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1 de janeiro de 2020

O que a neurologia tem para ensinar aos médiuns? (Dr. Nubor Facure)

Interessante texto do Dr. Nubor Facure, explorando algumas possíveis conexões entre a neurologia, o sentido da visão e uma aplicação avançada para a vidência mediúnica. 

A visão

O nosso olhar é uma das propriedades mais ativas do cérebro. Nós mobilizamos dois terços (ou quase 70%) do córtex cerebral quando estamos olhando para uma criança correndo. Existem 30 áreas cerebrais que estarão atuantes nessa visão trabalhando seus detalhes. Precisamos saber quem é, sua localização, com que velocidade se locomove, para onde se dirige, que roupa usa, suas cores, o risco que corre, o parentesco que tem conosco, se vem até nós para dizer alguma coisa e se precisamos abrir os braços para abraçá-la ou acudir em um perigo de queda.

Nosso registro visual não é do tipo fotográfico, ele é interpretativo, constrói uma paisagem com aquilo que vê. O que vemos cria uma “representação” do que “pensamos” estar vendo. Disso decorre que, mais de noventa por cento dessa atividade se processa na mente, e é isso que permite que cada um veja conforme lhe pareça e não como a coisa é.

Por que vemos?

Só há visão humana com a luz. Tudo começa com uma onda de energia vibratória que atinge nossa retina refletindo nela a imagem dos objetos. Aqui a luz atua sobre cones e bastonetes produzindo milhares de combinações em branco e preto ou coloridas, numa mistura de três cores fundamentais: vermelho, verde e azul – a cor é quase um milagre, e é bom saber que ela existe em nós e não nos objetos.

Quando a energia luminosa é convertida em impulso nervoso ele percorre o cérebro produzindo uma serie de outros fenômenos que vão nos permitir “qualificar” o que vemos dando-lhes propriedades:

A mansidão do luar
A quietude dos vales
A algazarra dos pássaros
A correria das fontes
O brilho das estrelas
O sorriso farto das crianças
O vermelho forte dos morangos
O vermelho brilhante do por do sol
O vermelho suave das rosas

A visão e a linguagem 

Nossa mente cria representações simbólicas para aquilo que estamos vendo. Damos-lhes qualidades para compreender sua existência. As propriedades dos objetos e cenários acima descritos não são qualidades primárias, são “imaginações” que criamos para relatar, interpretar e explicar como essas coisas são para nós. Aprendemos a usar as nossas representações com seus significados para que possam fazer parte da nossa linguagem corriqueira, dispensando a presença do objeto visualizado. Nossa infância é povoada de imaginações que aprendemos a ouvir e criar para representar o mundo e aliviar nossas angústias e medos. Criamos os anjinhos com asas, o homem que é metade homem e metade cavalo, a fadinha que produz estrelinhas, os monstros, os gigantes e os anõezinhos, as bruxas e os heróis.

Entretanto, a maior invenção que criamos para representar nossas imagens foi a escrita. Só o ser humano é capaz de representar um objeto por um conjunto de letras, uma palavra, uma frase ou um poema. Conta-se que uma águia é capaz de ver uma letra a 15 metros de distância, mas, seguramente ela não sabe ler, dar significado a essa letra e compreender o que ela diz.

O capricho da anatomia – dividindo a imagem

Quando a imagem atinge a parte posterior do cérebro, na região occipital, ocorrem fenômenos anatômicos importantes e curiosos. As informações se distribuem em camadas a partir de um ponto central, no último giro do lobo occipital. Ali construímos o foco do nosso olhar, a partir do qual, alguns detalhes da imagem se esparramam como uma casca de cebola. Uma parte será enviada ao lobo parietal no giro angular, outra para a região temporal no giro medial e uma terceira via atinge, também no lobo temporal, o giro fusiforme.

Vamos ver qual é o propósito dessa tríplice divisão:

O giro angular e suas vizinhanças

Situada no lobo parietal, esse giro desempenha funções interessantíssimas – ele nos permite dispor de um GPS no cérebro – nos localiza no espaço e permite que sejamos informados “onde” está determinado objeto. Imagine pegar uma xícara no meio de várias louças e copos, os desajeitados sempre aprontam pequenos desastres caseiros.

