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11 de agosto de 2022

Katsugoro e outros casos de reencarnação no Japão.


"Onde você estava antes de nascer em nossa casa?"

O pequeno Katsugoro de oito anos perguntou a seus irmãos. Para sua surpresa, nenhum deles se lembrava de uma vida anterior como Katsugoro se lembrava. Neste livro, o linguista e parapsicólogo Ohkado Masayuki examina em profundidade esse importante caso sugestivo de reencarnação do Século 19, além de numerosos outros relatos contemporâneos de crianças japonesas que se lembram de vidas passadas. De forma única, o autor também explora casos de crianças que se lembram como estavam entre as vidas e, muitas vezes, mesmo como elas morreram nas vidas anteriores, bem como do intervalo de transição para uma nova vida. Suas descrições tem grandes semelhanças com relatos de experiência de quase-morte. Ainda em outros casos, as crianças relatam memórias antes da concepção, entre a concepção e o nascimento, frequentemente sem associação com memórias de vidas passadas. Ohkado argumenta que a evidência acumulada sugere fortemente que a consciência humana sobrevive à morte do corpo e continua a existir entre um corpo e outro. Esse livro demonstra que os pequeninos em torno de nós são seres espirituais conscientes, que podem ter tido experiências extraordinárias e profundas. 

O caso de Katsugore, assim como exemplos semelhantes por todo o mundo, inspiraram o trabalho do Dr. I. Stevenson da Universidade da Virgínia. Com sua análise completa e comprometida, a obra "Katsugoro e outros casos de reencarnação no Japão" de Ohkado Masayuki traz uma contribuição importante ao conjunto de dados que sugerem a realidade do fenômeno da reencarnação.

Sobre o autor: Ohkado Masayuki é parapsicólogo e professor de linguística no Departamento de Linguagem e Cultura da Universidade Chubu, Japão. Foi professor visitante do MIT, Universidade de Amsterdam e na Divisão de Estudos da Percepção na Universidade da Virgínia.


Observação: Essa é a primeira obra de Masayuki disponível apenas em inglês no site indicado acima.


27 de setembro de 2014

Cinco principais "evidências" para existência de vida após a morte.

Quando observado desde sua perspectiva teórica, o Espiritismo fornece um panorama admirável, que demonstra os diferentes graus de manifestação da consciências (Espírito). Esses  graus surgem de formas diversas, frequentemente considerados separados do ponto de vista fenomenológico, mas que mostram a operação de um mesmo e único princípio. Esse princípio é independente da matéria, mas está em parcial interação com ela.

Entretanto, os que não conhecem os princípios espíritas e que estão distantes de considerações filosóficas muitas vezes recebem notícias e reportagens sobre uma variedade grande de "fenômenos anômalos". Esse é o caso de uma grande comunidade de interessados nas teses da sobrevivência (1), em diversos países. O livro "Pare de se preocupar! Provavelmente há vida após a morte" (2) de G. Taylor é um exemplo que resume esse estado de coisa. O título define o grau de envolvimento do autor com a tese: o uso do advérbio 'provavelmente' (em itálico) indica que são apenas possibilidades. Cinco dos principais grupos de fenômenos que são considerados por Taylor "evidências" de vida após a morte são:

1 - Experiências de quase morte "verídicas". O qualificativo "verídica" se aplica às experiências de quase morte em que o paciente reporta a observação de fatos e experiência no "plano material" que são posteriormente confirmadas, fatos "verídicos" que ele não poderia ter conhecido de outra forma porque estava passando pela experiência de quase morte;

2 -  Experiências "Peak-in-Darien". Denominação apenas conhecida de "especialistas" em experiências de leito de morte (3). Trata-se de relatos de pessoas nos instantes finais de vida, que descrevem a presença de parentes falecidos, inclusive contatos com parentes considerados ainda "vivos", porém que realmente se encontram falecidos. Isso acontece porque os que se cercam do moribundo ainda não sabem da situação atual do parente recém falecido.

3 - Mediunidade. A conhecida faculdade de entrar em contato com Espíritos, bastante estudada por Kardec.

4 - Fenômenos de leito de morte. Embora seja comum que pessoas que se avizinhem da morte relatem contatos com parentes falecidos ou outras experiências consideradas extraordinárias (EQMs), há relatos de pessoas sãs, que acompanham esses desenvolvimentos, e que também experimentam "visões". Algumas dessas ocorrências envolvem enfermeiros que percebem uma luz irradiada do paciente, que toma toda a sala e que envolve os que nela estão. Há relatos de testemunhas que observam irradiações deixando o corpo do paciente no momento da morte.

5 - Combinações de mediunidade e visão de leito de morte. Experiências de quase morte que são parcialmente descritas por médiuns, ou informações confirmadas por médiuns em apoio ao que pacientes ouviram e viram durante uma EQM. O mais interessante desses relatos semelhantes a EQM através de médiuns é que eles foram compilados muito antes que os fenômenos de EQM se tornassem populares. 

O que falta para que todas essas "evidências" sejam aceitas? Já discutimos aqui bastante que evidências a respeito de um fenômenos nunca são aceitas antes de uma teoria ou explicação. Há inúmeros casos na história da ciência em que fenômenos foram desprezados sumariamente, simplesmente porque não se entendia corretamente seus mecanismos. Dai o cuidado do autor em apresentar a sobrevivência como uma "possibilidade".

Aqui dá-se algo parecido. Portanto, a rota para sua compreensão maior passa pela aceitação tácita dos conhecimento dos mecanismos de produção, dos elementos geradores (Espírito, perispírito, faculdades do Espírito) para então aceitá-los completamente. 

Referências e notas

(1) Teses que se distinguem do Espiritismo em alguns aspectos, mas que guardam com ele alguma relação, a saber, que defendem a sobrevivência da consciência à morte física.

(2) G. Taylor (2013), "Stop Worrying! There Probably Is an Afterlife". Ver http://www.amazon.com/o/ASIN/098742243X/thedailygrail

(3) B. Greyson (2010) "Seeing Dead People Not Known to Have Died: 'Peak in Darien' Experiences",  Anthropology and Humanism, Vol. 35, Issue 2, pp 159–171, ISSN 1559-9167.



10 de junho de 2014

As duas opções (por Michael Prescott)


Apresentamos uma tradução para o português do texto de Michael Prescott "The two options" (1) que discorre de uma forma lógica sobre teorias que competem com as explicações espíritas para os fenômenos mediúnicos. Em particular, o que me chamou a atenção neste texto foi a brilhante classificação das 'teorias de super-psi' como uma variedade de "teoria da conspiração" e, portanto, sua impossibilidade de refutação. Pedimos autorização ao autor para a tradução apresentada em azul. Adicionamos alguns comentários na parte final. 

Como os leitores assíduos desse blog sabem, existe uma variedade sugestiva de evidências da sobrevivência da consciência depois da morte. Algumas delas, naturalmente, são mais persuasivas do que outras, mas, quando se olha para a totalidade da pesquisa, é fascinante ver como várias investigações convergem para a mesma conclusão.

Entre tais evidências estão as experiências de quase morte, experiências fora do corpo induzidas, aparições e assombrações, comunicações espontâneas e induzidas após a morte, mediunidade, memórias espontâneas de vidas anteriores reportadas por crianças, alegadas memórias de vidas passadas e de existência entre vidas descritas por adultos hipnotizados e fenômenos de vozes eletrônicas. Isso não é uma lista que pretenda ser completa. Tenho certeza que deixei de lado poucas coisas.  

De novo, não digo que todas essas linhas de investigação são igualmente convincentes: por exemplo, a regressão hipnótica pode ser problemática porque sujeitos hipnotizados tem a tendência de confabular. E muito dos fenômenos de vozes eletrônicas se parecem mais com ruído do que com vozes de fato, pelo menos para mim. Mesmo assim, quando olhamos tudo de uma perspectiva maior, acho que apenas duas alternativas podem explicar a totalidade dessas evidências. 

A primeira e mais óbvia explicação é que a consciência realmente sobrevive à morte, ao menos por certo tempo e, em alguns casos, reencarna (2).

A segunda explicação possível é que existe um tipo de conspiração cósmica em operação - um esforço orquestrado pelo subconsciente coletivo da humanidade, ou por demônios enganadores, ou por qualquer outra força preternatural - uma conspiração para nos convencer de que sobreviveremos à morte quando, de fato, isso não irá acontecer. 

