Algumas observações nas bases de 'O Psi Quântico - Uma extensão dos conceitos quânticos e atômicos à ideia do espírito'
Ultima parte da sequência de três posts de Alexandre Fontes da Fonseca.
Vamos analisar agora alguns conceitos presentes na obra "Psi Quântico - Uma extensão dos conceitos quânticos e atômicos à ideia do Espírito" [2]. Ela inicia-se com uma interessante revisão de conceitos do átomo na antiguidade, passando pela descrição sucinta dos experimentos que levaram à descoberta da estrutura atômica da matéria. EM seguida, ao fim do capítulo II, Hernani comenta que irá se utilizar de modelos atômicos “... quando tentarmos abordar o problema da matéria psi.”. Por que o autor teria modificado sua ideia inicial de propor uma teoria corpuscular *do espírito* para, agora, descrever algo que ele chama de matéria psi? Estaria ele apenas mudando os nomes? Ou reviu sua ideia inicial e passou a considerar sua teoria como sendo para os fluidos espirituais? O capítulo III parece responder a essa questão. Na pág. 58, Hernani diz:
“À outra realidade demos o nome de mundo psi, em contraposição a esta nossa realidade que denominamos mundo físico (no sentido material normal). O mundo psi seria também material, porém constituído de outra espécie de matéria.” (Grifos em negrito, meus).
Aparentemente, essa afirmativa parece se referir
à parte fluídica do mundo espiritual. Infelizmente, porém, na página 97 ele diz
que
“... a matéria psi é a substância de que são feitos os Espíritos e demais seres ou objetos do mundo espiritual”. (Grifos em negrito, meus).
Essa afirmação suscita mais dúvidas do que certezas. Isso porque, se a matéria psi é a substância de que são feitos os Espíritos e os objetos do mundo espiritual, então, onde estaria o princípio inteligente? Uma única substância não poderia servir para os Espíritos e os objetos fluídicos ao mesmo tempo. Se a intenção era modelar apenas os fluidos espirituais, deveria ser dito que a teoria era para o perispírito, e não para o Espírito, que, de acordo com o Espiritismo, é um ser duplo, formado de Alma + Perispírito (itens 10 a 14 de O Que é o Espiritismo [9]). Como a teoria propõe que a Alma seja um campo magnético, então na prática a teoria está definindo o Espírito como sendo feito da mesma substância que os fluidos e, portanto, que o princípio inteligente é algo de natureza idêntica à material.
Capa de 'Psi Quântico'. |
Contamos na obra [2] 14 hipóteses propostas de maneira ad hoc, isto é, colocadas à mão. Isso é
um detalhe que enfraquece a teoria.
O
cap. V de [2] é dedicado à apresentação do conceito de psiátomo. Neste capítulo, entretanto, encontramos uma afirmação
contraditória. Na pág. 94 é dito que:
“Postulamos que as propriedades da matéria psi seriam decorrentes desse aumento no número de dimensões.” (Grifos em negrito, meus).
Daí, Hernani enumera cinco propriedades da matéria psi:
“1) capacidade de vivificar a matéria física; 2) ser suscetível de sofrer a influência modeladora do pensamento organizado; 3) possuir um psiquismo latente e capaz de desenvolver-se por meio de uma auto-organização; 4) capacidade de transmitir, receber e acumular informação; 5) possibilidade de influenciar, de certa forma, a matéria física, emprestando-lhe algumas de suas propriedades.”
Hernani afirma que as propriedades
da matéria psi decorrem do aumento do número de dimensões. Porém não explica como
as propriedades de 1) a 5) decorrem do aumento do número de dimensões. A falta
de explicação é um ponto fraco da teoria.
Na ausência
de explicações para o primeiro postulado da teoria do Psi Quântico, podemos inferir que, na verdade, as cinco propriedades
são os cinco primeiras hipóteses da teoria.
No
cap. V de [2], na seção intitulada “Psipartículas”, lemos a sexta hipótese
colocada à mão na teoria (pág. 95):
“Propomos admitir-se que as três propriedades comuns aos seres vivos, por nós escolhidas como fundamentais, possam manifestar-se em grandezas diversas, múltiplas inteiras de um quantum indivisível que seria a unidade básica de cada uma delas.” (Grifo em negrito, meu).
