30 de março de 2014

Artigos espíritas em Alemão no Seele - Spiritische Gedanken, pela Adriana Sachs Vogel


Für mich wird es eine erfreuliche Aufgabe sein, mit den Lesern mein Wissen teilen zu dürfen. Kommentare und Fragen sind herzlich willkommen, und werden mit Freude und Hingabe beantwortet, schließlich wird der Blog für die Leser gemacht, und ihre Teilnahme bereichert umso mehr den Inhalt. Wissenschaft, Philosophie und Religion... das ist Spiritismus! " (1)
(Adriana Sachs Vogel- Seele, Spiritistischen Gedanken)

Países de lingua alemã tem agora um novo blog espírita editado totalmente nesse idioma. O blog da Adriana http://seelesg.wordpress.com/ [Seele - Spiritistischen Gedanken,  blog über Spiritualität "Alma - pensamentos espíritas, blog de espiritualidade"] - recentemente criou esse novo espaço com muitos artigos espíritas interessantes em língua alemã.

Alguns exemplos são:
Há outros artigos sobre reencarnação. Também informativa é a seção de biografias, entre elas encontramos sobre: Allan KardecChico Xavier e Divaldo Franco.

Temos uma colaboração especial com o Seele na forma de dois artigos traduzidos para o alemão. Um deles é Kommerzialisierung der Medialität  e outro é Die Ziele von der Lehre der Geister (Spiritismus), que é uma tradução de Os objetivos do Espiritismo. Em breve, publicaremos versões em inglês desses artigos também no blog "Spiritist Knowldege" (2).


O novo blog da Adriana não é uma agenda pessoal, mas realmente um repositório de artigos que trazem conteúdo e informação espírita em língua alemã, o que é algo difícil de se encontrar. Ele também tem uma abordagem interessante: mostrar o Espiritismo em seu tríplice aspecto, emfatizando os lados científico e filosófico, que são necessários para dar acesso correto ao lado religioso. Afinal de contas, foi-se o tempo de princípios dogmáticos de fé.  

Provavelmente, o Seele é um dos mais completos sites sobre Espiritismo disponíveis em lingua alemã.

Nota

(1) "Para mim será uma tarefa abençoada poder dividir com os leitores os meus conhecimentos. Comentários e perguntas serão muito bem vindos, e serão respondidos com empenho e satisfação, afinal o blog foi criado para os leitores e a sua participação enriquece ainda mais o conteúdo dos temas expostos. Ciência, Filosofia e Religião... isso é o Espiritismo!"

(2) Ver também: Spiritist articles in German (Seele, Spiritistischen Gedanken by Adriana Sachs Vogel).

16 de março de 2014

Livro VII - Mediunidade Mensurável (de S. Fontana)


O pesquisador Sandro Fontana recentemente publicou o livro "Mediunidade Mensurável - um livro digital que resume uma pesquisa sobre a possibilidade de medir estimadamente a mediunidade de uma pessoa", disponível gratuitamente (1) e contendo sua pesquisa em mediunidade. Esse livro segue a publicação de seu artigo "Mensuração de nível estimado mediúnico" (2). Aqui tecemos alguns comentários sobre essa obra. Certamente, a iniciativa do autor é louvável, por representar uma iniciativa isolada de aplicar o que seria chamado "metodologia científica" a um vasto campo de estudo como é o da mediunidade. 

Essa iniciativa se destaca uma vez que constatamos que trabalhos semelhantes são escassos no meio espírita,  quase que totalmente voltado para o aspecto religioso do Espiritismo. Não podemos nos esquecer do tríplice aspecto, de forma que as questões e problemas relacionados à parte científica são igualmente relevantes.

