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30 de abril de 2013

IV - Como a parapsicologia poderia se tornar uma ciência. (P. Churchland)

Numa série de posts, apresentamos uma tradução comentada do artigo "How Parapsychology could become a science" (Inquiry: An Interdisciplinary Journal of Philosophy, Volume 30, Issue 3, 1987) do filósofo Paul Churchland. Este artigo é uma crítica epistemológica bem embasada à parapsicologia, crítica que deveria ser seriamente considerada pelos praticantes dessa disciplina, se eles pretendem, de fato, fazê-la avançar. Alem disso, Churchland lança dúvidas bem fundamentadas sobre o paradigma materialista presente. Vale a pena estudar com atenção este trabalho. Todas as referências dele serão apresentadas no último post. O texto em azul é do artigo.

3. Parapsicologia: o lado experimental.
Já tive a chance de expor minha principal crítica à tradição experimental da Parapsicologia. É uma crítica metodológica e ela em nada diz contra a honestidade ou o cuidado daqueles que conduzem os experimentos relevantes dela. A discussão até este ponto tem sido deliberadamente não crítica no que diz respeito à confiabilidade dos resultados experimentais em Parapsicologia.

Isso acontece porque a validade da crítica metodológica que fiz é bastante independente de quão confiáveis esses resultados são. Mas, seria errôneo da minha parte para com o leitor levá-lo a achar que quaisquer resultados dessa área devam ser aceitos. Certamente, nenhum deles é amplamente aceito fora da comunidade relativamente pequena da Parapsicologia. Não há análogo do movimento Browniano em que eles, tanto quanto nós, possamos confiar.

De fato, não está claro que eles tenham qualquer resultado positivo e replicável absolutamente (1). A história dessa área está cheia de escândalos mais ou menos sérios, que vão das sessões fabricadas da década de 20 e 30, a manufatura deliberada de dados falsos pelo renomado S. G. Soal na década de 40, passando pela "psicofotografia" expertamente maquinada por T. Serios na década de 60 até a os experimentos mal controlados de R. Targ e H. Puthoff ao redor de Uri Geller (um não declarado, mas bem treinado mágico) nos anos 70. Essas e outras óperas cômicas já foram bastante discutidas em outro lugar (Randi, 1982) e, portanto, não vou me ocupar com elas aqui (2). Mas, elas merecem ser citadas não porque foram escândalos. Esses casos são lições importantes porque foram tomadas em grande conta na época em que apareceram como formando as melhores evidências para os fenômenos paranormais já obtidos. E elas merecem também ser comentadas porque as fragilidades que acabam revelando são endêmicas na alma humana.

Por outro lado, não podemos rotular todo mundo de tolo, nem mesmo a maioria. Parapsicólogos frequentemente reportam resultados completamente negativos e que melhor testemunho de honestidade do que esse? O que queremos saber é o que devemos fazer com aqueles poucos estudos que foram aparentemente conduzidos com integridade e zelo escrupuloso e que mostram, estatisticamente, desvios significativos em relação àquilo que pensamos ser fisicamente explicável?


Não há resposta completamente geral que seja adequada a essa questão. Cada caso deve ser tratado em seu próprio mérito. Mas, uma coisa podemos exigir, antes de ficarmos empolgados com qualquer um deles, é que possam ser replicados (3), preferivelmente por um laboratório independente. As razões para isso não tem nada a ver com estupidez ou falsidade. Se, durante cinco anos de pesquisa parapsicológica, 1000 experimentos estatísticos forem realizados com honestidade e cuidado máximo, estamos certamente no caminho de se obter uma percentagem muito pequena de casos que se aproximam ou excedem o nível de "significância", com base apenas em fundamentos estatísticos. Isso significa que haverá uma pequena quantidade de resultados "positivos", mesmo que isso nada tenha a ver com o paranormal e ainda que os investigadores tomem o máximo de cuidado com os protocolos experimentais (4).


Esses resultados positivos, supomos, serão publicados. Mas veja só. Se 500 dos 1000 experimentos originais foram esquecidos porque os investigadores desapontados decidiram seguir carreira em outra direção; e se 400 dos 500 remanescentes foram esquecidos porque eles também deram resultado negativo e os investigadores procederam apenas à análise dos 100 restantes e se; desses, 80, embora submetidos da forma mais honesta possível, nunca são publicados porque os editores se tornaram impacientes com resultados parapsicológicos ainda mais negativos, então os resultados "acidentalmente significativos" de, digamos, 3 ou 4 experimento dos 1000 originais serão considerados contra uma amostra de apenas 20 experimentos publicados. Assim, esses últimos herdarão uma significância imerecida (5).

