25 de junho de 2011

Crenças Céticas XVI - O ceticismo dogmático como charlatanismo intelectual.

Søren Kierkegaard (1813-1855).
"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade e a outra é recusar-se a acreditar naquilo é." Søren Kierkegaard
Queremos até admitir, nestes últimos, uma opinião conscienciosa, visto que por si mesmos não puderam constatar os fatos; mas se, em tal caso, é permitida a dúvida, uma hostilidade sistemática e apaixonada é sempre inconveniente. (...). Explicai-os como quiserdes, mas não os contesteis a priori, se não quiserdes que ponham em dúvida o vosso julgamento. A. Kardec, Revie Spirite, Arigo 'Sr. Home', Fevereiro de 1858.
Dicionários definem fraude como o 'ato de enganar, esconder, distorcer informações, não cumprir com a verdade'. O ato em si de fraudar pode ser consciente, quando quem frauda tem interesses no ato, ou pode ser inconsciente. Nesse último caso, o agente da fraude não tem interesse explícito em enganar. Seu interesse é outro e ele nem tem consciência do engano.

As 'teorias da fraude' (ou do 'charlatanismo') formam o grupo das explicações mais preferidas do ceticismo dogmático quando se trata de relativizar, reduzir ou negar fenômenos psíquicos. Através dela, médiuns respeitados são considerados farsantes, fraudadores conscientes ou não da fé pública, mesmo que não se identifiquem nenhum interesse escuso tais como vantagens pecuniárias ou outros. Mas, não somente as fontes dos fenômenos são inescrupulosamente envolvidos, testemunhas, mães, parentes e amigos são todos envolvidos, seja como membros de uma quadrilha de embusteiros ou como vítimas de um gigantesco engodo propositado.

Fraudes também podem ser divididas em 2 tipos: as fraudes materiais e as intelectuais. As primeiras obviamente são preferidas dos céticos. Basta uma foto, um som, uma evidência sensorial que não esteja de acordo com as noções do senso comum que facilmente se pode acusar o material como uma tentativa burlesca e grave de se enganar. Quanto às fraudes intelectuais - as que são geradas através de argumentação ou material de natureza intelectual, essas são muito mais difíceis de serem identificadas. Se inexistem dúvidas quanto a existência das fraudes de primeira classe (materiais), com as de segunda classes existe uma clara dificuldade em sua identificação, mas é inegável que ela tem poder muito maior (e mais duradouro) de convencimento do que as primeiras. 

Nosso objetivo aqui é demonstrar que o grosso da argumentação pseudocética pode ser descrito verdadeiramente como uma mistificação de natureza intelectual e inconsciente. Isso porque, no rastro das explicações forçadas dos céticos 'linha dura' está a constatação de que eles mesmos, os que pretendem 'denunciar' a fraude ou o embuste, acabam se tornando os verdadeiros charlatães. Obviamente aqui não se trata de fraude vulgar: nenhum crítico, sério ou não, se interpelado, revelará ter outros interesses a não ser a sua 'verdade'. Mas, para todos os efeitos práticos, acabam 'enganando, escondendo, distorcendo informações e faltando com a verdade' Se não vejamos:

1 - Para que se possa ajustar uma explicação aos fatos, é necessário escrutiná-los detalhadamente e encontrar nos menores deles razões que aumentem a importância da explicação postulada, a da fraude. Assim, os menores erros feitos por médiuns são magnificados de tal forma a se tornarem 'evidências' conclusivas. Isso faz parte da tática da fraude pois é preciso que se acumulem evidências que, na cabeça dos pseudocéticos, formam um quadro favorável à tese que defendem. Como não podem distorcer muitos fundamentos, acabam se agarrando aos detalhes que são, por isso, magnificados para que adquiram importância. Detalhes como, 'por que o médium saiu 15 minutos mais cedo ou mais tarde', 'por que ele estava usando essa roupa e não outra' são considerados muito relevantes.

2 - Justamente porque os detalhes insignificantes são considerados muito importantes, o contexto ou muitas outras circunstâncias relevantes de fato são desprezados. Isso caracteriza o status 'intelectual' da fraude. O foco da crítica no detalhe faz com que se relativizem as circunstâncias, a idoneidade e outros detalhes menos aparentes. Pouco importa se testemunhas sérias podem ser encontradas. Se não foram enganadas fizeram parte da fraude. Como para o pseudocético é muito mais fácil apelar para os sentidos, condições não aparentes e circunstanciais devem ser obrigatoriamente desprezadas.  