O trabalho está dividido nas seguintes partes:
  • Introdução (p. 5);
  • Objetivo (p. 7)
  • Kardec e mediunidade (p. 9)
  • A verdadeira, a falsa e a mediunidade intermediária (p. 14)
  • A incógnita constante do médium (p. 21)
  • O surgimento dessa pesquisa (p. 24)
  • Iniciando a tabela (p. 26)
  • A lógica base (p. 28)
  • Expondo médiuns à formulação (p. 35)
  • Os níveis e os médiuns (p. 54)
  • Os tabus (p. 56)
  • A aplicação (58);
  • Conclusão (p. 60)
Logo na introdução, o autor destaca a justificativa do trabalho:
Acredito que o desafio aqui, algo que a necessidade demonstrou ser importante, é tentar ser o mais justo possível, dando um passo além para esse novo século onde o espiritismo precisa resgatar o lado da pesquisa. Hoje temos enraizado profundamente os sedimentos morais/religiosos de espiritismo, porém o lado científico ficou estagnado no tempo e, assim que conseguirmos avançar nele, conseguiremos reforçar, junto da filosofia espírita, os passos seguintes para progredir na marcha evolutiva.
Nada mais justo... Fazer crescer o aspecto científico do Espiritismo certamente é justificativa importante. Porém, não se pode esperar isso com abandono total do que foi construído, em que pese a aparência de "estagnação". Como ciência, o Espiritismo ainda é muito jovem (3) e não dispõe de orçamento próprio do Estado para seu desenvolvimento.

O autor se baseou na definição universal de Kardec para o vocábulo "mediunidade" (ver "Kardec e a mediunidade", p. 9). Um pouco depois, o autor comenta:
Alexandre Aksakof descobriu o efeito anímico no médium, ou melhor, depois de seus estudos, propôs a tese de que o médium, mesmo sem intenção, provoca um efeito que confunde-se com a comunicação mediúnica.
Em diversas partes da obra de Kardec já se afirmava sobre a existência de efeitos anímicos, que não receberam, obviamente, esse nome (4). Por exemplo:
Embora geralmente o sensitivo mediúnico esteja desperto, em certos casos, que se tornam cada vez mais frequentes, o sonambulismo espontâneo se declara no médium, e este fala por si mesmo, ou por sugestão, absolutamente como o sonâmbulo magnético se conduz nas mesmas circunstâncias. (5, grifos nossos)
Aksakof parece ter sido, na verdade, o primeiro pesquisador a diferenciar entre as explicações totalmente anímicas para a mediunidade (advindas quase que integralmente dos meios céticos) daquelas totalmente espíritas, e a ressaltar o papel da influência do médium em meios que não aceitavam as teses de Kardec.

Devemos considerar que os médiuns da época de Kardec talvez não apresentassem suas mediunidades no mesmo grau dos de hoje. Assim como houve redução drástica nas manifestações de efeitos físicos, é provável que efeitos anímicos tenham prevalecido posteriormente, o que torna a questão ainda mais complexa. 

As questões colocadas pelo autor na p. 12 são pertinentes:
Mas e se o médium não for confiável?
E o que o faz não ser confiável?
Até que ponto a comunicação está sendo verdadeiramente efetiva?
Essas parecem ser as questões que motivaram o autor a realizar sua pesquisa. Ou, de outra forma: seria possível desenvolver um método quantitativo para ajudar na resposta a essas questões? A divisão feita entre "mediunidade falsa" (chamada "anímica") da mediunidade intermediária (que seria verdadeira, mas com algum grau de animismo) parece justificar a busca por uma escala de classificação que  transcenderia Kardec. Por isso, na parte seguinte (p. 14), o autor deixa de seguir Kardec (6). 

A questão é que, para Kardec, métodos quantitativos seriam os últimos a serem buscados nessa empreitada. Mediunidade é, fundamentalmente, um fenômeno humano e, com esse tipo de efeito, métodos quantitativos se mostram problemáticos (7), de difícil senão impossível aplicação. O leitor de "Mediunidade mensurável" deve saber que nos movemos em uma região potencialmente infrutífera ao seguir esse caminho. 

