24 de agosto de 2012

O que é a morte ? (Victor Hugo*)

"A morte é uma continuação. O meu olhar penetra o mais que é possível nessa sombra, onde vejo, a uma profundidade que seria amedrontadora, se não fosse sublime, dealbar-se o imenso arrebol da eternidade."

O que é que faz o homem livre?

A alma. Quem diz livre, diz responsável.

Responsável por tudo nesta vida?

Efetivamente não, porquanto nada há mais demonstrado do que a prosperidade possível e frequente dos maus e o infortúnio imerecido dos bons durante a sua passagem sobre a Terra.

Quantos homens justos não tiveram só angústias e misérias até o seu derradeiro dia? Quantos homens criminosos viveram até a mais extrema velhice no gozo pacífico e sereno de todos os bens deste mundo, neles incluindo a consideração e o respeito de todos! É o homem, então, responsável depois da vida? Evidentemente sim, pois que não o é durante ela. Alguma coisa dele sobrevive para submeter-se a essa responsabilidade: a alma.

A liberdade da alma explica a sua imortalidade. A morte não é, portanto, o fim de tudo. Ela não é senão o fim de uma coisa e o começo de outra. Na morte o homem acaba, e a alma começa. Tome-se por testemunho o que considerar do rosto de um ente amado com essa ansiedade estranha feita de esperança e de desesperança. Digam esses que atravessaram essa hora fúnebre, a última alegria, a primeira do luto, digam se não é verdade que bem se sente que ainda há ali alguém, que tudo não acabou?

Sente-se em roda dessa cabeça como o frêmito de asas que acabaram de expandir-se, uma palpitação confusa e inaudita que flutua no ar ao redor desse coração que não mais bate. Essa boca aberta parece chamar o que acaba de partir e dir-se-ia que deixa cair palavras obscuras no Mundo Invisível.

Eu sou uma alma.

Bem sinto que o que darei ao túmulo não é o meu Eu, o meu Ser. O que constitui o meu Eu, irá além.

Terra, tu não és o meu abismo.

O homem outra coisa não é senão um cativo.


O prisioneiro escala penosamente os muros da sua masmorra, sobe de saliência em saliência, coloca o pé em todos os interstícios para alcançar o respiradouro. Aí, olha, distingue ao longe a campina, aspira o ar livre, vê a luz.

Assim é o homem.

O prisioneiro não duvida que encontrará a claridade do dia, a liberdade. Como pode o homem duvidar se vai encontrar a Eternidade a sua saída? Por que não possuirá ele um corpo sutil, etéreo, de que nosso corpo humano não é nada mais que grosseiro esboço?

A alma tem sede do absoluto e o absoluto não é deste mundo. É por demais pesado para esta Terra. Há duas leis, a lei dos globos e a lei do Espaço. A lei dos globos é a morte. O limite exige a destruição. A lei do Espaço é a Eternidade. O Infinito permite a continuação.

Entre os dois mundos, entre as duas leis, há uma ponte: a transformação. A ambição do vivo dos globos deve ser, pois, tornar-se um vivo no Espaço.

O mundo luminoso é o Mundo Invisível. O Mundo do Luminoso é o que não vemos. Os nossos olhos carnais só vêem a noite. Ai do que vive com os olhos abertos sobre o mundo material e com as costas voltadas para o mundo desconhecido!

A morte é uma mudança de vestimenta.

Alma, tu estavas vestida de sombra, agora vais te vestir de luz. É no túmulo que o homem faz o último progresso.

Na morte, o homem se torna sideral. A morte é a vindita da alma. A vida é o poder que tem o corpo de manter a alma sobre a Terra, pelo peso que faz nela. A morte é o poder que tem a alma de arrebatar o corpo fora da Terra pela assimilação.

Na vida terrestre, a alma perde o que irradia. Na vida extraterrestre, o corpo perde o que pesa.

A morte é uma continuação. O meu olhar penetra o mais que é possível nessa sombra, onde vejo, a uma profundidade que seria amedrontadora, se não fosse sublime, dealbar-se o imenso arrebol da eternidade.

As almas passam de uma esfera para outra, tornam-se cada vez mais luz, aproximam-se cada vez mais e mais de Deus.

O ponto de junção é o infinito.

O que dorme e desperta, desperta e vê que é homem.

O vivo que morre, desperta e vê que é Espírito.


(*) Gostaria de agradecer a Jérémie Philippe por ter encontrado a referência original:  V. Hugo, "De la Vie et de la Mort", Extrait de Post-scriptum de ma vie, 1901. O texto acima é uma tradução de trechos extraídos desse trabalho original de Victor Hugo.

O texto corresponde, com algumas modificações, ao que pode ser encontrado no livro "O Espiritismo nas Ciências Contemporâneas - Textos selecionados dos terceiro e sétimo encontros nacionais da Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE)" (Ed. CCDPE-ECM, 2012).  No artigo "Algumas anotações sobre o Advento do Espiritismo" (p. 153-175) dessa referência, Eduardo C. Monteiro atribui sua autoria a Victor Hugo. 

19 de agosto de 2012

Crenças Céticas XXI: Será que o homem pousou na Lua?


"Ao lado desses céticos endurecidos, há aqueles que querem ver a sua maneira; que tendo formado uma opinião, querem com ela tudo relacionar: eles não compreendem que os fenômenos não possam obedecer a sua vontade; eles não sabem, ou não querem, se colocar nas condições necessárias." (A. Kardec, "O que é Espiritismo, 2o Diálogo, "O Cético").

É instrutivo comparar o ceticismo que existe contra determinados fenômenos de efeitos psíquicos (que passam por todas as classes de eventos mediúnicos - efeitos físicos etc) com o ceticismo em relação ao pouso lunar, que ocorreu pela primeira vez a 20 de julho 1969 e que se tornou um dos triunfos do projeto Apolo.

