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8 de janeiro de 2012

Vídeo IV - Uma médium e um Piano - Entrevista com Rosemary Brown (1973).


Entrevista para o 'Incrível Mundo de Kreskin' em 1973 com legendas em Português. Em um post anterior apresentamos uma resenha curta sobre o livro 'Sinfonias Inacabadas - Os grandes mestres compõem do Além' de Rosemary Brown (1916-2001), que se notabilizou por uma mediunidade musical ostensiva. Neste post apresentamos um vídeo de 8 minutos com legendas em português de uma entrevista que ela deu ao 'Incrível Mundo de Kreskin' em 1973.

A Sra. Brown executa uma peça para piano ditada por Chopin na segunda metade do vídeo. Vale a pena assistir.

Outras referências à música de Rosemary Brown

O selo Keturi Musikverlag lançou em 2001 um CD com as seguintes composições (ver figura acima):

Intermezzo Nr. 1 Es-Moll. Ditado por J. Brahms em Janeiro de 1974;
Noturno As-Dur. Ditado por F. Chopin em Junho de 1966;
Momento Musical Nr.1 g-Moll. Ditado por F. Schubert em Março de 1968;
Scherzo Es-Dur. Ditado por L. van Beethoven em Abril de 1975;
Le Paon. Ditado por F. Chopin em Abril de 1976;
Sonata em Ges-Dur, Ditado por F. Lizst em Janeiro de 1973;
Bagatelle Es-Dur. Ditado por L. van Beethoven em Novembro de 1967;
Grübelei. Ditado por F. Lizst em Maio e Junho de 1968;
Intermezzo Nr. 2 es-Moll. Ditado por J. Brahms em Maio de 1974;
Três Estudos em Ges-Dur (Fevereiro de 1968 e Junho de 1969) por F. Chopin;
Momento Musical Nr. 2 f-Moll. Ditado por F. Schuber em Janeiro de 1976;
La Caverne. Ditado por C. Debussy em Agosto de 1976;
Canção. Ditado por S. Rachmaninov em Fevereiro de 1968; 

Outras podem ser encontradas na web:
Referências 


6 de janeiro de 2012

Livro V - "Sinfonias Inacabadas" por Rosemary Brown.

Médiuns músicos – Os que executam, compõem ou escrevem músicas sob influência dos Espíritos. Há médiuns musicais mecânicos, semimecânicos, intuitivos e inspirados, como se dá com as comunicações literárias. (Ver o tópico sobre Médiuns de Efeitos Musicais). A. Kardec (1)

Os escarnecedores devem apresentar alguma explicação para essa música, visto não poderem rejeitá-la como não existente. Ela deve ser investigada imparcialmente, é claro. Na verdade, eu mesma continuo a buscar as condições necessárias a uma eficiente comunicação com o mundo dos Espíritos. (Rosemary Brown, "Sinfonias Inacabadas", p.26)  

Imagine conversar com Espíritos desde a tenra infância e crescer relacionando-se com eles durante toda adolescência. Imagine receber deles centenas de comunicações e ditados e desenvolver uma mediunidade produtiva, rica em manifestações intelectuais por mais de 70 anos. Se alguém pensou que este é mais um post sobre Chico Xavier, enganou-se. Rosemary Brown (1916-2001) foi uma simples dona de casa inglesa que desde sua primeira infância conversou e recebeu recados de gente falecida. Sua história de vida está bem contada no livro 'Sinfonias Inacabadas - os grandes mestres compõem do Além' que é uma espécie de autobiografia. Muita coisa já foi publicada sobre ela na década de 70, quando ela teve um curto mas impactante aparecimento na mídia inglesa e americana para depois voltar a sua vida pacata, longe dos holofotes e da fama. Sua história é fascinante e tem paralelos impressionantes com a vida de Chico Xavier, com a diferença que, ao invés de livros, ela recebeu músicas.

Franz Liszt (1811-1886).
Foram cerca de 500 partituras, obtidas por meio de 'psicografia musical', por alguém que teve aulas esporádicas de piano quando permitidas por sua vida cheia de dificuldades. Essas composições revelaram 12 diferentes estilos, todos confirmados pela crítica. As dificuldades da Sra. Brown tiveram sua razão de ser, pois fizeram crescer nela a força que precisaria para mostrar (ou executar) seus ditados mediúnicos ao mundo, vencendo sua personalidade tímida. A mediunidade musical é raríssima, mas foi detectada por Kardec conforme consta no Capítulo 16 de 'O Livro dos médiuns'. A variedade musical de Rosemary Brown foi desenvolvida ao longo do tempo. Como tinha grande lucidez ao conversar com os Espíritos, eles podiam indicar a ela nota a nota a composição final, além de marcar o compasso.  Seu principal mentor foi Franz Liszt (1811-1886) que se revelou quando ela tinha apenas 7 anos de idade. A edição brasileira do livro traz um prefácio de Elsie Dubugras que a compara ao grande médium mineiro. O livro é dividido nos seguintes capítulos:
  • Capítulo 1  - O início
  • Capítulo 2 - Por que eu?
  • Capítulo 3 - O plano dos compositores.
  • Capítulo 4 - Liszt.
  • Capítulo 5 - A Vida após a morte.
  • Capítulo 6 - Chopin.
  • Capítulo 7 - Os compositores.
  • Capítulo 8 - Curas.
  • Capítulo 9 - A comprovação.
Para quem gosta de música clássica, o livro chega a ser divertido. Embora o ceticismo em sua época tenha se interessado pelo fenômeno, ele não conseguiu encontrar uma explicação plausível para a variedade de estilos demonstrados pela médium. Explicar o fenômeno da Sra. Brown não é tarefa fácil fora da tese espírita, pois a composição de músicas clássicas é uma atividade enormemente complexa, que envolve um conjunto de faculdades intelectuais raramente encontradas. Além disso, compor músicas não é uma atividade muito feminina (basta tentar se recordar do número de mulheres na história que se dedicaram à composição). Do ponto de vista da fenomenologia, certamente a psicografia musical é algo mais notável que psicografia comum (literária). 