A única maneira de revelar esses acidentes estatísticos (e casos reais, insistimos, são inevitáveis) é justamente repetir aqueles que se mostraram significativos e ver se os resultados originais são reobtidos. Pelo que sei, nenhum resultado genuinamente anômalo sobreviveu a tal teste. Há, naturalmente, muitos resultados surpreendentes que foram e continuam a ser replicados, frequentemente na grande mídia ou em fóruns públicos. Mas, embora impressionantes, eles não são parapsicológicos (6). 

O caminhar sobre brasas é um exemplo. Ele tem sido realizado centenas de vezes em muitas culturas diferentes e é frequentemente associado a fatos paranormais. Existe um "instituto de autoajuda" aqui na minha comunidade que mantém sessões de caminhar sobre brasas na praia nas primeiras horas da manhã. Tais sessões são consideradas a culminação de seminários de autoajuda de cinco horas de duração e o objetivo deles é mostrar ao público pagante o que eles aprenderam sob a tutela de seus mentores, fazendo-os caminhar vivamente sobre uma cama cuidadosamente preparada com carvão em brasa. Alguns caminhantes adquirem bolhas nos pés com a experiência, mas a maioria deles não e eles, naturalmente, ficam impressionados com o espetáculo. A explicação que é passada para eles é que eles aprenderam a amplificar seus "campos biomagnéticos" que estão em volta de seus pés e que serve para protegê-los do calor.

Isso é uma bobagem sem tamanho, naturalmente, mas o carvão está, de fato, a uma temperatura bem alta.  Embora já estejam bastante consumidos, eles ainda podem ser vistos avermelhados, pelo menos na escuridão. O truque é que não há truque. Nesse estágio de combustão elevada, o carvão tem a densidade do isopor e uma capacidade térmica bem baixa. Embora a temperatura seja alta, o carvão simplesmente não contém energia térmica suficiente e não pode conduzi-la aos pés rápido o suficiente para causar queimaduras sérias nos quase 1,6 segundos de contato total dos pés com o carvão (quatro passos de 0,4 segundos cada). As pessoas pensam que podem ser queimadas por qualquer coisa, mesmo que minimamente incandescente, mas nem sempre isso é verdade. A camada de carvão deve se preparada com muito cuidado, entretanto, então eu não recomendo fazer isso por si mesmo, especialmente com lascas de carvão vegetal, o material mais à mão provável. Eles são mais quentes do que brasas de madeira e eles se partem liberando mais calor. Não tente sequer pisar neles.

O que recomendo é tentar o seguinte. No escuro, de forma que você possa melhor julgar o estado de aquecimento do carvão, pegue uma lasca quase em extinção com uma pinça de churrasco e toque-a levemente com a palma da mão ou planta do pé. Esse tipo de experiência permite grande nível de controle e é bastante seguro. Você ficará surpreso em ver o quão benigno é essa operação com o carvão, ao menos para tempos de contato menor que meio segundo. Caminhar sobre brasas é não só real como replicável, mas não é paranormal (ver Leikind and McCarthy,1985; P. M. Churchland 1986b).

Outro espetáculo comum é do tipo de leitura de mente clarividente que é encenado por mágicos da mídia, profissionais ou não. Aqui, não posso dar nenhum resumo de quão intricadas são essas performances: mágicos tem inúmeras maneiras de nos enganar. Mas, posso comentar algo sobre isso a fim de dar uma amostra de como  se parece.


Minha esposa e colega, Patricia Churchland, uma vez deslumbrou sua classe de filosofia lendo em voz alta e com olhos fechados frases escritas em uma pilha de envelopes bege que um estudante tinha passado para ela no começo da aula. Em cada ocasião de "leitura clarividente" de um envelope ainda fechado, ela perguntava se qualquer estudante teria submetido uma frase anunciada. Enquanto o estudante em questão manifestava incrível concordância, ela abria o envelope para checar casualmente a precisão de sua leitura e, então, passava para o próximo envelope e à adivinhação de seu conteúdo (7).

Ela conseguia acertar tudo. O truque é bem impressionante e exige apenas a colaboração de um estudante entre o grupo, alguém que falsamente concorde com o sucesso da "leitura" do primeiro envelope. De fato, ela apenas compensava sua primeira leitura com base na confirmação explícita do estudante em quem confiava. Enquanto abria o envelope para "checar a precisão" de sua primeira leitura, ela estava na verdade lendo o que outro estudante perfeitamente honesto tinha escrito no primeiro envelope. Essa frase era a base para a segunda "leitura". Enquanto mantendo o segundo envelope misteriosamente diante de si, ela anunciava o conteúdo do então primeiro envelope. O autor do conteúdo daquele envelope então confirmava com admiração o "sucesso" da leitura e o envelope era simultaneamente aberto para "checar" o acerto. Isso fornecia a base para a terceira leitura e assim por diante, até completar toda a pilha. O resultado era uma classe de estudantes em completo pandemônio. Poderes psíquicos evidentemente são mais fáceis de se obter do que se pode imaginar. 