 Proposta de quantificação de mediunidade

O autor estima que, na comunicação, 50% vem do "pensamento" do Espírito comunicante e outros 50% do médium (p. 29):
Dessa forma, eu dividi a comunicação em dois momentos, sendo 50% ao pensamento (espírito) e os outros 50% ao repassador/transmissor (médium).
É difícil entender qual foi o raciocínio necessário para propor essa divisão porque "pensamento" (do médium e do Espírito) é algo imensurável e não se pode definir percentagens com atributos imensuráveis. Como afirmamos acima, a palavra "animismo" é posterior à codificação, mas isso não significa que não tenha sido discutido por Kardec. Mais a frente, ainda na p. 29:
Kardec, em toda sua obra, não explicita tal condição de forma clara, acabei descobrindo isso (por acaso) em meus testes e observações. Na Codificação Espírita, ao lê-la, temos a impressão que o espirito não tem problemas em se comunicar e que tudo depende absolutamente da sensibilidade do médium.
Criar percentagens a atributos imensuráveis não tem sentido e esse seria um erro que Kardec não cometeria e não cometeu. Além disso, o problema aqui é que termos usados em meados do século XIX não têm o mesmo significado hoje em dia (como por exemplo, "sonambulismo espontâneo" que pode ser compreendido como "transe anímico"), de forma que não se pode dizer taxativamente que a noção de influência do médium esteja ausente da codificação.

A proposta do autor de quantificação segue uma fórmula (ver p. 30) que aparece como uma média ponderada (%Vm) de valores estimados de vários "atributos" (da mensagem e do médium). Embora o autor reconheça a diferença entre cada tipo de atributo, eles são misturados em uma mesma fórmula com pesos iguais (8), com índices negativos para médiuns considerados fraudulentos.

A aplicação da fórmula é exemplificada por vários casos que parecem seguir a opinião do autor a respeito de determinado médium. Uma vez calculados um índice (%Vm), uma proposta de quatro classes mediúnicas é finalmente apresentada na p. 54.

Claramente existiria uma grande vantagem se fosse possível identificar um bom médium por meio de avaliação quantitativa tão direta como a que é explicada em "Mediunidade Mensurável". Essas vantagens são discutidas nas p. 58-60. É perceptível o desejo do autor em colaborar com o desenvolvimento de novos estudos para a mediunidade, o que, por si só, é algo difícil de constatar nos meios dedicados ao assunto.  

Palavras finais

Mediunidade (assim como a inteligência e a beleza) parece ser uma faculdade humana intrinsecamente imensurável. Entretanto, podemos sim definir medidas quantitativas para o conteúdo da mensagem (9). Por exemplo, dada uma mensagem mediúnica, podemos fazer uma análise sintática e numérica dela, contando-se o número de substantivos, verbos etc. que ela contém. Podemos analisar mais profundamente seu conteúdo, buscando traçar a correspondência fato-informação para cada elemento de mensagem nela presente.

Como é que tal análise poderia caracterizar a mediunidade? Parece ser correto afirmar que, quanto maior a fidelidade do médium na transmissão do conteúdo, mais "desenvolvida" seria a sua mediunidade. Nesse sentido o autor de "Mediunidade Mensurável" identificou a relação entre conteúdo e excelência da fonte que o produz no caso de psicografias.

Entretanto, esbarramos em problemas grandes ao querer criar uma escala numérica de qualificação para médiuns. O problema é que a mediunidade psicográfica (ou psicofônica), apesar de produzir mensagens concretas, ainda é um fenômeno privado do ser humano. Como ponto para meditação, devemos considerar que é possível que o médium seja excelente (no sentido de entrar em contato com muita informação), mas não consiga corretamente colocar no papel todo o conteúdo.

Para exemplificar, imaginemos dois rádios de uma mesma marca. Um está de acordo com suas especificações de fabricação, enquanto que outro tem um problema em seu alto-falante, que não permite interpretar corretamente o que é transmitido. Então, nesse caso simples, não seria possível colocar o rádio defeituoso como uma "outra classe", ou dizer que o rádio perfeito é "superior". O máximo que se pode dizer é que existe um defeito em um dos rádios. Com isso queremos dizer que, no caso da mediunidade, dificuldades de transmissão de conteúdo podem não ser devidas a diferenças intrínsecas entre classes. Em suma, mediunidade ainda é algo bastante complexo para permitir avaliações quantitativas, mesmo nos casos mais concretos.

