Mostrando postagens com marcador experiência de quase morte. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador experiência de quase morte. Mostrar todas as postagens

23 de setembro de 2022

Experiências de quase-morte: considerações sobre explicações convencionais recentes.

 

Uma proposta nos chegou para divulgar experiências mais recentes de EQM (ou "experiências de quase-morte", em ingle NDE ou "near death experiences"). De fato, posts sobre essas experiências são um pouco antigos aqui (um deles já tem 10 anos...[1]). Desde então, o que mudou? Ao longo do tempo, muitas outras experiências foram relatadas. Os leitores poderão acessar, por exemplo, os sites da International Association for Near-Death Studies (IANDS e sua revista especializada Journal of Near-Death Studies) ou da Near-Death Experience Research Foundation (NDERF). Esses locais na rede dedicam-se ao acúmulo e estudo de relatórios de experiências de quase-morte de uma maneira sistemática.

De forma mais específica, de 2012 até 2022, o que a comunidade acadêmica disse a respeito do assunto? Por "comunidade acadêmica" entendemos aqueles que não comungam das mesmas explicações de alguns dos investigadores pioneiros do assunto, como é o caso de R. Moody, S. Parnia [3], ou o Dr. Bruce Greyson [4]. Esses pesquisadores têm sido em parte responsáveis pela divulgação desses eventos na grande mídia. Eles chamam atenção para o caráter anômalo dos reportes de EQM; ao fato de que elas "sugerem" continuidade da vida após a morte.

Um debate tem se estabelecido naturalmente entre os adeptos da explicação "sobrevivencialista" (de que as experiências informam sobre uma realidade maior além da vida) e os que negam qualquer coisa nesse sentido. Exemplos de opiniões nessa última direção podem ser lidos em [2], [2b], [5], [6] e [7]. Isso é plenamente compreensível porque não existe uma teoria completa sobre a consciência, que é considerada um subproduto da atividade do cérebro. De acordo com essa visão acadêmica majoritária, as EQMs seriam apenas reações normais de um cérebro em perigo de vida, algo como as reações de "tanatose" dos insetos.

O problema da falta e uma teoria da consciência

Problemas começam com as definições apropriadas de "morte cerebral". Essa definição é fundamental para se entender o fenômeno, uma vez todos que reportaram a experiência sobreviveram. Ou seja, o cérebro não estava "morto" de fato, não obstante a parada cardíaca. 

Para se ter uma ideia da confusão reinante, devemos considerar trabalhos extensivos de mapeamento de regiões cerebrais e sua associação com funções cognitivas fundamentais. Diz-se que tais funções são "geradas" ou "processadas" em regiões super específicas do cérebro. Isso  não é diferente de dizer que a causa para as operações do pensamento está no tecido neural dessas regiões. Essa explicação, porém, é abalada pelo conceito de "plasticidade cerebral" nos casos de pacientes com lesões sérias em determinadas parte do cérebro, mas sem qualquer impacto em seu comportamento cognitivo. Essa plasticidade é definida como a "capacidade do cérebro de alterar sua estrutura e função" [8]. Ora, diante disso, o que de fato, gera as funções cognitivas? Ao invés de regiões e tecidos específicos, a explicação envolve reconhecer que o cérebro em seu conjunto é a própria origem, o que torna o mapeamento inócuo de um ponto de vista fundamental. Toma-se o próprio fenômeno como a causa. 

A identificação mais profunda da causa é ainda obscurecida pela "complexidade" das conexões entre os bilhões e bilhões de neurônios que formam o cérebro. Essa complexidade seria a própria causa, como parece ser a explicação vigente, sendo que a variedade, riqueza e multiplicidade das experiências conscientes é resultado de uma organização inacessível na escala microscópica. Oculto na complexidade qualquer explicação é possível e talvez indique um problema na metodologia de pesquisa dos fenômenos de EQM.

Essas dificuldades metodológicas são evidentes diante de um dos primeiros monitoramentos aparentemente completos da atividade cerebral durante um episódio de óbito. Como descrito em [9], ele foi realizado apenas em 2022. Há claras dificuldades operacionais e éticas, como conseguir autorização da família para realizar estudos científico em um parente querido com quadro clínico constatado como irreversível. 

Opinião convencional vigente

A referência [2b] resume o estado de ânimo reinante nos defensores das explicações convencionais. A autora pondera:

Aceito a realidade dessas experiências intensamente vivenciadas. Elas são tão autênticas quanto qualquer outra percepção ou sentimento subjetivo. Como cientista, entretanto, opero sob a hipótese de que todos os nossos pensamentos, memórias, percepções e experiências são consequências inevitáveis de causas naturais em nosso cérebro ao invés de experiências sobrenaturais. Essa premissa serve muito bem a ciência e suas criações tecnológicas ao longo dos últimos séculos. A menos que existam evidências objetivas, convincentes e extraordinárias ao contrário, não vejo razão para abandonar esse pressuposto.

Há claramente um problema de percepção das causas aqui. A sobrevivência é considerada uma "experiência sobrenatural" sem se especificar o que isso significa: seria uma quebra da ordem natural completamente desnecessária na teoria da sobrevivência? De resto, é evidente que todas as experiências de EQM são filtradas pelo cérebro, tal como o são as experiências cognitivas normais. Não obstante isso, a essas últimas é conferido o caráter de "realidade" que existe independende da "recriação" cerebral. Mas não há nada nas explicações neurológicas convencionais que explique como isso é possível. Tanto faz, neurologicamente falando se "o cérebro vê uma lâmpada externa acesa" ou "imagina ver uma lâmpada" (as mesmas regiões do cérebro são usadas na percepçao e na imaginação de algo).

Desprovido de qualquer referência de informação da realidade externa, a explicação convencional é resumida por esta passagem em [2]:

Sem surpresa, muitos consideram as EQMs como evidências de vida após a morte, do céu ou da existência de deus. As descrições de deixar o corpo ou de uma bem-aventurada união com o universal parecem ter origem em crenças religiosas sobre almas deixando o corpo na morte e subindo em direação a um céu das bem-aventuranças. Mas, essas experiências são compartilhadas entre uma ampla gama de culturas e religiões de forma que não é improvável que elas sejam reflexo de expectativas religiosas específicas. Ao invés disso, esse caráter comum sugere que as EQMs se originam de algo mais fundamental do que expectativs religiosas e culturais. Talvez as EQM reflitam mudanças em como o cérebro funciona quando nos aproximamos da morte.

Em suma: a regularidade e uniformidade de relatos é atribuido a uma "crença religiosa generalizada", que tem como causa nada além de ocorrências comuns no cérebro. A universalidade da experiência tem como origem a universalidade da bioquímica do que ocorre no cérebro moribundo.

A extraordinariedade, objetividade e convencimento das EQM devem ser buscadas no caráter de "realidade externa" independente que alguns relatos demonstram e que é um mistério para as explicações convencionais. 

A ligação entre EQMs e a realidade externa

Assim, é bastante claro que, se as EQM permanecerem como "experiências vividas e significativas" para quem as experimenta, elas permanecerão também indistinguíveis de estados fantasiosos "normais". Esse caráter significativo e impactante é irrelevante para a explicação convencional da mente como produto do cérebro.  Qualquer coisas que se imagine, se vivencie será sempre uma experiência privada e, portanto, uma fantasia produzida pelos neurônios cerebrais.

Mas, será apenas isso o que as EQMs relatam?  O interesse contemporâneio de neurocientistas pelos casos de EQM passam muitas vezes longe de relatos anteriores na literatura especializada de EQMs verídicas [10].  Por esse nome se designam EQMs em que os pacientes descrevem coisas no mundo externo que seria impossível a eles descrever no estado e na posição de seus corpos no momento da experiência. Existem inúmeros casos reportados e um deles já foi descrito aqui [10b]. Porém, uma peculiaridade do meio de pesquisa simplesmente considera tais casos como "pura ficção".

Em um trabalho recente [11], Stripp considera que os relatos de EQM verídicas são desprezados intencionalmente pela comunidade acadêmica conforme o "viés reducionista" dominante. Sobre as "falácias ontológicas e epistemológicas" associadas a NDEs, Stripp pondera corretamente [12]:

Tais declarações são baseadas em suposições ontológicas materialistas. Essas são suposições para as quais os autores não conseguem mencionar nem discutir, dando origem a um falácia de pensamento circular: uma vez que tudo está na biologia, as EQMs tem um objetivo biológico. Não estou a argumentar contra esses aspectos comuns em todos os humanos, mas sugiro que tais aspectos podem não resultar integralmente dos componentes biológicos do corpo humano. Simplesmente não conhecemos tudo o que nos mantem coesos. Além disso, objetividade pura é, em muitos cenários, impossível, considerando que sempre haverá alguma subjetividade e decisões humanas em toda pesquisa. Essa subjetividade introduz um viés que deve ser criticamente avaliado. Mesmo os axiomas mais comuns da ciência são construções humanas e devem ser considerados como tal.

Em outras palavras: quando evidências verídicas são fornecidas, os relatos não são considerados suficientemente "objetivos" para merecerem "crédito acadêmico", sob uma suposta exigência de objetividade. Mas isso é imcompatível com a natureza do fenômeno estudado. 

Essa falta de consideração é cuidadosamente selecionada para que apenas os relatos que se adequam à visão materialista vigente façam sentido. Muitas abordagens convencionais acabam, portanto, apenas se dedicando aos aspectos do fenômeno que podem ser aparentemente explicados justamente por aquilo que pesquisadores acreditam desde o início. Por exemplo: reduzir NDEs a experiências semelhantes a  "alucinações provocadas por drogas" é uma das estratégias de desconstrução da rica fenomenologia dos relatos [12]. Alguns pesquisadores [13] têm denunciado essa postura que não pode ser considerada científica.

