12 de janeiro de 2014

A ciência da reencarnação (segundo Jim Tucker)

Embora a ideia de múltiplas existências esteja presente em muitas religiões ao redor do mundo, ela também esteve presente no conjunto de manifestações mediúnicas que reafirmaram a ideia - dessa vez totalmente despida de sobrenatural e maravilhoso - no conjunto de textos que compõem a codificação do Espiritismo.

Entretanto, existe uma possibilidade real de se diretamente pesquisar reencarnação através do acesso à memória de pessoas (seja por meio de estado de transe) ou de crianças em tenra idade. O último processo é considerado mais confiável e foi o caminho seguido pelo famoso pesquisador I. Stevenson (1). Recentemente, o trabalho de Stevenson tem sido continuado por meio de um corajoso pesquisador Norte Americano chamado Jim Tucker (2, Fig. 2). Tucker possui um arquivo com cerca de 2500 casos de crianças que tiveram lembranças de vidas anteriores. Tucker trabalha como professor associado de psiquiatria no Centro Médico da Divisão de Estudos de Percepção (3)  da Universidade de Virgínia (4) . O trabalho de Tucker já dura 15 anos, com base em entrevista de crianças de várias idades.

Um dos casos reportados por Tucker é o do menino Ryan Hammons (Fig. 1) que, com quatro anos de idade, começou a ter lembranças fortes de uma existência anterior como ator em Hollywood, afirmando ter três filhos cujos nomes não conseguia lembrar. Seus pais, céticos inicialmente, o levaram ao médico que predisse o fim de suas crises noturnas com o passar do tempo. Um dia, enquanto folheavam um livro sobre atores de Hollywood, Ryan conseguiu se identificar entre os atores da década de 1930. Vários foram os dados fornecidos por Ryan que o identificam de forma unívoca com Marty Martin, famoso ator de Hollywood na década de 30. Ryan é um dos autênticos casos de lembranças de vida anterior, como descreve Tucker.
Fig. 1 Ryan e sua existência anterior como o ator Marty  Martin (~1930). 

Estatística dos casos.

Parte do trabalho de Tucker, ao lidar com grandes massa de dados, já resultou na compilação de alguns números que demonstram os padrões estatísticos observados nos casos (5):
  • A maior parte das crianças que se lembram de vidas anteriores tem entre dois e seis anos de idade.
  • A idade média com que ocorreu a desencarnação da personalidade na vida anterior é de 28 anos;
  • 60% das crianças que se lembram de vidas anteriores são meninos;
  • Aproximadamente 70% das crianças afirmam ter desencarnado de morte violenta ou não natural;
  • Nos casos de falecimento por morte violenta, algo mais de 70%  são meninos;
  • 90% das crianças afirmam pertencer ao mesmo gênero da existência anterior (ou seja, 10% trocam de sexo);
  • O tempo médio entre existências (6) é de 16 meses (ou quase um ano e meio);
  • 20% das crianças afirmam se lembrar do que ocorreu no intervalo de erraticidade (quando estão desencarnadas).
Este trabalho faz eco a um estudo que fizemos para o 7o. ENLIHPE chamado "Uma abordagem estatística para a determinação do tempo de vida entre encarnações sucessivas" (6), quando discutimos diversas medidas associadas à dinâmica entre reencarnações que são prevista pelos princípios espíritas. Como exposto então, o trabalho de Stevenson e, agora, de Tucker, pode fornecer mais parâmetros para o refinamento do modelo apresentado.

Entretanto, é preciso cuidado com as generalizações. Os dados de Tucker parecem ser tendenciosos, no sentido de conterem mais lembranças de personalidades que tiveram morte violenta. Ou seja, a estatística fornecida está 'contaminada' com tais casos. Portanto, não é possível extrapolar esses resultados para toda uma população - pelo menos no caso do intervalo de erraticidade. Isso justamente acontece porque parece haver uma correlação entre o afloramento das memórias e o tipo de morte (algo que ainda deve ser pesquisado).

Além disso, ainda há que se mostrar que fatores culturais não influenciam também a dinâmica reencarnacionista. Por isso queremos dizer que, por causa de variações de cultura - que impõem vínculos de comportamento e, portanto, podem limitar o livre-arbítrio das pessoas - a maneira como o fenômeno ocorre pode ter ligeiras variações de uma região (ou cultura) a outra.
Fig. 2 Dr. Jim Tucker.

De qualquer forma, é preciso reconhecer a coragem do Dr. Jim Tucker  em expor sua carreira e reputação ao estudar esses casos. Embora vivamos numa época de maior liberdade, há ainda muito a ser confrontado com aqueles que consideram esse estudo sem "valor científico" (como se o que é ou não ciência pudesse ser definido à priori) ou que não conseguem ver a importância da noção de reencarnação para o futura da Humanidade.  Essa é uma realidade que diz respeito a todos, independente de crença ou posiconamento filosófico, uma vez que todos estamos sujeitos a mesma lei natural, e a reencarnação nada mais é do que uma manifestação dessa lei, nada tendo a ver com questões religiosas.

Para conhecer mais dos casos de Tucker, recomendamos também um dos seus livros (7) que foi recentemente publicado.

Referências e notas

(1) Ver:
  • Stevenson I. (2010a) Reencarnação, vinte casos. São Paulo: Vida e Consciência.
  • Stevenson, I. (2010b) Reencarnação: estudos científicos de casos reais na Europa. São Paulo: Vida e Consciência.
  • Stevenson I (997a). Where Reincarnation and Biology Intersect. Ed. Praeger Publishing.
  • Stevenson I. (1997b) Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects Volume 1: Birthmarks, Ed. Praeger Publishing.
  • Stevenson I. (1997c) Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects Volume 2: Birth Defects and Other Anomalies. Ed. Praeger Publishing.
(2) Site de Jim Tucker (acesso em 2014)



(5) Ver: A ciência da reencarnação (Revista da U. Virgínia, acesso em 2014). Sobre o caso de Ryan ver: 

(7) "Return to Life - extraordinary cases of children who remember past lives" (ou Retorno à Vida, casos extraordinários de crianças que lembram vidas passadas - ainda sem tradução para o Português).

3 comentários:

  1. Gostei muito do texto. Existe, porém, algo no final do texto que me parece um tanto simplista: a aceitação da rencarnacão tem implicações religiosas profundas porque muda a forma que cada um percebe a própria vida. Não se rencarna apenas por reencarnar. Temos uma finalidade evolutiva, uma ligação com outras pessoas. Certamente não é isso que muitas religiões afirmam.

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  2. Olá!
    Lendo o livro, não entendi que a pesquisa foi "tendenciosa" e sim que ficou evidente por parte do autor se tratar de resultado estatístico dos casos em questão.
    Grata pela postagem.

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