1 de janeiro de 2012

Livro IV - O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr. Nubor Facure

Há um grande fosso entre as considerações acadêmicas sobre as bases da consciência e os postulados espiritualistas. Esses últimos colocam como origem e destino das manifestações da consciência o Espírito ou princípio inteligente, independente da matéria. Já as academias - nas chamadas 'neurociências' - procuram explicar as manifestações de inteligência e consciência como subprodutos da atividade neuroquímica do cérebro. Esse assunto certamente ainda precisa ser muito desenvolvido, e o que as crenças acadêmicas sugerem  são explicações para o funcionamento de muitas funções cognitivas elementares, que se construiu a partir de uma visão fundamentalmente descritiva dessas funções, bem como sua localização no cérebro (ou seja, há um mapa que liga essas funções com partes específicas da massa encefálica). Não obstante a existência desse mapa, inexiste uma 'teoria da consciência' como muitos poderiam pensar que explique de forma satisfatória as manifestações superiores da consciência (além disso, é preciso ainda compreender o mistério que existe na chamada 'plasticidade neural').  

O neurologista Dr. Nubor Facure é autor do livro 'O Cérebro e a Mente - uma conexão espiritual' onde procura abordar o tema do ponto de vista espírita (e não apenas espiritualista). O livro é formado por vários capítulos (que não são numerados) conforme a sequência abaixo:
  • A Evolução do Cérebro
  • O Mapa do Desenvolvimento. Os Sistemas.
  • O Mapa do Desenvolvimento. As Funções.
  • Reconhecendo a Mente.
  • O Inconsciente Neurológico.
  • O Cérebro e a Mediunidade.
  • A Neurologia do Bem-Estar.
  • Revelações da Alma.
  • Psicognosia. O Reconhecimento da Alma.
  • O Homem Mediúnico. Uma perspectiva para o Ser Humano no futuro.
  • Ciência e Espiritualidade.
  • Doença Espiritual. 
  • Eventos Históricos na Pesquisa do Cérebro e da Mente.
De início já comentamos que uma das grandes deficiências do livro é inexistência de gravuras ou imagens que acompanhe as descrições feitas pelo autor (principalmente nos capítulos iniciais). O livro não contém, de fato, nenhuma ilustração exceto pela bela imagem da Nebulosa de Órion em sua capa. Uma vez que a neurologia definiu e especificou a existência de um mapa entre funções cognitivas elementares e partes do cérebro, seria muito mais didático se a descrição do autor fosse acompanhada de figuras. Isso considerando a grande variedade de áreas e funções existentes. A figura abaixo é uma imagem extraída de um modelo aberto em Sketchup (cortesia de Fussolia) para o cérebro humano que pode ser útil para os leitores acompanharem a interessante e bem feita descrição de Facure das funções cerebrais.
Modelo 3d do cérebro segundo Fussolia (via sketchup), com algumas das áreas discutidas por Facure em seu livro.
Em 'A Evolução do Cérebro' o autor se baseia nos relatos arqueológicos sobre a evolução do volume da massa do cortex, desde os símios até o chamado Homo Sapiens. Nessa descrição, o autor não se aventura a fazer qualquer 'conexão' com o princípio inteligente ou Alma que irá aparecer apenas no capítulo 'Reconhecendo a Mente'. O estilo do autor é bastante livre, ele consegue descrever de forma simples muitos dos conceitos. Há certa semelhança na maneira de apresentar cada conceito entre o que escreve o autor e André Luiz em vários dos livros sob psicografia de Francisco Cândido Xavier. Isso se caracteriza pelo uso do presente do indicativo para se referir a acontecimentos passados e fatos históricos na forma de curtos parágrafos.  