No nosso entendimento, esse estado de coisa é lamentável como postura "científica", mas perfeitamente compreensível. Não será possível promover uma revolução na maneira de pensar da academia sem estudos sistemáticos sejam conduzidos com os fenômenos de EQM. Aliás, sobre isso, o que será mais "extraordinário" realizar é a completa mudança de mentalidade a respeito do assunto. Por serem fatos que devem ser "colhidas de passagem" (como diria Kardec), será muito difícil estabelecer qualquer tipo de controle rigoroso  na sua frequência, ocorrência e avaliação. Seria o mesmo que querer validar em laboratórios fenômenos esporádicos que somente ocorrem na Natureza em grande escala. Entretanto, as EQM fornecem e sempre fornecerão evidências bastante convincentes da realidade da continuidade da vida a despeito das tentativas de acomodá-la a concepções preconcebidas.

Referências

[1] Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011). https://eradoespirito.blogspot.com/2012/11/reflexoes-sobre-o-contexto-de.html

[2] R. Martone (2019). "New Clues Found in Understanding Near-Death Experiences".https://www.scientificamerican.com/article/new-clues-found-in-understanding-near-death-experiences/

[2b] C. Koch (2020). What Near-Death Experiences Reveal about the Brain. https://www.scientificamerican.com/article/what-near-death-experiences-reveal-about-the-brain/

[3] Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia). https://eradoespirito.blogspot.com/2011/11/livro-iii-o-que-acontece-quando.html

[4] Near-Death Experiences (NDEs). https://med.virginia.edu/perceptual-studies/our-research/near-death-experiences-ndes/

[5] Evrard, R., Pratte, E., & Rabeyron, T. (2022). Sawing the branch of near‐death experience research: A critical analysis of Parnia et al.’s paper. Annals of the New York Academy of Sciences.

[6] Hannah Flynn (2022). When are we really dead? New study sheds lighthttps://www.medicalnewstoday.com/articles/when-are-we-really-dead-new-study-sheds-light

[7] Martial, C., Gosseries, O., Cassol, H., & Kondziella, D. (2022). Studying death and near-death experiences requires neuroscientific expertise. Annals of the New York Academy of Sciences. https://orbi.uliege.be/bitstream/2268/293819/1/comment%20on%20parnia%20et%20al_final.pdf

[8] Kolb, B., & Whishaw, I. Q. (1998). Brain plasticity and behavior. Annual review of psychology, 49(1), 43-64.

[9] Vicente, R., Rizzuto, M., Sarica, C., Yamamoto, K., Sadr, M., Khajuria, T., ... & Zemmar, A. (2022). Enhanced interplay of neuronal coherence and coupling in the dying human brain. Frontiers in aging neuroscience, 80.

[10] Ring, K., & Lawrence, M. (1993). Further evidence for veridical perception during near-death experiences. Journal of Near-Death Studies, 11(4), 223-229.

[11] Stripp, T. K. (2022). Near-death experiences and the importance of transparency in subjectivity, ontology and epistemology. Brain Communications, 4(1), fcab304.

[12] Van Lommel, P. (2011). Near‐death experiences: the experience of the self as real and not as an illusion. Annals of the New York Academy of Sciences, 1234(1), 19-28.

[13] Moreira-Almeida, A., Costa, M. D. A., & Coelho, H. S. (2022). Cultural Barriers to a Fair Examination of the Available Evidence for Survival. In Science of Life After Death (pp. 73-77). Springer, Cham.

2 de setembro de 2018

Visões de Leito de Morte


Relatos de pessoas muito próximas da morte podem conter descrições lúcidas do que nos aguarda além da vida.

Recentemente o JEE - Jornal de Estudos Espíritas - publicou um artigo nosso [1] sobre o tema "Visões de leito de morte". O que são tais visões? Trata-se de um grande número de relatos (encontrados em todas as épocas e povos) de pessoas que testemunham um aparente reacender de consciência de doentes terminais ou pessoas que se avizinham da morte. Durante tais lampejos, o doente descreve encontros ou visitas de pessoas já falecidas. Em [1] mostramos que tais visões: 
  • São relatos feitos por pessoas - moribundos - que não tem qualquer intenção em falsear ou mentir, já que estão muito próximas do fim da existência material.
  • São relatos que se distinguem de meras alucinações, pois não ocorrem sob as mesmas condições que se observam durante alucinações típicas.  
  • São relatos colhidos de testemunhas idôneas (frequentemente parentes) que afirmam ter o moribundo entrado em contato com parentes já falecidos antes de morrer.
  • Mostram que os parentes falecidos vem para ajudar o moribundo em sua "passagem", implicando diretamente na continuidade da vida após a morte;

O termo "Visões de leito de morte" (VLM), em inglês, "Deathbed Visions", tem uma história curiosa na literatura das pesquisas psíquicas. Não é preciso pesquisar muito para descobrir que A. Kardec se referiu a elas conforme informamos em [1]. Entretanto, foi apenas com o trabalho de E. Bozzano (1862-1943) que uma delimitação mais precisa - como uma classe de eventos com características peculiares comuns - foi feita.
E. Bozzano (1862-1943)

Uma ampla busca bibliográfica de artigos e livros já produzidos sobre o tema é feita em [1]. As VLMs são fenômenos que ocorrem todos os dias nos leitos de muitos hospitais. São típicas em mortes de doentes que têm a chance de se comunicar com seus parentes antes do momento final (não é o caso, por exemplo, de morte violentas). Esses parentes tornam-se testemunhas de um desdobramento momentâneo do doente, um recobrar de consciência por brevíssimo período em que o doente goza de uma lucidez incompatível com seu estado físico. A chamada "lucidez terminal" [2] dá origem a diversos fenômenos interessantes que são fáceis de se explicar pela concepção espírita da morte.

Assim, a explicação paras as VLMs é bastante trivial para o Espiritismo. É de se esperar que o enfraquecimento dos laços físicos torne o Espírito mais livre, ainda que ligado a seu corpo antes do desenlace definitivo. Entretanto, também em [1] mostramos que apenas o Espiritismo - como doutrina espiritualista - valorizou as VLMs como provas da continuidade da existência. Pode-se então dizer que apenas para alguns espiritualistas (os espíritas a partir de A. Kardec) as VLMs fazem sentido como relatos de vivências extracorpóreas que comprovam a continuidade da consciência além da morte. Isso pode parecer incrível, mas o leitor encontrará outras doutrinas chamadas "espiritualistas" para as quais tais relatos nada representam.

Nossa conclusão é as VLMs formam um consenso independente da fenomenologia mediúnica, ainda que pouco valorizado, de que vida continua após a morte. Tal conclusão é valida ainda que os relatos sejam desprezados de forma ampla por acadêmicos que têm preguiça em analisar e correlacinar fatos mais extensivos que ocorrem no momento da morte (simultaneidades, aparições, visões inesperadas, cheiros, sensações de presenças correlacionadas). 

Talvez o leitor facilmente tenha notícia de algum parente testemunho de uma VLM. Não deixe de compartilhar qualquer experiência que tenha ouvido falar sobre tais visões nos comentários abaixo. Seu testemunho é importante para o consenso em direção à sobrevivência da alma. 

O artigo [1] pode ser baixado gratuitamente através da plataforma online do JEE.

Referências

1 - Xavier, A. Jr. Fenomenologia das visões de leito de morte: em direção a um consenso sobre a sobrevivência da alma. Jornal de Estudos Espíritas. 6, 010207 (2018)
2 - Nahm, Michael et al. Terminal lucidity: A review and a case collection. Archives of gerontology and geriatrics, v. 55, n. 1, p. 138-142, 2012.






20 de outubro de 2014

Crenças céticas XXV: comentários à argumentação cética de um grande estudo em NDE.

A página Science Alert (1) postou um texto sobre um importante trabalho médico (realizado como escopo do projeto AWARE) sob a direção do Dr. Sam Parnia (2). Outro texto sobre esse trabalho de Parnia pode ser lido no blog "The Telegraph" (3) e aqui.

O "The Telegraph" se abriu para opiniões de leitores. Essas opiniões se apresentam mais como um amontoado de reações inconformadas com o trabalho de Parnia et al. Elas vão desde argumentos "ad hominen" (ou seja, que colocam em dúvida a credibilidade científica de Parnia) até argumentos "bíblicos". A partir da publicação do artigo, os comentário claramente se dividem entre três grupos:
  • Os que aceitam o trabalho e que acreditam na vida após a morte por diversas razões;
  • Os que não aceitam o trabalho e o negam de diversas formas que pretendem ser "científicas" (materialistas, ateus e agnósticos);
  • Os que não aceitam o trabalho porque ele contraria a bíblia.
Raros comentários demonstram que seus opositores leram e compreenderam o trabalho que passam a criticar. Vamos comentar algumas dessas opiniões céticas. (Atenção: os comentários em inglês originais estão em "Referências e Notas").