As alternativas não materialistas à sobrevivência se classificam todas de certa forma nessa segunda categoria. Defensores de superpsi (ou super ESP, 3) essencialmente dizem que poderes desconhecidos da mente (4) estão nos enganando (Fig. 1) para diminuir nosso medo de morrer. Alguns fundamentalistas religiosos dizem que a mediunidade e experiências de quase morte são obra do demônio para nos afastar da ortodoxia. 

Agora, o ponto sobre teorias de conspiração é que elas são impossíveis de se refutar. Não importa quanta evidência for reunida, elas sempre irão reforçar a ideia; o devotado teórico conspiracionista simplesmente dirá que a evidência é parte da conspiração. Por exemplo, algumas pessoas acreditam que a aterrissagem na lua foi uma fraude feita em estúdio (5). Se se afirmar que astrônomos no mundo inteiro rastrearam a trajetória da espaçonave Apolo, eles irão afirmar que tais astrônomos fazem parte do jogo conspiratório. Se for mostrado que rochas foram trazidas da Lua e analisadas por especialistas, será dito que tais especialistas, por sua vez, também fazem parte da conspiração. Quanto mais evidência for apresentada, tanto maior terá que ser a conspiração, o que não é um problema para o teórico da conspiração, que se encanta com a ideia de que ele é a voz solitária da verdade e lucidez a lutar contra chances improváveis. 

Não estou a dizer que conspirações nunca ocorrem. Obviamente, houve conspirações ao longo da história. Por exemplo, uma conspiração foi feita para assassinar o imperador Júlio César. Mas, ela não permaneceu oculta por muito tempo e não envolveu um número grande de pessoas. Houve um tipo de conspiração para evitar que o público soubesse de benefícios recebidos por Franklin Roosevelt durante o seu mandato e que o casamento de John Kennedy era basicamente uma farsa. De novo, tais montagens envolveram um número limitado de pessoas e foram eventualmente descobertas depois.  

O problema das teorias de conspiração com explicações de tudo é que, não somente elas nunca podem ser refutadas, mas também elas invocam um sentido de incapacidade, passividade ou cinismo. Se o mundo todo existe para nos consumir, então, nada podemos fazer para escapar, a não ser alimentar o desespero.  

Quando nos voltamos para uma ideia como super-psi, encontramos uma teoria de conspiração que é ainda mais difícil de refutar do que qualquer outra. Por definição, super-psi envolve potencialmente o subconsciente de todo mundo - qualquer pensamento ou sentimento que quem quer que seja tenha tido ou irá ter um dia. 

Mas, é possível ter muito mais que isso! Se recursos combinados de mentes subconscientes de todos os seres humanos estão envolvidos em perpetrar uma charada, e se tais recursos não reconhecidos são imensamente maiores do que se pode imaginar, então, tal conspiração será capaz de produzir literalmente qualquer evidência necessária, ao mesmo tempo que suprimirá qualquer outra que lhe seja contrária. 
Fig. 1  Pe O. G. Quevedo que se especializou em usar hipóteses da superpsi e fraudes em seu combate ao Espiritismo. O grosso de sua argumentação sustentava-se na ideia de que a mente tem recursos desconhecidos ou que não é confiável. Como M. Prescott pondera, tais explicações não têm caráter científico porque são irrefutáveis, sendo melhor classificadas como variedades de teorias de conspiração.
Isso não apenas significa que nunca poderemos saber a verdade sobre a vida após a morte. Significa que jamais saberemos a verdade a respeito de qualquer coisa. Não podemos confiar em nossas mentes, já que, no nível mais profundo, ela foi criada para nos enganar. Não podemos confiar na percepção de ninguém, incluindo na nossa própria. Se levarmos super-psi a sério ou, de outra forma, se acreditarmos que qualquer evidência que contradiga nosso sistema de crenças foi fabricado por demônios para testar nossa fé, ou criado por 'fantasmas devoradores de almas' para nos entorpecer antes do abate final, ou por alienígenas desejosos de nos observar em tubos de ensaio, então, nunca haverá chance alguma de usar tanto nossa faculdade de raciocínio como recorrer às evidências para saber a verdade. 

