28 de julho de 2013

Programação do 9o ENLIHPE (2013)


Tema: Espiritismo e Ciência


Para saber mais sobre o 9o. Enlihpe: convite antecipado para participação do 9o ENLIHPE.

24/08/13 - Sábado

8:00 Recepção, credenciamento e entrega de material

8:30 Prece de Abertura

8:35 Palavras iniciais: LIHPE / CCDPE-ECM – Marco Milani e Júlia Nezu

8:45 Lançamento do livro (8º ENLIHPE) – Jáder Sampaio

9:00 Tema 1: Uma investigação estilística sobre uma peça musical atribuída ao Espírito de Wolfgang Amadeus Mozart - Érico Bomfim

9:20 Perguntas e comentários

9:35 Tema 2: Anália Franco e a “obra” espírita: o nascimento dos primeiros asilos ou abrigos espíritas para a infância no Brasil - Alexandre Ramos de Azevedo 

9:55 Perguntas e comentários

10;10 Intervalo (com visita à sala de pôsteres) e mesa de autógrafos: Livro do ENLIHPE

10h40 Tema 3: Espiritismo e métodos de pesquisa em ciências hermenêuticas e fenomenológicas - Jáder Sampaio

11:00 Perguntas e comentários

11:15 Tema 4: Terceiro Setor e Fundamentos da Doutrina Espírita - Daniella Leite

11:35 Perguntas e comentários

12:00 Lançamento de periódico (JEE) e discussão sobre a divulgação científica – Alexandre Fontes da Fonseca

12:20 Orientações gerais e intervalo para o almoço e visita à sala de pôsteres

13:45 Atividade artística

14:00 Convidado 1: O que é pesquisar a sobrevivência? Sílvio Seno Chibeni

14:50 Perguntas e comentários

15:05 Convidado 2: As provas da sobrevivência. Ademir Xavier

15:55 Perguntas e comentários

16:10 Intervalo (com visita à sala de pôsteres)

16:30 Apresentação: Victor Hugo Não Morreu - Uma Abordagem Inédita - Washington Fernandes

16:50 Perguntas e comentários

17:05 Encerramento das atividades do dia


25/08/13 - Domingo 


8:00 Assembleia da LIHPE 

9:00 Prece de Abertura e comentários gerais 

9:05 Lançamento do livro (Col. Espiritismo na Universidade) – Nadia Luz / Yuri Gaspar 

9:20 Tema 5: Geografia(s) do mundo espiritual - Chrystiann Lavarini 

9:40 Perguntas e comentários 

9:55 Apresentação de livro: O observador e outras histórias. Jáder Sampaio 

10:15 Intervalo (com visita à sala de pôsteres) e mesa de autógrafos 

10:45 Tema 6: Reencarnação: uma associação entre o mito de Er e o Espiritismo - Kátia Penteado 

11:05 Perguntas e comentários 

11:20 Tema 7: A confessionalidade espírita em Instituições de Ensino Superior: um estudo comparativo - Marco Milani 

11:40 Perguntas e comentários 

11:55 Homenagem a Hermínio Miranda. Alexandre Rocha 

12:15 Comentários finais e prece de encerramento 

12:30 Almoço de confraternização



18 de julho de 2013

Deus, o Universo e o Princípio Antrópico.


"Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa." (Comentário de A. Kardec à questão #7 de "O Livro dos Espíritos")

Anteriormente (1), vimos que a teoria do "Big Bang" não é uma descrição completa da origem do universo, embora ela seja a teoria mais aceita. Isso porque, além de explicar o aparecimento e evolução da matéria em nosso universo, ela teria que explicar como as leis que observamos nele apareceram. Isso seria resolvido se dispuséssemos de uma explicação auto consistente do Universo, onde não só a matéria, mas também suas leis aparecessem naturalmente.