No lobo parietal direito alguns experimentos cirúrgicos conseguiram estimular as proximidades dessa área e o paciente referir que se sentia fora do corpo – ocorre uma projeção da imagem corporal para fora do corpo - semelhante aos conhecidos relatos metafísicos de “experiências fora do corpo” que hoje conta com vastíssima comprovação na literatura médica.

O lobo temporal

Aqui há regiões que nos permitem ter noção “do que é” e dos movimentos das pessoas e dos objetos identificados. Para sabermos a importância dessa função, basta circular pelo corredor de um shopping center, onde várias pessoas vêm apressadas em nossa direção, obrigando-nos a desviar de um ou de outro – aqui também os desastrados se dão mal, trombam frequentemente.

O giro fusiforme

Passa-se nele um fenômeno de extrema importância – é uma área onde é projetado o rosto das pessoas, sendo assim processada a identificação dos amigos e dos desconhecidos, uma distinção fundamental para a sociabilidade e a sobrevivência. E nesse particular, todos nós tropeçamos, nos lembrando daquele rosto, mas, nos foge, com frequência, o nome da pessoa.


Um breve resumo

Concluímos, então, que logo após termos as imagens registradas no lobo occipital, elas esparramam suas conexões para áreas vizinhas a fim de tomarmos conhecimento da cor, da forma, do movimento e da localização precisa do objeto visualizado – para cada uma dessas funções há um grupo particular de neurônios executando essa tarefa. Diz a neurologia que nós temos sim, um neurônio para nossa avó e outro para a Angelina Joli.

Podemos resumir algumas de nossas afirmações anotadas acima:
  • O mundo visível é uma imaginação da mente – a isso se chama percepção visual.
  • O estímulo visual atinge o “cérebro”, mas é a mente que constrói a representação do que vê – criamos uma imagem mental do que pensamos estar vendo.
  • Cada um de nós constrói suas imagens visuais conforme suas expectativas, suas memórias e sua cultura.
  • Há regiões diferenciadas no cérebro situadas no entorno da região occipital, para percepção do espaço e o que contém ele, a localização de objetos ou de pessoas, sua movimentação, sua forma, sua cor e sua identidade facial.
Entre o cérebro e a mente

Ensina a neurologia que a imagem que nos chega aos olhos não é interpretada como um reflexo que se projeta em um espelho. Cérebro e mente vão construir o que “pensam” estar vendo. Portanto, para tudo que vemos, o cérebro e a mente montam uma representação daquilo que imaginam ser o que está sendo visto. Vale a pena repetir com os cientistas que nossa realidade é pura imaginação. Mais importante, ainda, é saber que cada um de nós imagina o mundo a seu modo.

A neurologia ensina que, ao construirmos nossas imagens mentais, ajuntamos algumas peças que se conjugam nessa imaginação. Primeiro, a expectativa – se espero ver um anjo devo lhe dar asas como uma de suas propriedades. Repetindo o que já aprendemos, a visão é um processo ativo, nossa mente é quem põe nos objetos ou nas pessoas as características que espero ver nela. Depois, atuam as nossas memórias – se já conheço o pequi do serrado fica fácil identificar esse fruto quando o encontro no meio da panela de arroz tingindo-a com sua cor amarelada. Ao ver um rosto na multidão saberei de quem se trata caso minhas memórias detectem nosso parentesco ou amizade. Finalmente, interfere a nossa cultura, pessoal e coletiva – o peão que reconhece os animais na roça, o mecânico que trabalha com as peças do motor, o médico que manuseia os instrumentos da cirurgia, o cozinheiro que escolhe os ingredientes da comida, o mateiro que transita fácil pela floresta, o piloto que pousa o avião mesmo com a névoa da tempestade – todos eles enxergam detalhes que seu conhecimento possibilita compor.

As extravagâncias da patologia

Lesões, inflamações, tumores e síndromes diversas são capazes de desencadear manifestações que deturpam nossa visão. Fora dos quadros neurológicos clássicos de cegueiras e hemianopsias, vale a pena apontar curiosidades que ocorrem em algumas pessoas.