Iniciamos por este:
Wim Borsboom: Qualquer que seja o estado do morto depois do que se chama "morte", ele não poderá ser chamado de "vivo" porque, etimologicamente, a palavra "life" deriva de uma versão proto-germânica que pode ser traduzida em inglês como "corpo": A palavra "life" (inglês arcaico 'lif') é derivada da raiz proto-germânica 'libam', que tem os seguintes cognatos: 'lijf' (Holandês) para 'corpo' e 'Leib' (Alemão) para 'corpo'.
Temos aqui um especialista em semântica de línguas antigas que desvia totalmente o assunto para uma questão irrelevante. Para ele, não interessa qual o resultado do trabalho porque, por definição, alguém sem corpo não é vivo de qualquer jeito.
hjp70: Quão científico é essa pesquisa (?). Vejamos: 2060 casos dos quais 330 se recuperaram. Isso dá 16%. Isso significa que 84% não puderam ser entrevistados porque morreram. Desses, 300, somente 140 disseram que eles experimentaram algo. 190 não afirmaram nada disso, o que é 58% daqueles que retornaram. Os 140 são apenas 6,8% do grupo de estudo de 2060. Dificilmente isso será  um estudo científico de "vida após a morte" como é chamado. Temos um longo caminho pela frente com isso, mas, como sempre, é também algo que grupos religiosos dizem que "não pode ser negado".  
Aparentemente esse crítico leu os números da estatística apresentada por Parnia et al. Porém, seu argumento explora relações quantitativas decrescentes (que estão presentes com qualquer tipo de fenômeno raro) de forma a invalidar o estudo. Ao se aplicar o raciocínio desse crítico a outros experimentos científicos (que apresentam taxa muito inferior a frequência de 1 caso em 1000 de relatos confirmados de experiência), jamais seria possível ter avanço em muitas áreas do conhecimento (5). Há duas tentativas de descaracterização aqui: i) não reconhecer que o trabalho conseguiu levantar as frequências relativas de eventos; ii) desconsiderar os casos que não podem ser explicados por nenhuma teoria da consciência reducionista do presente.  A última frase do crítico mostra que ele está preocupado com o apoio que o trabalho daria a ideias religiosas. 
arumat: Eles não estavam mortos porque voltaram a viver depois de alguns segundos. Tragam alguém que voltou depois de algumas horas e então conversaremos.
Eis alguém que dita regras à natureza. É como se pudéssemos exigir que os fenômenos se apresentassem de determinada maneira para que pudéssemos acreditar. Esse crítico está longe de considerar a teoria aceita presente sobre o estado do cérebro de pacientes que se encontram na situação descrita em Parnia et al. Ora, fatos são fatos e a evidência traz relatos de experiências de quase-morte com duração de vários minutos. Esse é o núcleo do problema a ser explicado independente de sua duração real.   
Chris Corbett: A afirmação de que o cérebro não pode funcionar quando o coração para de bater é patentemente falsa e o único método de estabelecer por quanto tempo a atividade cerebral continua depois da parada cardíaca é colocando o paciente em uma máquina de MRI ao invés de ressuscitá-lo. Isso não vai acontecer por razões óbvias. Quem quer que conheça um mínimo de ciência cognitiva sabe que memórias são notoriamente não confiáveis. Memórias de eventos ou estados de consciência que aparentemente se referem a períodos quando o cérebro esteve inativo não são evidência de nada. Então, ou as memórias são falsas e apenas racionalizações post-hoc ou elas são evidência de que o cérebro estava, de fato, ativo por certo tempo. Tenho memórias distintas de que voei como Peter Pan acima da árvore do meu jardim quando criança e olhando desde cima a cena. Mas, eu voei realmente? Como foi que adquiri essas memórias? Elas foram, naturalmente, resultado de um sonho.
Essa é, certamente, a melhor das críticas, pelo menos aparentemente. Não há dúvidas que uma opção de conclusão às evidências apresentadas em Parnia et al. é que algum tipo de atividade cerebral deveria estar envolvida para que as memórias fossem descritas tais quais são. Entretanto apontamos: 
  1. Tecnicamente é preciso considerar o grau de acurácia de detecção de equipamentos de tomografia versus EEG (eletroencefalograma) ou do tipo usado pela pesquisa. Como o crítico bem coloca, é quase impossível fazer isso. De qualquer forma, não é suficiente acreditar que uma tomografia daria resultados mais precisos  nesse caso porque tomógrafos retornam um tipo de informação diferente de EEGs; 
  2. É necessário reconhecer o valor do tipo de descrição feita pelo paciente (o que implica em aceitar o contexto em que ela ocorre que é distinto da ocorrência dos sonhos). Pacientes afirmam ter tido a experiência de outro ângulo da sala, ou seja, de uma perspectiva que não é de alguém deitado, de eventos que ocorreram de fato enquanto o cérebro estava moribundo. Ou seja, o paciente "sonhou" algo que aconteceu de fato. Esse tipo de detalhe é completamente desconsiderado pela crítica.
Nesta referência (6), um grande especialista em EEGs (Dr. John Greenfield, Universidade de Toledo) contesta explicações puramente técnicas que invalidam tais relatos, assim como a suposta maior precisão de outro tipo de técnica ao uso de EEG.

Segundo o Dr. John Greenfield (6), não há razões para se acreditar que um EEG em linha (que caracterizaria morte cerebral) não correlacione muito bem com total ausência de atividade no cérebro. Portanto, o mistério continua com relação a pacientes que descrevem experiências enquanto têm EEG em linha durante NDEs.
pippilongstocking: Eclesiastes 9:5 "...os mortos nada sabem..."
Por fim, encontramos grupos de religiosos que se escoram na autoridade de textos antigos para decidir a verdade sobre o assunto. Embora a ciência tenha demonstrado sistematicamente a precariedade do conhecimento da Bíblia em relação a muitas coisas do mundo natural, há pessoas que ainda creem que ela é autoridade incontestável em muitas outras matérias. 

Conclusão

O principal problema a negar as evidências como as apresentadas pelo trabalho de Parnia et al. é a incapacidade que críticos têm em manter visão integrada do fenômeno. Críticos que focam apenas nos aspectos técnicos frequentemente desprezam os componentes semânticos e informacionais dos relatos que acabam sistematicamente desprezados. Ainda assim, o  trabalho de Parnia et a. está no limite da técnica atual, sendo possível desqualificar muitas das críticas feita a ele por céticos técnicos mal informados.

Deficiências nas teorias presentes sobre o comportamento da consciência em seus estados alterados fazem com que vários aspectos das experiências sejam simplesmente ignorados. Se as memórias de pacientes de experiência de quase morte correspondem a sonhos, elas também se caracterizam como um tipo muito peculiar ou inexplicável de sonho. Imagine que alguém dormindo pudesse descrever situações confirmadas por outros em vigília. A alta correlação observada entre os relatos e as situações apontam para ganho de conhecimento de forma anômala. Se alguém sonha com a realidade enquanto dorme é porque esteve em contato com essa realidade de alguma forma desconhecida.

Portanto, trabalhos futuros em torno de experiências de quase morte devem privilegiar menos aspectos médicos e terapêuticos e se concentrar  na análise dos relatos, bem como no estabelecimento de correlações entre esses relatos e as ocorrências em torno dos pacientes. 

Referências e notas

1 -  Bec Crew (2014), "Largest study on resuscitated patients hints at consciousness after death": http://sciencealert.com.au/news/20140810-26301.html

2 - S. Parnia et al. (2014). "AWARE—AWAreness during REsuscitation—A prospective study." http://www.resuscitationjournal.com/article/S0300-9572(14)00739-4/pdf

3 - S. Knapton (2014). "First hint of 'life after death' in biggest ever scientific study" http://www.telegraph.co.uk/science/science-news/11144442/First-hint-of-life-after-death-in-biggest-ever-scientific-study.html

4 - Textos originais em inglês conforme foram postados.
Wim Borsboom :Whatever the state of a deceased is, after what is usually called "death", it should really not be called "life", because etymologically the word "life" derives from a Proto-Germanic word that is translated in English as "body": The word "life" (Old English 'life', 'lif') is derived from a Proto-Germanic root '*libam' which has as current cognates: 'lijf' (Dutch) 'body' and 'Leib' (German) 'body'. 
hjp70 How scientific is this research.Lets see 2060 cases of which 330 recovered.That is 6%. hat means 84% could not be asked because they died.Of the 330 only 140 said they experienced something 190 didn't which is 58% of those that recovered.The 140 is only 6.8% of the study group of 2060.Hardly a scientific study of "life after death" as it is called.A long way to go with this but as always with something that religious groups espouse to "it cannot be disproved". 
arumat : They weren't dead if they came back to life after a relatively few seconds. Let them bring someone back after a few hours and we'll talk.
Snakey_Pete: No detectable electrical activity is different to no electrical activity. These people were able to describe their experience of hearing the machine 'beep' and their emotional state at the time. They had memory of it. The auditory cortex and limbic system must be active for these memories to have been formed for the individual to recount on waking. 
Chris Corbett: The claim that ""We know the brain can't function when the heart has stopped beating" is patently false and the only certain method of establishing how long brain activity continues after cardiac arrest is to stick them in a MRI machine instead of resussitating them. This is not going to happen for obvious reasons. It is well known to anyone with even a passing knowledge of Cognitive Science that memories are notoriously unreliable. Memories of events or states of awareness that apparently refer to periods when the the brain was inactive are not evidence of anything. If the brain is inactive, it cannot be capable of laying down memories. So either the memories are false and mere post-hoc ationalisations or they are evidence that the brain was in fact active to some extent at that time. I have distinct memories of flying like Peter Pan above the tree in my garden as a child and looking down at the scene below me. Did I really fly? How did I come by these memories? They were, of course, the result of a dream. 
pippilongstocking. "Ecclesiastes 9:5 "...the dead know not anything..."
5 - É interessante considerar que uma chance de falha da ordem de 1/1000 em um sistema físico é considerada um tipo de falha classe "C" ou moderada. Sobre isso ver a norma militar MIL-STD-1629A (1980). Quando se considera uma grande população, o número de pessoas que têm "experiências verídicas" de NDE não é desprezível, o que invalida completamente o argumento cético.