É uma princípio frequentemente adotado em teorias e hipóteses científicas de que a Natureza não exibe nenhum tendenciosismo especial em relação as suas causas ou na produção de seus efeitos. Leis cegas governam o universo onde vivemos, sem nenhum tipo de preferência, qualquer que ela seja. Sendo um princípio, ele não pode ser provado, mas é amplamente aceito como orientador para o desenvolvimento de muitas teorias científicas. Sua validade não é contestada, porque os fenômenos onde ele se aplica são observados como obedecendo as suas consequências: a da não existência de causas adicionais  responsáveis exatamente pelas propriedades observadas nesses fenômenos.

Curiosamente, esse princípio está em contradição com algumas observações de natureza cosmológica, ou, mais particularmente quanto à liberdade que o universo primordial teria em decidir quais leis físicas que iriam nele imperar. Se o universo se deve a nenhuma causa, não há razão para acreditar que suas leis teriam que  ser "específicas" ou "especiais". Acontece que, pelo menos no Universo em que vivemos, muitas leis são exatamente o oposto disso. 

Elas são "leis especiais". O que sabemos dessas leis é suficiente para afirmarmos que elas são o que são justamente para favorecer a química dos átomos de carbono e, como corolário, o aparecimento da vida na Terra que, por enquanto, é a única vida reconhecida ordinariamente.

O princípio Antrópico

Essa constatação é frequentemente conhecida como "princípio antrópico" e permanece como uma das poucas "pontes" entre a religião e a ciência. Segundo J. M. Fink (2), foi Alfred Russel Wallace, um dos pais do evolucionismo e grande espiritualista, quem primeiro observou que o grau de complexidade observado no Universo não era mera coincidência, mas algo necessário para que Humanidade aparecesse e evoluísse. Na sua forma fraca ele é enunciado (2) como:
Os valores observados em todas as quantidades físicas e cosmológicas não são quaisquer, mas assumem valores submetidos à exigência de que existam lugares no universo onde vida baseada no carbono possa evoluir e que o universo seja antigo o suficiente para que essa vida possa existir.
Como bem observado por Fink em (2), esse enunciado não exige que todas as leis do universo tenham sido ajustada para que a vida aparecesse, mas que algumas delas, necessariamente, foram. Isso porque não dispomos de uma descrição totalmente exaustivas das leis (muitas ainda devem ser descobertas) e outras não guardam relação com a vida. Entretanto, como há uma conexão entre o "micro" e o "macro", o principio antrópico tem um peso grande na escolha das principais leis físicas que deveriam vingar no universo.

Uma imagem do céu profundo tirado pelo telescópio Hubble. O Universo é exatamente o que ele é (nem velho demais, nem novo demais) para que a vida nele possa existir.
O princípio antrópico também tem uma forma forte, pela qual se afirma que necessariamente as leis foram "escolhidas" de forma que vida biológica surgisse no universo. Isso torna a existência de Deus praticamente uma necessidade, o que é suficiente para irritar muitos cientistas, levando-os a negar a validade do princípio antrópico.

O problema é que as evidências acumuladas apontam para sua validação. E quais são elas? Em 1954, com base no Princípio Antrópico, Fred Hoyle foi capaz de prever um nível de energia desconhecido do núcleo do carbono. Outras coincidências incríveis são encontradas nas razões entre as forças físicas, que parecem ter sido "sintonizadas" para  permitir estabilidade de moléculas orgânicas, na razão entre a taxa de expansão do universo e a gravitação (2). Ou seja, modifique a intensidade dessas forças em muito pouco, e o universo como um todo sofrerá variações dramáticas em sua idade, dimensão e taxa de expansão. Há, assim, a questão sobre a idade do universo; se ele tivesse evoluído muito rapidamente, a vida nele não teria aparecido. Finalmente, há relações restritas entre os processo de evolução das estrelas e a própria idade do universo, que garantem que planetas abrigando vida possam existir.

Um ponto de vista espírita para o Princípio Antrópico.

