Para os "behavioristas", por exemplo, as operações do inconsciente integram informação anterior e de ambiente e criam a decisão que sobe ao nível consciente dando a "impressão" de liberdade de escolha. Na atualidade esse debate tem impacto direta na noção de livre-arbítrio: se as decisões são inconscientes então provavelmente não temos controle de nossos atos. Na visão behaviorista extrema (que é radical mesmo para os padrões materialistas aceitos) somos meros autômatos pre-programados pelo ambiente, sem capacidade de decisão, mas com a ilusão de arbítrio próprio. O debate se alarga para áreas como a do direito, onde se pergunta até que ponto um criminoso não seria passível de culpa, caso essa visão radical de controle do inconsciente fosse adotada.

O leitor deve entretanto atentar para o fato de que experimentos que demonstram a operação do estado de prontidão pré-consciente nada provam contra o livre-arbítrio, mas apenas a existência desse estado inconsciente. É quando se passa a interpretar e tentar criar teorias para explicar a mente e sua complexidade que alguns cientistas chegam ao estremo de negar o livre arbítrio. 

O conceito do inconsciente no Espiritismo (segundo A. Kardec)

Os Espíritos também indiretamente indicaram a existência do estado inconsciente nos encarnados ao referir-se à vida do espírito como diversa, mais rica e diferente da vida da vigília. Há muitos trechos no "Livro dos Espíritos" (LE, 4) em que se pode ler sobre essa noção peculiar do inconsciente. A existência da vida do Espírito como independente da vida material está bem estabelecida, por exemplo, no Capítulo 8 do LE "Da emancipação da alma: o sono e os sonhos" e no Capítulo 7 "Da volta do Espírito à vida corporal: esquecimento do passado". Por exemplo, na questão #410a, Kardec questiona sobre para que serviriam as ideias adquiridas durante o sono (5) que são completamente esquecidas no estado de vigília. A resposta reafirma a existência de uma vida paralela à material que permanece inconsciente propositalmente, sem prejuízo ao aproveitamento dessas ideias:
Algumas vezes essas idéias mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos do que ao mundo corpóreo. Com mais frequência, porém, se o corpo as esquece, o Espírito as retêm, e voltam no momento necessário, como uma inspiração súbita. (grifos nossos)
Certamente é no capítulo que trata das vidas pregressas que o inconsciente - como repositório de lembranças de vidas anteriores - surge de forma clara:
Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos, nem do bem ou do mal que fizemos, em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado. E a nossa consciência, que é o desejo que experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, nos concita a resistir àqueles pendores (LE, Cap. 6, final da resposta à questão #393, grifo nosso).
A lembrança fortuita de vidas pregressas e as capacidades instintivas que se manifestam na vida material são fatores que afetam a tomada de decisão do Espírito e que devem ser levados em consideração ao se explicar o funcionamento do estado inconsciente, principalmente sobre quais seriam as causas relevantes que levariam a uma decisão. Para o Espiritismo com Kardec, o estado inconsciente é a própria manifestação da vida do Espírito que pode pensar de maneira diversa no estado de vigília, quando tem "consciência" das coisas a seu redor a lhe afetarem a maneira de pensar. Isso está claramente indicado, por exemplo, em parte da resposta à questão #266 e # 267 sobre a escolha das provas da vida material:
266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? 
Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar. (grifo nosso)
267. Pode o Espírito proceder à escolha de suas provas enquanto encarnado? 
O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime. Dá-se, porém, que, como Espírito livre, muitas vezes vê as coisas de modo diferente. O Espírito por si só é quem faz a escolha; entretanto, ainda uma vez o dizemos, possível lhe é fazê-la mesmo na vida material, porque há sempre momentos em que o Espírito se torna independente da matéria que lhe serve de habitação. (grifos nossos)
Essa última questão é particularmente importante porque demonstra de forma clara que as decisões do Espírito encarnado se dão de forma inconsciente, como Espírito, ou seja, ele sequer precisa ter consciência (awareness) sobre tais escolhas.  A. Kardec tece um interessante comentário logo após a questão # 266 do qual extraímos o trecho:
A doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso do nosso. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo. (grifo nosso)
Se viver é fazer escolhas, a primeira decisão que ocorre ao Espírito é sobre o tipo de existência que ele pretende passar em uma nova encarnação na Terra. Para o Espiritismo, entretanto, o livre-arbítrio, que é fundamental para se garantir a responsabilidade do Espírito sobre seus atos, não é uma "graça" concedida sem custo ao Espírito, mas algo que ele deve conquistar:
O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, se a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram. (Resposta à questão #122, grifos nossos)
A necessidade de se escolher as provas e desenvolver seu livre arbítrio justificam assim o estado inconsciente, a perda de memória das vidas anteriores e de sua vida como espírito. O ser integral, quando encarnado, se manifesta em sua psicologia e maneirismos, sua atitude em relação à vida, seus instintos e tendências, sem prejuízo do aproveitamento de suas experiências. Como justificativa para esse estado de coisas, a questão # 370 reafirma o espírito como causa, porém, que a matéria o restringe:
370a. Dever-se-á deduzir daí que a diversidade das aptidões entre os homens deriva unicamente do estado do Espírito? 
O termo unicamente não exprime com toda a exatidão o que ocorre. O princípio dessa diversidade reside nas qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.
Para o Espiritismo, os espíritos são uma fator importante 
a influenciar a decisão do encarnado durante a vigília. Tal influência, 
entretanto, se dá de forma inconsciente. Imagem:"O Sonho da rainha
 Katherine", (Johann Heinrich Füssli, 1741-1825).
Inconsciente e obsessão 