Afetada a área que identifica o movimento dos objetos ou das pessoas, o indivíduo relata curiosidades inacreditáveis – um deles diz que não pode por seu leite no copo. Ao virar a garrafa, ele não percebe a descida do líquido que acaba entornando – não há como perceber que o leite desceu da garrafa enchendo o copo. 

Outra conta que não há como andar no shopping, ela nunca sabe se as pessoas estão vindo em sua direção, e é terrível tentar atravessar a rua quando os carros estão passando. 

Um terceiro nota que, aqueles pássaros que voam ali por perto, na verdade parecem parados, mas, eles aparecem ora num lugar ora noutro, deixando-o confuso. 

As cores mudam de tonalidade ou desaparecem em pacientes com epilepsia - eles podem relatar “crises” visuais nas quais percebem em seu campo de visão o desenrolar de uma cena como se fosse um filme. Podem de início ser suas imagens em branco e preto, vindo depois o colorido adequado preencher o cenário.

A mediunidade - vendo Espíritos

A vidência é um tipo raro de mediunidade. Crianças costumam ver muito, assim como os idosos, nas fases finais da vida.  Os bons médiuns videntes fazem relatos muito interessantes que podemos compreender melhor conhecendo o que nos diz o cérebro conforme estamos estudando. Precisa ser dito que o médium não vê o Espirito, é o Espírito que se faz ver – usando a coparticipação de uma fisiologia especial que dispõe o médium vidente.

A percepção de uma entidade espiritual acontece por uma combinação de fenômenos – é preciso uma combinação dos fluidos do encarnado com o desencarnado, ocorre uma sintonia fluídica com assimilação pelo perispírito do médium daquilo que lhe projeta o Espírito desencarnado. E, finalmente, a imagem que o Espírito quer mostrar tem sua expressão no cérebro físico do médium onde terá que submeter-se ao que estudamos sobre ele.

Vamos aos exemplos nos relatos dos médiuns.

O que podemos aprender

1 - No livro dos Médiuns, Allan Kardec, ensina que, a vidência é um tipo de mediunidade rara que não se deve provocar seu desenvolvimento, deixar que ela siga seu curso natural, evitando o risco de sermos iludidos por efeito da imaginação. O cérebro é farto de informações e a mente é muito criativa, podendo nos fazer ver o que não existe.

2 – No mundo fantasioso da criança é comum ela conversar com personagens construídas pela sua imaginação, mas, nem tudo é fictício no mundo da criança. No histórico de muitos médiuns, eles relatam a sua vidência desde a infância e, nessa época, não tinham conhecimento suficiente para identificarem que parte da conversa era mesmo com entidades espirituais.

3 – No idoso e nos pacientes terminais, há relatos de visitas de Espíritos familiares que se fazem ver pelo paciente - a veracidade desses relatos merece crédito inquestionável – isso a Doutrina Espírita é farta em comprovações.

4 – Na epilepsia, embora a neurologia acadêmica ainda não admita, é possível que certas crises sejam precipitadas por entidades perturbadoras, e podemos conjecturar que as imagens visualizadas nas crises tenham a ver com a dimensão espiritual – nas palavras de Kardec, a vidência geralmente é um episódio fugaz, lembrando muito uma “crise” cortical – por excitação de neurônios na região occipital (palavras minhas).

5 – A vidência não é um fenômeno contínuo, costuma ocorrer em flashes, circunscritos frequentemente a um foco, num determinado ponto do ambiente – as vezes o Espírito aparece sistematicamente no mesmo lugar, ora aqui ora ali – pelo que estudamos, a fixação do Espírito numa determinada localização ocorre por estímulo de neurônios de localização no cérebro do médium e não como fato real. Não é culpa do Espirito aparecer sempre ao lado do piano, é o cérebro do Médium que só consegue o enxergar ali.

6 – A aparência com que se apresenta o Espírito tem a ver com a estimulação de neurônios da área occipito-temporal, que nos permite identificar as formas dos objetos – o conceito popular ensina que, a descrição das formas depende dos olhos de quem vê – atentem para o vestido da noiva no seu casamento, cada convidado fará a descrição que mais lhe afeta. É por isso que nas visões tanto podem serem descritos santos como demônios – asas, auréolas, tridentes ou mantos de luz.