6 - "EEG Expert can't explain NDE data... And. Dr. Penny Sartori finds more than Hallucinations in NDE accounts." ou "Especialista em EEG não consegue explicar dados de experiências de quase-morte. E, o o Dr. Penny Sartori vê mais que alucinações em relatos de NDEs". (http://www.skeptiko.com/eeg-expert-on-near-death-experience/)

27 de setembro de 2014

Cinco principais "evidências" para existência de vida após a morte.

Quando observado desde sua perspectiva teórica, o Espiritismo fornece um panorama admirável, que demonstra os diferentes graus de manifestação da consciências (Espírito). Esses  graus surgem de formas diversas, frequentemente considerados separados do ponto de vista fenomenológico, mas que mostram a operação de um mesmo e único princípio. Esse princípio é independente da matéria, mas está em parcial interação com ela.

Entretanto, os que não conhecem os princípios espíritas e que estão distantes de considerações filosóficas muitas vezes recebem notícias e reportagens sobre uma variedade grande de "fenômenos anômalos". Esse é o caso de uma grande comunidade de interessados nas teses da sobrevivência (1), em diversos países. O livro "Pare de se preocupar! Provavelmente há vida após a morte" (2) de G. Taylor é um exemplo que resume esse estado de coisa. O título define o grau de envolvimento do autor com a tese: o uso do advérbio 'provavelmente' (em itálico) indica que são apenas possibilidades. Cinco dos principais grupos de fenômenos que são considerados por Taylor "evidências" de vida após a morte são:

1 - Experiências de quase morte "verídicas". O qualificativo "verídica" se aplica às experiências de quase morte em que o paciente reporta a observação de fatos e experiência no "plano material" que são posteriormente confirmadas, fatos "verídicos" que ele não poderia ter conhecido de outra forma porque estava passando pela experiência de quase morte;

2 -  Experiências "Peak-in-Darien". Denominação apenas conhecida de "especialistas" em experiências de leito de morte (3). Trata-se de relatos de pessoas nos instantes finais de vida, que descrevem a presença de parentes falecidos, inclusive contatos com parentes considerados ainda "vivos", porém que realmente se encontram falecidos. Isso acontece porque os que se cercam do moribundo ainda não sabem da situação atual do parente recém falecido.

3 - Mediunidade. A conhecida faculdade de entrar em contato com Espíritos, bastante estudada por Kardec.

4 - Fenômenos de leito de morte. Embora seja comum que pessoas que se avizinhem da morte relatem contatos com parentes falecidos ou outras experiências consideradas extraordinárias (EQMs), há relatos de pessoas sãs, que acompanham esses desenvolvimentos, e que também experimentam "visões". Algumas dessas ocorrências envolvem enfermeiros que percebem uma luz irradiada do paciente, que toma toda a sala e que envolve os que nela estão. Há relatos de testemunhas que observam irradiações deixando o corpo do paciente no momento da morte.

5 - Combinações de mediunidade e visão de leito de morte. Experiências de quase morte que são parcialmente descritas por médiuns, ou informações confirmadas por médiuns em apoio ao que pacientes ouviram e viram durante uma EQM. O mais interessante desses relatos semelhantes a EQM através de médiuns é que eles foram compilados muito antes que os fenômenos de EQM se tornassem populares. 

O que falta para que todas essas "evidências" sejam aceitas? Já discutimos aqui bastante que evidências a respeito de um fenômenos nunca são aceitas antes de uma teoria ou explicação. Há inúmeros casos na história da ciência em que fenômenos foram desprezados sumariamente, simplesmente porque não se entendia corretamente seus mecanismos. Dai o cuidado do autor em apresentar a sobrevivência como uma "possibilidade".

Aqui dá-se algo parecido. Portanto, a rota para sua compreensão maior passa pela aceitação tácita dos conhecimento dos mecanismos de produção, dos elementos geradores (Espírito, perispírito, faculdades do Espírito) para então aceitá-los completamente. 

Referências e notas

(1) Teses que se distinguem do Espiritismo em alguns aspectos, mas que guardam com ele alguma relação, a saber, que defendem a sobrevivência da consciência à morte física.

(2) G. Taylor (2013), "Stop Worrying! There Probably Is an Afterlife". Ver http://www.amazon.com/o/ASIN/098742243X/thedailygrail

(3) B. Greyson (2010) "Seeing Dead People Not Known to Have Died: 'Peak in Darien' Experiences",  Anthropology and Humanism, Vol. 35, Issue 2, pp 159–171, ISSN 1559-9167.



11 de agosto de 2014

A revolução das experiências de quase morte


Continuando na divulgação de trabalhos e fontes de informação fora do Brasil sobre temas marcadamente espíritas, os relatos de NDE (Near Death Experiences) ou "experiências de quase morte" têm promovido uma verdadeira revolução em direção ao ressurgimento da crença na vida após a morte fora do contexto das religiões tradicionais. Do ponto de vista espírita, uma NDE é um evento de "desdobramento", algo previsto pela estrutura dual do ser humano. E, os relatos que se dizem "mais reais do que a própria realidade" (1) podem ser explicados como oriundos da sensibilidade do Espírito desdobrado, que possui faculdades mais dilatadas do que em vigília.

Um lugar na rede repleto de descrições de NDE é o site: http://www.near-death.com/ que tem como título "Near death experiences and the afterlife". Em particular, os "arquivos" (http://www.near-death.com/forum.html) contêm testemunhos de pessoas que passaram por essas experiências de desdobramento. O arquivo está aberto para envio de novas experiências. A coerência entre os relatos aponta para princípios comuns que o meio acadêmico ainda teima em associar com o cérebro tão somente. Porém, a riqueza das experiências e sua popularização têm contribuído para reavivar os debates em torno da imortalidade da alma.

Ficamos sabendo também de uma iniciativa acadêmica em compilar relatos de NDE ou "OBEs" ("out of body experiences", experiências fora do corpo) pela Universidade de Nottingham Trent (http://www.obesurvey.webspace.virginmedia.com/). Um questionário foi criado (2)  e a data máxima de aquisição de dados é 14 de Agosto de 2014. 

Novos livros sobre NDEs

Há também considerável aumento nas publicações recentes sobre experiências de desdobramento. Aluguns títulos são (4):
  1. Near-Death Experiences as Evidence for the Existence of God and Heaven: A Brief Introduction in Plain Language (Experiências de quase morte como evidência da existência de Deus e do Céu: breve introdução em linguagem simples) por J. Steve Miller. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/B00A3MU6H2
  2. Near-Death Experiences, The Rest of the Story: What They Teach Us About Living and Dying and Our True Purpose (Experiências de quase morte, o resto da estória: o que nos ensinam sobre viver e morrer e nosso verdadeiro objetivo na vida) por P.M.H. Atwater. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/157174651X
  3. Near Death Experiences of Suicide Survivors: Find Out What Happens When You Commit Suicide. (Experiências de quase morte e sobreviventes de suicídio: saiba o que acontece quando você comete suicídio) por John J. Graden. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/B00ID7KOBM
  4. Near-Death Experiences of Children Who Say Heaven is For Real (Near-Death Experiences: Book 4). (Experiências de quase morte de crianças que dizem que o céu é real) por John J. Graden. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/B00JGCG0ZM
  5. Wisdom of Near Death Experiences: How Understanding NDEs Can Help Us Live More Fully (A sabedoria das experiências de quase morte: como a compreensão das NDEs pode nos ajudar a viver mais completamente) por Penny Sartori. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/1780285655
  6. Science and the Near-Death Experience: How Consciousness Survives Death (Ciência e as experiências de quase morte: como a consciência sobrevive à morte) por Chris Carter. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/1594773564
  7. Mindsight: Near-Death and Out-of-Body Experiences in the Blind (Os olhos da mente: experiências fora do corpo e de quase morte em cegos) por Kenneth Ring. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/0595434975
  8. Near Death Experiences: After-Death, Out-of-Body, Dreams, Hallucinations, Neuroscience & Evolution of Spirituality (Experiências de quase morte: pós morte, experiências fora do corpo, sonhos, alucinações, neurociência e evolução da espiritualidade) por Jean-Pierre Jourdan, R. Joseph, Bruce Greyson, Kevin Nelson. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/B005SNJZLO
  9. Erasing Death: The Science That Is Rewriting the Boundaries Between Life and Death (Apagando a morte: a ciência que reescreve as fronteiras entre a vida e a morte) por Sam Parnia e Josh Young. http://astore.amazon.com/neardeathcom-20/detail/006208061X
Na sua maioria essas obras ainda são inexistentes em língua portuguesa (5). É provável que, na massa de relatos acumulados, muitas das experiências representem visões genuínas da realidade do além que foi estudada e anunciada por Allan Kardec no alvorecer do Espiritismo.

Referências

(1) http://www.cnn.com/2013/04/09/health/belgium-near-death-experiences/

(2) https://www.survey.bris.ac.uk/ntupsychology/obequestionnaire

(3) http://www.amazon.com/dp/1571745475/?tag=neardeathcom-20

(4) http://astore.amazon.com/neardeathcom-20

(5) É natural que, em um ambiente desprovido de uma doutrina que regule e explique a natureza e mecanismo de diversos relatos, haja confusões e divergência de explicações. Assim, o site www.near-death.com também traz materiais que o espírita reconhecerá prontamente como exagerado ou pouco confiável, dada a diversidade de influências de inúmeros pontos de vista diferentes.