3 - Foco em ressaltar o caráter ordinário e facilmente forjável de evidências materiais apresentadas. A tática é criar hipóteses das mais variadas e mutáveis para explicar qualquer material apresentado como evidência. Assim, hipóteses mirabolantes, teatralizações inusitadas ou confusões consistentes e incidentais de testemunhas são sempre levadas em conta.  Isso ocorre porque a crítica pseudocética focaliza-se no que é considerado evidência palpável. Todo o esforço é então gasto na sua invalidação pois, se isso for feito em paralelo com o passo (1) - quando detalhes menos importantes são magnificados - cria-se uma imagem do 'caso' obviamente identificável como embuste.  

4 - Existam pessoas que enganam, que exploram a credulidade e a  fé alheia. Esse fato óbvio é a explicação  principal e invariável da crítica pseudocética que se faz apresentar sempre como uma extrapolação justa. Juntando-se os passos 1-2-3 descritos acima, torna-se uma tarefa 'fácil' chegar a mesma conclusão sempre.

Analisemos todas as críticas que céticos endurecidos lançaram contra médiuns e os fenômenos espíritas e veremos sempre o processo descrito acima. Tal processo caracteriza charlatanismo intelectual em sua essência, pois é forjado como argumentação tendenciosa e, muitas vezes, 'inconsciente'. 
Quanto mais endurecido for o pseudoceticismo tanto mais ele se aproxima de um fraude ou mistificação intelectual porque as conclusões a que chega não são verdadeiras. Assim como se pode hoje facilmente, usando recursos tecnológicos, criar imagens fantásticas que explorem o que pessoas acreditem, o 'charlatanismo cético' pode modificar, retocar, forjar argumentos para se criar uma imagem aparentemente convincente embora falsa de determinado fato, principalmente quando esse fato ainda é considerado uma anomalia ou aberração para o senso comum.
Pouquíssimos céticos de carteirinha se dão conta disso, quando então descem em um processo de alienação pessoal flagrante. Analisemos detalhadamente cada caso particular e veremos que o motor principal da alienação será sempre o orgulho ferido, a necessidade de ser reconhecido e acreditado por suas audiências, a inveja pela admiração causada nos outros por esse ou aquele fenômeno transcendente que eles, os céticos, não conseguem reproduzir e que, por isso, passam a combater com todas as suas forças.


Outras identificações do charlatanismo cético: Diferenças entre quem busca verdadeiramente a verdade e o pseudocético. 

Estas diferenças também reforçam nossa tese do pseudoceticismo como mistificação intelectual:
  • Quem busca a verdade procura as questões relevantes a serem feitas. O pseudocético fornece de imediato aquelas que ele considera como as únicas possíveis;
  • Quem busca a verdade motiva-se por amor desinteressado à verdade. O pseudocético está interessado em que todos pensem que ele está certo, esteja ele ou não;
  • Quem busca a verdade aceita o fato de que aquilo que existe é muito mais do que ele sabe. O pseudocético afirma saber tudo o que se pode saber sobre determinado assunto;
  • Quem busca a verdade reconhece de bom grado casos que ele não pode explicar. O pseudocético ataca qualquer coisa que se lhe oponha o ponto de vista, e se esforça em destruí-la a fim de se mostrar superior.
  • Quem busca a verdade está realmente convencido das limitações da razão humana. O pseudocético faz da sua razão particular um deus que é capaz de perscrutar qualquer coisa;
  • Quem busca a verdade a procura em todas as partes, consciente de que idéias podem surgir em qualquer lugar ou nas pessoas menos prováveis. O pseudocético apenas aceita idéias que venham de pessoas consideradas 'experts' ou especialistas (segundo seu ponto de vista), além de autoridades convenientemente 'carimbadas';
  • Quem busca a verdade propõe hipóteses na esperança de que sejam verdadeiras. O pseudocético impõe dogmas como verdadeiros;
  • Quem busca a verdade reconhece que nem sempre os opostos são contraditórios, mas que, as vezes, podem se reforçar. O pseudocético pinta um quadro em preto e branco, certo e errado, sem chance para um ponto de vista contrário;
  • Quem busca a verdade está consciente de que não existem respostas finais para as questões humanas. O pseudocético faz com que cada resposta provisória ou tentativa pareça como a última final;
  • Quem busca a verdade reconhece quando se coloca contrário à opinião da maioria. O pseudocético segue sempre 'as autoridades mais confiáveis' no seu modo sarcástico de lidar com heresias;
  • Quem busca a verdade nunca fala em tom mais 'alto' com sua audiência. O pseudocético fala de modo contrário, de forma a mistificar ou impressionar a todos.