Esses dois exemplos, leitura psíquica e caminhar sobre brasas não tem relação direta com a Parapsicologia acadêmica. Mas, eles ajudam-nos a ver como fenômenos paranormais ostensivos podem ser facilmente criados a partir do normal e do ordinário (8). E eles ajudam a nos armar contra os predadores dessa área, que são muitos. Devemos ter simpatia por aqueles que tentam fazer pesquisa paranormal responsável em relação às bobagens anunciadas pela mídia, práticas de culto e a atividade de exploradores inescrupulosos. É o mesmo que tentar um serviço legítimo de acompanhamento numa zona de meretrício declarado. Qualquer policial de passagem poderia se livrar de uma suspeita inicial, assim como de uma segunda e terceira suspeitas.

Comecei este trabalho perguntando se a Parapsicologia poderia se tornar uma ciência. Minha resposta é que ela precisa de uma teoria que a organize. E ela também precisa de uma tradição experimental que objetive a tarefa positiva de testar e refinar uma teoria geral alternativa da mente, ao invés de se dedicar a tarefa negativa de encontrar buracos inexplicáveis no materialismo. Parapsicólogos ainda não forneceram o material conceitual necessário para a construção desse programa de pesquisa coerente e bem motivado, mesmo admitindo que o materialismo é, de fato, falso. Essa é a razão porque a Parapsicologia ainda é uma pseudociência.

Notas

1 – Como Churchland segue no ‘vácuo teórico’ da Parapsicologia, a dúvida torna-se companheira inseparável dele, o que permite questionar a existência de fenômenos autênticos.

2- No caso de Ted Serios, não é verdade que o ‘admirável Randi’ tenha conseguido replicar as psicopictrografias dele.  O caso de Ted Serios está envolvido em um mistério e merece, por si, um estudo a parte. O que Churchland questiona principalmente é o caráter de ‘espetáculo’ que muitos eventos anômalos são revestidos, o que traz, naturalmente, suspeitas sobre sua validade e real existência na mente dos céticos, suspeitas que são amplificadas pelo caráter comercial em que se revestem os espetáculos. 

3 – A ‘replicação’ a que Churchland se refere aqui vem na esteira da suposta necessidade da Parapsicologia se comparar a uma ciência ordinária. No caso dessas ciências, a facilidade, simplicidade e o caráter ‘automático’ dos fenômenos confere facilmente a característica de reprodutibilidade. Isso não pode ser exigido dos fenômenos psíquicos, o que Churchland parece ignorar largamente.

4 – Veja que o caminho seguido pela Parapsicologia acadêmica, o de se dedicar ao estudo quantitativo de arranjos ‘paranormais’ leva inexoravelmente a essa crítica de Churchland. De fato, do ponto de vista puramente estatístico, em lançamentos sucessivos de uma moeda, há uma chance não nula de que várias faces ‘cara’ apareçam sucessivamente. Isso é um resultado meramente acidental e nada tem a ver com ‘paranormalidade’ a exigir necessariamente uma explicação do tipo 'psicocinése'. Esse ‘ruído’ estatístico deve ser obrigatoriamente suprimido ou isolado se o objetivo for expor, por meio desse método particular, a realidade de eventos paranormais. Trata-se, assim, de mais um escolho ao desenvolvimento da Parapsicologia, que fornece aos críticos muitos argumentos fortes.

5 – Notamos que essa observação crítica de Churchland também vale para qualquer outro fenômeno natural raro e não apenas aos de natureza parapsicológica. Ele representa uma crítica metodológica grave no caso da Parapsicologia, uma vez que o caminho de 'comprovação' escolhido envolve separar o efeito genuíno do ruído estatístico inerente em qualquer tipo de experimentação de múltiplas tentativas.

6 – Nessa classe estão, naturalmente, os fenômenos mediúnicos ostensivos que foram renegados pela corrente acadêmica e experimental da Parapsicologia por representarem eventos anômalos difíceis de serem replicados em laboratório.

7 – Essa simulação de leitura psíquica é, naturalmente, um truque que fornece combustível aos críticos da fenomenologia paranormal, mas que, obviamente, cai na classe das explicações muito fáceis. De fato, qualquer fenômeno natural pode ser imitado por truque e não apenas os fenômenos psíquicos. 

8 – Ver comentário 7.

As referências desse artigo podem ser encontradas em:

Churchland P. M. & Churchland P. S. (1999) On the Contrary, critical Essays, 1987-1997", A Bradford Book, 1st edition.

Referências

Leikind, B. J., and W. J. McCarthy (1985) An investigation of firewalking. The Skeptical Inquirer, 10, no. 1:23-35.