O  inconsciente é um conceito importante para se entender "operacionalmente" como podem os Espíritos influenciar os encarnados.  Quando essa influenciação é negativa - de forma a aumentar o sofrimento do encarnado - fala-se em "obsessão" (LE, questão # 473). A questão #460 parece ser fundamental para se entender a ligação entre o inconsciente e a operação dessa influenciação:
460. De par com os pensamentos que nos são próprios, outros haverá que nos sejam sugeridos? 
Vossa alma é um Espírito que pensa. Não ignorais que muitos pensamentos vos acodem a um tempo sobre o mesmo assunto e, não raro, contrários uns dos outros. Pois bem, no conjunto deles estão sempre de mistura os vossos com os nossos. Daí a incerteza em que vos vedes. É que tendes em vós duas idéias a se combaterem. (grifo nosso)
Ora, não guardamos, de forma geral, nenhuma lembrança ou consciência dessa influência, nem sequer sabemos de onde provêm tais pensamentos. O estado inconsciente representa o momento exato onde opera essa influenciação, que acontece exatamente dessa maneira de forma a reter apenas aquilo que é necessário para fazer avançar nossa capacidade de discernimento entre o certo e o errado (do contrário, não haveria mérito...).

De forma resumida, ao se listar que fatores poderiam afetar o inconsciente no momento da tomada de uma decisão, podemos citar:
  • As tendências inatas da alma encarnada, fruto de experiências obtidas em vidas anteriores (inconsciente);
  • Sua experiência presente, resultado de sua encarnação última (consciente ou inconsciente);
  • Suas memórias de vidas anteriores, que reforçam certas tendências em optar por determinadas decisões (inconsciente);
  • Suas memórias da vida atual, acessível diretamente com algum esforço (o chamado "estado presciente", influenciação consciente ou inconsciente);
  • As limitações de seu corpo ou contraparte material que restringem mais ou menos severamente a maneira como as percepções do mundo externo se dão;
  • As influenciações dos Espíritos que reforçam as tendências inatas e sugerem ideais (inconsciente);
O comportamento humano é produto de uma atuação maior ou menor de um desses fatores ou combinações deles. Mas é particularmente nos fenômenos obsessivos mais ou menos severos que o último fator mais se destaca. Por meio do estado inconsciente, pensa e age o encarnado como se estivesse sozinho, mas, de fato, ele não está. Acreditamos, porém, que, mesmo nos casos de subjugação sistemática, o Espírito pelo menos retém consciência de seu livre arbítrio. Esse é, entretanto, assunto para outro post considerando inúmeros detalhes relevantes que exigem minuciosa atenção e consultas a outras referências.

À guisa de conclusão

O inconsciente parece guardar a chave para a essência do espírito encarnado cuja existência integral ocorre em outro "plano". Cremos que as descobertas recentes sobre a operação da mente inconsciente são importantes validações das lições trazidas pelos Espíritos já durante a compilação das respostas do LE e muito antes de Sigmund Freud (6). Para a ciência que investiga esses casos, o inconsciente é um estado de pre-decisão, talvez mais um dentre os inúmeros estados do cérebro entendido como um "hardware" que "roda" um programa. Para o Espiritismo, entretanto, o inconsciente não é meramente um repositório de lembranças ou desejos reprimidos. Ele é a própria manifestação oculta da vida do Espírito em sua jornada evolutiva. As manifestações observáveis do estado inconsciente são importantes evidências (8) dessa vida oculta que, por meio de experimentos, é possível estudar e que têm implicações ainda pouco esclarecidas para a a sociedade. 