12 de junho de 2011

Entrevista II - 2/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)


2a. Parte da Entrevista com o Dr. W. Bengston.

EE 8 - O Sr. acha que o mesmo mecanismo que explique o passe pode estar envolvido em outros tipos de cura a distância (obtido com médiuns de cura como, por exemplo, João de Abadiânia no Brasil)?

WB - Não tenho experiência em comparar técnicas diferentes de cura. As que uso no meu trabalho são difíceis de dominar e exigem compromisso da parte da pessoa sendo treinada. Já ouvi falar de outros métodos que são aparentemente mais fáceis de se praticar. É uma interessante questão saber se diferentes métodos resultam em diferentes resultados.

EE 9 - Franz A. Mesmer (1734-1815) acreditava que um tipo de fluido era trocado entre o passista e seu paciente através do que ele chamou 'magnetismo animal'. O que o Sr. acha desta teoria?

WB - Não há, certamente, troca de um fluido no sentido convencional do termo. E digo mais, não acho que a cura ocorra por qualquer tipo de 'efeito de campo'. Em alguns de meus experimentos, ratos foram curados de câncer, ratos usados como controle foram curados e nada no meio foi afetado. Se as curas resultassem da ação de algum campo, tais resultados não fariam muito sentido.

EE 10 - No Brasil, muitos grupos espíritas usam passes ou a imposição das mãos como prática nascida nos tempos de Mesmer no alvorecer do século XIX. O objetivo é promover o equilíbrio psicológico aos que frequentam reunões espíritas. O Sr. acha que tais práticas - por extensão - podem ter algum efeito no humor dos indivíduos? Se sim, o Sr. acredita que não se pode defender a idéia da sugestão envolvida no efeito?

WB - Acredito fortemente que a imposição de mãos não é apenas para se obter cura de doenças. Já vi e ouvi muitos casos onde a prática pode trazer benefícios psicológicos também. Certamente há muita gente que aprendeu minhas técnicas de passes e que reportam terem experimentado benefícios dessa natureza.

EE 11 - Não obstante todo o sucesso e experiência no assunto, por que tanta gente (particularmente os acadêmicos) não se convenceram ainda?

WB - Gente que ainda não está convencida, não olhou ainda os dados. Nesse ponto, mesmo um cético como eu mesmo, deve concluir que, se formos levar em conta os dados, a questão sobre se ocorre cura ou não não é interessante. A questão realmente importante é sobre o mecanismo, sobre o que aumenta ou diminui a eficácia da cura, sobre se o processo de cura pode ser ensinado, ou seja, questões desse tipo. A questão sobre se você deve acreditar nas curas faz tanto sentido para mim como a questão sobre se você deve ou não acreditar na gravidade. 

EE 12- Na sua opinião, o que se deve fazer para mudar a tendência cética em relação à cura por meio de passes?

WB - Para realmente mudar as coisas, precisamos de aplicações práticas.  Se, por exemplo, a capacidade de cura pode ser armazenada e reproduzida sem a presença do passista, então, talvez ela possa ter aplicações maiores. Se a imposição de mãos estimula algo no corpo, tal como o sistema imune e esse estímulo possa ser reproduzido sem o passista, teremos aplicações bem interessantes. Estamos trabalhando nisso agora.

The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing.
(Título: Cura energética:  desvendando os mistérios da cura pelas mãos) Editora: Sounds True.
Para saber mais (artigos científicos em inglês do Dr. Bengston):

"Spirituality, Connection, and Healing with Intent: Some Reflections on Cancer Experiments on Laboratory Mice." Forthcoming in Lisa Miller (ed.), Oxford Handbook of Spirituality and Psychology. Oxford University Press, 2011. Trad. título: Espiritualidade, Conectividade e cura com intenção: algumas reflexões sobre experimentos de curas de câncer em ratos de laboratório.