Feyerabend, P. K. (1963b). "How to be a good empiricist-A plea for tolerance in matters epistemological". In Philosophy of science: The Delaware seminar. Vol. 2, edited by B. Baumrin. New York: Interscience Publications, 3-19. Reprinted in Brody B., ed. 1970, Readings. in the philosophy of science. Englewood Cliffs, N.J.: Prentice Hall, 319--42. Also in Morick H., ed. 1972, Challenges to empiricism. Belmont, Calif.: Wadsworth, 164-93.

Leikind, B. J., and W. J. McCarthy (1985) An investigation of firewalking. The Skeptical Inquirer, 10, no. 1:23-35.

Randi, J. (1982) Flim-flam! Psychics, ESP, unicorns, and other delusions. Buffalo, N.Y.: Prometheus Books.








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2 de abril de 2013

III - Como a parapsicologia poderia se tornar uma ciência. (P. Churchland)


Numa série de posts, apresentamos uma tradução comentada do artigo "How Parapsychology could become a science" (Inquiry: An Interdisciplinary Journal of Philosophy, Volume 30, Issue 3, 1987) do filósofo Paul Churchland. Este artigo é uma crítica epistemológica bem embasada à parapsicologia, crítica que deveria ser seriamente considerada pelos praticantes dessa disciplina, se eles pretendem, de fato, fazê-la avançar. Alem disso, Churchland lança dúvidas bem fundamentadas sobre o paradigma materialista presente. Vale a pena estudar com atenção este trabalho. Todas as referências dele serão apresentadas no último post. O texto em azul é do artigo.


2. Parapsicologia: o lado teórico.

Podemos aplicar essa moral ao caso da parapsicologia? Acredito que sim. Mas, não é minha intenção aqui fazer uma apologia fajuta das pesquisas 'psíquicas' e cair fora. O que tenho em mente, ao invés disso, é o seguinte: a teoria cinética do calor é um claro exemplo de um sucesso científico que teve muita sorte; que características gerais da teoria e/ou que características de metodologia de seus proponentes foram responsáveis por tal sucesso? Se pudermos responder essa questão, então poderemos enfrentar a próxima questão lógica. Será que as teorias propostas e a metodologia usada pelos proponentes da parapsicologia têm qualquer relação mostrada pelo nosso caso de sucesso? (1) Vamos ver.

A primeira vantagem que os teóricos cinéticos tinham era uma alternativa sistemática e detalhada concernente aos fenômenos em questão. A nova teoria especificava que qualquer gás, por exemplo, era constituído de um grande número de partículas que colidiam de forma perfeitamente elástica entre si, partículas que tinham massa, volume e velocidade. Ela previa que a pressão exercida pelo gás em um vasilhame era nada mais que o efeito da colisão incessante dessas partículas em sua parede. Ela afirmava que o calor total de qualquer sistema era a soma da energia cinética das suas moléculas constituintes. Dizia ainda que a temperatura global de um sistema nada mais era que o nível de energia cinética de suas moléculas médias.  E, dado que a noção de massa, velocidade e energia cinética eram bem entendidas então, um grande número de eventos microscópicos poderia ser tratado com a linguagem e as leis da mecânica Newtoniana. Os proponentes da teoria cinética podiam tratar os desafios que os confrontavam com um número impressionante recursos teóricos.

Naturalmente, havia ainda muitas coisas que ainda demandavam explicações - a massa e a velocidade dos corpúsculos, a diferença entre calor específico mostrado por diferentes substâncias e o desaparecimento do calor latente durante os fenômenos de fusão e evaporação. Mas a própria teoria fornecia abordagens teóricas e experimentais bem definidas a esses problemas, abordagens que deram frutos em curto tempo. Na ausência de dessa teoria específica, poderosa e altamente detalhada, o progresso jamais teria sido alcançado (2).  

Será que a parapsicologia tem qualquer corpo de teoria que descreva o que a mente não material é, uma teoria sobre os elementos não físicos que a compõem e sobre quais leis não físicas governam a interação entre esses elementos e deles com o mundo material? Deixo claro que esta questão diz respeito à existência dessa teoria e não a sua verificação (3) Será que a parapsicologia tem qualquer corpo significativo de teoria com a qual é possível tratar os fenômenos empíricos? O fato embaraçoso é que ela não tem. (4) Um busca nas páginas do Journal of Parapsychology - um dos mais respeitáveis órgãos de comunicação parapsicológica (5) - vai mostrar muitos experimentos projetados para revelar alguma capacidade surpreendente de homens e animais. Mas o leitor não achará nada na direção de uma teoria bem definida, sistemática e positiva concernente à substância mental ou às propriedades mentais e as leis quantitativas e formais que governam sua interação e comportamento. 