Uma das perspectivas abertas pelo Espiritismo é que o encarnado guarda memórias ou consciência plena de suas decisões, mesmo para aquelas que não "subiram" conscientemente durante a vigília. A consciência de tomada de decisão seria uma espécie de "segunda consciência" que reverberaria no campo mental do encarnado, ou tipo de memória reflexa de seu pensamento como Espírito. Essa reverberação é importante para que dela uma memória seja guardada ("eu me lembro de que tomei essa decisão") e auxilie outras tomadas (inconscientes) em contextos semelhantes, até que o processo seja completamente autônomo.

Em outras palavras, a consciência que temos de nossos atos quando encarnados após uma escolha é um mecanismo de "feedback" (realimentação) que reforça o aprendizado durante a existência. Seu papel principal é guardar informação para uso posterior. Outra razão importante para esse funcionamento inconsciente é o da eficiência: a "mente" parece responder melhor a determinadas situações em que ela não tem que "pensar muito" sobre qual seria a melhor solução. Um trabalho interessante recente (3) argumenta que há uma "moral inconsciente"; as decisões "morais" das pessoas são melhores justamente quando elas decidem inconscientemente, o que é outra prova da operação das faculdades do espírito.

Uma vez que é o Espírito, em essência, o responsável pelos seus atos e que as decisões são tomadas mesmo sem consciência ("awareness") imediata - como um feedback de uma operação inconsciente, ele também é o único responsável por elas, sem prejuízo da noção de livre-arbítrio. Na visão espírita, é preciso elucidar a interação espírito-matéria, sobre como se daria a relação entre o espírito e o cérebro ou sistema nervoso sobre o qual ele atua. Enquanto inúmeros pontos obscuros subsistirem, será arriscado negar a responsabilidade do espírito encarnado sobre seus atos e criar, por exemplo, embaraços jurídicos pela negação do livre-arbítrio.

Para se convencer disso, é importante considerar uma visão integral do ser humano e desvendar inúmeros outros mecanismos pouco esclarecidos sobre o funcionamento da mente. Há indícios recentes de que a percepção consciente, quando obstada por doenças ou mal funcionamento do cérebro, não impede a mente de seu funcionamento inconsciente (7). Presentemente debate-se a possibilidade de o inconsciente ser capaz de realizar tudo o que é possível no estado consciente, o que é uma perspectiva promissora diante do ensino espírita sobre a verdadeira vida do espírito.

Retornaremos em um futuro post com mais discussões sobre nossas observações sobre esse importante assunto.

Referências e notas

1. Libet, B., Gleason, C. A., Wright, E. W., & Pearl, D. K. (1983). Time of conscious intention to act in relation to onset of cerebral activity (readiness-potential) the unconscious initiation of a freely voluntary act. Brain, 106(3), 623-642. Outro interessante trabalho de revisão que se destaca pelo equilíbrio é:

Baars, B. (2003). How brain reveals mind neural studies support the fundamental role of conscious experience. Journal of Consciousness Studies, 10(9-10), 100-114.

2. São os conhecidos experimentos com "mensagens subliminares". Ver Custers, R., & Aarts, H. (2010). The unconscious will: How the pursuit of goals operates outside of conscious awareness. Science, 329(5987), 47-50.

3. Ham, J., & van den Bos, K. (2010). On unconscious morality: The effects of unconscious thinking on moral decision making. Social Cognition, 28(1), 74-83.

4. Todas as citações deste post foram extraidas de www.ipeak.com.br .

5. A influência do sono na solução de problemas é bem reportado por: Karmarkar, U. R., Shiv, B., & Spencer, R. (2017). Should you Sleep on it? The Effects of Overnight Sleep on Subjective Preference-based Choice. Journal of Behavioral Decision Making, 30(1), 70-79.

6. Sobre isso se nota que quando Freud nasceu os primeiros manuscritos de "O Livro dos Espíritos" já existiam. Isso não tira de Freud seu pioneirismo na exploração do inconsciente, mesmo porque o "contexto teórico" da Doutrina Espírita é muito diferente da teoria psicológica de Freud.

Entretanto, é preciso ressaltar que o conceito de inconsciente no Espiritismo ainda aguarda melhor apreciação pelos psicólogos no futuro, principalmente com  relação à contribuição das memórias das vidas anteriores, cuja aceitação é infelizmente inconcebível no contexto da teoria Freudiana (ou pelo menos exigiria uma modificação radical na maneira de se entender o ser humano).

7. Um livro interessante com inúmeros relatos da operação do inconsciente quando o cérebro é severamente afetado é Ramachandran, V. S., & Blakeslee, S. (2004). Fantasmas no cérebro. Rio de Janeiro: Record.