7 – Quando Wilder Penfield (1891-1976) iniciou as primeiras neurocirurgias para cura da epilepsia, o paciente era operado acordado, com o cérebro exposto. Isso permitia que certas áreas do cérebro pudessem ser estimuladas eletricamente pelo neurocirurgião. Dr. Penfield conseguia obter, com essa técnica, que o paciente relatasse o que estava vendo ou sentindo ou movimentando seus dedos. Ele podia, também, emitir algumas palavras, gritos, ver cenas do seu passado, descrever locais onde vivera ou onde se sentia projetado.

Allan Kardec ensina que nossa alma quando emancipada parcialmente do corpo, poderá “enxergar” quadros ou cenários arquivados em seu próprio cérebro físico. Isso significa que nossos neurônios armazenam sinais que nos permitem recompor memórias de coisas vistas ou vividas – penso eu que essa é uma vulnerabilidade muito apropriada para atuação dos obsessores.

Também do mesmo autor:

O Cérebro e a Mente (uma conexão espiritual) pelo Dr. Nubor Facure.
Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.
O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica.

24 de fevereiro de 2018

O Cérebro e o nascer de novo - afinal, quem somos? Uma hipótese neurológica

por Nubor Orlando Facure


"É preciso nascer de novo" passando por experiências múltiplas no decurso das encarnações. Uma questão em aberto e extremamente complexa é: até onde podemos saber o quanto e como são transferidos para o cérebro físico de uma criança, que está por nascer, o conteúdo de sabedoria e talentos adquiridos pelo Espírito no decurso de suas existências

O desenvolvimento do sistema nervoso

O patrimônio genético dessa criança põe ordem no seu desenvolvimento, acrescentando aptidões por etapas, que coincidem, essas fases, com a progressiva mielinização das fibras nervosas. Primeiro, são mielinizadas fibras de baixo para cima, que permitem a atividade motora das pernas e depois dos braços. No cérebro, a organização é de trás para frente, primeiro as áreas visuais nos polos occipitais e depois o lobo frontal que só completa sua formação depois dos 17 anos.

A memória – quem eu sou? Sou o que minhas memórias dizem.

O bebê humano ao nascer não está zerado em suas memórias. Os testes especializados confirmam que ele tem arquivado a voz da mãe e possivelmente outros sons que ouviu enquanto no útero, sem que haja confirmação que ouvir músicas de Mozart dará a essa criança um cérebro de um músico de talento.

O que é do conhecimento geral é que a criança não consolida, armazena ou retém como memória suas experiências até aos três anos de idade – esse esquecimento é conhecido como "amnésia infantil''.

Do ponto de vista espiritual não temos, como regra geral, nenhuma lembrança de nossas vidas passadas. Ensinam os autores espíritas que, mesmo não tendo essas lembranças, de uma maneira ou de outra, podemos perceber em cada um de nós certas tendências trazidas de outras vidas – ideias inatas ou mesmo pendores que se revelam sem maior esforço. Um determinado profissional, com formação acadêmica numa área específica, pode perceber suas tendências e habilidades em competências completamente diferente. Um professor de matemática ou uma psicóloga podem exercer em paralelo um talento para música, artesanato, ou um talento literário como fez o médico Guimarães Rosa.

Personalidade, caráter e temperamento têm uma base genética e, seguramente, uma influência da bagagem espiritual de outras vidas. Um Espírito amigo nos ensinou que podemos não saber o que fomos, mas, não é difícil saber o que fizemos em vidas anteriores.

Uma nota breve sobre os tipos de memórias

Podemos tirar da classificação das memórias três expressões fundamentais:

A memória semântica,  a episódica, que fazem parte da memória declarativa e, a memória implícita ou de procedimentos.

A memória semântica se refere ao conhecimento adquirido pelas lições que aprendemos de uma forma ou de outra: quem nasce no Brasil é brasileiro, Paris é a capital da França, Voltaire foi um grande filósofo do iluminismo, a América foi descoberta por Cristóvão Colombo.

A memória episódica, é personalizada, refere-se a fatos pessoais vividos por nós, é narrativa e por isso falha. Sua consolidação é mais firme nos dados autobiográficos: meu nome, meu endereço, meu estado civil, a cidade onde nasci, minha nacionalidade, de quem sou filho, que profissão exerço, quem são meus filho. A memória episódica de eventos pessoais, se refere a acontecimentos vividos por nós, recentes ou não: O que almocei ontem? Quem me telefonou essa tarde? Que praia fui nesse fim de ano? Quem me visitou nesse domingo? Esse modo de memória (episódica) tem uma marca temporal e é fortemente contextualizada. Com as marcas do tempo: fui na praia no natal, viajei na semana santa, fui pescar em fevereiro do ano passado, troquei de carro em dezembro. Ligadas ao contexto: assisti aquele filme no Shopping com minha esposa. Adorei o camarão daquele restaurante de Joinville, eu estava no hotel quando ouvi aquela notícia, foi no jogo de futebol que torci o tornozelo, fiquei em casa porque chovia muito. Essas memórias podem ser resgatadas, mas, como são retidas principalmente no hipocampo, ao serem lembradas nós sempre fazemos uma nova descrição dos fatos. Daí a incerteza dos testemunhos nos episódios da vida.

As memórias episódicas para eventos pessoais são fugidias e enganosas. Quem relatar sua festa de casamento faz o mesmo que os pescadores ou os jogadores, a cada relato produzem uma nova versão. É o que diziam os antigos: "quem conta um conto aumenta um ponto".

As memórias de procedimento são as habilidades aprendidas. Andar de bicicleta, dirigir o automóvel, pilotar o avião, dedilhar o teclado, lidar com a prensa da fábrica, talhar a madeira numa peça de artesanato, tocar ao piano, desenhar ou pintar uma paisagem.

Por outro lado, são extremamente corriqueiras, no ambiente familiar de muitos de nós, a ocorrência das memórias de procedimento. Há em quase toda família os desenhistas, os pintores, os pianistas, os artesões habilidosíssimos que fazem castelos na areia ou na madeira sem qualquer ensinamento prévio. Observando bem, em cada um de nós podemos perceber que as memórias episódicas são consolidadas firmemente até que alguma demência nos atinja nos fazendo esquecer até mesmo o nome. 

Recordando a história de vidas anteriores. Isso é possível?

São ocorrências raras, mas, vez por outra encontramos crianças fazendo relatos de terem vivido em outro lugar e dando as identificações necessárias para essa comprovação. A literatura médica e o cinema têm relatos enriquecedores que atestam a reencarnação e a ocorrência de permanência dessas memórias episódicas. Geralmente, com o crescimento da criança essas memórias se perdem. São também excepcionais, mas bem descritos, casos de persistência das memórias semânticas. São algumas crianças rotuladas de autistas, ou “idiots savans” que são capazes de responder brilhantemente sobre determinado tema de conhecimento geral ou de um domínio particular como literatura ou matemática. 

Por outro lado, certos eventos de nossa vida podem ocorrer carregados de forte emoção e um susto ou uma ameaça pode consolidar com mais força determinada ocorrência. Uma batida com o nosso carro em que alguém sai ferido, a ameaça de um assalto ou um sequestro, o medo de enfrentar uma cirurgia de risco, a dor de um fêmur fraturado na queda de uma bicicleta

Considerando a reencarnação, é provável que as memórias episódicas, carregadas de forte emoção física ou psíquica, podem ser uma boa explicação para nossos medos, as crises de pânico, as fobias, as dificuldades para enfrentar o elevador, o avião, uma picada da vacina, uma cobra, uma aranha, uma simples barata ou falar em público

As memórias de procedimentos

No decorrer da vida vamos aprendendo habilidade e adquirindo competências comuns a nós humanos: andar, correr, escrever, nadar, dirigir, pilotar, andar de bicicleta, soltar uma pipa e outras de maior destaque: tocar piano, violino, cantar com o violão, pintura, artesanato entre muitas outras.

O maior destaque nesse tipo de memória é que ela é mais ou menos permanente. Ninguém esquece como nadar ou andar de bicicleta. O dedilhar o violão ou o piano, por outro lado, exige treinamento constante, mas, os rudimentos básicos permanecem para sempre. Nunca me esqueço que o primeiro paciente que conheci com a doença de Alzheimer era um alfaiate. Não sabia dizer o nome da esposa, nem o seu endereço, mas, gesticulava com as mãos e mostrava como fazia o corte de tecido para fazer um terno – o paciente com essa doença é treinável e capaz de aprender certas habilidades motoras novas, mas, não retém um conhecimento novo, como por exemplo o endereço do hospital.

Pode-se conjecturar que as memórias de procedimento são as que mais se conservam de uma encarnação para outra. Elas permanecem sempre mais firmemente consolidadas em nosso cérebro – principalmente nos núcleos basais e no cerebelo – e os exemplos são parte da história de todas famílias – são as aptidões, os talentos, as tendências, os pendores artísticos e os desempenhos que surgem facilmente no artesanato, na música, na pintura, no esporte entre tantos outros.

Um resumo simples

A memória autobiográfica é firme, confiável, nos acompanha pela vida todo sem distorções. Nós a perdemos quando ocorrem leões cerebrais graves. Dificilmente ela permanece no transcurso de uma vida para outra.

A memória episódica é facilmente distorcida. Ela é regatada sempre com uma nova versão, não é recuperada. É recontada. É sensível aos eventos emocionais que aumentam os seus traços. Podem justificar o que sentimos hoje em forma de medos, fobias, traumas psíquicos, déjà-vu e outros fenômenos da psicopatologia humana.

A memória de conhecimentos, semântica, é acumulativa é pode favorecer o aprendizado em determinadas áreas de uma vida para outra.

E, finalmente, as memórias de procedimento que se expressam, geralmente, em habilidades motoras. São mais sólidas, costumamos dizer que ninguém esquece como andar de bicicleta. De uma encarnação para outra, elas podem permanecer como uma tendência profissional, talentos artísticos diversos, predisposição para esse ou aquele esporte.

E o que a morte fará com as nossas memórias?

Diz o povo que “dessa vida nada se leva”. Eu costumo dizer que, obrigatoriamente, vamos levar os nossos neurônios, estão impressos neles a nossa identidade. Um neurocirurgião famoso fazia suas cirurgias com o paciente acordado. Com o crânio aberto ele estimulava eletricamente várias áreas cerebrais. Além das repostas motoras e sensitivas ele conseguia estimular a região temporal onde produzia reminiscências guardadas pelo paciente. Sabemos todos, como espíritas, que o que ocorre no cérebro é transferido ao Espírito através e um veículo sem imaterial, o perispírito. Mas, durante toda nossa vida, as redes neurais acumulam um rico aprendizado que consolida nossos comportamentos e enriquece nossas memórias. Os exames de Ressonância Funcional e a estimulação direta nos neurônios detectam essas competências.

A pergunta é: tudo isso se desfaz com a morte? Aprendemos com a doutrina espírita que esse material é inteiramente transferido para o perispírito. Esse fenômeno nos permite conjecturar algumas consequências:

Logo após a morte, seremos exatamente os mesmos que somos hoje. Com as mesmas memórias, comportamentos e experiências. Isso explica porque, mesmo desencarnados, há Espíritos que continuarão duvidando da reencarnação. E, para maioria de nós, não será de um dia para o outro que teremos acesso as memórias do nosso passado.

Ver também: Entrevista V - Dr. Nubor Facure e as perspectivas espiritualistas para o ser humano.

Referência

11 de janeiro de 2018

Sobre a mente inconsciente e sua perspectiva espírita.


A fronteira entre o Espiritismo e as experimentações psicológicas apresentam oportunidades interessantes de exploração e interpretação. Ela é tanto mais relevante para o lado espírita (que é o de nosso interesse imediato), pois mostra como alguns resultados recentes de experiências têm impacto na compreensão de fenômenos que estão na interface "espírito-corpo".

Um exemplo interessante discutimos brevemente aqui e diz respeito aos estudos algo recentes (um deles já tem 35 anos, ref. 1) sobre a importância da chamada "mente inconsciente" na tomada de decisões. Por "mente inconsciente" entendemos um conjunto de processos mentais que ocorrem sem que o indivíduo tenha "consciência" - aqui a palavra em inglês "awareness" é mais apropriada - dele. Essa consciência nos dá aquela sensação de que temos, de fato, controle sobre nossos atos. Assim como nos diversos órgãos do corpo que funcionam de forma autônoma (sem a deliberação da vontade por parte de quem o controla), o cérebro também operara de forma autônoma em muito da vida mental, quer dizer, ele funciona sem que o indivíduo tenha consciência disso. Eficiência e otimização parecem ser a principal causa para esse estado de coisas no campo mental.
Mente inconsciente