Referências e notas
  1. S. Fontana. Mediunidade Mensurável. Um livro digital que resume uma pesquisa sobre a possibilidade de medir estimadamente a mediunidade de uma pessoa. Digital e-book. Acesso em 2014. 62 páginas.
  2. Ver apresentação do autor (em 19/agosto/2012): https://www.youtube.com/watch?v=Pb5JSan2DUE
  3. Séculos foram necessários para dar à física a aparência de "modernidade"e para que ela fosse financiada com recursos públicos. Devemos nos confiar totalmente nas aparências?
  4. Ver, por exemplo: "O Livro dos Médiuns", Segunda parte - Das manifestações espíritas, Capítulo XX - "Da influência moral do médium", Questões diversas.
  5. Revista Espírita 1867, Junho, Dissertações espíritas - "O Magnetismo e o Espiritismo comparados".
  6. Essa ausência de quantificação possivelmente é vista pelo autor como um sinal de "estagnação" do método de Kardec.
  7. Veja, por exemplo, as controvérsias envolvendo a definição de um "quociente de inteligência": Mark Snyderman and Stanley Rothman, (1988), "The IQ Controversy, the Media and Public Policy", Transaction Books.
  8. É fato básico que só se pode somar, subtrair, multiplicar ou dividir "banana com banana" ou "maça com maça". 
  9. Ver projeto "Cartas psicografadas": http://eradoespirito.blogspot.com.br/p/projeto-cartas-psicografadas.html

5 de março de 2014

Conceitos básicos de Física Quântica VI

Estrutura de orbitais atômicos no átomo de hidrogênio obtidos por meio direto, exibindo a existência de núvens de concentração eletrônica em torno do núcleo. (1)
Toda a matéria se origina e existe somente em virtude de uma força 
que agrupa as partículas de um átomo em vibração 
e as mantém juntas como se fosse um sistema solar em miniatura. 
Devemos assumir como causa dessa força uma mente consciente e inteligente. 
A mente é a matriz de toda a matéria. Max Planck.

Um átomo e seus vários estados

É comum representações pictóricas do átomo - conhecido como unidade fundamental da matéria - na forma de um "mini sistema solar", com um núcleo e partículas elétricas - os elétrons - girando em torno dele em órbitas bem definidas. Essa representação é reconhecida como símbolo universal e está representado na Fig. 1.

Há inúmeras referências na web sobre esse 'modelo atômico'. É um modelo porque seu objetivo é representar os elementos principais do átomo (até suas posições relativas), sem compromisso de ser uma imagem exata da realidade.

De fato, desenvolvimentos em física quântica mostraram que essa 'visão exata' da realidade, no que diz respeito à realidade atômica, não pode ser obtida. Para ver de uma maneira simples como isso é impossível, basta que você considere o processo de 'observação' de uma coisa. Observar algo é, antes de tudo, jogar luz no objeto a ser observado, sem o que é impossível apreciar suas formas, cores e profundidade. Mas, o que acontece ao se jogar luz em um objeto microscópico como um elétron?

Um elétron é uma partícula fundamental da Natureza. Tem uma massa muito pequena (da ordem de 10E-31 kg, ou seja, precisamos de 31 zeros depois da vírgula para registrar a primeira casa significativa de massa). Ao se tentar iluminar um átomo para poder observar o elétron, a intensidade da luz - por menor que seja - poderá destruir completamente o que se pretende ver. No reino quântico, isso também depende de uma série de fatores tais com o a frequência da luz que se joga. Se ela tiver uma frequência determinada abaixo do que é chamado 'limite de ionização' do átomo, a luz será espalhada de forma que será impossível formar qualquer imagem do átomo. Se estiver acima desse limite, o resultado será a destruição do estado atômico original (2). Portanto, é impossível determinar diretamente a forma dos átomos, pelo menos por processos conhecidos tradicionalmente e que se aplicam ao nosso mundo 'macroscópico' (3).