Duas passagens doe 'O Cérebro e a Mente' me chamaram a atenção. Na página 41, ao descrever o gigantesco número de conexões neurais existentes no cérebro e a quantidade de informação genética supostamente necessária para descrever detalhadamente tais descrições, Facure reconhece uma impossibilidade:
Ainda não se tem uma interpretação adequada para explicar quais os mecanismos que direcionam  essas ligações. Não sabemos, por exemplo, como os neurônios do olho se estendem pelas vias corretas até a parte de trás do cérebro, onde suas terminações têm que se distribuir por camadas de alta complexidade e com a exigência de impecável de que cada fibra deve ocupar com precisão o seu devido lugar. Acredita-se que a célula alvo contenha as substâncias químicas que exercem o papel de atrair a 'fibra certa' com a qual se deve ligar. Convém registrar que, enquanto temos milhões de gens, as ligações entre os neurônios são de tal forma numerosas que, para desligá-las, uma a uma, a cada segundo, seriam necessários 32 milhões de anos para completar a tarefa. Portanto, temos muito pouco material genético para, por si só, direcionar todas essas informações. 
Em outras palavras, a quantidade de informação contida no código genético é muito menor do que a necessária para descrever (ou mapear) as conexões neurais. De onde vem essa informação adicional? O problema aqui é que, embora se possa ter ideia dessas diferenças de informação, ninguém consegue quantificá-las corretamente. Mas, a necessidade de perfeição no concerto dessas ligações indica que alguma força adicional está em operação. Como a neurologia é conhecimento essencialmente descritivo, inexiste qualquer evidência sobre como essa força poderia operar, é como se apenas dispuséssemos da descrição de prédios e ruas do centro de uma metrópole sem poder saber absolutamente nada sobre as forças subjacentes que os utilizam durante a maior parte do tempo.

Outra parte interessante está na pagina 47. O autor considera que as estruturas encefálicas necessárias para a inteligência do homem moderno já estavam prontas a 100 mil anos atrás. Ainda assim, ele considera:
Podemos questionar, então, porque só tão recentemente fomos capazes de construir cidades, as pirâmides, a esfinge e redigir livros sagrados, considerando que a disponibilidade do cérebro já podia nos permitir desempenhar essas funções muito tempo antes. Pressuponho que a magnitude e a rapidez desse avanço, que ocorreu nesses últimos 250 séculos, deve ter sido precipitado ela vinda de criaturas, mais desenvolvidas, que vieram habitar entre nós, exercendo um papel de enxertia para a espécie humana. 
Uma observação pode ser válida aqui: é possível que a história que conhecemos seja apenas um esboço precário da verdadeira história pregressa dos últimos 100 mil anos. É possível que nossa história verdadeira tenha começado muito tempo antes dos 6 mil anos a. C. De qualquer forma, é interessante considerar que a arqueologia e antropologias modernas especifiquem um 'surto' evolutivo para a cultura humana apenas nos últimos 25 mil anos, enquanto que o cérebro moderno já estava disponível 100 mil anos antes. Isso pode corroborar a noção de nossa cultura tenha sido auxiliada pela vinda em massa de Espíritos mais evoluídos. Essa 'vinda' em nada teve de extraordinária: ela se deu pelas vias normais do nascimento comum e nada teve a ver com  uma 'invasão' extraterrestre. Assim, nenhuma evidência física dela será encontrada, apenas um surto de desenvolvimento, que é assinalado pelos estudos arqueológicos sem nenhuma explicação aparente.

Em 'Reconhecendo a Mente', é feita a primeira abordagem da necessidade de se incluir a Alma ou Espírito no quadro puramente descritivo das ciências neurológicas. Isso é feito pelo autor evocando-se tratados antigos de diversas culturas que reconheciam a existência de uma individualidade que é preservada além da morte. É importante considerarmos aqui que a postulação da existência da Alma não parte de uma necessidade meramente neurológica. De fato, podemos ter dificuldades em explicar a falta de informação no código genético para explicar as ligações neurais, mas o Espírito (sua existência e sobrevivência) vem como base independente dessas considerações. De uma maneira diferente dos capítulos iniciais, Facure descreve conceitos como Tempo, Matéria e Energia adentrando em conceitos primitivos de Relatividade e Física Quântica para justificar aparentemente a incompletude das descrições neurológicas da mente.

