Continuação do post anterior: Comentários sobre "Uranografia geral" de "A gênese" de A. Kardec - V.
Comentário sobre "Os cometas" e "A Via-Láctea".
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Cometas, também conhecidos com "astros errantes", dado o seu movimento inusitado pelo céu, sempre chamaram a atenção, quase sempre pelo medo. Esclarecida sua verdadeira origem, como pequenos astros dotados de movimento próprio, em órbitas muito diferentes das dos planetas, cometas podem ser vistos como relíquias de um passado muito distante, quando o sistema solar ainda estava em formação.
Como suas órbitas podem chegar até os confins do sistema solar, o autor os descreve como "guias que nos ajudarão a transpor os limites do sistema a que pertence a Terra". Na verdade, seu estudo pode tanto no levar para bem longe como, principalmente, para bem distante no tempo.
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O autor resume de forma breve as diversas teorias antigas sobre os cometas. Ele cita de passagem algumas ideias sobre a natureza dos cometas, como a de que eles seriam "mundos nascentes", como "mundos em estágio de destruição" ou como mundos "pressagiadores de desgraças", todas já obsoletas na época de "A Gênese".
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Depois de criticar as concepções que os antigos fizeram dos cometas, o autor declara que eles
...não têm por destinação, como estes, servir de habitação a humanidades. Eles vão sucessivamente de sóis em sóis, enriquecendo-se, às vezes, pelo caminho, de fragmentos planetários reduzidos ao estado de vapor, buscar, nos seus centros, os princípios vivificantes e renovadores que derramam sobre os mundos terrestres.
Em suma, para o autor, os cometas podem ir de estrela em estrela, de forma a trasportar "princípios vivificantes e renovadores" que são "derramados" sobre os mundos. Essa ideia está ligada à ainda misteriosa origem dos cometas.
Concebida em 1950 [22] por J. Oort, a hipótese moderna é que os cometas têm sua origem principal em uma gigantesca nuvem que envolve o sistema solar, a chamada "nuvem de Oort". Por causa de perturbações de diversos tipos - principalmente encontros com outras estrelas - essa nuvem pode se agitar, o que causa a precipitação dos cometas em direção ao sol. Assim, eles se tornam conhecidos, visto que na imensidão da distância dessa nuvem, eles não podem ser vistos. Note que isso faz da própria ideia da nuvem de Oort uma hipótese, já que ela não pode ser observada diretamente desde a Terra.
A ideia de que cometas poderiam estar ligados a "princípios vivificantes e renovadores que derramam sobre os mundos" está ligado ao conceito de panspermia [23]. Segundo essa hipótese, a vida na Terra não teve origem nela, mas foi "semeada" por cometas que trouxeram os princípios da vida de fora.
Que cometas possam passar de uma estrela a outra é muito difícil de ser demonstrado, embora isso seja possível para alguns cometas - conforme previsto pela teoria da nuvem de Oort. Recentemente, um corpo estranho, descoberto e batizado Oumuamua [24] (Fig. 1), se aproximou do sol com velocidade muito grande e teve sua origem confirmada como sendo externa ao sistema solar.
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Partindo dessa ideia, de que cometas podem vagar entre as estrelas, o autor descreve o que veríamos se pudéssemos acompanhar em pensamento a marcha dos cometas. Descreve corretamente que observações incompletas não seriam capazes de prever seu retorno, se um cometa fosse capturado por alguma outra estrela a exercer uma força em seu ponto mais afastado - o afélio (a tradução usa as palavras "perigeu" e "apogeu", entretanto, periélio e afélio são os termos mais precisos que descrevem sua posição mais próxima e distante do sol, respectivamente, e não da Terra).
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É uma introdução onde o autor descreve a aparência leitosa da Via-Láctea à vista desarmada como uma ilusão, enquanto que o telescópio decompôs esse rastro em milhares de estrelas. Tal fato somente pode ser compreendido depois da invenção do telescópio (por volta de 1609).
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O autor define a Via-Láctea como uma coleção de estrelas e planetas em que o sol e seu cortejo de planetas é apenas um dos integrantes. Estima em 30 milhões o número de estrelas constituintes da Via-Láctea. Estima também a distância entre as estrelas em mais de 100.000 vezes o raio da órbita terrestre (que forma a "unidade astronômica" ou U. A., da ordem de 150 milhões de quilômetros). A estrela mais próxima do sol está localizada a 4,4 anos-luz de distância ou aproximadamente 280.000 U. A. Os valores dados pelo autor são estimativas: as distâncias corretas entre as estrelas mais próximas já era conhecida na época de "A Gênese".
Hoje essa noção foi substituída pela da "galáxia". O que vemos como sendo a Via-Láctea é a projeção do disco galático na esfera celeste, sendo que a maior parte da galáxia está oculta da nossa visão na Terra. O número exato de estrelas que compõem a galáxia Via-Láctea não é conhecido, mas estimativas vão desde 100 a 400 bilhões de estrelas. As distâncias médias entre as estrelas na Via-Láctea é da ordem de várias centenas de anos-luz.
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Mesmo aproximados, os valores permitem saber como o sistema solar - e, portanto, a Terra - é pequeno:
...pode-se igualmente julgar da exiguidade do domínio solar e, a fortiori, do nada que é a nossa pequenina terra. Que seria, então, se se considerassem os seres que a povoam!