Não havendo nada que justifique a
quantização dessas propriedades comuns aos seres vivos, Hernani as apresenta
como postulado. Há vários problemas nisso como comentado nos posts anteriores.
Na seção
intitulada “O Bíon”, do cap. V de [2], na pág. 102, Hernani afirma:
“Visando a acompanhar mais de perto as convenções adotadas para as partículas subatômicas físicas, vamos atribuir também ao bíon uma carga negativa.” (Grifos em negrito, meus).
Esta é a sétima hipótese. Como não
há como verificar experimentalmente a existência de carga elétrica nas
psipartículas, Hernani se vê obrigado a formulá-la como uma hipótese
fundamental da teoria. Note a imprecisão e inconsistência da teoria ao perceber
que as propriedades da matéria psi de 1) a 5), que foram postuladas no começo
do cap. V, não decorrem somente da hipótese de que as psipartículas são
quadridimensionais. Essas propriedades dependem diretamente dessas hipóteses
adicionais feitas por Hernani.
Na
mesma seção, Hernani apresenta sua oitava hipótese (pág. 103):
Ilustração do 'psi-átomo' proposto por Hernani G. Andrade. |
“Quando associados às estruturas psiatômicas, os bíons fazem parte das camadas externas dos átomos psi. Ali, eles se distribuem em regiões discretas, ocupando órbitas bem definidas, caso escolhamos um modelo para o psiátomo, semelhante ao de “Rutherford-Bohr”, a fim de descrevê-lo.”
Novamente, sem poder realizar qualquer experimento a
respeito da estrutura atômica do psiátomo, o autor apresenta sua oitava hipótese como um postulado, que é a de que o psiátomo possui
estrutura similar à de um átomo material. Ele faz a ressalva de que essa
estrutura é quadridimensional. Porém, até o presente momento, Hernani ainda não
afirma o que ele considera ser a quarta dimensão, se o tempo ou uma outra dimensão
espacial. Se for espacial, antes de levar adiante a teoria, seria interessante verificar
a existência de soluções da equação de onda da Mecânica Quântica para um
sistema quadridimensional. Como deveria ser a interação de Coulomb para
determinar os auto-estados do sistema? Como são os orbitais, e que valores
teriam os momentos angulares? Na literatura acadêmica, há estudos que tentam descobrir os efeitos de se considerar mais uma dimensão do espaço (ver, por exemplo, artigo da Ref. [10]). Para que tudo ficasse consistente com o que é conhecido na matéria, seria necessário que houvesse um potencial 'infinito' que reduzisse a influência da 4a dimensão. A existência desse potencial ainda está para ser verificada, pois resultaria em efeitos bem definidos na matéria ordinária.
A nona hipótese da teoria do Psi Quântico (pág. 103) é:
“Na condição de correntes biônicas, os bíons produzem um campo de natureza magnética. É o campo biomagnético, semelhante ao campo magnético gerado por um ou mais elétrons em movimento. O campo biomagnético tem um papel proeminente no fenômeno da vivificação da matéria orgânica.”
Na incapacidade experimental de verificar a existência dos bíons e de seus campos magnéticos, eles têm que ser postulados. Isso mostra a insuficiência do primeiro postulado da teoria de Hernani que diz que a capacidade de vivificar a matéria, decorre apenas do aumento do número de dimensões. Isso é um exemplo de incoerência interna da teoria.
A décima hipótese da teoria (pág. 103):
A décima hipótese da teoria (pág. 103):
“Postulamos, mais adiante, que os eléctrons, nas órbitas electrônicas do átomo físico, também podem gerar um campo biomagnético (CBM) dirigido para o hiperespaço. Desse modo se estabelece a interação entre os átomos físicos e os psiátomos.”
De novo, sem poder constatar experimentalmente a existência de bíons e a interação com elétrons, o autor introduz isso como mais um postulado. Se o elétron não puder interagir com o campo biomagnético, não haverá interação entre psiátomos e átomos.