Estados atômicos.

Fig. 1 Representação um átomo 
com seu núcleo e elétrons em órbitas bem 
definidas.  
Além de ter massa, o elétron também tem outra propriedade fundamental chamada carga elétrica. Por convenção, essa carga tem sinal negativo e é muito pequena (da ordem de 10E-19 Coulomb). Embora seja pequena, é carga suficiente para gerar boa parte dos fenômenos do mundo em que vivemos. 

Acontece que partículas carregadas em movimento acelerado acabam por perder energia. Essa energia - presente na partícula em seu estado de movimento original - acaba sendo perdida de uma forma inusitada: a partícula emite radiação eletromagnética. Como, na Natureza, energia não pode ser destruída, essa energia vai embora com a radiação que é emitida. 

Agora, imagine um elétron a girar indefinidamente em torno do núcleo do átomo. Para simplificar, imaginamos um núcleo de hidrogênio (ou seja, somente um elétron se faz necessário na 'eletrosfera' do átomo). Ao se aproximar do núcleo, o elétron está acelerado. Ele sofre influência da força elétrica advinda de uma carga de sinal oposto no núcleo. Mas, mesmo assim, por que, no caso do elétron no átomo, estando ele acelerado, o átomo não perde energia? Esse foi uma dos problemas fundamentais que motivou a revolução da física quântica.

De fato, em todos os átomos, os elétrons estão constantemente em movimento e, mesmo assim, a matéria é bastante estável, não há "perda de energia" por emissão de aceleração. Como isso é possível? Além disso, uma vez que elétrons e núcleo tem cargas que se atraem, como é possível que eles não terminem grudados uns aos outros?

Um mecanismo que é frequentemente invocado para explicar de forma qualitativa esse processo de "estabilização" é o princípio de incerteza. Esse princípio cria um limite para o estado de movimento e posição de uma partícula pela física quântica. Ao determinarmos com precisão sua posição, será impossível conhecer sua velocidade (ou, mais especificamente, quantidade de movimento). Ao se determinar com precisão o seu movimento, será impossível saber sua posição. Assim, se o elétron perde energia e se aproxima do núcleo, o crescente aumento de determinação em sua posição faz com que seu momento aumente consideravelmente, o que o afasta novamente do núcleo. Nas palavras de R. Feynman (4):
A resposta tem a ver com efeitos quânticos. Se tentarmos confinar nossos elétrons em uma região que é muito próxima dos prótons, então, de acordo com o princípio de incerteza, eles deverão apresentar algum momento médio quadrático que será tanto maior quanto mais tentarmos confiná-los. É esse movimento, exigido pelas leis da mecânica quântica, que evita que a atração elétrica aproxime ainda mais as cargas. 
Portanto, o que acontece ao redor do núcleo não é a configuração de cargas em órbitas estáveis (como sugere imagens como a da Fig. 1), mas o estabelecimento de um estado atômico sem emissão alguma de energia.

Mas, é um estado de quê? Trata-se do estado de probabilidade de se encontrar elétrons ao redor do núcleo. Esses estados têm energia muito bem definida e conferem uma estabilidade extraordinária à matéria. Não podemos nos esquecer que a principal propriedade da matéria quântica é seu caráter ondulatório. Esse caráter era, no começo, apenas associado à luz e à radiação, mas a principal contribuição da física quântica foi demonstrar que, mesmo a matéria mais dura que se conhece, também se comporta como uma onda.
Fig. 2
Uma maneira de compreender como esses estados poderiam ser formados foi feita pelos pais da física quântica ao tentarem curvar ou fechar uma onda ao redor do centro atômico (Fig. 2). Como o elétron tem uma onda associada, então, buscou-se saber quais seriam as condições necessárias para que uma onda eletrônica se 'fechasse' completamente ao redor do núcleo como mostrado. Essas condições dão origem aos estados de energia bem definidos dos elétrons porque somente ocorrerá o 'fechamento' da onda para determinadas frequências.