Fig. 1 Churchland considera que a parapsicologia se assemelha a uma pescaria coletiva, onde a linha de pescar é jogada em uma direção qualquer seguindo um impulso local e se obtém uma quantidade grande de resultados inexplicáveis, pois a parapsicologia não tem um núcleo teórico que oriente a realização e o  progresso dessa pesquisa.
Se é que se encontra uma teoria, ela é vaga, impressionística e não quantitativa, usualmente voltada para explicar uma classe muito restrita de fenômenos, de forma que ela parece idiossincrática (6) ao autor. Não há um núcleo teórico estabelecido que tenha reunido a comunidade a partir de sucessos passados ou cuja forma presente tenha se moldado em resposta a falhas experimentais anteriores, um programa que faça a disciplina seguir adiante. Tais elementos, tão caros às ciências estabelecidas, estão sumariamente ausentes na causa em questão. Para um filósofo ou historiador de ciência, a parapasicologia parece uma disciplina surpreendentemente ateórica. Além da assunção vaga de que agentes conscientes têm um aspecto não físico de algum tipo, que se expressa as vezes na forma de percepção paranormal ou manipulação paranormal, simplesmente não se encontra um núcleo aceito de uma teoria geral.

O que se percebe na maior parte das vezes é uma busca experimental voltada para a isolação e demonstração de efeitos que transcendem uma explicação em termos das ciências físicas. Caracteristicamente, tais experimentos estão preocupados em identificar casos de sucesso na percepção de algum tipo ou de outro, onde a percepção é considerada como fisicamente impossível (por exemplo, visão remota, telepatia, clarividência) ou a manipulação ou controle são considerados como fisicamente impossíveis (psicocinesia, telepatia). Tais experimentos são usualmente bem elaborados, utilizando os mesmos recursos eletrônicos high-tech dos mais bem estabelecidos ramos da ciência e exploram as mesmas técnicas de avaliação estatísticas aprovadas em todo lugar. De fato, a motivação experimental é tão bem desenvolvida que ela pode ser aplicada a qualquer conjunto de variáveis arbitrárias que se suspeite terem alguma relação estatística significativa entre si. 

Como resultado, a pesquisa parapsicológica se parece com uma pescaria coletiva (7). Na falta de uma teoria geral que discrimine uma parte do lago da outra, o anzol experimental é lançado aqui e ali conforme o impulso momentâneo sugere fazer assim. O resultado coletivo é uma amontoado de resultados mal motivados que conduzem a disciplina a nenhuma direção particular, pois eles não motivam nenhuma modificação no núcleo da teoria que os guia (8), pois não há esse núcleo. 

Há outros problemas com a metodologia de se olhar para algum efeito, qualquer efeito, que não possa ser explicado em termos físicos. Pois, quando tais resultados são encontrados (ou melhor, alega-se que são encontrados), eles, de fato, podem ser misteriosos do ponto de vista físico, mas são igualmente misteriosos do ponto de vista não físico. A razão é que parapsicólogos não são capazes de fornecer uma explicação melhor do que qualquer físico, pois a parapsicologia não tem recursos teóricos significativos para construir tais explicações. Se alguém conseguir fazer com que o resultado de uma longa série de lançamentos de moedas tenha 100% de acurácia, não constitui explicação desse resultado simplesmente se afirmar que o sujeito "tem precognição" (9). Isso é o mesmo que dizer que o amobarbital faz você dormir porque tem as "virtudes do sono". Uma explicação real deveria citar os mecanismos não físicos envolvidos, identificar os fatos empíricos que os refletem, apelar para as leis que os governam e, então, deduzir exatamente o efeito surpreendente observado. A parapsicologia não faz nada disso.

J. B. Rhine (1895-1980) testando sujeitos com baralhos Zenner. Diante da ausência de uma motivação para se desenvolver uma teoria, a pesquisa parapsicológica se concentrou em produzir dados obstinadamente, na ideia errônea que isso bastava para caracterizar a parapsicologia como ciência.
Compare tudo isso com a teoria cinética do calor. A pesquisa experimental conduzida pelos teóricos cinéticos não tinha como objetivo encontrar um resultado experimental contrário à teoria clássica. Seu objetivo era testar algumas previsões específicas da teoria cinética. Quando um resultado experimental foi encontrado, eles tiveram sucesso não porque desafiavam qualquer explicação clássica, mas porque resultavam em explicações e predições ainda mais precisas, se colocadas em termo da teoria cinética corpuscular. A teoria cinética não brilhava por luz refletida de uma falha, ela tinha luz própria. 

Ao contrário, a parapsicologia brilha por luz refletida das falhas do materialismo, se é que ela brilha. A parapsicologia não tem sucesso explanatório por si própria, porque ela não tem uma teoria substancial que ela possa denominar como sendo sua própria. Se não há teoria detalhada, não pode haver explicações detalhadas. E, se não há explicações detalhadas, então a parapsicologia não pode brilhar por si. 

A ausência de uma teoria significativa é um problema muito sério. Mas, ainda mais sério, eu acho, é a falta de qualquer movimento, por parte da comunidade parapsicológica em toda sua história, em tentar reparar esse problema. A preocupação presente dos profissionais dessa área tem se concentrado em anedotas passadas ou presentes em torno de maravilhas psíquicas e/ou experimentos desenhados para demonstrar um efeito parafísico. Mas, nenhum efeito, não importa o quão impressionante ele seja, poderá ser identificado como 'parafísico', a menos que se encontre também uma explicação de sucesso em termos de uma teoria parafísica detalhada (10). Na ausência de tal explicação, o efeito não representará nada. Ele não passará de mais um efeito surpreendente e presentemente inexplicável. E, em nada adiantará descrevê-lo como 'parafísico'.

A saber, a perseguição obstinada de resultados experimentais parafísicos, dentro de um vácuo teórico genuíno, me parece algo metodologicamente estéril, ainda que os experimentos sejam feitos com o mais meticuloso cuidado e produzam algum resultado genuíno. O movimento Browniano era também um resultado profundamente embaraçoso e também foi encontrado por pesquisadores respeitáveis usando técnicas respeitáveis. Mas, ele não serviu em nada contra a termodinâmica clássica e nunca serviria, apenas quando a nova teoria cinética desse a sua existência uma forma inteligível. O que a parapsicologia precisa, antes de tudo, é, portanto, uma teoria específica e substancial que dê forma as suas vagas aspirações e sirva como guia sistemático a sua atividade experimental. Enquanto essa teoria não existir, ela nunca será uma ciência, não importa quantos experimentos ela acumule (11).

Há um vício metodológico com que todos estão familiares. Filósofos, em particular, estão acostumados com ele e são acusados de cultivá-lo. O vício consiste em tentar fazer progressos teóricos de grande envergadura na ausência de resultados experimentais sistemáticos para controlar o desenvolvimento teórico subsequente: os resultados são descritos como 'castelos no ar'. Aqueles que procedem desse jeito protestarão que eles são teóricos. E, com certeza, eles são. Eles dirão que suas teorias são coerentes e imaginativas. E, com certeza, elas podem ser. Mas, o resultado final tem muito pouco a ver com ciência.


O vício tem um equivalente oposto, menos observado na prática, que é tão obtuso em seu resultado final quanto o primeiro. Ele consiste em tentar fazer progressos experimentais de envergadura na ausência de uma teoria sistemática que guie a tradição experimental e que a modifique à luz dos resultados. Esses aparecem na forma de um monte de correlações entre parâmetros de significação questionável. Os que procedem dessa forma protestarão a dizer que são experimentalistas. E, do mesmo modo, respondemos que eles o são. Eles protestarão dizendo que seus testes são feitos de forma honesta e precisa. E, assim, eles podem ser. Mas, o resultado final terá pouco a ver com ciência. Como os aspirantes anteriores, tais pessoas apenas brincam de fazer ciência (12).

Avançando um pouco mais no exame da tradição parapsicológica representada nas páginas de seus jornais de divulgação, poderíamos imaginar que ela sofre do primeiro defeito. Mas, dessas duas doenças, não é a primeira, mas a segunda, eu afirmo, que descreve melhor a fraqueza da parapsicologia (13).






Comentários

(1) Grifo em itálico nosso.

(2) Essa afirmação é a base para se compreender a diferença entre ciência e não ciência. O que caracteriza a atividade científica, já dissemos várias vezes com base em estudos anteriores, é a existência de uma teoria embasada em resultados experimentais que oriente o progresso experimental. Sem essa teoria, simplesmente amontoar resultados não constitui ciência. Churchland aplica repetidamente esse princípio ao analisar a parapsicologia aqui.

(3) Grifo em itálico nosso. A primeira preocupação importante é saber se há uma teoria. Não importa que ela não seja ainda verificada experimentalmente.

(4) Grifo em itálico nosso. Note a afirmação forte e direta de Churchland contra a parapsicologia.

(5) A referência pode ser acessada aqui.

(6) Isto é, cada pesquisador tem a sua explicação própria de um fenômeno. Como não há uma teoria dominante, surge um 'labirinto de hipóteses' tão variado quanto a quantidade de tendências e gostos particulares de cada pesquisador.

(7) Grifo em itálico nosso. Ver comentário na Fig. 1.

(8) Grifo em itálico nosso.

(9) Grifo em itálico nosso. Essa observação de Churchland descreve bem o estado atual da pesquisa em parapsicologia: o da explicação em termos meramente textuais. Palavras como 'retrocognição', 'precognição', 'efeito PK', 'psi-gama', 'psi-kappa' são etiologias cuja definição está ligada diretamente às ocorrências e que são constantemente usadas como 'explicações' para um fenômeno, em um movimento claramente suspeito.

(10) Grifo em itálico nosso.  