8. O leitor pode se certificar que o inconsciente foi aceito pelo mainstream acadêmico ao ler  Koch C. (2011). Probing the Unconscious mind. Cognitive psychology is mapping the capabilities we are unaware we possess. Scientific American. Acessível em:

https://www.scientificamerican.com/article/probing-the-unconscious-mind/

2 de dezembro de 2017

A síndrome da super memória (HSAM) e sua base espiritual


“(O Espírito) pode lembrar-se dos mais minuciosos pormenores e 
incidentes, assim relativos aos fatos, como até aos 
seus pensamentos. Não o faz, porém, quando 
não tenha utilidade.”("O Livro dos Espíritos", A. Kardec, questão # 306a)

 Artigos acadêmicos promovidos por textos de divulgação na internet (1,2,3) relatam o reconhecimento recente de uma "nova" anomalia psicológica: a "Memória Autobiográfica Altamente Superior", em inglês HSAM ou "Highly Superior Autobiographical Memory" (também chamado "Hipertimesia"). Essa anomalia é caracterizada pela capacidade de alguns indivíduos - a estatística de casos reportados é de 60 no mundo - de se lembrarem de forma bastante detalhada de eventos da sua vida. Um dos casos que chama a atenção é o de Rebecca Sharrock, que se lembra de quando era bebê e de acontecimentos de sua primeira infância, embora não tenha lembranças intrauterinas. Outro é o de Markie Pasternak (2). "Leva certo tempo para se lembrar", comenta Markie, que se recorda de eventos com precisão de uma hora. "Eu não decoro as coisas", ela diz, "não é assim que funciona, eu tenho que ver as coisas, estar lá, tenho que viver, do contrário, aquilo não me afeta" (2).

Tais relatos são muitas vezes tomados com ceticismo, afinal, nossas memórias são eventos privados, que não podem ser "comprovados" externamente. Com a raridades dos casos, há céticos obtusos (os "neuro céticos") que consideram todos fraudes. Para eles essas memórias são baseadas em registros obsessivos em agendas de papel...De uma forma ou de outra, os poucos casos de super memória hoje fazem parte de material de pesquisa realizada no "Centro de Neurobiologia da Memória e do Aprendizado" da UC Irvine (4). De acordo com a descrição desse centro de pesquisa, responsável pelo registro e classificação da síndrome de forma pioneira em 2006 (5):
Indivíduos que tem HSAM têm uma habilidade superior de se lembrar de detalhes específicos de eventos autobibliográficos, gastam uma grande quantidade de tempo lembrando de seu passado e têm uma compreensão detalhada do calendários e de suas características. (4)
O indivíduo não só consegue dizer qual o dia da semana a que se refere determinada data (sem nenhum tipo de cálculo, apenas de "memória da data" mesmo), mas também se lembra em detalhes do que fez ou sofreu naquele dia específico. De acordo com testes feitos na instituição, indivíduos com HSAM não demonstram habilidade superior em testes padrão de memória em comparação a pessoas consideradas "normais". Há também indícios de que a capacidade extraordinária de se lembrar de detalhes do passado seja um empecilho à realização de atividades do dia a dia, mas, ao que parece, portadores dessa capacidade apreciam ser exatamente como são.

A que podemos atribuir essa capacidade ? Para a ciência desprovida da ideia de espírito imortal, a HSAM deve ser atribuída a alguma anomalia neuronal importante - possivelmente herdada (dai a crença em uma base genética) e rastreável por meio de exames (com os de imagem por ressonância magnética). Segunda a página da ref. (4), algumas evidências observadas do cérebro indicam "regiões ou redes neurais específicas que se distinguem de grupos de controle, embora esse trabalho ainda seja bastante preliminar" (veja, sobre isso a ref. (6)). A cautela se justifica, já que o estudo foi feito com base em apenas um indivíduo e variações anatômicas do cérebro tendem a ocorrer de forma distribuída na população. Ou seja, pode ser o caso de que por mera chance aquele indivíduo que mostra HSAM tem também um cérebro algo diferente anatomicamente.