O percepton é proposto de modo semelhante ao que foi apresentado na Teoria Corpuscular do Espírito. Porém, na descrição do Psi Quântico, encontramos mais uma hipótese colocada à mão (pág. 105), a décima primeira hipótese:
O percepton é proposto de modo semelhante ao que foi apresentado na Teoria Corpuscular do Espírito. Porém, na descrição do Psi Quântico, encontramos mais uma hipótese colocada à mão (pág. 105), a décima primeira hipótese:
“O percepton teria também implicações com a função psi-gamma, ou seja, a percepção extra-sensorial (ESP).”
Para acomodar a teoria às novas
observações da Parapsicologia, Hernani não consegue fugir ao artifício de
acrescentar à mão mais propriedades
que não pode mensurar.
Há um
comentário no mínimo estranho, feito na pág. 106:
“O percepton deve ser receptivo a qualquer estímulo. Por isso, sua natureza energética precisa ser neutra. Em outras palavras, o percepton isoladamente é bioenergeticamente neutro.”
O que a neutralidade energética
teria a ver com ser receptivo a qualquer
estímulo? Acreditamos que o autor inverteu a lógica das coisas: pois um bom
sensor é aquele capaz de
interagir com qualquer tipo de estímulo externo, o que significa que o sensor é
energeticamente ativo e influenciável. Um bom sensor tem que ser capaz de
alterar seu estado físico para registrar a diferença devido ao registro do
estímulo. Logo, ele não deve ser energeticamente neutro.
Ainda
na seção sobre o percepton, na pág. 106, a décima segunda hipótese é apresentada:
“No entanto, devemos postular que ele possa ligar-se ao intelecton, para compor o núcleo do psiátomo. Esta ligação será análoga à que ocorre entre o nêutron e o próton ao formarem os núcleos dos átomos físicos.”
Se o percepton tem que ser bioenergeticamente neutro,
então como ele pode interagir com o intelecton, que é bioenergeticamente ativo?
(Ele tem carga bioenergetica positiva que atrai o bíon.) Essa é outra inconsistência
interna não explicada nem resolvida pela teoria.
Na
seção intitulada “O Intelecton”, pág. 106, vemos a décima terceira hipótese: “Postulamos atribuir ao intelecton uma carga
bioenergética positiva.” Novamente, essa hipótese é introduzida à mão por falta de experimentos que revelem tanto a existência quanto as propriedades
dos intelectons.
Incoerência
de conceitos físicos
Na
pág. 107, ao falar do “Modelo do Psiátomo”, Hernani diz que:
“As diferenças entre as psipartículas e as partículas físicas resultam sobretudo das propriedades oriundas do número de dimensões das mesmas. Essencialmente falando, a natureza íntima de todas as duas categorias de partículas é a mesma, ou seja, energia simplesmente. (...) Ao adquirir quatro dimensões, uma estrutura energética assume propriedades as mais inusitadas, entre as quais conhecemos algumas atribuídas aos objetos vivos, aos corpos espirituais, ou as observadas nos fenômenos paranormais.”
(Grifo em negrito, meu)
Se “essencialmente falando”, a natureza íntima de psipartículas e
partículas é a mesma, então não deveria haver diferenças, ou as diferenças
deveriam ser explicadas apenas em termos das energias ou dos possíveis estados de
energia de cada partícula. Porém, não há nenhuma explicação em termos de
energia, somente a afirmação de que “uma
estrutura energética assume propriedades as mais inusitadas” ao se considerar
mais dimensões. De um lado, essa afirmação pode ser verdade, porém, ao dizer que
“conhecemos” essas propriedades
inusitadas como sendo decorrentes da quarta dimensão, há um equívoco de informação.
A única coisa que temos são indícios, através de fenômenos de materialização e
de transporte, de que talvez exista uma quarta dimensão espacial que pode ser usada
pelos Espíritos para executar esses fenômenos. Mas não sabemos o que acontece
com as propriedades de um objeto físico quando se considera que ele é quadridimensional.
Aliás, o fato de os Espíritos poderem mover um corpo através da quarta dimensão,
provaria que qualquer objeto é, na verdade, quadridimensional e que apenas não é
ordinariamente movido através da quarta dimensão.