Em primeiro lugar, cumpre observar que várias características do pouso lunar (consequência do programa espacial americano da época) alimentam o ceticismo contra a sua ocorrência:
  1. Trata-se de um evento extremamente raro: em toda a história da Humanidade (que podemos datar como início a cerca de 10 ou 20 mil anos atrás) ele aconteceu algumas vezes;
  2. 'Pousar na lua' não pode ser facilmente reproduzido (ou, pelo menos, reproduzido quando se quiser) que é uma exigência comum de céticos para fenômenos considerados 'anômalos';
  3. O evento foi divulgado publicamente através de imagens de televisão e fotografia. Não havia 'testemunhas' in loco (além dos próprios astronautas) para 'comprová-lo'. Essas 'provas fotográficas' estão longe de serem suficientes para os céticos do evento. Como discutimos em nosso post anterior (2), há que se considerar a chance de fraude pela manipulação de imagens e videos. Confirmando nossa teoria do ceticismo, podemos encontrar inúmeros céticos do evento do pouso do homem na Lua, céticos que se dedicam a análises detalhadas da 'fraude do pouso lunar' (chamado em inglês, 'moon hoax', ver Referências 1) 
Usando esse feito notório como exemplo, podemos tirar várias lições interessantes com relação às dúvidas e questionamentos que um tipo muito comum de ceticismo tem em relação aos fenômenos mediúnicos (em particular os fenômenos de efeitos físicos). É que a raridade e grau de dificuldade em se reproduzir essas ocorrências contribuem para aumentar a suspeita de fraude. 'Teorias de fraude' se adaptam muito bem como 'explicações que fazem sentido' à mente refratária à existência de ocorrências insólitas ou muito raras.

O objetivo do pensamento expresso no texto no link da primeira referência em (1) está sinteticamente descrito nas suas palavras introdutórias:
"Este artigo foi escrito para provar de uma vez por todas que não estão dizendo a verdade sobre os filmes que a NASA tem das missões Apolo. Ele irá perturbar mesmo o cético mais empedernido e convencerá muitas pessoas de que todo o projeto Apolo do final dos anos 60 ao começo dos 70 não passou de uma fraude completa." (1)
Figura 1 Uma estratégia que os 'céticos do pouso lunar' tem em comum com os céticos dos fenômenos de efeitos físicos é a desqualificação de 'provas fotográficas'. 

O 'cético empedernido' aqui é justamente o 'crente no pouso lunar'. Analisemos a estratégia de desqualificação das provas. A Fig. 1 traz uma imagem tirada do site da referência (1). O texto diz:
"De uma olhada nessas imagens que são apresentadas aqui e veja como partes das cruzes da imagem desapareceram. Isso é impossível, a menos que o filme tenha sido violado. As cruzes devem estar sempre visíveis em todas as tomadas e não ocultas além de objetos na cena. A única solução para isso é que a NASA tenha sido obrigada a retocar certos objetos ou adicioná-los posteriormente sobre as cruzes!"
Outro exemplo é o da Fig. 2. Uma vez que os princípios da dúvida são os mesmos, a argumentação e a estratégia de desqualificação é idêntica. Fotos e imagens são 'analisadas' e demonstradas como sendo 'fraudulentas', acusando interesses ocultos de modificar qualquer registro produzido durante o evento (Ver também Ref. 2).

Figura 2. O texto diz: "Alguns dos sistema de iluminação dos 'vídeos oficiais da NASA' são muitos suspeitos. Esta imagem da NASA à esquerda deveria mostrar o astronauta na sombra completa porque o Sol está atrás dele mas, mesmo assim, por que seu corpo inteiro está iluminado? A imagem deveria se assemelhar à da direita, que é uma simulação feita por  David Percy." Dificilmente entra na cabeça do crítico aqui que o solo lunar é, para todos os efeitos, praticamente branco (como uma superfície salina) e a luz que ilumina o corpo do astronauta (à esquerda) provém desse reflexo. A explicação da direita é a correta para o crítico, pois ele realmente acredita na suposta fraude e despreza (ou desconhece) o efeito da superfície.
Inexiste assim limite para as teorias da dúvida e se podem fazer isso com o pouso lunar, também podem fazer o mesmo com qualquer evento ou fenômeno raro que exista. Portanto, concluímos novamente que o ceticismo dogmático não passa, ele sim, de uma fraude intelectual (3).

No passado, médiuns idôneos foram acusados de organizar uma operação para enganar e ludibriar comunidades ou cidades inteiras. Isso não é nada se comparado ao que fazem os autores da ref. 1 que acusam a agência americana (NASA) de ter orquestrado um acontecimento e ludibriado bilhões de pessoas no mundo a partir de 1969 e vários anos após.

Conclusão

O caso 'do pouso na Lua' é um prato cheio para as crenças céticas que acreditam que esse evento não passou de uma fraude perpetrada por altas autoridades dos governos mundiais (as chamadas teorias da conspiração). O tipo de estratégia de debunking ('refutação') que céticos do pouso lunar usam é exatamente o mesmo usado por céticos de carteirinha contra fenômenos de efeitos psíquicos, em particular os 'efeitos físicos'.

Ao se analisar atentamente o tipo de crítica, vemos que ela se aplica perfeitamente tanto ao primeiro pouso do homem na Lua como a um caso de materialização de Espíritos ou qualquer outro evento psíquico, fenômeno anômalo ou efeito raro que produz algum efeitos tangível registrável por imagens. Como as motivações para se duvidar são as mesmas, tanto as estratégias de 'desqualificação' dos fenômenos como a retórica da crítica são idênticas. 

Notas e referências