A HSAM e sua base no espírito

Independente da explicação materialista, chama a atenção a um espírita com alguma leitura do "Livro dos Espíritos" (LE) de A. Kardec, as claras bases espirituais dessa nova capacidade. Basta para isso lembrar a questão #306 e # 306a:
306. O Espírito se lembra, pormenorizadamente, de todos os acontecimentos de sua vida? Apreende o conjunto deles de um golpe de vista retrospectivo?
“Lembra-se das coisas, de conformidade com as conseqüências que delas resultaram para o estado em que se encontra como Espírito errante. Bem compreendes, no entanto, que muitas circunstâncias haverá de sua vida a que não ligará importância alguma e das quais nem sequer procurará recordar-se.”
 
a) – Mas, se o quisesse, poderia lembrar-se delas?
“Pode lembrar-se dos mais minuciosos pormenores e incidentes, assim relativos aos fatos, como até aos seus pensamentos. Não o faz, porém, quando não tenha utilidade.”
As respostas dadas pelos Espíritos também afirmam que o espírito se interessa pelas lembranças que tenham impacto em sua vida maior, principalmente as de vidas anteriores. Não é que o Espírito não tenha a capacidade de se lembrar, mas sim que, a medida que evolui, atribui menos importância aos pequenos fatos do dia a dia que em nada ajudariam ao seu progresso:
308. O Espírito se recorda de todas as existências que precederam a que acaba de ter?
“Todo o seu passado se lhe desdobra à vista, quais a um viajor os trechos do caminho que percorreu. Mas, como já dissemos, não se recorda de modo absoluto de todos os seus atos. Lembra-se destes na medida da influência que tiveram na criação do seu estado atual. Quanto às primeiras existências, as que se podem considerar a infância do Espírito, essas se perdem no vago e desaparecem na noite do esquecimento.”
É compreensível que as lembranças das primeiras existências tenham se perdido, uma vez que a própria estrutura corpórea era menos aprimorada, de forma que concluímos que, quanto mais evoluído o Espírito, tanto maior será sua capacidade de reter, na memória, pequenos fatos. É provável que a condição da HSAM reflita uma modificação corporal recente (afinal o corpo também está evoluindo) que leve a disseminação dessa capacidade na população em um futuro ainda distante (e então a Hipertimesia será "epidêmica"...). 

Fig. 1 Ilustração de Gustave Doré (Wikipedia) para o "Le Petit Poucet" de Charles Perrault em "Histoires ou Contes du Temps passé: Les Contes de ma Mère l'Oye (1697)". Essa imagem simboliza o funcionamento da memória. Lembrar-se significa jogar luz e "ver de novo", através da lanterna do espírito, nas memórias do passado que são registradas de forma perene na mente imortal. Dai que a falta da luz não significa que não há memórias, mas que essas jazem na escuridão criada pelo corpo físico (leia-se "cérebro") como uma restrição imposta ao espírito encarnado. 
Também chama a atenção as desvantagens da HSAM, que nos remetem à importância do esquecimento dos fatos passados, uma necessidade que o Espiritismo também foi pioneiro em identificar. Sobre isso, a ref. (7) de J. Marshall, publicada na revista "New Scientist" parece validar essa relevante lição espírita ao afirmar que o "esquecimento é a chave para uma mente saudável". Certamente é, se tais fatos anteriores prejudicarem nosso progresso espiritual, exatamente como previram os Espíritos no LE.   

Não há dúvidas para nós de que a HSAM se acha estabelecida no espírito imortal e o cérebro é apenas a interface que permite registrar tais fatos a partir do mundo material externo (ver Fig. 1). Se ele os registra, é ele também que os oculta em grande parte da visão interna pela qual o espírito se lembra e retém em sua memória "espiritual" todos esses acontecimentos. Ainda que, no estado encarnado, ele não se lembre de um fato porque passou - seja na presente existência, mas, principalmente, nas passadas - isso não implica que ele não o guarde, retido nas camadas mais profundas de sua memória extrafísica. 

Para leitores interessados em publicações acadêmicas sobre o assunto, recomendamos a leitura de (5) a (7).

Referências

1 - A mulher que lembra de como era ser um bebê: 

2 - Only 60 People in the World Have This Insanely Powerful Memory:

3 - TV24. Esta mulher lembra-se de tudo o que viveu desde que nasceu:

4 - Center for the Neurobiology of Learning and Memory, C CNLM Ayala School of Biological Sciences. Highly Superior Autobiographical Memory: http://www.cnlm.uci.edu/hsam/

5 - Parker, E. S., Cahill, L., & McGaugh, J. L. (2006). A case of unusual autobiographical remembering. Neurocase, 12(1), 35-49.

6 - LePort, A. K., Mattfeld, A. T., Dickinson-Anson, H., Fallon, J. H., Stark, C. E., Kruggel, F., ... & McGaugh, J. L. (2012). Behavioral and neuroanatomical investigation of highly superior autobiographical memory (HSAM). Neurobiology of learning and memory, 98(1), 78-92.

7 - Marshall, J. (2008). Forgetfulness is Key to a Healthy Mind. New Scientist Magazine, (2643). Ver: