17 de novembro de 2010

Crenças céticas I - Introdução



"Existem duas maneiras de ser enganado: uma é acreditar no que não é verdade e a outra é recusar-se a acreditar naquilo é."  Søren Kierkegaard

Introdução

A movimentação pública em torno de eventos psíquicos, revelações mediúnicas, proposições sobre vida após a morte e reencarnação com base em noticiário da mídia, faz surgir contingente de céticos que se esforçam para tentar refutar (em inglês, 'to debunk') não só a explicação transcendente para essas ocorrências como as próprias ocorrências.

A maioria dos blogs e sites sobre ceticismo, pretende cobrir a falsidade e expor o embuste, apresentando as mais variadas 'explicações' para os fenômenos as quais eles denominam 'explicações naturalistas' ou 'explicações plausíveis' (lê-se, "aquelas em que nós acreditamos"). O nome 'naturalista' evoca um apelo à ciências naturais, como se estas pudessem embasar a crítica à manifestações dos Espíritos ou as inegáveis evidências de reencarnação, além de outros fenômenos insólitos.

Ao invés de discutir cada explicação e cada tentativa de refutação, é conveniente expor argumentos verdadeiramente plausíveis que fundamentam a 'crença cética'. Iremos aqui, em uma sequencia de posts, estudar alguns fundamentos filosóficos do ceticismo tanto para aquele que podemos considerar 'ceticismo genuíno' como outro que poderíamos denominar, falso ceticismo ou 'pseudoceticismo'. A maior parte das críticas que recaem sobre as ocorrências psíquicas tem como origem o segundo tipo de ceticismo que é, a bem da verdade, bastante dogmático em sua maneira de ver o mundo.

Através dessa análise poderemos compreender os argumento verdadeiramente céticos ou não e suas reais disposições e, com isso, economizar tempo. Em toda e qualquer argumentação, subsistem fundamentos ou princípios de raciocínio que constitutem um 'método' de apreensão da realidade externa e de análise dessa realidade, dentro dos paradigmas internos ou crenças de cada um.

O que é ceticismo? Será que a Ciência invalida os fenômenos psíquicos?  Será mesmo que não existem provas para essas ocorrências? Sobre quais bases se pode seguramente estabelecer a verdade sobre muitos eventos considerados anômalos e colocados em dúvida pelo pseudoceticismo? Essas são apenas algumas questões que iremos analisar.

O objetivo destes posts é estudar o fenômeno do ceticismo e apresentar argumentos, além do simples 'não acredito' dos céticos dogmáticos, para compreender que há mais coisas em comum entre os pseudocéticos e os crentes mais cegos, do que se pode imaginar...

16 de novembro de 2010

O grande livro da Natureza


O Universo não pode ser lido até que se aprenda a linguagem e se familiarize com os sinais nos quais ele é escrito. Ele é escrito em linguagem matemática e suas letras são triângulos, círculos e outras figuras geométricas sem as quais é humanamente impossível entender uma única palavra. (Galileo Galilei, Opere Il Saggiatore p. 171.)

Assim em resumo podemos dizer:

O “Livro da Natureza” é o último grande livro que começamos a folhear. Foi escrito desde o início dos tempos por um autor único. Está escrito em linguagem própria, não inventada pelos homens e só admite uma única interpretação. É também um código de leis que se aplica a todos os objetos do mundo, governando soberanamente a relação entre causas e efeitos. Não pode ser copiado, embora possa ser imitado e os homens muitas vezes se maravilham ao descobrir passagens ocultas que manifestam uma estrutura admirável, uma regularidade encantadora se não ao mesmo tempo assustadora. O conteúdo desse livro é infinitamente mais vasto do que tudo aquilo que aprendemos a ler nele, assim como infinitamente mais amplo do que tudo que sabemos, indicando a existência certa de pormenores, leis e verdades nunca dantes imaginados.

Se admitirmos que o mundo não é só constituído por elementos materiais mas também por elementos espirituais, assim como existem leis nesse livro que se aplicam a estes primeiros elementos, devem existir também leis apropriadas a se aplicar aos últimos. Por isso é que dizemos que o conteúdo do livro da Natureza é ignorado em sua grande parte. É importante não confundir as teorias científicas com o próprio conteúdo do livro da Natureza. As teorias científicas são esboços escritos em linguagem humana (quer dizer, apropriada à compreensão pela mente humana) sobre a estrutura desse livro, que tem existência independente. Diz-se, freqüentemente, que os cientistas revisam constantemente suas teorias. Não é porque a natureza tenha mudado mas porque o que se compreendeu a partir de uma primeira leitura de seu livro foi interpretada erroneamente. Mas certamente, nenhuma descrição ou previsão humana se sustenta se estiver em desacordo com o grande livro da Natureza. Conflitos entre a ciência e a religião se originam principalmente pela deficiência que grupos religiosos tem em compreender a existência desse livro. Essa deficiência é fruto da ignorância e ou da presunção humana em sustentar que Deus poderia ser parcial para com determinado grupo. É certo que a comunidade científica reconhece o caráter mutável das teorias da ciência, mas é altamente suspeito a posição de grupos religiosos que pretendem ter a “verdade a todo custo” baseando-se na intepretação literal de textos e sua generalização a qualquer assunto. Assim como a humanidade tem passado por um lento processo de conhecimento científico, todo a cultura religiosa não fugirá de ser comparada a verdade contida no grande livro da Natureza.