Além de matéria, campos e leis que regem a interação entre os elementos no universo, sabemos que ele é apenas a contraparte material (o chamado "mundo corpóreo") de um "universo" ainda maior. As questões #84, #85 e #86 de "O Livro dos Espíritos" discorrem sobre a distinção entre o mundo dos Espíritos e o mundo corpóreo. Em particular, chamamos a atenção para a questão #86:
86. O mundo corporal poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a essência do mundo espírita? 
“Decerto. Eles são independentes; contudo, é incessante a correlação entre ambos, porquanto um sobre o outro incessantemente reagem.(4)
Isso explica porque a "sintonização" observada na intensidade das forças físicas (e na própria estrutura das leis escolhidas no princípio) ocorreu de fato: para que o princípio inteligente (o espírito) pudesse interagir com o mundo material. Essa simbiose que ocorre entre o mundo corpóreo e o mundo espírita precisa existir para que o princípio inteligente evolua. Essa evolução não se processa, porém, exclusivamente através do mundo corpóreo, mas é intercalada em estágios separados dele.

Portanto, em nossa opinião, o princípio antrópico é uma manifestação da Inteligência Divina e da necessidade do universo abrigar a vida inteligente como manifestação do espírito e aponta para o fracasso da ideia de arbitrariedade e de um universo sem uma causa primária em seu princípio.

A fraca defesa dos céticos

Sendo uma ideia que leva imediatamente a uma causa primária inteligente (que teria "sintonizado" as leis para que a vida aparecesse), ateus e céticos fazem uma defesa precária, afirmando que o princípio é uma tautologia (3), ou seja, uma afirmação garantidamente verdadeira e auto-referente. Como estamos aqui e observamos o Universo do jeito que ele é, somente este universo poderia abrigar vida e, portanto, o princípio é auto evidente. Em outras palavras, se o Universo não fosse exatamente como é, não estaríamos aqui discutindo essa questão (5).

Não é difícil ver que esse recuo a tautologia foge completamente da questão inicial sobre a origem não causal do universo e da aleatoriedade que teria imperado no seu início.

Ao se usar um raciocínio cosmológico e se buscar equacionar o problema da escolha dos tipos de leis que deveriam aparecer no universo primordial, as consequências de se rejeitar o princípio como uma tautologia vem acompanhada da constatação embaraçosa de que o universo que conhecemos e nossa presença nele não passam de uma gigantesca coincidência. De fato, como, de acordo com o princípio do universo sem causa, não haveria nenhuma "sintonização", somente poderíamos estar aqui porque, "por um gigantesco acaso", exatamente as leis que observamos imperaram.

Tenta-se salvar as aparências ao se invocar a ideia de que muitos universos teriam existido e apenas um deles, o nosso, vingou, mas não estamos autorizados a avançar além com essas especulações. O universo que observamos é o único conhecido (como muitos céticos insistem em dizer), aquele que provavelmente já existia desde o princípio e, portanto, na hipótese de ter sido criado de forma aleatória, uma colossal coincidência nos fez aparecer nele, segundo o raciocínio cético.

Referências

2 - Fink J. M. "The Anthropic Principle". Ver: 
3 - Do grego 'tautos', a mesma e 'logos' palavra ou ideia;
4 - Texto segundo IPEAK.
5- S. Hawking (1994) "Uma Breve História do Tempo, do Big Bang aos Buracos Negros". pp. 180, Gradiva, 3º edição.

7 de julho de 2013

Entrevista com Ricardo Monezi (Parte II)


Para acessar a primeira parte da entrevista, clique aqui.

Apresentamos aqui a segunda parte em áudio de uma entrevista com o Dr. Ricardo Monezi, conhecido pesquisador dos efeitos da imposição de mãos, em particular do uso do Reiki. 

Ricardo defendeu recentemente sua tese de doutorado "Efeitos Psicofisiológicos da Prática do Reiki em Idosos com Sintomas de Estresse: Estudo Placebo e Randomizado" pela Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina). Para um resumo do trabalho ver a primeira parte da entrevista (1).

Para mais informações deste blog sobre a prática de imposição de mãos e seus efeitos ver (2) e (3).

Segunda parte da entrevista (áudio).

Alguns trechos da entrevista
Hoje eu diria que o pesquisador que tem, entre aspas, essa coragem, para não dizer loucura para se envolver com temas que, há bem pouco tempo eram polêmicos, mas que são bem interessantes..., ele vai ter que ler muito e não ler apenas sobre a imposição de mãos, mas quando pensar em imposição de mãos, ela vai ter que pensar em aspectos da religiosidade relativa à imposição de mãos, ela vai ter que pensar em aspectos históricos da imposição de mãos... 
O grande desafio agora é projetar estudos no pós-doutorado que tenham uma metodologia mais rigorosa  e que buscam sanar as arestas que foram deixadas abertas com esse trabalho... Eu não creio em abandonar esse caminho, mesmo porque, muitas vezes, não somos nós que escolhemos o caminho, mas ele que nos escolhe...
Hoje em dia você tem muitos trabalhos que falam da importância de se realizar trabalhos que comparem técnicas diferentes que estejam dentro de um mesmo eixo..., acho que um grande pensamento para um projeto de pós doc seria pegar diferentes técnicas de imposição de mãos e fazer estudos comparativos...
Espiritualidade é o que nos reconecta, é o que nos faz vivos, é o que nos dá a vida...A espiritualidade é o fator que promove a vida..., é o que dá apoio à sociedade. Hoje em dia a ciência, cada vez mais reconhece a espiritualidade como um fator chave, não apenas para o indivíduo, mas para a sociedade como um todo, para o planeta...
Para mais informações sobre o trabalho ver também (4).

Ver também:

29 de junho de 2013

2/2 - Memória Genética e Reencarnação


Artigo publicado na Revista Espiritismo & Ciência nº. 90, São Paulo: Mythos Editora, nov/2011, páginas 34 a 42. Ir para a primeira parte.

Acesse a parte 1/2 aqui.

3 - Consequências da tese da memória genética para a visão espiritualista do ser humano.

Adotando-se uma visão espiritualista - sem considerar a existência ou não da reencarnação, mas apenas continuidade da personalidade após a morte (o que é aceito por quase todas as religiões), não é difícil ver que se criam problemas insolúveis as diversas teologias ao se misturar a tese da memória genética para refutar a noção da reencarnação: 
  1. Problemas com a noção de Justiça Divina: onde se poderia estabelecer a Justiça Divina se, por exemplo, o comportamento assassino estivesse estabelecido em traços herdados? Qualquer criminoso poderia, em um nível fundamental, culpar seus pais por parte ou toda a culpa de seus crimes;
  2. Se caracteres de personalidade e memórias podem ser herdados geneticamente, não é possível defender qualquer noção de livre-arbítrio que é base para diversos sistemas de recompensas e punições nas mais diferentes religiões: haveria um gene responsável pelo comportamento altruísta ou devocional, que levaria certas pessoas a aceitar os princípios religiosos ligados à salvação, enquanto que outros, desprovidos de tal gene, estariam eternamente condenados ao inferno; haveria genes responsáveis pelos comportamentos pecaminosos etc;
  3. Diante de 1 e 2, a razão de ser das religiões desapareceria, pois os que teriam que ser salvos já o estariam desde o nascimento por uma programação genética. Mas, qual o sentido da existência da alma ou de qualquer 'algo' que deva sobreviver à morte do corpo diante da herança genética colocada dessa forma? Nesse panorama, a alma não existe e, portanto, não existe salvação. Tal é a questão inexorável de se aceitar a tese. Trata-se de verdadeira 'aberração filosófica' defender a tese da memória genética e se dizer espiritualista, independente de se acreditar ou não em reencarnação. 
Ainda assim, não é difícil encontrar manifestações de religiosos a aceitar a ideia da memória genética para refutar a reencarnação.  No blog 'Bíblia Insólita' seu autor escreve:
E além da memória normal de cada individuo, ainda existe a memória genética, que é aquela que programa reações imediatas ao meio ambiente. Uma criança já sabe chorar para pedir alimento, isso é uma reação programada pela memória genética. Muitas coisas que o espiritismo tenta explicar, a ciência já explica através do processo de memória genética. Não existe nada que prove que até coisas mais complexas como um talento para pintura ou algo similar não seja absorvido pela memória genética.
Ao se utilizar argumentos como esse, não se percebe que eles podem ser aplicados de maneira muito mais abrangente do que o crítico pretende fazer.  Pode-se por exemplo, aplicá-lo a própria fé intolerante que teria uma memória específica armazenada em um gene fazendo com que comportamentos de intolerância de todos os tipos sejam possíveis.