Podemos entender os estados atômicos como se fossem "ressonâncias" nas ondas de probabilidade dos elétrons ao redor do núcleo atômico. Lei rigorosas proíbem, portanto, que energia seja perdida nesses estados de forma espontânea (embora existe sempre uma chance de, espontaneamente, ocorrer uma perda; ela é muito pequena no nível quântico), o que resulta em grande estabilidade para a matéria ordinária. 

Referências e notas

(1) Uma imagem  de um estado quântico do átomo de hidrogênio recentemente obtida para determinada condições especiais:
(2) Se for um valor exato, poderá causar uma transição de estado (chamado de 'excitação atômica'). Se for excessiva, poderá causar ionização do átomo que é o afastamento do elétron de seu núcleo.

(3) No caso do 'mundo macroscópico', os objetos são formados por muitas quantidades de átomos. Luz tem efeito desprezível sobre esse grande agrupamento de partículas e é, portanto, espalhada de tal forma que os contornos dos objeto podem ser vistos, mas nunca detalhes até a escala atômica. De fato, podemos ver muitos detalhes microscópicos de objetos, mas até o nível em que efeitos quânticos não são importantes.

(4) Ver: http://www.feynmanlectures.caltech.edu/II_01.html









19 de fevereiro de 2014

Sobre a reencarnação e o Judaísmo (comentários a um artigo de Sara Y. Rigler)


"A reencarnação é uma lente poderosa através da qual o amor e a misericórdia de Deus podem ser percebidos por entre as catástrofes da vida". (Sara Y. Rigler)

"Deus faz as coisas de tal forma que as chances do homem alcançar a salvação são maximizadas. Uma alma pode reencarnar inúmeras vezes em diferentes corpos e, dessa forma, corrigir os erros feitos em vidas anteriores. Da mesma forma, ela pode alcançar a perfeição que não foi atingida nas vidas pregressas." (Ramchal, "The way of God", Sec. XIX)

O site Aish.com publicou recentemente o artigo (1) "A reencarnação e o Holocausto: porque alguns Judeus suspeitam que estão de volta", por Sara Yoheved Rigler, sobre a reencarnação (2) na visão judaica. Esse assunto deve render muitos comentários no futuro, já que uma linha dentro de tradições místicas do Judaísmo sempre ensinou a existência de reencarnação. Segundo Sara:
Judeus certamente nunca aprendem sobre reencarnação na escola hebraica. Mas, se procurarmos, descobriremos que há traços de reencarnação na Bíblia e nos primeiros comentaristas (*), enquanto que, na Cabala, a tradição mística do Judaísmo, são abundantes as referências à reencarnação. O Zohar, texto básico do misticismo Judaico (atribuído a Rabbi Shimon Bar Yochai, um sábio do primeiro século) assume a existência do gilgul neshamot (reciclagem das almas) como certo, e Ari (3), o grande cabalista, cujos ensinos no Século XVI estão registrados no Shaar HaGilgulikm, chegou a traçar a reencarnação de vários personagens da Bíblia. Enquanto que algumas autoridades como Saadia Gaon (Século X) negam a reencarnação como um conceito judaico, a partir do Século XVII, rabinos de destaque do Judaísmo normativo, tal como Gaon de Vilna e Chafetz Chaim (**), referem-se ao gilgul neshamot como um fato. 
Ramchal, um acadêmico universalmente admirado do Século XIX, explica em seu clássico O Caminho de Deus que "Deus faz as coisas de tal forma que as chances do homem alcançar a salvação são maximizadas. Uma alma pode reencarnar inúmeras vezes em diferentes corpos e, dessa forma, corrigir os erros feitos em vidas anteriores. Da mesma forma, ela pode alcançar a perfeição que não foi atingida nas vidas pregressas".
(*)Ver Deut 33:6,  Targum Onkeles e Targun Yonosson sobre essa passagem. Ver também Isaías 22:14. (**) Mishnah Berurah 23:5 e Shaar HaTzion 622:6. (notas da autora) 
Como é bem conhecido, a reencarnação se distingue de certos preceitos religiosos por não se tratar meramente de um dogma de fé. Existem evidências fortes para a 'reciclagem de almas' (4) como a própria Sara Rigler comenta em seu artigo.

A ressurreição é um tempo de recompensa;
a reencarnação um tempo de reparar. 
A ressurreição é um tempo de colher; 
a reencarnação um tempo de semear. (5)

Lembranças do Holocausto

Sara descreve diversos acontecimentos de sua infância - passados na década de 1950 - que sempre lhe pareceram suspeitos para uma criança. A começar por sutil repulsa a tudo que fosse de origem germânica. Ela se lembra de ter se recusado a ser filmada pelo pai ao saber que a câmera era de origem alemã. Depois, quando aprendeu algumas frases em alemão (sua escolha no curso de idiomas, 'para conhecer melhor o inimigo' segundo ela), passou a ter pesadelos relacionados aos episódios sombrios do Holocausto. Como poderia uma criança manifestar memórias de episódios históricos que não eram divulgados na época?

Sara ainda registra no artigo sonhos recorrentes, de outras pessoas, igualmente de cultura judaica e ligadas aos acontecimentos do Holocausto. Por exemplo, Nechama Borstein, uma judia nascida na Dinamarca em 1963, relembra um sonho já na fase adulta:
No sonho, caminhava com um grupo de pessoas através de uma passagem escura. No final dela, havia uma parede feita de vigas de madeira de cor marrom. O teto era baixo. A parede à esquerda era feita de tijolos pintados de branco... Sabia que estávamos sendo conduzidos a uma punição. Fizemos algo terrível de acordo com os Nazistas. Estávamos sendo agrupados, colocados bem próximos uns dos outros...Então, no final da entrada, à direita, uma porta estava semi-aberta. Fomos empurrados em direção a ela e entramos em uma sala bem ampla. Estava iluminada, mas não conseguia ver nenhuma fonte de luz...
Essas visões do sonho foram posteriormente relembradas quando Nechama Borstein visitou uma exposição de fotos de Auschwitz. Nela, ela reconheceu muitas das imagens que surgiram em seus sonhos. 

Foto do interior de uma câmera de gás. Fonte: Garret Tziegler.
Sara Rigler se pergunta se esse grupo de judeus exterminados não teriam tido outra oportunidade como grupo reencarnado em terras Norte Americanas ou Europeias no início da década que se seguiu ao terror tanto em Auschwitz como em Babi Yar:
A reencarnação transformou as câmaras de gás em Auschwitz e os fossos de Babi Yar em terríveis finais de capítulo, ao invés de representarem uma conclusão final na estória da alma. Todo grande épico inclui alguns capítulos tenebrosos onde, por exemplo, a heroína é raptada pelo vilão e submetida a certas punições. Se esse fosse o final, a saga bem poderia ser chamada de tragédia. Mas, e se houver um capítulo subsequente, quando o vilão é derrotado e a heroína - agora mais sábia e bondosa com os sofrimentos de seu martírio - fosse reunida a sua família e passasse a viver uma vida plenamente feliz? Seria difícil chamar isso de tragédia.
Ou seja, a autora corretamente conseguiu traçar o quadro das consequências morais resultantes de se admitir a reencarnação como processo de aprimoramento das almas.