(11) Grifo em itálico nosso. A justificativa final que consagra o princípio porque a parapsicologia não pode ser encarada como uma ciência. Embora se possa fazer pesquisa aparentemente científica pelo uso de equipamentos, técnicas e procedimentos tecnológicos considerados 'avançados', jamais se conseguirá  ciência de verdade na ausência de uma teoria.

(12) Grifo em itálico nosso.

(13) Esforços na direção de inserir a parapsicologia como uma atividade normal em campus universitários  foram feitos, encontrando, entretanto, dificuldades enormes. Ver:

24 de março de 2013

II - Como a parapsicologia poderia se tornar uma ciência. (P. Churchland)



Numa série de posts, apresentaremos uma tradução comentada do artigo "How Parapsychology could become a science" (Inquiry: An Interdisciplinary Journal of Philosophy, Volume 30, Issue 3, 1987) do filósofo Paul Churchland. Este artigo é uma crítica epistemológica bem embasada à parapsicologia, crítica que deveria ser seriamente considerada pelos praticantes dessa disciplina, se eles pretendem, de fato, fazê-la avançar. Alem disso, Churchland lança dúvidas bem fundamentadas sobre o paradigma materialista presente. Vale a pena estudar com atenção este trabalho. Todas as referências dele serão apresentadas no último post. O texto em azul é do artigo.

Continuação de 'I - O argumento da tolerância'.

A "teoria predileta" desta história é a teoria clássica do calor e energia, que tem como princípio central que todas as interações mecânicas envolvem ao menos a conversão de energia mecânica em calor. Isso significa que, qualquer sistema isolado de corpos em movimento deve eventualmente 'parar', assim como ficam em repouso bolas de bilhar em uma mesa de sinuca depois de uma jogada. A energia (mecânica) cinética é dissipada pelo sistema como calor. Todo o ambiente, a borda da mesa, o ar adquirem uma temperatura levemente maior do que a que tinham antes da jogada.

O ponto importante aqui é a generalidade de um princípio chamado 'segunda lei' da termodinâmica clássica. De acordo com esse princípio, qualquer sistema de interações mecânicas, que seja fechado à entrada de energia externa, um catavento, um pêndulo oscilante, um conjunto de bolas de ping-pong colidindo em um caixa, deve eventualmente sempre entrar em repouso.

O fenômeno importante e falsificante dessa estória é o movimento Browniano, descoberto pelo botânico Robert Brown no começo do século 19. O movimento Browniano é a incessante agitação de partículas microscópicas suspensas em água ou ar, tal como espórulos de plantas ou partículas de fumaça. O movimento caótico e aparentemente eterno de tais partículas pode ser visto, e é frequentemente visto, através de um microscópio, mas não foi considerado como tendo qualquer relação com a termodinâmica clássica e a segunda lei. O palpite inicial de Brown para explicar esse movimento quase indetectável apelou para a biologia, afinal os espórulos estão vivos. O movimento igualmente ativo observado com partículas sem vida de fumaça destruíram essa hipótese, sem qualquer ameaça à segunda lei. Quem não poderia dizer que nova energia estivesse continuamente a ser fornecida de alguma fonte microscópica e quem seria capaz de contabilizar de forma precisa a quantidade de energia consumida por tais partículas tão pequenas, ou pelo meio difuso em que elas estavam em suspensão, a fim de calcular se isso estava em desacordo com a teoria clássica do calor? Tais coisas estavam muito além da capacidade de determinação experimental. E, assim, o movimento Browniano permaneceu como um problema menor para os teóricos clássicos, se é que ele fosse sequer notado. A teoria clássica dominava a paisagem como um gigante intocável.


Este vídeo mostra o movimento Browniano através de nanopartículas em suspensão na água. O movimento das partículas é perturbado por colisões com os átomos de água invisíveis. Este fenômeno permaneceu como uma anomalia desprezada pela teoria dominante, a termodinâmica clássica, que previa que as partículas teriam que acabar em repouso depois de certo tempo.

Mas, não por muito tempo. Uma teoria alternativa e razoavelmente geral do calor foi eventualmente desenvolvida por razões que não tinham nada a ver com o movimento Browniano. Essa teoria - a moderna teoria cinética - propôs que o calor nada mais é do que um tipo de energia mecânica, a saber, a energia cinética das moléculas que formam os sólidos comuns, os líquidos e os gases. Elas também estão em movimento, vibrando caoticamente ou oscilando no nível microscópico. A temperatura de um corpo foi interpretada como sendo apenas uma medida de quão vigorosamente as moléculas constituintes estão se movendo. E a 'conversão' inevitável da energia cinética no nível macroscópico em calor, que é um tema recorrente na segunda lei clássica, nada mais seria do que uma distribuição dessa energia do nível macro para o micro. Uma bola pulando eventualmente para porque as moléculas do ar ou do chão levam embora partes pequenas dessa energia cinética que estava tão organizada inicialmente no  movimento coerente do pular. A bola agora está em repouso, mas ligeiramente mais quente, assim como o chão e o ar circundante. A energia original da bola agora vive na forma de um aumento da atividade das moléculas constituintes, tanto do ar como do chão. 