Mesmo entre espiritualistas (não cristão), encontra-se a defesa sem discernimento de tal tese (Ver blog Hari-Om, post inacessível em 2013): 
Nós trazemos uma memória genética que tem registrada a experiência de todos os tempos, essa memória independe da cultura, credo, cor, etc…, ela determina características essenciais e comportamentais de uma espécie.
Há vários outros exemplos na Web (em 2011) que mostram que a ideia de memória genética constitui uma fonte rica de inspiração (e confusão) para as mais variadas 'explicações' do ser humano. Sua maior aplicação é, de longe, para refutar a reencarnação ou informação anômala colhida em eventos psíquicos (mediunidade e fatos correlacionados).

4 - Qual é a situação atual?

Obviamente, acadêmicos rejeitam (em sua maioria) qualquer noção de memória extrafísica. Ninguém melhor do que C. Sagan (1980) para sintetizar a visão moderna sobre o assunto: 
Quando nossos cérebros não conseguem armazenar toda a informação necessária para a sobrevivência, lentamente inventamos cérebros. Então veio o tempo, talvez há dez mil anos, quando necessitávamos saber mais do que podia ser convenientemente contido nos cérebros, e aprendemos a estocar quantidades enormes de informação fora de nossos corpos.
Em outras palavras, para o materialismo, 'aquilo que somos', incluindo nossas 'memórias', perde-se nos emaranhados de complexidades das estruturas neurais do cérebro. O último reduto do materialismo é o argumento da complexidade: uma vez que o cérebro é muito complexo, então qualquer coisa pode resultar dele, incluindo nós mesmos.  Segundo a Wiki: 
O mecanismo utilizado para o armazenamento de memórias em seres vivos ainda não é conhecido. Estudos indicam a LTP (long-term potential) ou potencial de longa duração como a principal candidata para tal mecanismo.  A LTP foi descoberta por Tim Bliss e Terje Lomo num estudo sobre a capacidade das sinapses entre os neurônios do hipocampo de armazenarem informações. 
Ainda segundo M. Blanc (1994): 
Na verdade, nenhum estudo demonstrou que existe um determinismo genético de algum traço, mesmo que seja da personalidade humana.
A questão da memória genética foi abandonada por causa das consequências previsíveis gera com gêmeos univitelinos. Esses são indivíduos que contém em si exatamente a mesma 'carga genética', cada um deles é exato clone do outro.  Portanto, eles deveriam apresentar comportamentos semelhantes ainda que fossem separados em idade prematura. Embora se possa defender ou observar muitas similaridades nos traços de comportamento de gêmeos univitelinos (muitas que não podem ser distinguidas de comportamentos semelhantes observados entre irmãos comuns), a ortodoxia presente acredita que ao 'ambiente' determina em nível fundamental o comportamento.  Para saber mais ver: 'O determinismo do comportamento humano existe?' em Blanc (1994), p. 202-205.
Assim, saímos de uma visão de comportamento determinado por entidades microscópicas como os genes, para outra determinada por entidades muito diferentes como o 'ambiente'. Toda essa situação indica que não existem fundamentos seguros para a determinação das causas para os fenômenos psicológicos em uma abordagem materialista do ser humano.

O problema dos gêmeos idênticos; como explicar que, tendo a mesma carga genética e, frequentemente, vivendo no mesmo ambiente, eles tenham personalidades tão diferentes?

5 - Considerações finais

A ideia de 'memória genética' lança mão de dois termos com grande apelo à maioria das pessoas instruídas, independente de suas crenças: o da 'memória', que é algo que temos conhecimento privado (íntimo), e 'genética' que é uma disciplina científica que revolucionou nossa concepção sobre a vida e a Natureza.