Importa lembrar o que disse Kardec (6), à guisa de conclusão para nosso post:
...segundo um dos dogmas fundamentais que decorrem da não-reencarnação, a sorte das almas se acha irrevogavelmente determinada, após uma só existência. A fixação definitiva da sorte implica a cessação de todo progresso, pois desde que haja qualquer progresso já não há sorte definitiva. Conforme tenham vivido bem ou mal, elas vão imediatamente para a mansão dos bem-aventurados, ou para o inferno eterno. Ficam assim, imediatamente e para sempre, separadas e sem esperança de tornarem a juntar-se, de forma que pais, mães e filhos, maridos e mulheres, irmãos, irmãs e amigos jamais podem estar certos de se verem novamente; é a ruptura absoluta dos laços de família. 
Com a reencarnação e o progresso a que dá lugar, todos os que se amaram tornam a encontrar-se na Terra e no espaço e juntos gravitam para Deus. Se alguns fraquejam no caminho, esses retardam o seu adiantamento e a sua felicidade, mas não há para eles perda de toda esperança. Ajudados, encorajados e amparados pelos que os amam, um dia sairão do lodaçal em que se enterraram. Com a reencarnação, finalmente, há perpétua solidariedade entre os encarnados e os desencarnados, e, daí, estreitamento dos laços de afeição. 
(grifos nossos)
Vale a pena ler o artigo integral de Sara Rigler. Ele mostra que a "reciclagem das almas" é um tema antigo e que tem um grande futuro. Ele é também um tema que pode aproximar membros de culturas e religiões distintas, cientes de que os caminhos de Deus são tais que as "chances de salvação do homem são maximizadas"...

Notas e referências

(1) S. Rigler (2014). "Reincarnation and the Holocaust: Why some Jews suspect they've returned.http://www.aish.com/sp/so/Reincarnation-and-the-Holocaust.html (Acesso em 2014)

(2) Em Hebraico a ideia de reencarnação é chamada Gilgul neshamot ou gilgulei ha neshamot. Para referências sobre isso ver http://robert-zucker.com/qabalah/gilgul/index.html

(3) Trata-se do rabino Isaac Luria (1534 – 1572).

(4) Por completeza, traduzimos aqui o conceito de reencaranção (gilgul) segundo a doutrina cabalística criada por Luria. Para tanto, fazemos uso da referência da wikipedia (ver primeiro parágrafo da seção "Expression of Divine Compassion").
Na noção cabalística de gilgul, a reencarnação não é nem fatal ou automática, nem é essencialmente uma punição pelo pecado ou gratificação pela virtude. No Judaísmo, os reinos celestes podem cumprir o "princípio de fé na recompensa e punição" de Maimonides. Ao invés disso, a reencarnação está relacionado ao processo individual de Tikkun (retificação) da alma. Na interpretação cabalística, cada alma judia reencarna-se um número suficiente de vezes apenas para cumprir as 613 Mitzvot. As almas dos justos dentre as Nações podem ser auxiliadas no gilgulim a cumprir as Sete Leis de Noé. Dessa forma, o gilgul é uma expressão da compaixão Divina e é visto como um acordo celeste com a alma do indivíduo para que ele baixe novamente. Essa ênfase no desempenho físico e na perfeição de cada Mitzvah está relacionado com a doutrina Lúrica do Tikkun cósmico da Criação. Nesses novos ensinos, uma catástrofe cósmica ocorreu no começo do Mundo chamado "Despedaçamento dos vasos de Sefirot" no "Mundo de Tohu" (caos). Os vasos de Sefirot quebraram-se e desceram a partir do Mundo Espiritual  até se manifestarem em nosso mundo físico como "centelhas de santidade" (Nitzutzot). A razão porque, na cabala de Lúria, todos os Mitzvot envolvem ações física é que, pela sua realização, eles elevam cada centelha particular de santidade associada a um mandamento. Uma vez redimidas todas as centelhas até sua fonte espiritual, a Era Messiânica começa. Tal teologia metafísica dá sentido cósmico à vida de cada pessoa, uma vez que cada indivíduo tem tarefas específicas que apenas ele podem cumprir. Assim, o gilgum ajuda a alma do indivíduo no plano cósmico.  Isso também explica a razão porque, na Cabala, a utopia escatológica será neste mundo, uma vez que apenas até o plano mais baixo, físico, os objetivos da Criação serão cumpridos.
(5) Ver texto "Reencarnação e Ressurreição" em:
(6) A. Kardec. "O Evangelho segundo o Espiritismo", Capítulo IV - "Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo",  "A reencarnação fortalece os laços de família", Parágrafo 22. (www. ipeak.com.br)