O Cérebro e a Mediunidade

O que também chama a atenção em 'O Cérebro e a Mente' é a tentativa de desenvolvimento da noção de Kardec de que a mediunidade tem a ver com a organização física do médium que, para Facure, sugere uma ligação estreita com a estrutura cerebral (o que daria origem a uma 'neurologia da mediunidade'). Nesse sentido, todos os tipos de mediunidade (mesmo aqueles que se poderiam considerar os mais 'físicos') passam pelo filtro do cérebro para que possam se manifestar. Isso contrasta fortemente com a opinião algo generalizada de que mediunidade deva ser algo 'místico'. E, também, sugere não se poder falar em mediunidade absolutamente mecânica, quando o médium apenas transmite o que recebe sem nenhum tipo de interferência. Esboços em direção ao desenvolvimento dessa ideia podem ser encontrado na pag. 84 ('Psicografia e Pintura Mediúnica'):
Com o desenvolvimento mediúnico, a psicografia e a pintura mediúnica manifestam-se claramente como expressões de automatismos cerebrais, nos quais o Espírito comunicante se utiliza dos núcleos da base e das áreas motoras complementares para executar a tarefa. Por isso, ambos, a psicografia e a pictografia, são executados com extrema rapidez; a caligrafia com frequência é ampliada e não há necessidade de acompanhamento da visão por parte do médium, porque ele já está treinado para execução do texto ou da pintura.
E não apenas isso. O conhecimento da maneira como o cérebro opera a codificação dos sinais visuais para fornecer ao Espírito a visão integral de um objeto (1) parece ser essencial para compreender as diferenças que existem entre descrições de diversos médiuns videntes. Mais recentemente, em seu blog, Facure discute uma possível explicação para esse fenômeno (2). Ele fala, por exemplo, que um paciente epilético pode descrever uma maçã sem cor. Isso acontece porque diferentes parcelas de informação de uma imagem vão para áreas diferentes do cérebro. Portanto, como a mediunidade está essencialmente ligada a estrutura física do cérebro, então diferentes médiuns poderão descrever diferentes aspectos de uma cena exterior, uma vez que essa faculdade dificilmente estará uniformemente desenvolvida entre eles (trata-se de uma nova faculdade em desenvolvimento na espécie Homo Sapiens). A Psicometria (capacidade de certos médiuns de conhecer a história pregressa de objetos físicos simplesmente ao tocá-los) é uma extensão das funções do tato ordinário que são processadas no lobo parietal. Dessa forma, prevê-se que as variedades (e intensidades) mediúnicas seriam tão grandes quanto as variedades de funções cognitivas disponibilizadas pelas diversas estruturas do cérebro. A nós parece que o Dr. Nubor Facure é um pioneiro na extensão desses conceitos oriundos de modernas descobertas da neurologia para indicar uma caminho a ser seguido na pesquisa da mediunidade no futuro. 

O leitor poderá encontrar ainda vários neologismos usados pelo autor no livro (tal como a palavra psicognosia com significado específico dado por ele), além do conceito do inconsciente neurológico. Na parte final do livro há um instrutivo quadro cronológico sobre as descobertas da neurologia, onde não deixam de figurar as contribuições de Kardec e de outros investigadores para a compreensão integral do ser humano. Não é possível estabelecer uma ciência da Mente onde o Espírito seja dela derivado a partir de observações da neurologia, assim sendo:
Estando presos à realidade física que nos limita, não poderemos explicar a fisiologia dessas aptidões. Todas elas estão ligadas a uma capacidade da Alma que utiliza também o cérebro, mas transcende a sua fisiologia. (pag. 97)
Pelo menos, isso ainda não ocorreu. Mas, certamente, o livro do Dr. Nubor Facure nos ajuda a aprender um pouco mais sobre o assunto.

Dados da obra

Título:  O Cérebro e a Mente, uma conexão espiritual.
Autor: Dr. Nubor O. Facure
Na nossa edição, não pudemos encontrar o ISBN dessa obra.
Número de páginas: 174.






Referências
  1. Com relação à maneira como o cérebro interpreta inicialmente a informação visual, uma descrição para os leigos pode ser encontrada no Capítulo 4 do livro 'Fantasmas no Cérebro' de V. S. Ramachandran (Ed. Record, Rio de Janeiro, 2004). Segundo este autor, existem cerca de 30 áreas no cérebro associadas ao processamento separado da informação visual. 
  2. Ver 'Mediunidade a visão das cores' postado em 26/11/11 no blog do Dr. Nubor Facure. Há outros posts sobre o assunto  mediunidade também.

Um comentário:

  1. FIquei fascinado pela psicometria, se bem que o nome psicometria é pouco pelo o que ela pode fazer…
    Assim, gostaria de, se possível, ser agraciado com artigos e/ou dicas de livros/vídeos/entrevistas e correlatos, que contenham relatos consubstânciados, os mais detalhados e variados possívies, no que concerne a atuação (médios afins) da psicpmetria em relação à arqueologia tais como:
    … quem construiu, e por que: as pirâmides; a esfinge; Göbekli Tepe – Şanlıurfa – na Turquia; Ruinas de Puma Punku – na Bolívia; Mistério de Baalbek – Vale Bekaa – Líbano; os Moais na Ilha de Páscoa; Stonehenge – planície de Salisbury – na Inglaterra; Newgrange – Vale do Boyne – na Irlanda; A Fortaleza de Sacsayhuaman – Cusco – no Peru; Linhas de Nazca no sul do Peru; etc…
    Desde já agradeço,
    Fraternal Abraço,
    Jonsu Vasq.
    vasq@ig.com.br

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