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2 de janeiro de 2014

Crenças Céticas XXIII - Pequeno manual de falácias não formais com exemplos do ceticismo (2)


Segunda parte da série de posts sobre falácias de relevância, com exemplos tirados do ceticismo. Nessa parte, apresentamos um tipo de falácia de relevância que é amplamente generalizada pelo amadorismo lógico. Para o post anterior dessa série clique aqui.

Falácia de relevância: Argumentum ad Hominem

Talvez esta seja o tipo mais disseminado de falácia: a que pretende construir um contra argumento com base na desqualificação (moral ou circunstancial) de quem postula uma determinada tese (Fig. 1). De certa forma, essa falácia é oposta ao argumento da autoridade: enquanto que, com a de autoridade, uma proposição é admitida verdadeira porque é sustentada por pessoas que tem determinadas qualidades, no caso da falácia ad hominem, o argumento é invalidade porque seu propositor é desqualificado por seus defeitos. Portanto, a falácia ad homimem é sempre negativa.

Exemplos desse tipo de falácia são abundantes, mas convém primeiro distinguir os vários tipos dela conforme (1):
  1. Ad hominem "ofensivo": o argumento é desqualificado com base de que quem o sustenta é acusado de algum defeito moral ou má ação, alguém indigno de confiança;
  2. Ad hominem "circunstancial":  um argumento deve ser rejeitado por alguém porque, quem o defende, está envolvido em circunstâncias que tornam supostamente impossível sua aceitação. O exemplo mais famoso desse tipo de falácia é a "resposta do caçador" que não aceita críticas de não vegetarianos à sua prática de caça (1). De fato, essa replica é falaciosa porque se escora numa desqualificação da pessoa. 
Fig. 1
Existem exemplos numerosos desse tipo de falácia, mas uma que nos chama atenção pode ser lida no site da "Associação Cultural Montfort'" escritas por Orlando Fedeli. O autor acusa Kardec de racismo (assim como a K. Marx e Voltaire), mas chamas os espíritas (Brasileiros) de 'tupiniquins'. Em particular, salta aos olhos o envolvimento emocional (e, portanto, nada lógico) mostrado por Fedeli ao escrever isto:
Lendo os livros de Kardec, tem-se a impressão de ler textos de um aluno de ginásio que, não tendo compreendido bem a lição que recebeu, e com presunção própria aos ignorantes, escreve obras sem nexo, contraditórias e mal feitas. O resultado é uma Gnose de "basse cour", isto é, uma "gnose de galinheiro".(2)
O que podemos dizer sobre essas palavras? É com essas bases que ele pretende 'argumentar' sua tese de racismo que não passa de uma visão distorcida dos textos que caiam em suas mãos. 

É no contexto dos inúmeros sites de pseudo ceticismo que encontramos, por exemplo, a crítica do blog Skeptic (3) dirigida ao prof. W. Bengston, um importante pesquisador da efetividade da imposição de mãos. Já entrevistamos o prof. Begston aqui (4), de forma que mais sobre o trabalho que ele desenvolve pode ser visto nesse post. Recentemente, o prof. Bengston sofreu um ataque cardíaco. Um cético do site Skeptics não perdeu a chance de enunciar seu 'argumento' sobre porque os trabalhos de Bengston fazem rir:
He could not even cure himself from a heart attack and he claims he has special powers? 
Claramente essa é uma falácia do tipo 'ad hominem', contaminada pelo fato de Bengston nunca ter afirmado possuir 'poderes especiais'. 

Devemos nos precaver todas as vezes que encontramos 'provas' desse tipo, que pretendem defender pontos de vista com base em desqualificações ad hominem, que saltam aos olhos bem treinados como tentativas desesperadas (muitas emocionais) de fazer valer seus pontos de vista. O maior risco sempre será quando quem argumenta realmente acredita que uma resposta 'ad hominem' tem qualquer valor.

Referências e notas

(1) - Irving M. Copi (1978). Introdução à lógica. Editora Mestre Jou.
(2) Orlando Fedeli (n. d.). Allan Kardec, um racista brutal e grosseiro. Para críticas a esse autor ver: http://orlandofedelicontratudo.blogspot.com.br/
(3) http://www.skepticforum.com/viewtopic.php?f=16&t=20929 (Acesso, Janeiro de 2014).
(4) Ver: Entrevista II -1/2 - William Bengston e a pesquisa de curas por imposição das mãos (passes de cura)
(5) "Ele nem mesmo pode curar a si mesmo de um ataque do coração e afirma ter poderes especiais?"