17 de abril de 2013

Experimentum crucis: EQMs em pessoas cegas


"No Espírito, a faculdade de ver é uma propriedade inerente à sua natureza e que reside em todo o seu ser, como a luz reside em todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, que abrange simultaneamente o espaço, os tempos e as coisas, lucidez para a qual não há trevas, nem obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão se dá pelo funcionamento de um órgão que a luz impressiona." (A. Kardec, comentário à questão #247 de "O Livro dos Espíritos". Foto: nossa homenagem a Dorina Nowill, 1919-2010)

É uma consequência natural da tese da sobrevivência que o ser humano deve possuir um outro corpo, de natureza diferente daquele conhecido. Nesse corpo residem verdadeiramente os sentidos, embora, na condição de "encarnado", os estímulos externos cheguem a ele por meio dos sensores de seu corpo material. Na ocorrência da morte, readquire o segundo corpo sua independência, ressurge o Espírito na posse de todos os seus sentidos originais.

Portanto, espera-se que, se determinadas condições especiais acontecerem, o Espírito encarnado, cujo sentido físico seja inexistente ou tenha sido severamente limitado durante sua vida normal, possa readquiri-lo em sua forma espiritual. Essa é uma previsão natural da tese da sobrevivência, uma previsão do paradigma espírita.

Por outro lado, para o reducionismo fisicalista ou materialismo, as experiências cognitivas estão totalmente atreladas aos estímulos externos recebidos. Portanto, não se espera que ocorram experiências cognitivas correspondentes àquelas ligadas à objetos inspecionados através de sentidos inexistentes (se eu, por exemplo, nunca vi um coelho, como posso sonhar ou imaginar ter visto um?). Surge aqui uma oportunidade para um "experimentum crucis" (1) porque, por lógica, cegos de nascença jamais poderiam descrever visões ou surdos de nascença jamais poderiam ouvir vozes. Mas, isso é justamente o que ocorre durante as chamadas EQMs (experiências de quase morte, 2). Nesses casos, torna-se um verdadeiro absurdo acreditar na tese da alucinação: como poderia alguém que nunca experimentou a visão, relatar experiências complexas relacionadas a ele? O absurdo é ainda maior ao se considerar que tais relatos ocorrem durante curtos períodos de tempo em que os pacientes são considerados "clinicamente mortos".

Alguns casos

Um trabalho de grande importância foi publicado em 1997 de autoria de Kenneth Ring e Sharon Cooper  (3) relatando, pela primeira vez de forma sistemática, diversos casos de experiências de quase-morte em cegos de nascença. A conclusão dos autores é que não existem diferenças de descrição na percepção com indivíduos, sejam eles cegos ou não, quanto ao conteúdo da experiência. No caso de cegos de nascença, há um momento na experiência em que eles começam a enxergar e tem visões complexas que se assemelham à das pessoas não cegas. O artigo de Ring e Cooper traz em detalhes dois casos, o de Vicki Umipeg e Brad Barrows. O caso de Vicki, cega de nascença vitimada por nascimento prematuro e excesso de oxigênio na incubaroda na década dee 1950, é interessante, por ter ela passado por duas EQM. Na última em particular  após uma acidente de carro em 1973, ela descreve um ambiente rodeado por árvores e flores e cheio de gente, depois de ter-se reconhecido a si mesma deitada na mesa do hospital.

Outro é o caso de Brad Barrows, cego de nascença, que teve uma EQM em 1968 após uma parada cardíaca motivada por uma pneumonia séria. Ele tinha então oito anos de idade, mas, durante a EQM ao ascender pelo teto do hospital, ele pode divisar o estado do clima, que o céu nas vizinhanças estava cinza e que a neve cobria os telhados das casas, menos as ruas. Os eventos descritos também incluem a audição de músicas de caráter 'celestial' e a lembrança de ter estado em um ambiente totalmente diferente do hospital, como um campo imenso, iluminado por luzes feéricas.  O artigo de Ring e Cooper fornecem ainda outros casos (como o de Frank e  Nancy  nas páginas 120 e 122, respectivamente) que demonstram a corroboração das experiências visualizadas pelos cegos por meio de evidências externas - os tipos de evidência que são costumeiramente desprezadas pelas "teorias da alucinação", mas que estão igualmente presentes nos EQM dos cegos.

Segundo os testemunhos dessas pessoas cegas, a sensação de visão chega a ser assustadora inicialmente, por falta de referência de aprendizado de sua vida presente. A conclusão dos autores do estudo é muito bem sintetizada no último parágrafo da ref. 3:
As experiências de visão dos cegos são mais surpreendente do que eles próprios descrevem. Na verdade, eles, assim como as pessoas normais, têm experimentado episódios semelhantes  quando transcendem totalmente a consciência baseada no cérebro e, por causa disso, tais experiências desafiam qualquer tipo de nomenclatura convencional. Será necessário uma nova linguagem, tanto quanto novas teorias de um novo tipo de ciência, para se começar a compreendê-las. Com esse objetivo, o estudo de experiências paradoxais e totalmente anômalas é de papel fundamental para fornecer aos teóricos de hoje os dados necessários para se moldar a ciência do século 21. E essa ciência da consciência, assim como o próprio milênio, já despontam no horizonte. 
Interessantemente, os relatos de NDE de cegos são completos o suficiente para que possamos fazer uma ideia do verdadeiro tipo de sentido envolvido na experiência. Não se trata de uma experiência visual comum. Como os autores descrevem (5):
A estória de Sarah implica que ela era realmente capaz de ver durante uma EQM da mesma maneira que uma pessoa normal poderia ver. Mostramos isso como uma inferência sem garantias. O que se parece análogo a uma visão física, deixa de ser quando examinado com mais detalhes. É um tipo totalmente diferente de consciência esse (awareness), algo que chamamos de consciência transcendental, que funciona independentemente do cérebro, mas que necessariamente é filtrado por ele e por meio da própria linguagem. Assim, na época em que esses episódios apareceram, eles são descritos em termos da linguagem da visão, mas as experiências de verdade parecem ser totalmente diferentes do que se conhece e não são facilmente descritas em termos da linguagem do discurso ordinário. Na verdade, nosso trabalho mostrou a necessidade de se exercer discernimento crítico antes de tomar tais descrições como elas se apresentam. Com certeza, elas compõem boas histórias para livros e  títulos de tabloides, mas nem sempre são o que parecem. Elas, na verdade, são ainda mais extraordinárias do que isso. (ref. 3, 2o, parágrafo)
Em outras palavras, a descrição de EQMs de cegos de nascença traz elementos para compreendermos o sentido real de visão do Espírito, como descrito e anunciado em "O Livro dos Espíritos" por A. Kardec (ver questão #247 citada acima). 

Conclusões
Como temos estudado em vários posts aqui (6), o reducionismo fisicalista prevê que todas as funções cognitivas são funções da atividade cerebral. Esse paradigma tem relativo sucesso em muitas explicações de fenômenos de percepção comuns e é a base de todas as ciências clínicas. Fenômenos como atuação de drogas ou lesões sérias no cortex ou partes do cérebro parecem validá-lo. Não desconhecemos esse sucesso, embora inexista nenhuma prova de que sua validade seja inconteste. 

Como vimos, o sucesso aparente dessa tese (7) só vai até um determinado horizonte, além do qual reina o desconhecido que é 'varrido para baixo do tapete'. Portanto, o materialismo é uma visão aproximada da realidade, que deve ser complementada pela visão espiritualista.

As descrições de experiências visuais durante ocorrências de NDE ou OBE em cegos de nascença não tem diferença em relação à de pessoas normais. Tal constatação permanece como uma das evidências mais fortes sobre a independência da percepção visual integral no ser humano que ocorre durante tais essas anômalas e colocam um problema sério para as teorias que explicam a cognição a partir de experiência aprendida, num modelo funcional da mente.

A experiências de quase morte em cegos de nascença permanecem como "observações cruciais" que desafiam o paradigma existente e requerem estudos aprofundados, na verificação de ocorrências semelhantes com outras pessoas que tenham problemas severos de limitação dos sentidos (tais como a constatação de experiência auditiva em surdos de nascença durante essas experiências). A expansão de sentido ou recuperação de capacidades mentais tem sido relatada em pacientes com severas limitações mentais e que, de um instante a outro, se tornam lúcidos. Essa é a chamada 'lucidez terminal' e, as ocorrências com os cegos caem dentro dessa categoria.

Notas e referências

(1) Ou, "experimento crucial". Um "experimentum crucis" - ou experimento crucial - é um situação ou teste experimental capaz de decidir sobre a superioridade de uma teoria (ou hipótese) frente a outra ou conjunto de outras teorias. Ele reúne em si as qualidades empíricas capazes de afastar definitivamente condições ou aspectos que seriam cruciais para evitar a rejeição de teorias concorrentes e decidir definitivamente pela teoria vencedora. Francis Bacon também chamava essas oportunidades de 'Instantia crucis' (instâncias cruciais). Não é fácil projetar ou conceber experimentos cruciais, pois isso exige conhecimento aprofundado das peculiaridades de todas as teorias envolvidas, além de uma possibilidade experimental ou de observação. Não existiria, assim, um 'experimento crucial' capaz de definitivamente demonstrar uma deficiência séria no reducionismo e abrir as portas para outras noções não materialistas da mente? Um experimento desse tipo deveria ser capaz de mostrar que respostas cognitivas poderiam ser produzidas na ausência de funções cerebrais extensivas.