Campo
biomagnético - Décima quarta hipótese
Na
seção intitulada “Conceito de Campo Biomagnético”, do cap. VI, na pág. 123 é
dito que:
“Como explicamos no início deste subcapítulo, a principal característica do CBM é a sua possibilidade de transitar do espaço físico para o hiperespaço e, vice-versa, do hiperespaço para o espaço físico. Esta condição faz pressupor que o CBM possa ser também gerado pelos átomos da matéria física. Podemos postular esta circunstância, estabelecendo, portanto, que todos os átomos materiais possuem um campo de natureza magnética dirigido para o hiperespaço.” (Grifo em negrito, meu).
Mais uma hipótese colocada à mão. Interessante destacar aqui o
comentário de Hernani a respeito da teoria de campos “M” e “B” de Wassermann.
Iniciando na pág. 121, o autor comenta que:
“Enquanto Wassermann tenta aplicar os campos “M” e “B” a fenômenos puramente biológicos, ele parece estar razoavelmente correto. Mas as dificuldades surgem justamente quando se abordam os fenômenos psi. A aplicação da teoria torna-se difícil, exigindo um número muito grande de hipóteses ad hoc.” (Grifos em negrito, meus).
Aqui, o autor critica exatamente o que ele próprio faz ao
apresentar uma série de hipóteses à mão.
O termo ad hoc é uma expressão latina
cuja tradução literal é "para isto"
ou "para esta finalidade".
Logo, uma hipótese ad hoc é uma
hipótese colocada à mão para alguma
finalidade explicativa.
Erros de
Física 1: Força centrífuga
Na
seção intitulada “O Magnetismo na Matéria”, do cap. VII, na pág. 134, Hernani
afirma que:
“Focalizemos, agora, exclusivamente os átomos físicos, constituintes da nossa matéria física. Raciocinemos apoiados no modelo de Bohr. Neste modelo, os elétrons gravitam ao redor do núcleo. O núcleo tem cargas positivas que atraem os eléctrons. Estes se mantém afastados do núcleo; não caem sobre ele porque estão em movimento circular, mantendo-se em suas órbitas, como ocorre com os planetas, devido à força centrífuga.”(Grifos em negrito, meus).
Em nenhuma parte do modelo de Bohr, encontramos a afirmativa de que os elétrons não caem sobre os núcleos por causa de forças centrífugas. No caso de planetas, eles não se mantêm em suas órbitas por causa de forças centrífugas, mas por causa da resultante das forças gravitacionais serem do tipo centrípetas [11].
Erros de Física 2: Tensionamento do átomo
Na seção intitulada “O CBM da Matéria”, Hernani afirma na pág. 139 que:
“Os eléctrons circulando ao redor do núcleo, equivalem a uma bobina esférica. Isto deverá provocar uma espécie de “pressão” magnética tensionando o átomo, de dentro para fora. O campo gerado nestas condições deverá achar-se no hiperespaço contíguo ao átomo. Nós não podemos detectar diretamente o referido campo, mas é provável que ele exista. O campo acima aludido está dirigido para a quarta dimensão e tem natureza magnética.” (Grifo em negrito, meu)
Elétrons circulando ao redor do
núcleo não equivalem a uma bobina esférica. Isso porque, numa bobina esférica macroscópica, muitas cargas (elétrons) nela se movimentam, enquanto que um orbital
eletrônico pode conter apenas dois elétrons (de spins diferentes). Cada elétron
não pode gerar força sobre sua própria trajetória, pois, segundo a Mecânica
Quântica, o auto-estado do elétron ou seu nível eletrônico depende do hamiltoniano
do sistema completo formado por prótons e elétrons. O correto teria sido utilizar
a análise oriunda da teoria quântica para momentos angulares, para descrever o
magnetismo eletrônico. Nisso reside a falta de consistência na formulação da
teoria de Hernani, pois se a quantização da vida foi uma proposta conveniente
para a teoria, a aplicação da teoria quântica na descrição da dinâmica dessas
partículas não deveria ter sido esquecida.
Dentre os possíveis estados
quânticos devido ao movimento angular dos elétrons, existem quatro tipos de orbitais
representados pelas letras s, p, d
e f. O orbital tipo s é o mais simples e tem forma esférica.
O orbital tipo p tem orientação ao
longo de uma das direções do espaço, e os orbitais d e f possuem formas
ainda mais complicadas. O orbital tipo s,
por ter simetria esférica, corresponde a um valor total de momento angular nulo
e, consequentemente, momento de dipolo magnético nulo. Os outros orbitais possuem momento total não nulo, mas se uma camada atômica estiver totalmente preenchida, a somatória vetorial dos momentos angulares será nula. Por isso que o campo
magnético resultante da maioria dos elementos é nula.