O Capítulo 1 é cheio de histórias das fases iniciais de sua vida e da sua dificuldade em se acostumar com sua faculdade extraordinária. As dificuldades porque teve que passar, moldaram uma personalidade bastante flexível e, portanto, sensível para a tarefa que haveria de se revelar mais tarde. Um resumo dos ensinamentos que teve com o grupo de compositores pode ser lido no Capítulo 5. Os capítulos 4, 6 e  7 é repleto de informações e detalhes pessoais dos próprios compositores. Sobre Liszt:
Sempre que ele me dá algum conselho, fá-lo de um modo muito delicado. Nunca é autocrático. (p.99, Capítulo 4)
Sobre Chopin (1810-1849):
Chopin tem aparência de muito moço, o mais moço de todos. Uns trinta anos, diria eu. Tem cabelos espessos e ondulados, é um belo sorriso claro que lhe dá um ar bem juvenil. O rosto é bem talhado, ligeiramente oval, fazendo-o parecer um rapazola (p. 150, Capítulo 6)
Sobre Rachmaninov (1873-1943):
O rosto de Rachmaninov é um tanto comprido e magro, e ele parece muito mais rídigo do que realmente é. Porém, é muito compassivo, creio que por ele próprio ter sofrido bastante. Disse-me que houve um período em sua vida em que se sentiu totalmente desprezado como pessoa e como músico. (p. 170, Capítulo 6). 
Sobre Debussy (1862-1918):
Geralmente pintam-no com uma barba, mas agora apresenta-se de cara raspada, pelo um tanto pálida, bastante cabelo, bem escuro, partindo de imponente testa. Os olhos são muito escuros e a voz grave. Às vezes, com o esforço em tentar comunicar-se, soa um tanto áspera. É de temperamento bem sério. Quase nunca ri, raramente sorri. (p. 175, Capítulo 6)
Sobre Schubert (1797-1828):
Uma das coisas que mais gosto nele é a sua expressão. Seus olhos são muito brandos, e parecem irradiar cordialidade. É extremamente modesto e retraído, quieto e ao mesmo tempo alegre, de certo modo, apesar de seu senso de humor ser bastante antiquado. (p. 160, Capítulo 6).
Finalmente, no capítulo 'A Comprovação', Rosemary Brown descreve o impacto da música dos compositores em diversas pessoas, os testes de lucidez mental a que ela teve que se submeter para 'comprovar' que ela não era demente e os testes feitos por parapsicólogos da época (dentre os quais Wilhelm Tenhaeff (1894-1981)) para mostrar que sua faculdade não se devia a 'criptomnésia' (uma suposta 'memória oculta'). Essas e outras explicações esdrúxulas continuam a ser aplicadas por quem se impressiona com o fenômeno mas não aceita a tese da comunicação. Rosemary Brown também descreve questionamentos de músicos ao seu trabalho, com perguntas endereçadas diretamente aos compositores falecidos. Muitos ficaram convencidos de sua correspondência com esses compositores e passaram a admirar a música de Rosemary Brown.

Qual era o verdadeiro objetivo dos compositores

Será que os compositores decidiram criar um novo movimento musical por seu intermédio? Do mesmo modo como não se pode dizer que o caráter da revelação espírita não tem como objetivo fazer ciência, filosofia ou religião, o movimento de compositores que se comunicou por intermédio de Rosemary Brown não tinha como objetivo simplesmente fazer música. Seu objetivo foi declarado em uma mensagem ditada palavra a palavra a Rosemary Brown por Sir. Donald Tovey (1875-1940):
Ao comunicar-se através da música e da conversação, um grupo organizado de compositores, que partiu deste mundo, está tentando estabelecer um preceito para a Humanidade, ou seja, que a morte física é uma transição de um estado de consciência a outro no qual conserva a sua individualidade. A compreensão deste fato encaminhará o homem a uma visão interior de sua própria natureza e das suas potencialidades supraterrestres. O conhecimento de que a encarnação no seu mundo nada mais é do que um estágio da vida eterna do homem, promoverá atitudes de maior amplitude do que as adotadas no presente e ensejarão uma visão mais equilibrada acerca de todas as coisas.(p. 23, Capítulo 1)
Reencarnação

O Espiritualismo inglês historicamente cresceu dissociado da noção de reencarnação. Entretanto, as personalidades musicais que se manifestaram por Rosemary Brown sancionaram esse conceito. Ao questionar seu mentor a razão porque ela teria sido escolhida para a tarefa de transmitir música, recebeu de Liszt a seguinte explicação:
"Antes de você nascer, quando acedeu em ser a nossa medianeira, você teve que concordar em passar por uma série de sofrimentos de modo a tornar-se mais sensitiva." (p. 67, Capítulo 2)
Portanto, inexiste descontinuidade no nascimento. Mais ainda, há condições restritas para que alguém possa desenvolver essa faculdade no grau de desenvolvimento a que a Sra. Brown conseguiu chegar:
Sofrimento, como aquele porque você passou, ajuda a atuação do tipo de faculdade de que você é dotada. As pessoas que levam uma vida fácil e tranqüila não são suficientemente sensitivas para conseguirem comunicação conosco facilmente". (p. 67, Capítulo 2; grifos nossos)
Explica-se assim porque médiuns extraordinários são tão raros. Agora, porque esses compositores escolheriam uma dona de casa para transmitir suas músicas e, assim, passar a mensagem do pós vida? Não seria melhor que procurassem alguém de talento, que tivesse uma educação musical completa, que soubesse melhor transmitir sua intenção? A tais questões os Espíritos também cuidaram de dar respostas:
O seu conhecimento é suficiente para o que temos em mente. Se tivesse tido uma educação musical completa, isto não nos auxiliaria absolutamente em nada. Em primeiro lugar, porque um curso completo de música teria tornado muito mais difícil a você provar que não seria capaz de escrever a nossa música sozinha. Segundo, porque um acervo de conhecimentos musicais teria feito com que você adquirisse muitas ideias e teorias próprias, as quais iriam ser um entrave para nós. (p. 66, Capítulo 2)
Em outras palavras, excesso de conhecimento atrapalha a transmissão, cria muito ruído. No caso da Sra.  Brown, a música era transmitida por ditado - ou seja - ela não tinha conhecimento do sentido musical da peça transmitida ao longo do processo, apenas no final, quando ela era executada. Também ressaltamos que composição clássica não é reconhecidamente uma atividade feminina. Ao escolher a Sra. Rosemary Brown, os compositores elevaram ao máximo o impacto que seria provocado por suas composições para a mente desconhecedora do fenômeno.

A opinião dos compositores sobre a 'música moderna'.

Finalmente não poderíamos deixar de citar a opinião externada por Liszt a Rosemary Brown sobre música moderna. O caso aconteceu quando a Sra. Brown ouvia rádio (na década de 60, é provável que se tratasse de alguma música dos Beatles ou Jazz, mas isso não é dito pela Sra. Brown). Ela perguntou a ele o que achava desse tipo de música e a resposta foi:
É uma série de sons vagamente interessantes, porém bastante grotescos. Creio que o resultado poderia ser considerado engenhoso, do ponto de vista intelectual, mas, em minha opinião, não é música. Não se pode manufaturar música. Ela deve provir de alguma fonte de inspiração. Há compositores que conseguem compor diretamente do seu intelecto, mas o resultado não será satisfatório, a menos que haja, mesclada à música, alguma espécie de sutil inspiração. (p. 121, Cap. 4)
Desde então, a situação só piorou. Deixamos, entretanto, aos leitores apreciar e julgar a sabedoria dessa opinião, no que se refere à música de nossos dias. Em resumo, o livro de Rosemary Brown é muito bom, repleto de informações interessantes sobre sua mediunidade, em particular sobre esse tipo raríssimo de faculdade mediúnica ligada à música.

No próximo post, traremos mais informações sobre Rosemary Brown e a música dos compositores por ela transmitida.

Dados bibliográficos

Título em Português: 'Sinfonias Inacabadas: os grandes mestres compõem do Além'.
Autor: Rosemay Brown.
Título em Inglês: 'Unfinished Symphonies: voices from the Beyond'.
1971. Edição especial para Livraria Espírita 'Boa Nova'. São Paulo, Brasil.
Traduzido por Agnor de Mello Pegado.
Gráfica e Editora Edigraf S. A. 

Referências

(1) O Livro dos Médiums, Cap. XVI.

1 de abril de 2011

Entrevista I-2/2 - Yvonne Limoges da Sociedade Espírita da Flórida (EU)


Nunca estás sós


Quando sofres... nunca estás sós...
...Aqueles, no mundo espiritual, teus verdadeiros amigos e parentes desta e de outras vidas
Que te amam, estão contigo, cientes de tuas dificuldades,
Eles choram quando tu choras, sofrem quando tu sofres.
Mas eles te ajudam tanto quanto podem.

...Sustenta-te com prece, sincera e fervorosa, ao teu
Espírito protetor e ao Todo Poderoso.
Tuas preces derramarão sobre ti,
das Alturas, as energias espirituais que tanto precisas.
Elas agirão sobre ti como o bálsamo benéfico
Que te improvisará a calma interior a tua alma combalida...
Elas te sustentarão em tempos de crise e necessidade,
afastando-te do desespero...

Os teus espíritos protetores tem grande compaixão por ti...
Eles te assistem com o que precisas para eliminar
as angústias do coração oprimido e te fornecem
a boa inspiração, desde que saibas ouvir
tua voz interior ou intuição. Eles sim sabem...
que se tu também souberes te sustentar
por tais horas de escuridão, tanto melhor será para teu Espírito
no progresso de tua presente existência.
Assim, sejas forte, ores,
e tenhas fé!
Tradução nossa de uma comunicação recebida por Y. Limoges (boletim de Fevereiro de 2011 da Sociedade Espírita da Flórida).


Parte final da entrevista feita com Yvonne Limoges da Spiritist Society of Florida.


EE 6 - Como os lídereas da NSAC pensam sobre isso? (referência à questão anterior).

YL - Nos EUA, Espiritualismo e Espiritismo são sistemas de crenças distintos com práticas diferentes.

Espiritualistas estão majoritariamente preocupados em espalhar sua religião e não creio que se sintam ameaçados pelos espíritas.

Não obstante, o conceito de reencarnação tornou-se tão difundido aqui que eventualmente eles irão aceitá-lo. Muitos espiritualistas já acreditam nisso e, como disse, estão se mexendo para mudar a situação do ponto de vista dos princípios. À medida que os mais velhos se vão, a balança irá pesar cada vez mais favoravelmente. 

Seus médiuns hoje estão recebendo comunicações que envolvem descrições de vidas passadas, o que está criando um conflito, pois eles são ensinados apenas a transmitir a mensagem sem interferência. 

Se a reencarnação não é um principio, como os médiuns devem agir? Tal é o dilema que eles tem que enfrentar.

EE 7 - Você acredita que Espiritualistas nos Estados Unidos estão mais conscientes do Espiritismo ou eles ainda veem o movimento espírita como essencialmente integrado a grupos Latino Americanos? Como você vê o aumento crescente do interesse de espiritualistas americanos por reencarnação?

YL - Alguns dos líderes das maiores organizações espiritualistas nos Estados Unidos, a Associação das Igrejas Nacionais Espiritualistas (NSAC) tem consciência dos princípios básicos do Espiritismo. Nos últimos anos, eles publicaram vários artigos de nossos boletins espíritas, incluindo sobre reencarnação na publicação oficial 'The Summit' que é enviada a todas as igrejas e membros. Entretanto, apenas citam o autor e fornecem detalhes tais como se foi uma comunicação, não divulgam que esses artigos são de nossos boletins ou de nosso centro.

Penso que tenho um bom relacionamento com esses líderes e seus editores, acho que o fato de ser Americana ajudou bastante nisso. Como espírita, fico contente que possa influenciá-los no que diz respeito aos princípios básicos e filosóficos de nossa doutrina. Isso é a coisa mais importante do meu ponto de vista. Já me encontrei pessoalmente com o presidente dessa associação e tenho mantido correspondência com o vice-presidente nos últimos 10 anos.  

Infelizmente, a mim parece que eles consideram todos os espíritas como estrangeiros e brasileiros. Seus membros não fazem ideia de que existem milhares de espíritas em outros lugares do mundo e em muitos países que falam espanhol.

Também reporto que tem havido contato entre espiritualistas e espíritas por meio de Divaldo Pereira Franco em seminários que ocorreram em Lily Dale. Acredito que alguns espiritualistas visitaram centros espíritas.

Considerando tudo isso, ainda afirmo que a maioria dos membros atuais dessas igrejas espiritualistas não sabem que o Espiritismo existe.

Também, tenha em mente que as práticas espiritualistas são muito diferentes (das espíritas). Eles mantem organização clerical, testam e certificam seus médiuns (de cura inclusive), dão comunicações espirituais de parentes falecidos publicamente no púlpito de suas igrejas durante os serviços e cantam hinos. Recentemente, perceberam que existe necessidade de se enfatizar mais a filosofia, já que tantas pessoas se mostram crentes da existência dos Espíritos e da vida após a morte.

Durante muitos anos, artigos sobre reencarnação eram absolutamente proibidos. Agora isso mudou, e cada vez mais membros acreditam em reencarnação. Eles ainda não a aceitaram como um princípio, mas alguns deles estão realmente lutando para que isso ocorra oficialmente. Tiveram sua conferência anual mais recente no ano passado na Flórida, ocasião em que participei. Encontrei-me com o comitê 'pro-reencarnacionista' para explicar sobre o 'Espiritismo' do que nada sabiam, além de nossos princípios.

Além disso, há um debate bastante forte ao redor do mundo na internet sobre reencarnação e sua conceituação entre espiritualistas de língua inglesa e outros que acreditam principalmente no que os espíritas postulam concernente aos fenômenos espíritas e à mediunidade.

Uma coisa que se há que ter em mente é que o que uma pessoa média nos EUA entende por 'reencarnação' se mostra muito diferente do que Espiritismo diz. Há opiniões variadas sobre como e porque a reencarnação ocorre, se ela somente se aplica a certas pessoas ou a todos. Eles não tem o conhecimento profundo que o Espiritismo nos dá com relação aos objetivos, detalhes ou o processo completo da reencarnação. 

Falando nisso, há nos EUA e outros países pessoas que se auto denominam 'espiritualistas' mas que não tem igrejas e se reúnem em grupos ou centros como os espíritas. Nem tampouco são eles muito religiosos. Em uma conferência espiritualista que participei e dei palestra, encontrei muitos espiritualistas nessa posição que acreditam e praticam coisas variadas. Muitos deles são bastante seculares. O ensino da filosofia não é para eles uma prioridade.  

A maioria dos espiritualistas focam no fornecimento de provas da vida após a morte. Fazem isso por intermédio de mensagens recebidas por médiuns que contem evidência verídica de parentes que partiram para o mundo espiritual. Vi e testemunhei tais casos pessoalmente, através de vários médiuns e sensitivos. Também tem a prática de cura por meio de passes. Não há ênfase em transes mediúnicos. Se isso vem a  ocorrer, o fazem  de forma privada. 

No que diz respeito a obsessão, há muitos hoje em dia praticando o que chamamos de 'spirit release' de forma semelhante a praticada pelos espíritas. Alguns indivíduos e grupos (aqui e na Inglaterra) se especializaram no assunto e estão integrados a profissões médicas ou psicológicas.
Além disso, a maioria do povo dos EUA não sabe nada de Espiritismo e, quando isso ocorre, o sabem mais através de brasileiros que eles conheçam pessoalmente. Alguns podem participar de conferências ou simpósios locais, mas tais eventos são esporádicos e mais freqüentados por espíritas.

Um fato que tem chamado a atenção para o Brasil e para o Espiritismo foi se considerar espírita por aqui o  médium João de Deus (João de Abadiânia). Houve muitas notícias sobre ele durante vários anos aqui, tendo ele sido tema no programa da Oprah que é bastante influente por aqui. Emma Bragdon, PhD, publicou bastante coisa sobre sua obra e o que ela chama de centros espíritas de cura. Isso inspirou a muitos a viajarem ao Brasil para assistir suas curas. Lá podem talvez conhecer mais sobre o Espiritismo e freqüentar outros centros. 

EE 8 - O que se pode fazer para mudar essa situação?

YL - Primeiro é preciso saber que o Espiritualismo e suas igrejas oficiais não constituem religião majoritária aqui nos EUA.

Há poucos centros espíritas também. Mesmo assim, acho que o contato com os espíritas ajuda bastante, mas , no que diz respeito a certas práticas espiritualistas - como a de se ter organização clerical - isso vai demorar bastante para mudar. 

Os espíritas estão se tornando mais organizados nos EUA, são eles na sua maioria formado por centros ou grupos de brasileiros com alguns centros e grupos hispânicos. Há também alguns conselhos espíritas estaduais afiliados ao Conselho Espírita dos Estados Unidos (USSC) que, por sua vez, é afiliado ao Conselho Espírita Internacional (CEI). Publicam uma revista espírita nos EUA. Muitos profissionais americanos bem conhecidos (que escrevem livros ou se envolvem em pesquisas sobre o pós-vida, mediunidade e reencarnação) participaram de conferências e simpósios mantidos por tais organizações. Conferencias médico-espíritas anuais tem ocorrido anualmente também. Se isso continuar a crescer, então mais pessoas irão se aproximar do Espiritismo.

Também gostaria de registrar que aqui nos EU são inúmeras as igrejas 'metafísicas' e grupos espiritualistas do gênero que acreditam em combinações de crenças relacionadas a capacidades psíquicas, mediunidade, espíritos e além-túmulo. Muitos tem médiuns legítimos e conduzem sessões. Muitas dessas pessoas acreditam em misturas de crenças espirituais e de vários outras religiões - incluindo crenças orientais e de índios americanos. 

EE 9 - Você acha que eles terão 'vergonha' no futuro em não ter reconhecido esse importante princípio, o da reencarnação, desde o início?

YL - Não acho que pensarão desse jeito. Tudo ocorrerá como se eles finalmente aceitassem por si tal conceito. 

Os espiritualistas nada sabem sobre o Espiritismo e sua história. 

Deixo claro que muitos querem provas substanciais e não apenas comunicações ou evidências de regressão a vidas passadas. Apenas o trabalho do Dr. Ian Stenson parece impressioná-los por enquanto, e muitos permanecem ainda céticos, mesmo com relação a tais trabalhos. 

E, ainda que aceitem completamente a reencarnação, nada irão compreender de como ela funciona. Haverão inúmeros debates sobre isso, penso eu, nos anos que virão.

EE 10 - No futuro, você disse que gostaria de traduzir livros espíritas para o inglês. Que tipos de livros?

YL - Gostaria de traduzir livros que estão em espanhol. Frequentemente traduzo artigos espíritas breves tanto em espanhol como em português para o nosso boletim.

EE 11 - Você gostaria de dar uma mensagem especial aos espíritas do Brasil?

YL - Primeiro, espero que minhas respostas possam esclarecer vocês sobre a situação em meu país. 

Anteriormente, nos EUA, haviam centros espíritas hispânicos que apareceram aqui com a imigração nos anos de 1930 e 1940 em cidades grandes como Miami, Chicago e Nova Iorque. Tanto quanto sei, meu pai foi o único que, ao se mudar, acabou fundando um novo centro espírita. À medida que as gerações se sucederam, somente poucos desses centros originais sobreviveram até hoje de uma forma ou de outra.

