9 de outubro de 2014

O pensamento de Herculano Pires (por R. R. Espelho)

Recebi de Isabel Vitusso (do grupo Correio Fraterno) um exemplar do livro "O Pensamento de Herculano Pires" (1), recentemente publicado na esteira das comemorações do centenário desse pensador espírita. 

O livro traz uma coletânea de trechos escritos por Herculano Pires (1914-1979) sobre diversos assuntos reunidos em ordem alfabética. Percorrendo as citações podemos ler a opinião de Herculano a respeito de uma variedade de assuntos doutrinários ou que guardam com o Espiritismo alguma relação. Interessante também é saber que Herculano Pires tornou-se espírita, ou seja, convenceu-se da excelência doutrinária do Espiritismo, após ler "O Livro dos Espíritos" de A. Kardec, tal como aconteceu com outros grandes pensadores espíritas. 

Em particular, chamou-me a atenção a opinião dele sobre a atuação do espírita no meio político (ver item "político espírita" na pág. 84):
No exercício de funções jornalísticas, vimos diversos espíritas de nome cercados de esperanças falirem na luta política, desservindo às ideias que desejamos servir. Perderam a parada para sim mesmos e saíram da luta mutilados. Por isso entendemos que os espíritas só devem entrar na política quando convocados para funções ou posições que não possa recusar, porque então disporá do amparo de sua independência. de seu desinteresse pela carreira e de sua disposição para superar as fascinações traiçoeiras do meio. Quando consegue manter-se nessa rara posição, presta realmente serviço à causa pública e aos ideias, pagando por esse heroísmo o preço de profundas desilusões.
Essa é uma maneira bem polida de se não recomendar a mistura de questões doutrinárias com a política do mundo. Ainda hoje, quando vemos muitos religiosos entrarem no campo político com nítidos interesses particulares, usando a religião como veículo de ascensão, Herculano lembra da importância de ser chamado para a função de forma irrecusável, ou seja, quando a conjuntura ou a situação assim exigir. É uma maneira de se entender o mandado como algo naturalmente arranjado pelo Alto, como um chamamento. Ainda assim, creio que muitos que se dizem espíritas  - e que têm interesses na política explicitamente - torcerão o nariz para essa inteligente observação de Herculano Pires, acreditando que o Espiritismo deva participar, sem critério ou com critérios duvidosos, da vida política sistemática (2). Dificilmente, porém, serão convencidos, já que vivem a velocidade do momento, desprezando as colheitas de longo prazo que são os inúmeros resultados, inclusive políticos, advindos da educação e da prática sistemática da ética espírita na consciência de cada um. 

A relação de obras usadas para organizar as citações pode ser encontrada no final do livro. Em particular, senti falta de mais detalhes de cada obra (como, por exemplo, dados sobre o ano de edição e a editora para facilitar ao leitor a busca pela obra).  Para os que não conhecem as obras desse autor, "O Pensamento de Herculano Pires" é uma boa introdução. Mais sobre  Herculano Pires pode ser assistido em (3).

Referências

1 - R. R. Espelho (2014), O Pensamento de Herculano Pires. Ed. Correio Fraterno. ISBN 978-85-98563-81-7, 100 páginas. O livro pode ser adquirido no site do Correio Fraterno;

2 - Ou seja, da "política pela política".


27 de setembro de 2014

Cinco principais "evidências" para existência de vida após a morte.

Quando observado desde sua perspectiva teórica, o Espiritismo fornece um panorama admirável, que demonstra os diferentes graus de manifestação da consciências (Espírito). Esses  graus surgem de formas diversas, frequentemente considerados separados do ponto de vista fenomenológico, mas que mostram a operação de um mesmo e único princípio. Esse princípio é independente da matéria, mas está em parcial interação com ela.

Entretanto, os que não conhecem os princípios espíritas e que estão distantes de considerações filosóficas muitas vezes recebem notícias e reportagens sobre uma variedade grande de "fenômenos anômalos". Esse é o caso de uma grande comunidade de interessados nas teses da sobrevivência (1), em diversos países. O livro "Pare de se preocupar! Provavelmente há vida após a morte" (2) de G. Taylor é um exemplo que resume esse estado de coisa. O título define o grau de envolvimento do autor com a tese: o uso do advérbio 'provavelmente' (em itálico) indica que são apenas possibilidades. Cinco dos principais grupos de fenômenos que são considerados por Taylor "evidências" de vida após a morte são:

1 - Experiências de quase morte "verídicas". O qualificativo "verídica" se aplica às experiências de quase morte em que o paciente reporta a observação de fatos e experiência no "plano material" que são posteriormente confirmadas, fatos "verídicos" que ele não poderia ter conhecido de outra forma porque estava passando pela experiência de quase morte;

2 -  Experiências "Peak-in-Darien". Denominação apenas conhecida de "especialistas" em experiências de leito de morte (3). Trata-se de relatos de pessoas nos instantes finais de vida, que descrevem a presença de parentes falecidos, inclusive contatos com parentes considerados ainda "vivos", porém que realmente se encontram falecidos. Isso acontece porque os que se cercam do moribundo ainda não sabem da situação atual do parente recém falecido.

3 - Mediunidade. A conhecida faculdade de entrar em contato com Espíritos, bastante estudada por Kardec.

4 - Fenômenos de leito de morte. Embora seja comum que pessoas que se avizinhem da morte relatem contatos com parentes falecidos ou outras experiências consideradas extraordinárias (EQMs), há relatos de pessoas sãs, que acompanham esses desenvolvimentos, e que também experimentam "visões". Algumas dessas ocorrências envolvem enfermeiros que percebem uma luz irradiada do paciente, que toma toda a sala e que envolve os que nela estão. Há relatos de testemunhas que observam irradiações deixando o corpo do paciente no momento da morte.

5 - Combinações de mediunidade e visão de leito de morte. Experiências de quase morte que são parcialmente descritas por médiuns, ou informações confirmadas por médiuns em apoio ao que pacientes ouviram e viram durante uma EQM. O mais interessante desses relatos semelhantes a EQM através de médiuns é que eles foram compilados muito antes que os fenômenos de EQM se tornassem populares. 

O que falta para que todas essas "evidências" sejam aceitas? Já discutimos aqui bastante que evidências a respeito de um fenômenos nunca são aceitas antes de uma teoria ou explicação. Há inúmeros casos na história da ciência em que fenômenos foram desprezados sumariamente, simplesmente porque não se entendia corretamente seus mecanismos. Dai o cuidado do autor em apresentar a sobrevivência como uma "possibilidade".

Aqui dá-se algo parecido. Portanto, a rota para sua compreensão maior passa pela aceitação tácita dos conhecimento dos mecanismos de produção, dos elementos geradores (Espírito, perispírito, faculdades do Espírito) para então aceitá-los completamente. 

Referências e notas

(1) Teses que se distinguem do Espiritismo em alguns aspectos, mas que guardam com ele alguma relação, a saber, que defendem a sobrevivência da consciência à morte física.

(2) G. Taylor (2013), "Stop Worrying! There Probably Is an Afterlife". Ver http://www.amazon.com/o/ASIN/098742243X/thedailygrail

(3) B. Greyson (2010) "Seeing Dead People Not Known to Have Died: 'Peak in Darien' Experiences",  Anthropology and Humanism, Vol. 35, Issue 2, pp 159–171, ISSN 1559-9167.