É oportuno, aqui, mencionar algo a respeito da história do famoso experimento de Stern-Gerlach que é ensinado nos cursos de Física como aquele que demonstra a existência do spin do elétron [4]. Isso é correto, porém, na verdade, Stern e Gerlach não pretenderam demonstrar a existência do spin, já que isso não era conhecimento na época do experimento, dentre 1921 e 1922 [12]. Eles usaram feixes formados por átomos de prata na intenção de, no fundo, demonstrar o modelo atômico de Bohr que postulava a quantização do momento angular e, consequentemente, esperavam que o feixe de átomos de prata se dividisse em dois, como de fato ocorreu [12]. O que eles não sabiam, e que ficou claro posteriormente, é que, na verdade, o feixe de átomos de prata se dividiu em dois por causa do magnetismo associado ao spin do elétron de valência do mesmo. O átomo de prata possui 47 elétrons, de onde 46 formam camadas fechadas e completas, o que implica num momento angular total nulo. O último elétron que é o de valência, está no orbital 5s que, como dito acima, por ter simetria esférica, tem momento angular nulo. Logo, os efeitos magnéticos sobre os átomos de prata não podiam decorrer do magnetismo orbital, mas apenas do spin deste elétron. Isso mostra como não se pode inferir consequências sem uma análise completa de todas as propriedades e características do sistema físico em questão, e reforça o comentário de que sem levar em conta a quantização do momento angular, a análise das propriedades magnéticas de átomos materiais e espirituais da teoria de Hernani se torna incapaz de descrever a realidade.
Assim como os estados eletrônicos são soluções possíveis da equação de onda de Schrödinger [4], esses orbitais são todos estáveis e os elétrons, nesses estados, estão em equilíbrio, não se sentindo tensionados, nem implicando em tensionamento do espaço.
É oportuno, aqui, mencionar algo a respeito da história do famoso experimento de Stern-Gerlach que é ensinado nos cursos de Física como aquele que demonstra a existência do spin do elétron [4]. Isso é correto, porém, na verdade, Stern e Gerlach não pretenderam demonstrar a existência do spin, já que isso não era conhecimento na época do experimento, dentre 1921 e 1922 [12]. Eles usaram feixes formados por átomos de prata na intenção de, no fundo, demonstrar o modelo atômico de Bohr que postulava a quantização do momento angular e, consequentemente, esperavam que o feixe de átomos de prata se dividisse em dois, como de fato ocorreu [12]. O que eles não sabiam, e que ficou claro posteriormente, é que, na verdade, o feixe de átomos de prata se dividiu em dois por causa do magnetismo associado ao spin do elétron de valência do mesmo. O átomo de prata possui 47 elétrons, de onde 46 formam camadas fechadas e completas, o que implica num momento angular total nulo. O último elétron que é o de valência, está no orbital 5s que, como dito acima, por ter simetria esférica, tem momento angular nulo. Logo, os efeitos magnéticos sobre os átomos de prata não podiam decorrer do magnetismo orbital, mas apenas do spin deste elétron. Isso mostra como não se pode inferir consequências sem uma análise completa de todas as propriedades e características do sistema físico em questão, e reforça o comentário de que sem levar em conta a quantização do momento angular, a análise das propriedades magnéticas de átomos materiais e espirituais da teoria de Hernani se torna incapaz de descrever a realidade.
Assim como os estados eletrônicos são soluções possíveis da equação de onda de Schrödinger [4], esses orbitais são todos estáveis e os elétrons, nesses estados, estão em equilíbrio, não se sentindo tensionados, nem implicando em tensionamento do espaço.
Portanto, a analogia entre o campo gerado na terceira dimensão por uma espira de corrente no mundo bidimensional e o campo gerado na quarta dimensão por elétrons circulando ao redor do núcleo não é correta, nem serve de base para considerarmos a existência dos campos biomagnéticos. A única forma de comprovar isso seria medir a existência de campos biomagnéticos sem causa material, mas o próprio autor afirma que “nós não podemos detectar diretamente o referido campo”. Na falta de uma comprovação, mesmo que indireta, essa proposta teórica não tem utilidade.