O cálculo das distâncias e dos números "astronômicos" têm como objetivo mostrar o quão pequeno é o nosso mundo, em vários sentidos, inclusive em seu aspecto moral. Por outro lado, lá na imensidão de incontáveis mundos povoados de inteligência prodigiosa, temos as provas da criação "em toda a sua majestade".
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Concordando com o que havia de ser ainda demonstrado (a saber, que muitas nebulosas eram, de fato, outras vias-lácteas), para o autor nossa Via-Láctea:
não representa mais do que um ponto insensível e inapreciável, vista de longe, porquanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar, entre os milhões das que existem no espaço.
Ele estaria falando das muitas galáxias que existem em nosso universo observável. Modernamente, não se sabe o número exato delas, que é, não obstante, estimado entre 200 bilhões a dois trilhões de galáxias. Portanto, as conclusões do autor de "Uranografia geral" continuam bastante válidas.
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Como fechamento do tema, o autor relembra a "hierarquia de escalas" que existe entre os diversos sistemas estelares, que demonstra a incrível pequenez da Terra:
...a Terra nada é, ou quase nada, no sistema solar; que este nada é, ou quase nada, na via láctea; esta por sua vez é nada, ou quase nada, na universalidade das nebulosas e essa própria universalidade é bem pouca coisa dentro do imensurável infinito, começa-se a compreender o que é o globo terrestre.
Em suma, apenas quando essas escalas são justapostas é que podemos compreender o real significado de nossa vida no concerto universal, o que nos livra da ilusão de achar que tudo se limita à nossa Terra - em todos os sentidos, inclusive moral...
Referências
[22] Oort, Jan Hendrik. "The structure of the cloud of comets surrounding the Solar System and a hypothesis concerning its origin". Bulletin of the Astronomical Institutes of the Netherlands, v. 11, p. 91-110, 1950.
Amigo Ademir,aqui vai minha contribuição a discussão interessante que esse artigo pode gerar,se me permite.
ResponderExcluirUm ponto curioso que acho é que Allan Kardec,na Gênese,explica exatamente o que Carl Sagan resumiu em seu poema "um pálido ponto azul" e vai muito mais além do que ele a mais de cem anos atrás e não tem o devido valor.
Enfim.Recentes pesquisas demonstram que os cometas estão cheios de materiais orgânicos em seu interior(em estado latente?),graças a ida de sonda ultra-precisas que pousaram em alguns deles,coisa inimaginável por qualquer astrônomo na época de Kardec.
Isso indiretamente comprova o que os espíritos disseram a Kardec quando o professor perguntou onde estavam os elementos e princípios orgânicos antes da formação da terra;"no espaço e junto aos espíritos."
A teoria da panspermia está ficando cada vez mais possível e creio que chegará uma época em que teremos sua confirmação muito em breve,pois já foi descoberto microorganismos capazes de viver em ambientes considerados impossíveis do nosso ponto de vista,os chamados seres extremófilos.Seres que vivem em extremamente altas ou baixas temperaturas que adormecem,eclodem e se criam constantemente,seja no fundo dos oceanos ou em crateras vulcanicas e até mesmo em ambientes altamente radiotivos como em Chernobyl,por exemplo.
Se esses seres são capazes de sobreviverem nessas condições,as possibilidade de haver seres semelhantes em estado latente no interior de cometas fica bem possível de existir,novamente comprovando indiretamente que os cometas "são planetas em vias de formação",como os espíritos explicaram a Kardec no LE.
Wanderson, acho que a ideia de Kardec ter se antecipado a Sagan é bastante clara. Eh preciso entender o contexto: na época, nenhum movimento religioso valorizava essas descrições científicas como parte de sua doutrina. Acho que o Espiritismo com Kardec foi um dos primeiros.
ExcluirVamos escrever nossa conclusão no final desse estudo nessas linhas. Por isso, não obstante o fato de ser um texto do sec. XIX, a "Uranografia Geral" continua plenamente válida, principalmente no seu objetivo que é trazer para a discussão das Religiões os achados da ciência moderna que mostram a pequenez da Terra, sua 'insignificância' como uma resposta ao clamor de todos "Será isso tudo?", "não, outros mundos existem onde a verdadeira felicidade faz sua morada"... Grato por seu comentário.
Essa resposta nos faz imaginar que se um cometa se chocasse com a Terra,por exemplo,os seus elementos se aglutinariam ao ambiente do planeta,mesmo depois de uma impacto catastrófico do ponto de vista humano. Esse impacto daria início a novos tipos de formas de vida na Terra.
ResponderExcluirTodos os anos,quantidades incauculáveis de fragmentos meteóricos caem nos oceanos da Terra.Se a teoria paspérmica for real,é muito provável que ajam elementos organicos extremos latentes no interior desses fragmentos,que sobrevivem a entrada da atmosfera da Terra e se misturam aos elementos orgânicos dos oceanos do planeta.Uma prova disso seria a miríade de seres "quase alienígenas" que presenciamos no fundo dos oceanos que facisnam,assombram e intrgiam os cientistas do mundo todo.
Sim, é verdade. Isso ocorre e eu inclui a referência do Fred Hoyle sobre as ideias modernas de panspermia. Eh bastante tentador imaginar que a vida tenha se originado de uma colisão desse tipo... grato pelo comentário.
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