A maior aplicação para a ideia de 'memória genética' mesmo é como argumento de refutação à reencarnação.  Na verdade, a 'memória genética' tem pouco valor heurístico já que qualquer tipo de conhecimento, personalidade, lembrança ou comportamento poderia ser 'explicado' por ela. Para ser um pouco mais específico, em todos esses assuntos há frequentemente problemas de linguagem. É bastante certo que o termo 'memória' usado em psicologia não tem o mesmo significado daquele usado em ciência da computação. Ao se analisar argumentos e contra argumentos é preciso estar atento ao significado das palavras.

A verdadeira origem do que somos encontra-se encerrado no princípio espiritual que trazemos conosco. Ao se aceitar a reencarnação, não se está a refutar qualquer influência da parte material sobre nosso comportamento. É mais do que razoável esperar que o homem seja o produto de inúmeros fatores: daquilo que ele herdou de seus pais em seu corpo; de seu ambiente, a partir dos exemplos que contou ao longo de sua existência e que teve a chance de imitar, sejam eles bons ou maus; e de suas tendências interiores, trazidas de séculos de experiências sucessivas, que se fundiram e formaram sua personalidade integral. Como não somos seres 'terminados', temos ainda muito a aprender com o ambiente em que vivemos. Essa é uma das razões da reencarnação. Porém, também não somos seres criados instantaneamente por ato arbitrário no momento da fecundação. Temos sim uma 'memória espiritual', que define aquilo que somos e que constitui nossa bagagem, aquilo que daqui levamos e de lá trazemos, junto com outras inúmeras influências materiais e comportamentais.  Mas, acima de tudo, somos livres para escolher e responsáveis por nossos atos, não estando sujeito a qualquer tipo de determinismo externo ou interno, independente de nossas vontades, embora nos reconheçamos limitados em muitas de nossas capacidades.

Agradecimentos Agradeço ao Paulo Neto (www.paulosnetos.net) por muitas referências a casos de reencarnação na web e sugestões ao texto.

Referências

ATENÇÃO!  muitos dos links abaixo não estão mais disponíveis em 2013, mas estão aqui registrados porque constam no artigo original de 2011.

Andrade, H. G. (2002) Você e a reencarnação.  Bauru, SP: CEAC Editora.  p.  100-101.
Blanc M. (1994) Os Herdeiros de Darwin.  Cap 9.  Ed. Página Aberta.
Côrtes, C. e Morais (2002), R. De volta do passado.  IstoÉ n°. 1710, São Paulo: Editora Três, julho, p.  76-78).
Dawkins R.  (1990) The selfish Gene.  2ª. edição.  Oxford University Press.
Kardec A (1991) O Livro dos Espíritos, Ed. FEB, Capítulo IV.  71ª. edição.
Sagan C. (1980) Cosmos.  Cap. XI.  Ed. Francisco Alves.
Stevenson I.  (2010a) Reencarnação, vinte casos.  São Paulo: Vida e Consciência.
Stevenson, I. (2010b) Reencarnação: estudos científicos de casos reais na Europa.  São Paulo: Vida e Consciência.
Stevenson I (997a).  Where Reincarnation and Biology Intersect.  Ed.  Praeger Publishing.
Stevenson I. (1997b) Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects Volume 1: Birthmarks, Ed.  Praeger Publishing.
Stevenson I. (1997c) Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects Volume 2: Birth Defects and Other Anomalies.  Ed.  Praeger Publishing.
Wiki: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neurofisiologia_da_memória
Wilson E.  (2000) O.  Sociobiology: the new synthesis.  Ed.  Belknap Press da Harvard University Press.  Não obstante ser considerada uma teoria defunta, a prestigiosa Universidade de Harvard recentemente relançou uma edição comemorativa desta obra.

Para pesquisa na Web (Blogs)

Bíblia Insólita:

Di Bernardi R:

Hari-Om:

Paulo Neto.  Artigo: 'Reencarnação e as pesquisas científicas'.

Casos: