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2 de fevereiro de 2015

O fenômeno insólito de Hessdalen

Uma das exposições conseguidas em Hessdalen, mostrando a movimentação das luzes em uma ocorrência.
Antes que o leitor questione o caráter "não fraudulento" do assunto deste post, considere que já houve várias conferências em geologia sobre esse fenômeno. Saiba também que recentemente um artigo de divulgação foi publicado na revista "New Scientist" (1) sobre sua ocorrência (1b). Por causa dele, a cidade noruega de Hessdalen é conhecida como o único laboratório que se dedica à pesquisa de OVNIS (2) e teve os negócios de turismo incrementados por visitantes ansiosos em testemunhar as ocorrências. Por que um post sobre o assunto? A resposta é simples: porque, ao contrário do que alguns pensam, ainda existem fenômenos inexplicados na Natureza e porque a esforço dedicado a eles não parece ser proporcional a importância que advém de seu caráter insólito (o que tem muito a ver com o tratamento da fenomenologia espírita).

Portanto, acompanhar a história da atenção dada ao fenômeno de Hessdalen é acompanhar ao vivo como o mainstream rejeita e depois é obrigado a aceitar fenômenos que não estão no mapa de seus paradigmas científicos. No caso de Hessdalen, a aceitação começa pela tentativa de transformar o caso em um fenômeno natural, o que é um começo compreensível (2b). 

Segundo o site Hessdalen Project (3):
Hessdalen é uma pequena cidade na parte central da Noruega. No final de 1981 até 1984, residentes do vale de Hessdalen começaram a se preocupar e se alarmar com luzes estranhas e inexplicadas que apareceram em muitas localidades ao longo do vale. Centenas de luzes foram observadas. No pico das ocorrências, houve 20 descrições por semana.
O projeto Hessdalen foi estabelecido no verão de 1983. Uma investigação planejada foi realizada entre 21 de Janeiro e 26 de Fevereiro de 1984. Observou-se 53 luzes durante essa investigação. Isso pode ser lido em detalhes em um relatório técnico. Houve outra investigação adicional no inverno de 1985. Entretanto, nenhum fenômeno foi observado no período em que os instrumentos estiveram presentes. 

Luzes ainda são observadas no vale de Hessdalen, mas a frequência dessas ocorrências diminui para 20 observações por ano. Uma estação de monitoramento automática foi instalada em Hessdalen em Agosto de 1998. Dados e imagens de alarme podem ser vistas neste website.
Uma quantidade grande de instrumentos e câmeras de observação foram instalados. Inúmeras observações foram feitas (ver relatório técnico de 1984). Mas, não obstante a continuidade das observações, poucas explicações foram conseguidas, exceto a elaboração de teorias altamente complexas, que envolvem processos ainda desconhecidos de conversão de energia em luz. Mais do que isso, o fenômeno permanece largamente desprezado.  A imagem abaixo, extraída do site do projeto Hessdalen, é uma foto típica do que é observado. Não obstante o fenômeno se caracterizar pelo surgimento de pontos de luz que se movimentam, outras ocorrências estranhas também foram observadas, tais como a duplicação das luzes e aparecimento de cores. Estima-se que as potências luminosas envolvidas são bastante elevadas (centenas de Watts) com base na distância do fenômeno e sua impressão luminosa.

Imagem da ocorrência do fenômeno no vale de Hessdalen (foto de Fevereiro de 1983)
Aspectos epistemológicos.

Esse é um dos aspectos mais interessantes. Por nossa classificação de fenômenos naturais (4), ousamos descrever os fenômenos de Hessdalen como do tipo observável, não reprodutível e não periódico (tipo φ =4). Trata-se de uma classificação próxima dos fenômenos de efeitos físicos no Espiritismo, que são não periódicos (ou seja, não previsíveis), por causa de sua necessidade de um médium de efeitos físicos (interação com um agente humano e inteligências incorpóreas incontroláveis). As luzes de Hessdalen, porém, se enquadram apenas marginalmente como um fenômeno natural, porque são cercadas de relatos de comportamento inteligente. É dos relatórios de observação do site Hessdalen Project que colhemos este registro (ver http://www.hessdalen.org/observations/2012/):
Data: 17/8/2012. Hora: 22:26, Lugar: Slettælet, Hessdalen
Observadores: Per Alfred Halsaune, Tor Aas, Hilde Svelle, Mailen Nilsen, Heidi Kristin Jensen, Sølvi Anita Halsaune
Um avião foi visto em sul-leste, voando em direção norte. Logo depois, um raio de luz foi visto na mesma direção. Então, os observadores viram três luzes vermelhas dançando ao redor do avião, que se movia em direção norte.
Todos os anos o diretório de observações do projeto se enche com relatos de avistamentos feito por moradores das localidades acostumados aos fenômenos. Os relatórios são ricos em detalhes e contrastam com os frias observações dos equipamentos, que se tornam a cada dia mais raras. Assim como os efeitos físicos se tornaram raros, as luzes de Hessdalen também escassearam e não há quem  consiga explicar a razão.

Sobre o fenômeno de Hessdalen também se aplica o princípio enunciado por Kardec (4b):
...os fenômenos espíritas diferem essencialmente dos das ciências exatas: não se produzem à vontade; é preciso que os colhamos de passagem; é observando muito e por muito tempo que se descobre uma porção de provas que escapam à primeira vista, sobretudo, quando não se está familiarizado com as condições em que se pode encontrá-las, e ainda mais quando se vem com o espírito prevenido.
Em uma escala menor, Hessdalen reproduz os debates entre proponentes e céticos que se vê na fenomenologia espírita e na parapsicologia. O relatório completo de 1984 está cheio de cuidadosas observações feitas por pesquisadores no sentido de isolar os avistamentos genuínos de observação de aviões de um aeroporto próximo. Mesmo assim, o crítico B. Dunning protesta (5):
De forma alguma sugiro que luzes de aterrissagem de aviões sejam a causa de todos esses avistamentos, mas não vi citação por qualquer cientista líder do projeto de que um esforço sério está sendo feito para falsificar a hipótese particular de que os avistamentos podem ser explicados com base em observações de luzes de aviões.
Na cabeça desse crítico, admitir que alguns dos relatos se devem a aviões reduz a importância do que não pode ser explicado.

Hessdalen teve que ser aceito como fenômeno que existe porque as evidências tornaram-se abundantes demais. A seu favor conta a localização geográfica restrita que permitiu estabelecer uma estação de monitoramento. Contra ele está a intermitência do fenômeno, que obrigou que estação de monitoramento funcione em regime 24/7, com incidência de esperadas panes de funcionamento nos aparelhos e inclemência do clima local (não se sabe a causa, mas o fenômeno ocorre com mais frequência no inverno). É possível apreciar a imagem do vale em tempo real na página do projeto Hessdalen.

Conclusão

Em uma página desprovida de qualquer imagem, a ultra ortodoxa Wikipedia (6) descreve várias teorias consideradas "aceitáveis" para o fenômeno. Elas se enquadram mais ou menos como "teorias de combustão" - como no caso do chamado "fenômeno de fogo fátuo". Outras são mais complexas, mas não gozam de ampla aceitação no mainstream acadêmico que podemos dizer se limita a pouquíssimos investigadores destemidos que decidiram estudá-lo. Se for explicável como um fenômeno natural, as luzes de Hessdalen prometem revolucionar os processos de conversão de energia.

O problema com essas teorias é que elas pretendem explicar o fenômeno com base em sua localidade, único fundamento para continuidade das investigações. Elas seriam válidas por causa de características geológicas do vale de Hessdalen, presença de gases radioativos, piezoeletricidade. Desprezam largamente as descrições de movimentação insólita das luzes feitas por moradores, muitos que afirmaram serem vítimas de perseguição por parte das luzes nas estradas que contornam o vale. Mas, o problema maior é que Hessdalen não é o único lugar onde tais luzes podem ser avistadas (7). Há diversos relatos e registros de luzes que repentinamente aparecem, como no caso das "luzes de Margate" (8) em junho de 2014. Há também vários casos registrados no Brasil. Assim, ficamos com tentativas de explicações que buscam enquadrar alguns aspectos do fenômeno apenas.

Desconfiamos que, por muito tempo ainda, Hessdalen ficará sem explicação.

Referências e notas

1b. Bjørn Gitle Hauge (2010). "Investigation & analysis of transient luminous phenomena in the low atmosphere of Hessdalen valley, Norway". Acta Astronautica, vol 67, p.1443-1450. 
2. No sentido literal, "OVNI" simplesmente significa "objeto voador não identificado";
2b. J. Monari et al (2013). "Hessdalen, a perfect 'Natural Battery' " Comitato Italiano per il Progetto Hessdalen: http://www.itacomm.net/PH/2013_Monari_et-al-en.pdf (acesso em 2015)
4. A. Xavier (2013). "The Non-observable Universe and an Empirical Classification of Natural Phenomena".
4b. A. Kardec. "O que é Espiritismo". Cap. I, Primeiro Diálogo.
5. http://skeptoid.com/episodes/4270
7. O site http://www.en.hessdalen.de/ contém interessantes registros do fenômeno.