Conceito
5. "Massa" do Espírito
No
cap. VIII, na seção intitulada “Polarização Magnética da Psimatéria”,
encontramos uma análise curiosa da densidade da psimatéria. Hernani, na pág.
148, estima valores dessa densidade com base em informações antigas de
experimentos de pesagem de Espíritos durante o desencarne [13]. Ele encontrou
valores da ordem de ~ 9 x 10-4 g/cm3, 10 vezes maior,
portanto, que a densidade do hidrogênio, estimada em ~ 9 x 10-5 g/cm3.
Se a matéria psi tiver essa densidade, então independente da sua evolução, jamais um Espírito desencarnado pode se aproximar de uma estrela como o Sol, pois será capturado e preso pela sua enorme atração gravitacional. Essa ideia é mais um exemplo da diferença entre a teoria de Hernani e os princípios espíritas, que sustentam a independência entre o mundo espírita e o material.
Conclusões
O espaço não permite analisar todos os detalhes críticos de ambas as teorias, porém, citamos algumas que destacam a incapacidade dessas teorias para descrever a realidade espiritual do ser. Os pontos falhos são apenas com relação à teoria, enquanto que Hernani, autor das mesmas, continuará sempre merecendo nosso maior e profundo respeito pelo enorme trabalho de divulgação dos fenômenos espíritas, bem como na investigação de diversos deles.
Apenas frisamos que, se de um lado constatamos que as críticas ao Espiritismo carregam vieses pessoais e oriundos de visões materialistas da natureza, precisamos saber reconhecer os erros de teorias que saem às vezes de mãos e mentes espíritas, para que possamos dar um testemunho legítimo de fé raciocinada, isto é, de uma fé que tem consciência naquilo que crê e que é capaz de “encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade”.
Referências:
[1] H. G. Andrade, A Teoria Corpuscular do Espírito, re-impresso pela Editora DIDIER, Votuporanga, (2007).
[2] H. G. Andrade, Psi Quântico - Uma extensão dos conceitos quânticos e atômicos à ideia do Espirito, 3ª edição, Editora Pensamento LTDA, São Paulo (1991).
[3] S. S. Chibeni, “O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso”, Reformador Agosto, p. 37 (2003); Setembro, p. 38 (2003); Outubro, p. 39 (2003).
[4] R. Eisberg e R. Resnick, Física Quântica – Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas, Editora Campus, 21a. Reimpressão (1979).
[5] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 1ª. edição, Rio de Janeiro (2006).
[6] D. Halliday, R. Resnick e J. Walker, Fundamentos da Física – Volume 3 – Eletromagnetismo, Editora LTC, 8a. Edição (2009).
[7] I. Prigogine, Introduction to Thermodynamics of Irreversible Processes. 3rd edition, Wiley Interscience, New York (1967).
[8] L. J. Norrby, "Why is mercury liquid? Or, why do relativistic effects not get into chemistry textbooks?" Journal of Chemical Education, 68, 110 (1991).
[9] A. Kardec, O Que É O Espiritismo, Ed. FEB, 1ª Edição de bolso, Rio de Janeiro (2008).
[10] F. H. J. Cornish, "The hydrogen atom and the four-dimensional harmonic oscillator", Journal of Physics A: Mathematical and General, 17, 323 (1984).
[11] D. Halliday, R. Resnick e J. Walker, Fundamentos da Física – Volume 1 – Mecânica, Editora LTC, 8a. Edição (2009).
[12] G. G. Gomes e M. Pietrocola, “O experimento de Stern-Gerlach e o spin do elétron: um exemplo de quasi-história”, Revista Brasileira de Ensino de Física, 33, 2604 (2011).
[13] D. MacDougall, “Hypothesis Concerning Soul Substance, Together with Experimental Evidence of the Existence of Such Substance”, Journal of the American Society for Psychical Research, May (1907).
Links
1/3 - Análise de 'A Teoria Corpuscular do Espírito' e 'Psi quântico' (por Alexandre F. da Fonseca)
2/3 - Análise de 'A Teoria Corpuscular do Espírito' e 'Psi quântico' (por Alexandre F. da Fonseca)
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