Então, ficamos assim. Assumindo que encontramos evidências da sobrevivência que são razoavelmente convincentes e que não podem ser explicadas de outra forma como observações incorretas, fraudes, lendas urbanas ou 'wishful thinking' etc, estamos diante de uma escolha básica. Podemos aceitar a evidência pelo seu valor de face, na hipótese de que o Universo é essencialmente benigno (6)  e que nossas mentes são, em princípio, capazes de discernir a verdade a respeito das coisas (7). Ou, podemos assumir que a evidência é o resultado de gigantesco trabalho conspiratório, sendo que o Universo é essencialmente maligno e nossa consciência e mente racional são, em princípio, incapazes de saber a verdade de qualquer coisa.

Concordo que não há jeito de se, definitivamente, decidir entre as duas alternativas (8). De alguma forma, ela depende de nossa visão sobre a existência ser basicamente otimista ou pessimista. Seria o Universo amigável ou será que ele existe para nos consumir? Seria a vida uma aventura ou um pesadelo? Haveria espaço para esperança ou somente o medo?

Isso está de certa forma relacionado ao que William James chamou de 'desejo de acreditar', o seja, a necessidade de se tomar um ato de fé no ponto onde o raciocínio não consegue mais ir além. Cada um de nós deve tomar esse passo a mais em uma ou outra direção, por nós mesmos.

Referências e comentários

(1) Michael Prescott's blog: http://michaelprescott.typepad.com/michael_prescotts_blog/

(2) Numa visão puramente empírica, isto é, ditada pelas 'evidências', não há bases para se afirmar que todos reencarnam e nem que todos reencarnam.

(3) Com explicado por Prescott em seu texto, a teoria de 'super-psi' é uma das alternativas 'não espíritas' e 'não materialistas' aos fenômenos psíquicos. Resulta de um desenvolvimento de teorias do subconsciente que chegam ao extremo de refutar a sobrevivência usando da ideia de 'orquestração inconsciente' e 'super-mente'. Como também explicado por Prescott, essas teorias caem na categoria de 'teorias de conspiração' e são incapazes de produzir qualquer previsão de fenômeno. 

(4) No Brasil, nos anos 80-90 foi bastante conhecida a campanha do clérigo jesuíta Oscar G. Quevedo contra o Espiritismo usando essencialmente conspiração de super-psi nos casos mais difíceis de se refutar e uma variedade de explicações do tipo 'fraude' nos considerados 'mais fáceis'. Por isso, a importância do texto de Prescott. A 'teoria do demônio' é tratada com brilhantismo por Allan Kardec em "O Livro dos Médiuns", Primeira Parte - Noções preliminares, Capítulo IV - Dos sistemas.

(5) Sobre isso, ver também nosso texto: "Crenças Céticas XXI: Será que o homem pousou na Lua?".

(6) O texto de Prescott torna possível perceber a visão puramente empírica que alguns espiritualistas considerados 'científicos' sustentam. Para eles, a verdade deve vir, por indução, a partir da mera observação dos fenômenos. Porém, a fenomenologia psíquica representa uma espécie de 'esquina' para o pensamento, uma vez que, para sua correta explicação, exige a adoção de uma postura filosófica sobre o Universo que é dispensável nas explicações dos fenômenos materiais. Para a física, química etc, não é necessário que o Universo seja 'benigno', mas apenas que ele seja 'racional'.  Prescott torna evidente porque Kardec iniciou a apresentação das questões aos Espíritos em 'O Livro dos Espíritos' - que é a obra fundamental do Espiritismo - pela questão 'O que é Deus?' 

(7) Esse é o ponto de vista da ciência. O Universo pode ser explicado racionalmente, isto é, conhecendo-se as causas, é possível explicar os efeitos e nossas mentes não estão sendo enganadas.

(8) Na visão empírica do autor, deveria ser possível colher evidências adicionais sobre esse caráter, que torne discernível qual é a opção correta. Obviamente, a discussão aqui toca questões metafísicas que estão além da busca meramente empírica e que são, na Doutrina Espírita, tratadas de forma conveniente pela contraparte filosófica. O Universo é benigno porque Deus - como causa primária de todas as coisas - é bom.

1 de fevereiro de 2013

Pequena reflexão depois de uma morte coletiva.

Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real. Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a Sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.” (A. Kardec, (1))

Nenhuma dor pode ser maior do que aquela de uma mãe ou pai ao descobrir a morte de um filho. Não que outras dores ou que a dor de outros familiares possa ser desprezada. Há uma tristeza solene na contemplação do corpo da criança ou do jovem falecido por uma tragédia que não se pode evitar, diante do tempo que não se pode fazer retroceder! E, depois, a saudade a fustigar infinitamente aquela mãe ou pai que, condenado a uma ausência aparentemente perpétua, pensa que jamais poderá ver o seu maior bem.

Embora o fenômeno da morte seja na aparência apenas mais um no concerto de fenômenos naturais e orgânicos, ele se torna justamente o que é pelos laços de afinidade e mútua estima que ligam indivíduos, famílias, coletividades e até países. Essa forças, não obstante invisíveis, são muito fortes para serem desprezadas. A dor da descontinuidade por conta da perda daquele ente amado é superlativa demais para não merecer devida explicação no conjunto das ocorrências naturais que nos cercam. Em vão os propagandistas do niilismo dirão que são forças subjetivas e que apenas a cega lei do acaso impera.

Quando, porém, a morte se dá em grande número, então essa necessidade de uma explicação se torna máxima. Não é difícil entender que, se grande número de pessoas são submetidas as mesmas condições extremas que ameaçam o fluxo vital de seus organismos,  então a condição necessária para as mortes coletivas se forma. Muitos dos que pregam a ilusão pura dos sentidos acreditam que isso é tudo que se pode dizer sobre o assunto.

Mas não! É justamente na constatação do intercâmbio incessante, natural ou provocado, entre dois planos da vida que uma imagem do mundo se levanta como um novo sol a aquecer e prover energia a todos. À princípio timidamente, para então se transformar numa grande realidade, a continuidade da vida após a morte - razão fundamental de todos os cultos -  é a grande consolação para os que aqui permanecem temporária e fisicamente separados daqueles que se foram e para onde gravitam todas os homens, independente de suas crenças.

A certeza da continuidade que se obtém ao se ter o mérito de contactar um filho amado depois da grande separação jamais poderá ser igualada a simples crença nessa possibilidade. Isso distingue o Espiritismo de outras doutrinas e concepções religiosas que apenas poderão fornecer uma vaga certeza, quase sempre ameaçada por outras expectativas de separação definitiva.

Antes, porém, de se buscar por uma causa para uma ocorrência de morte coletiva, meditemos no próprio significado da realidade que aguarda a todos mais além:
  • Certeza de um novo encontro;
  • Possibilidade de comunicação;
  • Separação temporária e não definitiva;
  • Vida que continua e não fim de linha;
  • Possibilidade de recomeço em plano mais elevado;
Por isso, antes também de se concluir pela aparente dureza do destino ou da lei natural, convém considerar que nossas concepções de justiça são obviamente adaptadas à nossa apreensão severamente limitada da realidade e da nossa própria existência transitória...

A sobrevivência além-túmulo elimina assim uma descontinuidade. Aprendendo a enxergar com essa perspectiva mais ampliada da vida, alcançamos um novo nível de justiça e tolerância à morte.

A perspectiva da sobrevivência abranda o peso da morte de todas as formas:  individual, seja na suave paz da consciência tranquila que experimenta o grande fim após uma existência bem vivida ou na triste dor da separação que parece imposta;  ou coletiva, na imperceptível lista dos que morrem todos os dias separadamente ou dos milhares que às vezes partem juntos e assustados diante de uma ocorrência que não puderam prever.

"Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo".(2) De um jeito ou de outro todos se ausentarão em definitivo - o que torna ainda mais relativa os julgamentos precipitados dos que condenam o destino ou uma aparente falta de Deus após episódios de mortes coletivas. "O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles" diz a mensagem dos Espíritos a ressaltar o destino de felicidade de todos os seres.

Se o final não pareceu feliz, então é porque ele não foi verdadeiramente um final...

Referências

(1) "O Livro dos Espíritos", Resposta à questão #738a (texto www.ipeak.com.br);
(2) "O Livro dos Espíritos", Resposta à questão #738b, segundo parágrafo (texto www.ipeak.com.br).