"Breakthrough: Clues to Healing with Intention." Edge Science, no.2, January/March 2010, p.5-9. www.scientificexploration.org/edgescience/edgescience_02.pdf. Trad. título: Novidade: pistas a respeito de curas com intenção.

"The Healing Connection: EEG Harmonics, Entrainment, and Schumann's Resonances."Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 4,Winter 2010, pp. 655-666. (with Luke Hendricks and Jay Gunkelman). Trad. título: Correlação nas curas: Harmônicos de Eletroencefalograma, arrastamentos e ressonâncias de Schumann.

"Anomalous DC Magnetic Field Activity during a Bioenergy Healing Experiment." Journal of Scientific Exploration, vol. 24, no. 3, pp. 397-410, 2010. (with Margaret Moga). Trad. título: Atividade de campo magnético DC anômalo em experimento de curas bioenergéticas.

"Some Patterns of Acceptance of Anomalies." The Explorer, vol.22, no.3, Spring 2009, p.7-9. Trad. título: Alguns padrões de aceitação de anomalias.

"Can Healing Be Taught?" Explore, vol 4(3), pp. 197-200, May/June 2008. (with Don Murphy). Trad. Título: Pode-se ensinar a curar (com as mãos) ?

29 de maio de 2011

Entrevista II -1/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)

Seria possível aprofundar a questão sobre o efeito da 'imposição das mãos' através de métodos experimentais? O prof. Willian Bengston gentilmente respondeu-nos a um conjunto de 12 questões que serão apresentadas em 2 posts a começar deste. O prof. Bengston é veterano pesquisador do efeito da imposição de mãos (hand-on healing) com funções terapêuticas, tendo já publicado inúmeros artigos científicos sobre o assunto.

Traduzimos abaixo um extrato de sua página pessoal que utilizamos aqui para apresentá-lo.
Willian F. Bengston (Bill) é professor de sociologia no St. Josephs College em Nova York, EUA. Doutorou-se na Universidade de Fordham, Nova York, em 1980. Suas atividades profissionais 'diurnas' incluem métodos de pesquisa e estatística.  
Durante muitos anos, Bill realizou pesquisa com as chamadas 'curas anômalas' e provou a eficiência de uma técnica desenvolvida por ele a partir de um teste experimental controlado com 10 animais e que foi conduzido em 5 laboratórios médicos. Sua pesquisa com esse tipo de fenômeno demonstraram com sucesso curas de tumores mamários induzidos por metilcolantreno em ratos por uma técnica de imposição de mãos que ele desenvolveu. Ele também investigou correlações dessas curas com micropulsações geomagnéticas e harmônicos em EEG (eletroencefalogramas).
O Dr. Bengston não oferece tratamentos de cura, diagnósticos médicos ou quaisquer tipos de consultas relacionadas à saúde ou tratamentos psiquiátricos. Seu tempo e esforço é dedicado a pesquisa sobre curas com as mãos (passes) e educação. 
Dr. Bengston tem publicações no Journal of Scientific Exploration, o Journal of Alternative and Complementary Medicine e a revista Explore. Além disso, deu várias palestras por todos os EUA e Europa. Bill é membro da Society of Scientific Explorarion (SSE) desde 1999 e, presentemente (2011), é seu presidente. Junto com Sylvia Fraser escreveu sobre suas experiências de cura na obra The Energy Cure: Unraveling the Mystery of Hands-on Healing, publicado pela editora Sounds True.
Para mais informações (em inglês), consulte sua página: www.bengstonresearch.com/

OBSERVAÇÃO: Como a 'imposição de mãos' é conhecida pelos espíritas como 'passe' (embora a aplicação para realização de curas seja minoritária), utilizamos os dois termos na tradução de forma equivalente por falta de outra palavra. Assim, onde estiver 'passe', lê-se 'passe de cura'. Termos como 'healer' e 'healee' também foram adaptados para facilitar a compreensão.

Entrevista

EE 1 - Como o Sr. se interessou pelo assunto de cura através das mãos?

WB - Fui atraído ao assunto de cura pelas mãos ao ler sobre uma incrível pesquisa feita por Bernard Grad na Universidade McGill entre 1950 e 1960. Trabalhando com o médium de curas Oskar Estebany, Grad demonstrou a aceleração significativa de crescimento de plantas e cicatrização de feridas em ratos. Tais experimentos me fascinaram, já que deslocavam tais curas do âmbito das piadas de consultório para ambientes mais controlados. Essa pesquisa foi claramente minha inspiração para continuar a pesquisa laboratorial do assunto.

EE  2 - Como o Sr. chegou a conclusão de que esse efeito nada tinha a ver com a fé ou postura religiosa da parte do candidato a passista?

WB - Meus experimentos foram feitos com voluntários que não acreditavam no efeito (incluindo eu mesmo) e que não tinham nenhum conhecimento prévio sobre essas curas ou de que se tratasse de um efeito real. Tais voluntários atuaram sobre indivíduos que também não tinham qualquer crença. Esses indivíduos eram, inclusive, ratos que tinham sido deliberadamente infectados com câncer. Desta forma, as curas foram demonstradas em situações onde nem o passista nem seus alvos tinham qualquer crença.
   
EE 3 - Mas o Sr.  não acha que a fé pode melhorar o desejo ou a intenção e, assim, aumentar o poder de cura por algum tipo de 'efeito de segunda ordem' ?

Já presenciei centenas de casos clínicos de curas por imposição de mãos feitos tanto por gente experiente ou não, sobre pacientes crentes e não crentes. Especulo que, 'se tudo o mais se mantiver igual', tais crenças tem, na verdade, um efeito retardador na eficácia da cura. Acho que a crença induz um tipo de tendência de 'se forçar' , que é uma tentativa de se reforçar a crença existente. Tal esforço traz em cena a mente consciente e o ego que, suspeito eu, não conseguem aumentar o poder de cura. Suspeito que o processo de cura por passes seja semelhante ao processo de cura em circunstâncias mais comuns, e, em tais casos, concentração ou qualquer coisa parecida não é necessária ou mesmo desejável. 

EE 4 - O Sr. acha que qualquer pessoa pode aprender a curar através de passes?

WB - Essa é uma questão interessante. Escrevi um artigo sobre ela em conjunto com um amigo biólogo, Don Murphy, que saiu no jornal Explore em 2008.  Nesse trabalho, salientamos que ninguém tem dados históricos sobre a eficácia de se ensinar os passes. Isto é, embora seja verdade que virtualmente todos os passistas aprenderam sozinhos, não há evidências de que o ensino de uma maneira particular de se realizar o passe melhore o processo de cura. Muita gente ficou enfurecida comigo por causa desse trabalho, que achei bem interessante. Para mim fica claro que existe um monte de crenças (desnecessárias) em torno do processo.

EE 5 - De acordo com sua experiência, qual o mecanismo mais provável envolvido na cura pelas mãos?

WB - Não faço ideia desse mecanismo, essa é a questão crucial! Acho que não se trata de um tipo de 'energia', mas sim troca de informação no processo de cura. Da mesma forma que temos uma quantidade enorme de troca de informação no processos normais biologicos (p. ex., na digestão, supressão de doenças etc), acho que o paciente depleta-se dessa informação de alguma forma durante a doença. No caso do câncer, por exemplo, o sistema imunológico em mamíferos funciona de forma contínua, mas, algumas vezes, o câncer predomina. Acho que o processo de cura por passes pode fornecer essa informação ao corpo que, então, atinge a cura por si próprio.

EE 6 - É possível conseguir o efeito de cura sem impor as mãos?

WB - A cura não parece ser afetada pela distância. Nos experimentos em micropulsações geomagnéticas (com Margaret Moga), obtivemos o mesmo efeito tanto a duas polegadas como a 2 mil milhas de distância. Da mesma forma, animais podem ser curados a grandes distâncias. É um fato interessante também que o poder de cura possa ser armazenado em alguns materiais. Por exemplo, Bernard Grad descobriu que Estebany segurava algodão que, depois, poderia ser usado para obter curas. Trabalho presentemente em alguns experimentos relacionados a isso.


J. Benveniste (1935-2004).
EE 7 - Na resposta da questão anterior, o Sr. disse que o 'poder de cura' pode ser armazenado em materiais. Ele poderia ser armazenado na água? Pergunto isso por que, nos experimentos de Jacques Benveniste, que tiveram como objetivo demonstrar a eficácia de soluções homeopáticas, descobriu-se que os resultados só poderiam ser replicados na presença de certas pessoas. Talvez esse tipo de 'efeito do experimentador' e a cura por meio das mãos tenham alguma causa em comum que, ultimamente, pode ser relacionada à eficácia dos preparados homeopáticos.