(2) Já vimos (Ver post 'O que acontece quando morremos' do Dr. Sam Parnia) que as chamadas 'Experiências de quase morte' são instâncias de lembranças por parte de pessoas que sofreram paralisia severa das atividades cerebrais. Durante essas ocorrências, são comuns a visão de luzes, seres "e outras dimensões" e, na sua imensa maioria, parentes e amigos falecidos. Essas ocorrências anômalas são explicadas de forma precária por diversos tipos de teorias que envolvem mais ou menos a assunção de que alguma função cerebral remanescente atua durante esses instantes, provocando a experiência que seria totalmente ilusória. Já vimos a fragilidade dessas explicações e outras anomalias que acontecem no contexto das experiências de quase morte (Ver post "Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011)"). Vimos também que a validação das experiências de forma independente (quando o que o sujeito viu é comprovado como realmente tendo ocorrido nos instantes da paralisia cerebral) também não é levada em consideração pela maioria dos especialistas quando confrontados com o problema.

(3) Ring K., Cooper S. (1997), Near Death and Out-of-Body Experience in the Blind: a Study of Apparent Vision, Journal of Near-Death Studies, 16(2), p. 101-147. Ver também:
(4) Original em inglês:
What the blind experience is more astonishing than the claim that they have seen. Instead, they, like sighted persons who have had similar episodes, have transcended brain-based consciousness altogether and, because of that, their experiences beggar all description or convenient labels. For these we need a new language altogether, as we need new theories from a new kind of science even to begin to comprehend them. Toward this end, the study of paradoxical and utterly anomalous experiences plays a vital role in furnishing the theorists of today the data they need to fashion the science of the 21st century. And that science of consciousness, like the new millennium itself, is surely already on the horizon.
(5) Original em inglês:
The story of Sarah implied that she really could see during her NDE, in the way that a sighted person might. We have shown this is an unwarranted inference. What seemed like an analog to physical sight really was not when examined closely. It is a different type of awareness altogether, which we have called transcendental awareness, that functions independently of the brain but that must necessarily be filtered through it and through the medium of language as well. Thus, by the time these episodes come to our attention, they tend to speak in the language of vision, but the actual experiences themselves seem to be something rather different altogether and are not easily captured in any language of ordinary discourse. Indeed, our work has shown the need to exercise critical discernment before taking these reports at face value. To be sure, they make good stories, in books or in tabloid headlines, as the case may be, but they are not always necessarily what they seem. They are more remarkable still.
(6) Ver post 'O que acontece quando morremos' do Dr. Sam Parnia.

(7) Ver post, "Como a parapsicologia poderia se tornar uma ciência", Parte I de P. Churchland.



    

25 de novembro de 2012

Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 2/2.

"No estado material em que vos achais, só com o auxílio de seus invólucros semimateriais podem os Espíritos manifestar-se. Esse invólucro é o intermediário por meio do qual eles atuam sobre os vossos sentidos. Sob esse envoltório é que aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou com outra qualquer, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, assim em plena luz, como na obscuridade." (A. Kardec. O Livro dos Médins, 2a parte, "Das manifestações espíritas". Cap. VI.)

Em post anterior (ref 1), discutimos brevemente trechos do artigo de Michael Nahm (2011) sobre o contexto de experiências de quase morte. Nesta segunda parte, comentamos outros trechos igualmente interessantes para compor nossa análise final do trabalho.

Relação entre NDE, Mediunidade e CORTs: do inglês 'Case of Reencarnation type'. Aqui o autor traça relações aparentes que existem entre relatos de experiências de quase morte (EQM =NDEs), fenômenos mediúnicos e eventos de lembranças de vidas anteriores (CORT):
Por exemplo, Giovetti (1999) descreve um caso no qual um NDEr reportou ter encontrado uma mulher de nome Mara durante uma experiência fora do corpo. Ela disse que ele poderia escolher entre permanecer naquele estado ou retornar ao seu corpo. O NDEr decidiu retornar. Mais tarde, descobriu-se que Mara era também um comunicante regular em um grupo mediúnico e que ela tinha dado uma comunicação independente em uma sessão descrevendo o encontro com o NDEr. 
Tal ocorrência singular está totalmente de acordo com o estado de liberdade do Espírito, na possibilidade de seu encontro com outros Espíritos e de trânsito de informação de forma não convencional, como nunca seria esperado por qualquer outro processo que jamais admitisse a independência e comunicabilidade dos Espíritos. Mas qual a relação com lembranças de vidas passadas? Em outro trecho do artigo, Nahm descreve:
No contexto presente, é relevante que várias crianças, de diferentes traços culturais, deram descrições complementares sobre como elas passaram o período intermediário entre duas existências. Frequentemente tais descrições começam dizendo que deixaram o corpo da personalidade anterior com a morte e que perceberam cenas a partir de cima. Algumas crianças também dizem que as pessoas presentes próximas ao corpo não conseguiam ouvi-las ou vê-las, embora as crianças tentassem fazer contato. Outras ainda descrevem corretamente o que aconteceu com o corpo da personalidade anterior, por exemplo, fornecendo informação verídica sobre eventos do funeral (Hassler, 2011; Stevenson, 1997; Tucker, 2006).
Tais descrições são ainda mais extraordinárias (sempre do ponto de vista que não admite a sobrevivência e reencarnação), pois provêm de fontes consideradas de difícil influenciação por ideias aprendidas. Vimos como crianças também podem fornecer relatos de experiências de quase morte (ver post da nota 2). Aqui, Nahm considera a existência de relatos de NDE por crianças que não experimentaram uma NDE realmente, mas que se lembram de experiência semelhante vivida por sua personalidade anterior. A descrição da NDE é, portanto, indireta e fornecida a partir de uma lembrança de uma vida anterior. Tais descrições sancionam não só a existência integral e consistente da personalidade após a morte como também as vidas sucessivas.


Anúncios de nascimento e posterior confirmação: Outra variedade de fenômeno relacionado a sonhos compartilhados, são os casos de lembranças nos pais de visitas de Espíritos de crianças antes de seu nascimento. Pensemos em toda controvérsia que existe em torno da questão do aborto e sua ética, diante de evidências de sonhos compartilhados desse tipo em que a criança posteriormente confirma a visita!
Mas, os casos mais típicos de anúncios oníricos CORT não recíprocos são bastante notáveis. Neles os futuros pais sonham frequentemente com uma personalidade falecida que declara ser seu interesse nascer a partir deles. Posteriormente, a criança nascida fala de uma vida que corresponde à existência da personalidade que apareceu durante os sonhos, sendo que a criança pode apresentar marcas de nascença que corresponde àquelas da personalidade anterior (por exemplo, o caso de Necip Ünlütaskiran em Stevenson, 1997)
Um interessante caso também é apresentado pelo Dr. Moody conforme vimos em um post anterior (ver ref. 4).

Lucidez terminal: Um fenômeno que tem sido observado durante eventos de EQM é o súbito retorno à lucidez de pessoas consideradas incapazes mentalmente ou doentes em estado avançado de ausência de consciência nos momentos que se aproximam da morte. Esse fenômeno pode ser chamado de lucidez terminal. Segundo Nahm:
Presentemente, conheço cerca de 85 casos publicados desse tipo. Eles incluem pacientes com tumores no cérebro, demência  doença de Alzheimer, derrame, meningite, esquizofrenia e outros sem diagnóstico médico preciso. Vários outros casos me foram relatados por comunicação pessoal. Os incidentes mais perplexos são aqueles em que a doença mental é causada por degeneração ou destruição de estruturas cerebrais no paciente tal como a doença de Alzheimer, tumores e derrames.
Sobre esse retorno à lucidez por alguns momentos, há ainda uma observação perspicaz:
A lucidez inexplicável que é mostrada por alguns pacientes pode também ser relacionada ao estado de extraordinária claridade mental que é reportada durante as EQMs e, como mencionado, aos momentos de lucidez que ocorrem nas visões de leito de morte (DBV). Guy Lyon Playfair reportou um caso de um DBV que torna evidente esse tipo de relação (correspondência eletrônica de 22 de Dezembro de 2009). Nesse caso, uma paciente em estado de demência experimentou uma DBV no dia anterior ao da sua morte. Nessa visão, a paciente viu e reconheceu membros familiares falecidos, a saber, um irmão e uma irmã que já haviam falecido há bastante tempo. A visão foi tão real que a mulher pediu a sua enfermeira, de forma surpreendente, que a servisse três xícaras de chá. Isso, considerando que no último ano ela era incapaz de reconhecer sequer membros da família que viviam com ela na mesma casa.
Ou seja, há uma relação entre a percepção de estado de grande lucidez durante uma EQM e sua ocorrência quanto o paciente encontra-se em um estado de doença mental. Não podemos deixar de lembrar aqui que a lucidez terminal é comprovação do que foi revelado no 'Livro dos Espíritos' em várias questões desde # 371 a #378 sobre o Idiotismo e a Loucura. Reproduzimos aqui a questão #375 do LE para comparação (ref. 3):
375. Qual, na loucura, a situação do Espírito?