Minha esperança é que brasileiros que tenham aberto centros espíritas nos EUA nos últimos anos (a mim parece que a maioria é de gente jovem comparada a mim, já na idade de 55) inspirem e passem a seus filhos a importância de assumirem posições de liderança na responsabilidade de dirigirem tais centros.

Quando seus filhos se tornarem mais 'americanizados' e se casarem com pessoas daqui, proveniente de outras culturas ou de uma variedade de etnias e bases religiosas distintas, isso será um problema. Por si só isso será um desafio; além disso, muitos irão se mudar para lugares distantes do centro espírita de origem. Será que eles irão abrir seus próprios centros, caso não encontrem um no novo local? Somente o futuro irá dizer o que vai acontecer. 

Temos nos esforçado para que isso aconteça aqui em nosso centro, preparando alguns para tarefas de liderança. 

Gostaria de dizer que é maravilhoso saber que tantos brasileiros conheçam a língua inglesa e outros idiomas, e que muitos, vivendo em vários cantos do mundo, tenham sentido a necessidade de divulgar os princípios da Doutrina Espírita aos nativos dos países para onde se mudaram.

Conheço bem o livro 'Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho'.

Para finalizar, gostaria de dizer obrigado! Continuem com o seu trabalho espiritual maravilhoso, e que Deus os abençoe a todos!

Agradeço muito a oportunidade de partilhar com vocês essas informações e o meu ponto de vista.

FIM



25 de março de 2011

Entrevista I-1/2 - Yvonne Limoges da Sociedade Espírita da Flórida (EU)


"Uma pessoa pode compreender os princípios do Espiritismo ou mesmo acreditar neles completamente. Entretanto, buscar ser fiel a tais princípios e os colocar em prática é coisa para uma pequena minoria. É necessário ter um certo nível moral para pertencer a essa minoria." (Y. Limoges)

Neste post, apresentamos uma entrevista que fizemos em Fevereiro de 2011 com Yvonne Limoges diretora da Sociedade Espírita da Flórida desde 1982. A Yvonne é uma companheira de ideal espírita que já conhecemos faz certo tempo (desde 1997 com o GEAE) e que realiza um trabalho de impacto junto à comunidade espírita nos Estados Unidos. Ela edita um boletim em inglês e é bastante conhecida nos meios espiritualistas americanos. De seu boletim mensagens foram publicadas em vários outros órgãos tais como: a revista da Federação Espiritualista Nacional, a Associação Nacional de Igrejas Espiritualistas, e a Aliança Nacional Espiritualista. Também participa da Academia de Espiritualidade e Estudos Paranormais onde escreve 'book reviews'. Seu boletim é bastante conhecido entre espíritas por todos os EUA que enviam a ela notícia sobre atividades de seus centros por lá. 

Recentemente (2009) ela conseguiu publicar um artigo sobre reencarnação na principal revista da NSAC (Aliança Nacional de Igrejas Espiritualistas), contrariando a tradição do movimento espiritualista que ainda não aceita esse importante postulado da Vida Maior.

Dentre as várias realizações em prol do movimento espírita realizadas pelo grupo da Yvonne está a tradução para o inglês do livro histórico 'Memórias do Padre Germano' de Miguel Vives em 2006. Esta obra foi traduzida por Edgar Crespo. Ela é membra de várias academias como o Instituto Windbridge (que estuda mediunidade), a Federação Espiritualista Nacional (com participação majoritária de espiritualistas da Grã-Bretanha, Europa, Austrália, Islândia, Suécia e Nova Zelândia, além de espíritas das Filipinas). Yvonne expôs suas idéias em um encontro dessa federação em Rochester, NY.

Nesta oportunidade, aproveitamos também para questioná-la sobre uma visita recente que fez à Espanha (para um congresso espírita em Terremolinos pela CEPA), quando teve a chance de entrar em contato com o movimento espírita daquele país onde ela também tem raízes familiares. Uma outra entevista com a Yvonne pode ser lida (em inglês) no site da ASPSI. A entrevista que segue será apresentada em 2 partes.

EE 1 - Que lembranças você tem sobre práticas espíritas na sua família?

YL - Desde pequena, lembro-me de ir ao centro espírita de meu pai em Nova Iorque várias vezes. Fazíamos isso quando íamos para a cidade de Nova Iorque nas férias de verão porque, então, já morávamos na Flórida. Embora tenha nascido na cidade de Nova Iorque, mudei-me para St. Petersburg quando tinha 6 anos de idade. Não havia centros espíritas lá. A maioria dos centros é em Miami que fica 6 horas de distância. 

Meu pai e seus parentes iam a este centro (estabelecido em 1933 e que durou até 1980) em Nova Iorque. Minha avó era médium. Meu pai participou de aulas sobre mediunidade quando mais velho e ainda vivia em Nova Iorque. Então ele já era casado e isso foi 5 anos antes de eu nascer. 

Na Flórida, meu pai nos ensinou muito sobre o amor a Deus, sobre os Espíritos, sobre ser uma boa pessoa e, à medida que crescíamos e compreendíamos mais, sobre a Doutrina Espírita. 

Pertenço a uma família na 4ª geração de americanos com origem na Espanha, Itália e França e já 5ª geração  espírita do lado paterno. Minha mãe veio das Ilhas Canárias para os Estados Unidos via Cuba. Do lado paterno vieram de Porto Rico onde os homens eram proprietários de terra e trabalhavam junto a prefeituras e as mulheres professoras. 

Meus pais falavam inglês em casa quando éramos criança e, as vezes, espanhol com seus parentes. Meu irmão e irmã só conhecem inglês. Entretanto, tive aulas de espanhol por 5 anos e também francês por 1 ano na escola. Os livros de Kardec que meu pai usava eram todos em espanhol na época, exceto pelo ‘Livro dos Espíritos’ de Anna Blackwell. Li e estudei todos eles (em espanhol e inglês). Eu e meu pai eram os que mais conversavam sobre a doutrina em casa. Ele desencarnou em maio de 2008. 

Na Flórida, porquanto não existisse nenhum centro espírita perto, mantínhamos reuniões domésticas regulares quando meu pai recebia comunicações em transe mediúnico. Ele via Espíritos e tinha visões. Dava passes sob assistência de uma entidade chamada ‘Lula’, que também já se manifestara no centro que minha família participava quando eu era criança. Meu pai mantinha contato com a diretoria do centro de Nova Iorque. 

Com o tempo, frequentei vários centros em Miami, na Flórida, com meus pais, mesmo de sessões mediúnicas. Entretanto, íamos lá mais para comprar livros espíritas que eram bastante raros onde morávamos. Mantínhamos uma pequena biblioteca desses livros. 

Naturalmente, com os anos, participei de vários centros espíritas (além de grupos espiritualistas, de parapsicologia e estudos paranormais), conferências e congressos onde tive a oportunidade de proferir palestras.

EE 2 - Como foi o seu primeiro contato com as realidades imortais (como médium)? 

YL - Lembro-me que sempre senti a presença de Espíritos desde a idade de 4 anos (mas não tinha noção do que se tratava então). Eu os sentia e ouvia barulhos, tal como passos e vozes de Espíritos. Era bem intuitiva e sabia das coisas antes que elas ocorressem. Tinha sonhos ‘proféticos’ e experiências fora do corpo. 

Mais tarde, comecei a receber o que chamei de ‘composições inspiradas’, logo no início da minha adolescência, o que continuou mais tarde até comunicações espíritas completas. As palavras eram ditadas a mim à medida que escrevia. Depois houve uma mudança na maneira que recebia os escritos. Recebia um impulso, começava a escrever e as palavras estavam lá. Nunca sei o que estou escrevendo quando psicografo, o que vem a ocorrer apenas após finalizar a mensagem. 

No começo da fase de maior produção mediúnica, meu pai me disse que eu tinha um Espírito protetor chamado ‘El Anciano’. Seus escritos eram de conteúdo mais moral e espiritual. Ele se parecia com um ‘ancião’, com uma barba. Soube que também tinha um grupo de outros Espíritos que me ajudavam nas composições. Quando El Anciano se comunica, é sempre sobre questões de natureza séria. Sei que ele assiste ao meu trabalho e sou muito grata a ele. Procuro me esforçar para merecer sua assistência contínua. 

Além disso, escrevi dois livrinhos em tempos distintos pelo que chamo de ‘escrita semi-automática’. Para tanto, disseram-me que deveria usar uma caneta (sempre digito minhas mensagens) e, durante esses dois episódios, meu braço direito foi puxado e senti como se ele tivesse sido colocado no fogo, mas sem queimar. Senti fluidos fortes de magnetização. Escrevi então muito rapidamente, sem saber o que estava escrevendo e terminei os dois livros em uma única sessão. São eles: ‘A jornada espiritual da alma’ e ‘Princípios Espíritas para Crianças’ e podem ser acessados no site de nossa sociedade. 

Finalmente, minha faculdade se desenvolveu até o transe mediúnico completo e trabalho como médium na prática espírita já há 35 anos. Administro aulas de iniciação mediúnica no nosso centro.

EE 3 – Quais foram suas impressões sobre o movimento espírita na Espanha? 

YL - Embora tenha participado de apenas uma conferência na Espanha, recebo freqüentemente muita literatura de vários grupos e centros daquele país (assim como do Brasil) já há muitos anos. Acredito que o Espiritismo na Espanha esteja se desenvolvendo e crescendo bastante. 

Há duas orientações de pensamento (como sempre encontro em muitos países onde existem muitos espíritas, incluindo nos Estados Unidos). Alguns grupos são mais religiosos ou orientados de forma cristã, enfatizando aspectos evangélicos da Doutrina Espírita. Outros grupos (embora aceitando absolutamente a existência de Deus) enfatizam aspectos mais ‘científicos’ do Espiritismo e, suas práticas são na direção de educar os outros moralmente e nos princípios da doutrina de um ponto de vista mais universal. 

Fico bastante desapontada em ver que não existe incentivos à tradução livros espíritas em espanhol para o inglês. Para a Espanha e muitos países Latino-americanos isso não parece ser prioritário, mas muitos espíritas nesses países não conhecem o inglês, pelo que não poderiam ajudar mesmo. Espíritas de Porto Rico provavelmente poderiam ajudar, pois são bilíngues, mas não manifestaram interesse ainda. 

Felizmente, os brasileiros tem se esforçado ativamente na tradução de livros espíritas para o inglês.

Capa do Livro 'Memórias do Padre Germano' de A. D. Soler
 recentemente traduzido para o inglês por Edgar Crespo.

Fico contente ao menos em saber que conseguimos disponibilizar, para pessoas que conhecem o inglês, traduções feitas por meu pai de dois clássicos da literatura espanhola: ‘Memórias de Padre Germano’ (Memoirs of Father German) de Amália Domingo Soler e ‘Guia Prático para o Espírita’ (A Practical Guide for the Spiritist: handbook on personal conduct) de Miguel Vives. 

EE 4 - Como você encara a recente onda de interesse crescente por ideias e princípios espiritualistas em filmes tal como ‘Hereafter’ de C. Eastwood e outras séries televisivas? 

YL - Desde pequena (meados da década de 1950), lembro-me de shows televisivos sobre ‘fantasmas’ como eram chamados na época. Uma dessas séries chamava-se ‘Topper’ e era sobre um milionário que podia ‘ver e se comunicar’ com um casal rico que havia morrido em um acidente de carro. Esse programa foi muito popular. 

Outras shows e filmes vieram com as mesmas ideias. Religiões orientais tornaram-se então populares na década de 1960 e 1970. Mais tarde, livros sobre experiências fora do corpo e ‘canalizações’ – como eram chamadas - tornaram-se populares. A partir de 1980 e em diante aconteceu o que considero a grande virada com o filme ‘Ghost’ (que ilustrava basicamente a interação entre o mundo espiritual com o mundo material na função básica da mediunidade). 

Foram os meios de comunicação, por meio da televisão, livros, e mesmo vídeo games, que tem influenciado o público Norte Americano na direção do conhecimento básico dos fenômenos espíritas, aproximando-os, a cada ano que passa, dos princípios da Doutrina Espírita. Tais meios tem divulgado ideias como: a existência da alma no mundo espiritual, a realidade e a diferença entre mediunidade e habilidades ‘psíquicas’, a idéia de que a maneira como vivemos nossa vida material determinará nossa condição no futuro, a realidade da influência dos Espíritos em nós no mundo material, a idéia da obsessão espiritual e como se deve tratar o problema e, agora ainda mais, a crença na reencarnação. 

Uma pesquisa em 2009 conduzida pelo Centro de Pesquisas Pew determinou que 24% do público geral e 22% dos cristãos acreditam em reencarnação nos Estados Unidos. Tal pesquisa foi bastante divulgada pela mídia nacional, o que acho muito relevante pois mostra a muitos reencarnacionistas que eles não estão sozinhos. 

Deixe-me ser clara aqui, estou falando mais sobre aceitação do público em geral de princípios naturais e autênticos da Doutrina Espírita no que diz respeito ao básico dos fenômenos. Aspectos filosóficos ou mais específicos da Doutrina Espírita (como o de que devemos ser uma boa pessoa ou sofrer alguma consequência adversa seja aqui ou no mundo espiritual) são aceitos conforme são compreendidos pelo público.

EE 5 – Na sua opinião, quais são os maiores obstáculos para as crenças espíritas nos Estados Unidos? 

YL - Para a maioria dos americanos, é fácil dizer que são membros de alguma religião tradicional e, se questionados, podem ao mesmo tempo dizer que acreditam em algo que o Espiritismo ensine, mas somente o básico. 

Um parcela grande da população está envelhecendo, os chamados ‘Baby boomers’. Desesperadamente eles estão agora a procura de maneiras de prolongarem suas vidas, de 'rejuvenescerem' e querem também saber o que vai ser deles depois da morte do corpo. Estão em busca de um objetivo ou sentido à vida. 

Os tempos estão difíceis hoje nos Estados Unidos, com muito desemprego e gastos excessivos. Tais dificuldades obrigam as pessoas a buscar algo que as console. Sentem uma necessidade, o que chamaria de necessidade de alimento para a alma. 

Tal situação torna mais fácil falar a tais pessoas sobre o Espiritismo. 

Não obstante isso, é necessário ter maturidade espiritual para aceitar a contraparte moral e filosófica da Doutrina Espírita. Pode ser muito difícil compreender e aceitar essa parte. Aprendi nos últimos 35 anos que a maioria mais nova, que frequenta centros espíritas e aprende quão importante é a responsabilidade pessoal, acaba se assustando com esses aspectos. Eles ou não podem ou não querem aceitar essa parte, por não desejarem mudar seu comportamento pessoal. 

Uma pessoa pode compreender os princípios do Espiritismo ou mesmo acreditar neles completamente. Entretanto, buscar ser fiel a tais princípios e os colocar em prática é coisa para uma pequena minoria. É necessário ter um certo nível moral para pertencer a essa minoria.

No próximo e último post da entrevista: Yvonne Limoges fala sobre o Movimento Espiritualista Americano, a crescente aceitação da reencarnação e de como seus líderes estão lidando com isso. Ela também dá uma mensagem especial aos espíritas brasileiros.