Tenho bastante certeza que se pode armazenar essa capacidade na água, embora isso represente um problema metodológico difícil. Em um dos meus experimentos, ratos eram tratados apenas com água desse tipo e foram curados. O problema metodológico é, dada a existência de ressonância conectiva, não sabemos se isso ocorreu por causa da água ou porque os ratos pertenciam ao grupo de geral conectado. Em suma, suponho que a água em si funciona.

Trabalhei com Jacques Benveniste em seu laboratório em Paris. Foi bem interessante. Ele ficou bem chateado quando viu que os efeitos que ele tinha descoberto somente ocorriam quando certas pessoas estavam no laboratório. Disse a ele que isso era uma descoberta incrível com implicações igualmente incríveis, mas ele não se mostrou animado com isso. Acho que ele pensou que o efeito que tinha descoberto era realmente independente do observador.

Continua no próximo post. 



20 de maio de 2011

Fim da Religião ou do irracionalismo religioso?

Se a religião, apropriada em começo aos conhecimentos limitados do homem, tivesse acompanhado sempre o movimento progressivo do espírito humano, não haveria incrédulos, porque está na própria natureza do homem a necessidade de crer, e ele crerá desde que se lhe dê o pábulo espiritual de harmonia com as suas necessidades intelectuais.  A. Kardec (4) ('O Céu e o Inferno', Parte I, Capítulo, 1: 'O Porvir e o Nada', parágrafo 13).

Recentemente uma reportagem publicada na 'Folha de S. Paulo' (Maio de 2011) (1) trouxe afirmação de líderes da Igreja Católica de que a ascensão social reduzirá a quantidade de pessoas nas fileiras do protestantismo ou outras denominações religiosas que surgiram como religiões reformadas. Deixando a polêmica de lado, o mais correto seria dizer que a ascensão social, que resulta em maior acesso ao conhecimento, não só reduz o número  de adeptos das igrejas reformadas, mas de todas as religiões que fundamentam sua teologia ou crença em tradições difíceis de serem defendidas, diante da nova imagem do mundo revelada pelo conhecimento científico. Tal observação tem consequências particulares. Para o Ocidente (onde se encontram a maior quantidade de pessoas consideradas cristãs - lê-se - que fundamentam sua crença em interpretações tradicionais da Bíblia) haveria um aumento no número de não cristãos. Essa previsão, em verdade, foi plenamente confirmada por pesquisas de opinião.
Fig. 1. Gráfico do percentual de pessoas na população que se dizem cristãs (azul), agnósticas (verde) e não cristãs (laranja) em uma pesquisa britânica. Há uma clara tendência para o 'desaparecimento' das religiões cristãs. 
Avaliações recentes feitas em pesquisas de atitudes sociais britânicas  (2) demonstraram que, na Inglaterra, o número dos que se dizem 'cristãos' está se reduzindo a uma taxa bastante grande, que se pode considerar 'alarmante' para os líderes das religiões tradicionais (Fig. 1). A época que vivemos é, assim, uma época muito especial, pois parece representar o fim de uma era. Não acreditamos que seja o fim das religiões, mas certamente o fim do dogmatismo religioso, da intransigência e do irracionalismo implicado por determinadas crenças. Para que tenha alguma utilidade, as religiões tradicionais deverão aprender a conviver juntas, de certa forma relativizando as implicações de seus dogmas que, de outra forma, já demonstraram levar a sua recíproca destruição.
A pesquisa britânica demonstra uma tendência em países mais 'desenvolvidos' ou em lugares onde as pessoas tem acesso à educação de qualidade - principalmente científica para o desaparecimento das religiões cristãs. Se nada for feito (e não parece que o será), a curva cinza da Fig. 1 encontrará a origem em duas vezes o intervalo amostrado da pesquisa, que é de 26 anos. Ou seja, em meio século, grupos cristãos serão minoria semelhante aos 'não cristãos' em países mais desenvolvidos.
Fig. 2 Mapa da Europa na pesquisa da Eurobarômetro (2005), Ref. 3, do percentual de pessoas que responderam 'sim'  à questão: 'você acredita em Deus?'
Isso claramente ocorre por conta do efeito 'anti-religão' provocado pelo ensino (Fig. 2). Ao se educar as crianças a compreender que a imagem moderna do Universo não corresponde àquela ensinada pelas antigas crenças, deixa-se de justificar outras crenças como o juízo final, céu, inferno, julgamentos terminais ou a existência de Deus feito à imagem e semelhança dos homens. Isso certamente está na origem para o declínio das religiões tradicionais. Basta que analisemos também, o que recente pesquisa demonstrou na Suécia, reconhecidamente o país o terceiro mais ateu país da Europa. Segundo a Wikipedia: Demographics of Atheism:
'Vários estudos mostraram que a Suécia é um dos países mais ateus do mundo. 23% dos cidadãos Suecos responderam que 'acreditam em um Deus', enquanto que 53% responderam que 'acreditam que existe algum tipo de espírito ou força vital'. Os outros 23% restantes não acreditam nem em Deus ou na existência de um tipo de espírito ou força superior.
Portanto, a conclusão da autoridade católica que analisamos no começo deste texto e que afirmou ser a ascensão social motor para a redução de protestantes, também vale para outros tipos de crenças, inclusive a católica. E, não é o enriquecimento que causa o esmorecimento da fé nas antigas crenças, mas o acesso à educação (de qualidade). Não obstante o enfraquecimento da crença na existência de Deus (conforme a imagem ensinada pelas religiões tradicionais), a maior parte da população ainda crê na existência de algo superior. A pesquisa 'Eurobarômetro' (3) de 2005 resultou no gráfico da Fig. 3. 