"O Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e diretamente exerce sua ação sobre a matéria. Encarnado, porém, ele se encontra em condições muito diversas e na contingência de só o fazer com o auxílio de órgãos especiais. Altere-se uma parte ou o conjunto de tais órgãos e eis que se lhe interrompem, no que destes dependam, a ação ou as impressões. Se perde os olhos, fica cego; se o ouvido, torna-se surdo, etc. Imagina agora que seja o órgão que preside às manifestações da inteligência o atacado ou modificado, parcial ou inteiramente, e fácil te será compreender que, só tendo o Espírito a seu serviço órgãos incompletos ou alterados, uma perturbação resultará de que ele, por si mesmo e no seu foro íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso não lhe está nas mãos deter."
A lucidez terminal é, portanto, um fenômeno previsto pela teoria espírita que afirma a natureza dual do ser  humano. Evidências de lucidez terminal são fornecidas por Nahm nas seguintes referências: (Barrett, 1926, Bozzano, 1947, Kelly, Greyson, & Kelly, 2007)

Conclusões

Comentamos abaixo algumas outros trechos do excelente artigo de M. Nahm como conclusão deste post. Em primeiro lugar sobre as evidências existentes para o retorno à lucidez de pacientes terminais com doenças mentais:
Se essas observações forem substanciadas em investigações futuras, elas representam problemas sérios aos modelos amplamente aceitos para a consciência e processamento de memória. Segundo essas, a mente humana é considerada um subproduto de interação de disparos de neurônios. Mas, como no caso das EQMs, somos obrigados a nos perguntar: como pode a cognição e a memória funcionarem sob condições severas de paralisia cerebral ou mesmo degeneração avançada das estruturas neuronais necessárias? 
Aqui há pouco a ser comentado, deixando claro nossa concordância com essa observação de Nahm. Ele ainda desenvolve:
A hipótese de que uma EQM não depende do estado da organização orgânica no cérebro constitui-se em um modelo explicativo capaz de lidar com o enigma sobre porque as experiências NDE podem ser tão notavelmente similares sob condições tão variadas de fisiologia do cérebro.
Em outras palavras, as experiências de EQM são manifestações da parte espiritual do ser humano e, dessa forma, manifestam-se de forma independente do estado particular ou condição neurológica em que se encontre o corpo (embora, sua manifestação exige que partes inteiras do cérebro estejam profundamente comprometidas). Nesse sentido, as observações feitas com pacientes dementados em estado terminal são muito relevantes:
Se pacientes em estado de demência podem subitamente reconhecer membros familiares próximos vivos durante a lucidez terminal, outros podem muito bem reconhecer membros familiares falecidos durante uma visão de leito de morte ou EQM, talvez porque entrem semelhantemente em um processo de enfraquecimento de vínculos com a matéria física cerebral. De fato, é uma afirmação antiga do Espiritualismo que muitas doenças mentais podem ser revertidas ou curadas no estado desencarnado.

Como vimos, isso é corolário do que apresentamos acima com a questão # 375 de 'O Livro dos Espíritos'. Sobre desdobramentos empíricos das EQM, Nahm também lembra a existência de eventos onde múltiplas pessoas foram envolvidas simultaneamente em um evento de EQM (Gibson, 1999), o que possibilitaria a descrição simultânea da ocorrência entre diferentes indivíduos:
Se tais descrições puderem ser independentemente corroboradas por participantes diferentes em uma mesma experiência, isso forneceria um argumento forte a favor da possibilidade de experiências intersubjetivas durante o estado aparentemente desencarnado do ser. A crença de que aqueles que deixam seus corpos físicos - seja durante a vida ou durante a morte - são capazes de ver outros Espíritos desencarnados é parte de antigas tradições de muitas culturas ao redor do mundo.
Experiências de quase morte reciprocamente confirmadas, comunicações mediúnicas que confirmam experiências de EQM, crianças que lembram EQMs vividas pelas personalidades de uma vida anterior, pais que sonham recorrentemente com personalidades que pedem para nascer a partir deles e seus filhos então confirmam os sonhos dos pais, doentes mentais que repentinamente recobram a lucidez pouco antes da morte, pessoas afetadas por problemas neuronais graves que subitamente recordam EQMs exibindo um estado de grande lucidez, EQMs que relembram experiências vividas em outras existências...

Tais são os fenômenos desprezados e desconsiderados pelo conhecimento especializado da medicina, casos que ocorrem talvez aos milhares todos os dias, previstos e prescritos na lei, porque revelam a natureza real do ser humano, alma consciente e viva dentro da grande Eternidade que é a vida verdadeira do Espírito imortal.   

Notas
  1. Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.
  2. Livro III - O Que Acontece Quando Morremos (Dr. Sam Parnia)
  3. A. Kardec. 'O Livro dos Espíritos'. Referência do IPEAK.
  4. Palestra do Dr. Raymond Moody sobre Experiências de quase-morte compartilhadas. (Set, 2011).
Referências
  • Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London: Methuen.
  • Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
  • Gibson, A. S. (1999). Fingerprints of God. Bountiful, UT: Horizon
  • Giovetti P. (1999). Visions of the dead. Death-bed vision and and near death experiences in Italy. Human Nature 1, 38-41.
  • Hassler D (2011). Spontanenerinnerungen kleiner kinder an ihr 'früheres leben'. Aachen. Shaker Media.
  • Kelly, E. W., Greyson, B., & Kelly, E. F. (2007). Unusual experiences near death and related phenomena. Em E. F. Kelly, E. W. Kelly, A. Crabtree, A. Gauld, M. Grosso, & B. Greyson (Eds.), Irreducible Mind: Toward a Psychology for the 21st Century, Lanham, MD: Rowman & Littlefi eld, pp. 367–421.
  • Nahm, M (2011). Reflections on the Context of Near-Death Experiences, Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
  • Stevenson I. (1997). Reincarnation and Biology. Westport. CT Praeger.
  • Tucker J. T.(2006). Life before life. London: Piatkus Books.

7 de outubro de 2012

Palestra do Dr. Raymond Moody sobre Experiências de quase-morte compartilhadas. (Set, 2011)


O Dr. Raymond Moody é conhecido expoente e divulgador de ocorrências de NDE (near death experiences), tendo editado vários livros muito conhecidos sobre o assunto (1). Nesta palestra, proferida durante uma conferência em Durham em Setembro de 2011 e que foi disponibilizada pelo IANDS, ele nos fala sobre experiências compartilhadas.A duração do vídeo é de aproximadamente 14 minutos.

Essas são experiências pelas quais passam pessoas próximas a pacientes de NDE ou a pessoas em processo de falecimento. Essas 'testemunhas e NDE' registram diversas ocorrências com características semelhantes aos pacientes de NDE. Visões de luzes, músicas, modificações na percepção da geometria da sala e até compartilhamento de lembranças estão entre os fenômenos (2), além da observação, por tais testemunhas, de uma réplica transparente da pessoa falecida nos momentos que antecedem a morte.

A explicação 'naturalista' para as NDE é de que elas seriam causadas por privação de oxigênio no cérebro por ocasião da experiência. Entretanto, os relatos das testemunhas vem apoiar o fato de que essa explicação não é a correta, pois esse estado alterado de privação de oxigênio não se aplica a tais testemunhas. 

Nota

1- Dentre os livros do Dr. Moody podemos citar 'Life after life' e 'Glimpses of Eternity'. O mais famoso, sem dúvida, é 'Life after life' que é conhecido na sua tradução em Português como 'Vida depois da vida'.

2- Para saber mais sobre o assunto, veja nossa resenha de um artigo de M. Nahm: Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.

15 de setembro de 2012

Reflexões sobre o contexto de experiências de quase-morte: artigo de Michael Nahm (2011) - 1/2.


"Nesses momentos ele vive da vida espiritual, enquanto que o corpo vive apenas da vida vegetativa; acha-se, em parte, no estado em que se achará após a morte: percorre o espaço, confabula com os amigos e outros Espíritos, livres ou encarnados como ele." (A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo 23).

Em um artigo recente e muito interessante, Michael Nahm (2011), "Reflections on the Context of Near-Death Experiences", apresenta uma introdução ao fenômeno de experiências de quase morte (em inglês NDE, near death experiences) como visto pela perspectivas de fenômenos correlacionados a NDE e que ocorrem um pouco antes, durante ou depois dele. Tais ocorrências constituem o que Nahm chama de 'contexto' das NDEs. Ele chama a atenção para o fato de que muitos pesquisadores que buscam explicações 'naturalistas' para a NDE não prestam atenção devida a tais eventos, gerando assim, explicaões incompletas. Esse estudo é interessante pois demonstra a amplitude explanativa da tese espiritualista que descreve o ser humano como composto de um 'duplo': primeiro a noção filosófica dualista de corpo e espírito e, depois, a tese espírita de um novo corpo (perispírito) que sobrevive a morte e que também não deve ser confundido com o Espírito.

Aqui apresentamos a 1a parte (de 2) de um resumo do artigo de Nahm com citação de referências contidas nesse artigo. O estudo mostra também que essas referências modernas confirmam o que Kardec já havia descoberto e descrito em muitos de suas obras. No que consistiria tal contexto? O artigo analisa os seguintes fenômenos registrados na literatura:

Modificações corporais inexplicáveis (Unexplained Bodily Changes): tais modificações ocorrem durante ou logo após uma NDE. São curas ou alívios momentâneos que trazem lucidez ao paciente que passa pela NDE. Há entretanto relatos de modificações físicas inexplicáveis (Pasricha, 2008) que parecem corresponder à experiências que ocorreram durante o estágio de NDE. Há estudos que demonstram a existência de ocorrências de marcas corporais durante estados hipnóticos ou durante sonhos, o que forneceria uma possível mecanismo para explicação das marcas observadas durante NDEs. 

Experiências fora do corpo reciprocamente confirmadas (Reciprocally Confirmed OBEs During Near-Death States), De acordo com Nahm :
Em casos típicos, uma pessoa em um estado de NDE afirma ter visitado membros da família à distância, pessoas que muito se deseja encontrar.  A visita ocorre por meio de uma 'experiência fora do corpo' (OBE: em inglês 'Out-of-the-body experience). Posteriormente, esses membros da família confirmam terem recebido uma impressão da presença da pessoa no momento assinalado por ela. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção, 'Originais do artigo', 1)
Isso seria uma variedade de aparições durante as crises que tem sido narradas na literatura (Fenwick, Lovelace e Brayne, 2010) sobre eventos psíquicos. Já em 1868 em 'A Gênese', Kardec descreveu esse tipo de ocorrência (Nota 1). Pode-se também correlacionar tais experiências como uma variedade dos chamados fenômenos de 'aparições dos vivos' que foi abundantemente tratado por Kardec (Nota 2) e outros (Gurney, Myers e Podmore, 1886). Estudos recente apontam para ocorrência de 'comunicações pós falecimento' (LaGrand, 1997) que seriam curtas notícias verificados junto a familiares:
Em todos esse casos, o modo geral de ocorrência parece ser idêntico ao das aparições durante as crises de vivos ou pessoas quase falecidas, mas as motivações para seu aparecimento ou as mensagens a serem passadas são diferentes: as aparições de crise tendem a informar a pessoa sobre a crise ou a própria morte, enquanto que as aparições de recém falecidos transmitem frequentemente mensagens de bem estar, esperança ou encorajamento aos que ficaram enlutados. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 2)
O primeiro caso caracterizaria o que é chamado de DBV (deathbed visions), ou visões do leito de morte. Com relação a esses últimos, Nahm considera: (a) as DBVs trazem mensagens consoladoras; (b) quase sempre surgem imagens de parentes falecidos durante as DBVs; (c) as DBV compartilham de aparência semelhante a de muitas outras 'aparições' tais como visões de emanação de luzes; (d) Muitas DBVs são 'testemunhadas' por apenas uma pessoa, mas há casos de várias pessoas, de forma coletiva, servirem de testemunhas (Bozzano, 1947, Barrett,1926). Não foge de nossa memória o Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos' sobre a 'Emancipação da alma'. O leitor deve comparar a descrição de Nahm com as questões # 413-418.

Existem muitos relatos durante tais aparições de crises de encontro com pessoas falecidas (Osis e Haraldsson, 1997). Explicações não espíritas tem dificuldade em justificar porque isso ocorre com pessoas falecidas e não com pessoas vivas (que, afinal, não poderiam comparecer para um último adeus). Ao contrário, quando o paciente deseja insistentemente se encontrar com um vivo é que ocorrem eventos de visualização desse paciente junto aquele parente-alvo que está vivo (o que seria uma 'aparição de um vivo').

Fato muito interessante que também é descrito por Nahm é quanto a ocorrência de aparições de vivos a pacientes em estado de NDE. A princípio, poder-se-ia imaginar que o surgimento de vivos a pacientes de NDE demonstra o caráter fantasioso da ocorrência. Mas, Nahm descreve que tais aparições se dão em momentos especiais,seja quando o vivo também tem presentimentos a respeito da morte iminente do paciente ou quando o vivo encontra-se em um estado alterado de consciência (dormindo, acamados etc, os chamados casos 'reciprocally confirmed', ver mais adiante).  Portanto, Nahm admite que, nesses casos, o vivo tenha se 'projetado' de alguma forma em direção ao paciente. Além disso, segundo Nahm:
Há inúmeros casos registrados em que o paciente erroneamente achou que estivesse vendo um vivo - mas tal indivíduo em questão já estava morto. Além disso, pacientes de NDE frequentemente tem visões de pessoas totalmente desconhecidas, o que é algo difícil de explicar usando wishful thinking. (Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 3)
Uma referência de casos sobre isso é (Greyson, 2010).
 
Sonhos e NDEs compartilhados: conforme descrito pelo Dr. Moody (2010), há casos de indivíduos absolutamente sãos que têm sonhos onde experimentam sensações e informações semelhantes ao do paciente que passa pelo NDE. Essas experiências podem assim ser compartilhadas, o que dificulda a explicação de que NDE são fenômenos causados por danos cerebrais no paciente. Como explicar as visões compartilhadas por pessoas sãs? Conforme explica Nahm:
NDEs compartilhadas também podem ser consideradas como ND-OBEs compartilhados, que, além disso, incluem estágios posteriores de NDEs onde persistem aspectos mais transcendentais. Dados esses paralelos, parece que NDEs e sonhos (lúcidos) são experiências que podem ser compartilhadas com outras pessoas vivas em um tipo de espaço não físico ou mental. Nesse contexto, é interessante ver que uma grande quantidade de experiências psíquicas sejam reportadas a partir de sonhos onde a morte e o morrer sejam temas predominantes, e que muitos dos sonhos ostensivamente paranormais sejam descritos com uma vivacidade ou intensidade que é ausente na maioria dos sonhos ordinários.(Nahm, 2011, para o texto original, ver seção 'Originais do artigo', 4)
Aqui "ND-OBE" são 'near death out-of-the-body experiences'. Lendo isso, não há como não citar Kardec (Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos': da emancipação da alma, o sonho e os sonhos), Q #402:
O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância é de molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias morreis, como disse um santo.
O leitor deve considerar ainda as respostas a outras questões, como a #406 (sobre o 'sonhar com pessoas vivas') e toda a questão #402 da qual reproduzimos acima apenas um parágrafo.

Conclusões preliminares

Portanto, na revisão feita por Nahm da literatura sobre o contexto de NDEs encontramos resultados que validam parte inteiras do Cap. 8 de 'O Livro dos Espíritos'. Chama a atenção que essa confirmação não vem absolutamente da análise de fatos comuns tais como sonhos ordinários ou experiências menos relevantes. Ao contrário, é da análise das anomalias, de fatos não corriqueiros tais como NDEs e ocorrências de experiências psíquicas compartilhadas, que podemos reunir uma grande quantidade de fatos que atestam a realidade da 'emancipação da alma' e da natureza dual do ser humano.

Em um futuro post continuaremos com a exposição comentada da revisão de M. Nahm com os temas: ligações formais entre NDEs, mediunidade e lembranças de vidas  passadas; correspondência entre o conteúdo de NDEs, comunicações mediúnicas e lembranças de vidas passadas; fenômenos físicos registrados no momento da morte; audição de músicas não explicadas no momento da morte e memórias não ordinárias em crianças.

Aguardem!

Referências
  • Barrett, W. F. (1926). Death-Bed Visions. London: Methuen.
  • Bozzano, E. (1947). Le Visioni dei Morenti. Verona: Salvatore Palminteri.
  • Fenwick, P., Lovelace, H., & Brayne, S. (2007). End of life experiences and their implications for palliative care. International Journal of Environmental Studies, 64, 315–323.
  • Greyson, B (2010). Seeing deceased persons not known to have died: "Peak in Darien" experiences. Anthropology and Humanism, 35, p. 159-171.
  • Gurney, E., Myers, F. W. H., & Podmore, F. (1886). Phantasms of the Living (2 vols). London: Trübner.
  • LaGrand, L. (1997). After Death Communication: Final Farewells. St. Paul, MN: Llewellyn.
  • Moody R. (2010), Glimpses of Eternity, New York: Guideposts.
  • Nahm, M (2011), Reflections on the Context of Near-Death Experiences, Journal of Scientific Exploration, 25, No. 3, pp. 453–478.
  • Osis, K., & Haraldsson, E. (1997). At the Hour of Death (third edition). Norwalk, CT: Hastings House.
  • Pasricha, S. (2008). Near-death experiences in India: Prevalence and new features. Journal of Near-Death Studies, 26, 267–282.
Notas e referências a Kardec.

1. A. Kardec, 'A Gênese', Cap. 14, II - Explicação de alguns fenômenos considerados sobrenaturais, visão espiritual ou psíquica, dupla vista, sonambulismo, sonhos, parágrafo 23: 
O laço fluídico que o prende ao corpo só por ocasião da morte se rompe definitivamente; a separação completa somente se dá por efeito da extinção absoluta do princípio vital. Enquanto o corpo vive, o Espírito, a qualquer distância que esteja, é instantaneamente chamado à sua prisão, desde que a sua presença aí se torne necessária. Ele, então, retoma o curso da vida exterior de relação. Por vezes, ao despertar, conserva das suas peregrinações uma lembrança, uma imagem mais ou menos precisa, que constitui o sonho. Quando nada, traz delas intuições que lhe sugerem idéias e pensamentos novos e justificam o provérbio: A noite é conselheira.

Assim igualmente se explicam certos fenômenos característicos do sonambulismo natural e magnético, da catalepsia, da letargia, do êxtase, etc., e que mais não são do que manifestações da vida espiritual. (*)
(*) Casos de letargia e de catalepsia: Revue Spirite: “Senhora Schwabenhaus”, setembro de 1858, pág. 255; — “A jovem cataléptica da Suábia”, janeiro de 1866, pág. 18.
Originais do artigo
  1. In typical cases, a person in a near-death state claims to have visited family members at a distance whom he or she was intensely wishing to see. This visit was often accomplished by means of an OBE. Later, these family members confi rm that they had perceived a corresponding impression of this person at the time in question. 
  2. In these cases, the overall mode of appearing seems identical to crisis apparitions of the living or dying, although the motivations to appear and the messages conveyed seem different: Crisis apparitions tend to inform the perceiver predominantly about the crisis or of death itself, whereas apparitions of the longer-deceased convey more often messages of their own well-being, or of hope and encouragement for the bereaved.
  3. Moreover, there are numerous cases on record in which the dying erroneously thought they had seen apparitions of living persons - but the individuals in question had in fact died already. In addition, patients in near-death states often see visions of persons entirely unknown to them, a finding difficult to explain along the lines of wishful thinking.
  4. Shared NDEs could also be regarded as shared ND-OBEs - with the addition that they include mutual experiences of later stages of NDEs featuring more transcendental aspects. Given these parallels, it seems that NDEs and (lucid) dreams are experiences that can be shared with other living persons in a sort of nonphysical or mental space. In this context, it is of interest that a large proportion of spontaneous psychic experiences are reported from dreams, with death and dying constituting predominant themes, and that many of these ostensibly paranormal dreams are characterized by a vividness or an intensity missing in most ordinary dreams.