Mas, o que dizer sobre as próprias moléculas em movimento? Elas não dissipariam sua energia cinética, à medida que colidem umas com as outras, assim como no caso da bola? Será que elas não terminariam também em repouso, mas ligeiramente mais quentes? Não, assim prediz a teoria cinética. As interações entre as moléculas são perfeitamente elásticas, o que é uma outra forma de dizer que nenhuma energia é perdida em qualquer interação entre elas. Dessa forma, as partículas permanecem colidindo entre si felizes para sempre. As moléculas não podem dissipar suas energias cinéticas na forma de calor, porque o movimento delas já é o que se chama calor. Um sistema fechado de moléculas em colisão, portanto, nunca estará em repouso.


Essa teoria não foi bem recebida pela maioria por uma razão fácil de se entender. Por um lado, ela postulava a existência de partículas que, por causa de seu tamanho, jamais seriam observadas pelos humanos. Por outro lado, essas partículas inerentemente 'tímidas' eram admitidas como realizando colisões elásticas entre si, em contradição direta com o princípio bem estabelecido da segunda lei. Na aparência, essa era uma proposta metodologicamente suspeita e improvável como fato.
Animação em computador do estado de agitação molecular. Para uma nova teoria (a cinética dos gases), o calor nada mais é do que uma manifestação microscópica do movimento de átomos e moléculas, que fornecia uma explicação alternativa à da termodinâmica clássica. Essa manifestação invisível de mudança tem consequências indiretas que podem ser observadas empiricamente. Cortesia Wikipedia.
Como testar essa teoria nova sobre a natureza do calor? Há muitas formas, mas discutiremos apenas uma delas aqui.  Moléculas são muito pequenas para serem vistas, mesmo com um microscópio, então não havia esperança de se ver diretamente se um gás aquecido era composto de moléculas em movimento incessante. Mas, se suspendermos partículas em um gás, partículas tão pequenas que pudessem ser afetadas de todos os lados pelo movimento das próprias moléculas de gás, mas grandes o suficiente para serem vistas ao menos com um microscópio, então o movimento incessante das moléculas será revelado pela dança incessante das partículas suspensas nele. Ou seja, se a teoria cinética é verdadeira, o movimento Browniano deveria existir! Além disso, a violência do movimento observado deve ser proporcional à temperatura absoluta do gás (quanto mais rápido as moléculas se movem, tanto mais rápido se moverão as partículas). E, mais ainda, a teoria cinética fez previsões sobre a distribuição de partículas de fumaça por causa da gravidade e da temperatura e resultou também num bom acordo com a lei clássica dos gases. Mas, não precisamos detalhar isso aqui mais. É suficiente dizer que todas essas predições são experimentalmente acessíveis e todas foram corroboradas em detalhes. 

Dessa forma, uma curiosidade menor, de relevância duvidosa para qualquer coisa, surgiu como um grande fenômeno que revelou um aspecto oculto tanto da matéria como do calor e se constituiu numa refutação permanente da segunda lei. Mas, isso aconteceu somente porque uma nova teoria nos mostrou uma maneira diferente de se pensar as coisas. Tivéssemos permanecido cristalizados nas categorias e imagens da teoria clássica, o significado do movimento Browniano jamais teria sido compreendido.  

A moral dessa história é que devemos sempre ser tolerantes com a proliferação de pontos de vista teóricos diferentes. Na verdade, devemos ativamente encorajar isso, mesmo se nossas teorias prediletas presentes não sofrerem nenhum problema empírico (1). Isso não significa que devemos abandonar teorias de sucesso ou programas de pesquisa produtivos a fim de seguir toda e qualquer ideia maluca que aparecer. Isso seria demonstrar falta de espírito crítico, de irresponsabilidade, além de postura muito ineficiente. Ao invés disso, devemos estar conscientes dos problemas com o monopólio intelectual, não importa quão bem uma teoria tenha sido desenvolvida. E, também, implica que devemos sempre estar abertos a tentativas de articular e explorar alternativas conceituais interessantes.   

Comentários


(1) Embora essa seja uma recomendação que faz sentido, na prática, a maior parte do tempo dos cientistas é gasto no desenvolvimento do paradigma principal. O paradigma confere estabilidade e permite resolver problemas, que é uma preocupação central no labor científico. A construção de alternativas teóricas - embora recomendado pela proposta de Feyerabend - é, muitas vezes, não intuitiva no contexto da prática científica.

Continua no próximo post: parte II - Parapsicologia, o lado teórico.