Fig. 3 Percentual da população que responderam 'sim' à questão: 'você acredita na existência de um Espírito ou força superior?'  Fonte: Pesquisa Eurobarômetro 2005, Ref. 3.
A Fig. 3 traz o percentual dos que responderam positivamente à questão sobre a crença em um Espírito ou força superior. Curiosamente, os países onde mais se acredita em Deus (Fig. 2), tem o menor percentual de crença no Espírito ou 'força superior'. Tais resultados demonstram positivamente a influência de fatores culturais (através da educação) sobre a crença e demonstram que, por trás dessa 'geografia do ateísmo' o que se vê é o desaparecimento de antigos modelos de crença religiosa. Conforme o parágrafo de Kardec que citamos na introdução deste artigo, a educação científica não fará desaparecer a religião - entendida como movimento que nasce a partir da necessidade de se crer inata no ser humano - como pretenderiam alguns ateus mais duros. O que se está a observar é uma ampla validação do que foi previsto por Kardec  em várias de suas obras (4):
A crença na eternidade das penas perde terreno dia a dia, de modo que, sem ser profeta, pode prever-se-lhe o fim próximo. ('O Céu e o Inferno', Cap. 6, parágrafo 1); 
É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros. O homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados. ('O Céu e o Inferno, Cap.6, parágrafo 22); 
Por muito tempo essa fórmulas lhes satisfizeram a razão; porém, mais tarde, porque se fizesse a luz em seu espírito, sentindo o vácuo dessas fórmulas, uma vez que a religião não o preenchia, abandonaram-na e tornaram-se filósofos.('O Céu e o Inferno, Cap.1, parágrafo 12)
Nenhuma crença religiosa, por lhes ser contrária, pode infirmar os fatos que a Ciência comprova de modo peremptório. Não pode a religião deixar de ganhar em autoridade acompanhando o progresso dos conhecimentos científicos, como não pode deixar de perder, se se conservar retardatária, ou a protestar contra esses mesmos conhecimentos em nome de seus dogmas, visto que nenhum dogma poderá prevalecer contra as leis da Natureza, ou anulá-las. Um dogma que se funde na negação de uma Lei da Natureza não pode exprimir a verdade. ('Obras Póstumas', Manifestação dos Espíritos, parágrafo 7). 
Assim, longe de estarmos vivendo o 'final dos tempos', amanhece um novo dia para a Humanidade.

Referências

(1) http://www1.folha.uol.com.br/poder/915670-ascensao-social-reduz-evangelicos-diz-lider-da-cnbb.shtml
(2) http://en.wikipedia.org/wiki/Demographics_of_atheism
(3) http://ec.europa.eu/public_opinion/archives/ebs/ebs_225_report_en.pdf
(4) A. Kardec: 'O Céu e o Inferno', 23a. Ed. FEB,  'Obras Póstumas', 15a Ed. FEB.