A noção de mente inconsciente não é nova. Já no começo do século 18, a ideia de "unbewußtsein" apareceu com o filósofo idealista alemão Friedrich Schelling (1775-1854). A crença popularmente aceita de que o homem poderia ser inspirado pelos deuses foi uma das razões para se suspeitar de que algo inconsciente operaria na mente humana e ajudou a consolidar o conceito sem, entretanto, qualquer aceitação científica. Uma outra fonte importante para a ideia do inconsciente veio da observação ordinária que pessoas, quando sob ação perturbadora de medicamentos ou drogas (p. ex., bebidas alcoólicas) agem de forma aparentemente inconsciente, e chegam a não se lembrar dos atos praticados, cessado essa ação externa. O grande popularizador do inconsciente foi sem dúvidas Sigmund Freud (1856-1939) que usou largamente desse princípio para o estudo de desvios do comportamento que ele explicou como resultado de desejos sexuais inconscientes reprimidos. Entretanto, a crença na existência do inconsciente demorou para ser estabelecida tendo em vista que sua aceitação leva a uma mudança radical na nossa concepção da mente humana e porque não se faz nenhuma ideia sobre como tal inconsciência operaria (2). Até hoje, a maior parte das pessoas nem desconfia do inconsciente, ou vive sem saber que ele existe e "controla" seus atos de forma sistemática.

Experimentos como o de Libet et al (1) foram um grande divisor de águas na comprovação da existência de uma "mente inconsciente" inicialmente descrita como um estado potencial de "prontidão" a operar sem qualquer intervenção consciente de seu dono. Antes dele, outras evidências de que sinais aparentemente não percebidos pelas pessoas poderiam determinar o curso de suas ações também forneceram provas indiretas da existência do inconsciente (2). O uso de técnicas de mapeamento cerebral (como é o caso da tomografia de pósitrons) permitiram observar em tempo real a operação do fenômeno. Essencialmente, distingue-se as áreas do cérebro responsáveis pela tomada de decisão e pela "consciência" dessa tomada. Por meio de técnicas experimentais é possível demonstrar que o decisão ocorre centenas de milissegundos antes de que as áreas de "awareness" sejam ativadas. Em suma: a decisão é tomada antes da consciência da escolha que precede, entretanto, o ato decisório como representado abaixo:


tomada de decisão -> consciência a decisão -> ato decisório.

Obviamente, a ciência moderna ainda debate a amplitude, origem e operação da mente inconsciente, mas sem as dúvidas sobre sua existência. Para os "behavioristas", por exemplo, as operações do inconsciente integram informação anterior e de ambiente e criam a decisão que sobe ao nível consciente dando a "impressão" de liberdade de escolha. Na atualidade esse debate tem impacto direta na noção de livre-arbítrio: se as decisões são inconscientes então provavelmente não temos controle de nossos atos. Na visão behaviorista extrema (que é radical mesmo para os padrões materialistas aceitos) somos meros autômatos pre-programados pelo ambiente, sem capacidade de decisão, mas com a ilusão de arbítrio próprio. O debate se alarga para áreas como a do direito, onde se pergunta até que ponto um criminoso não seria passível de culpa, caso essa visão radical de controle do inconsciente fosse adotada.

O leitor deve entretanto atentar para o fato de que experimentos que demonstram a operação do estado de prontidão pré-consciente nada provam contra o livre-arbítrio, mas apenas a existência desse estado inconsciente. É quando se passa a interpretar e tentar criar teorias para explicar a mente e sua complexidade que alguns cientistas chegam ao estremo de negar o livre arbítrio. 

O conceito do inconsciente no Espiritismo (segundo A. Kardec)

Os Espíritos também indiretamente indicaram a existência do estado inconsciente nos encarnados ao referir-se à vida do espírito como diversa, mais rica e diferente da vida da vigília. Há muitos trechos no "Livro dos Espíritos" (LE, 4) em que se pode ler sobre essa noção peculiar do inconsciente. A existência da vida do Espírito como independente da vida material está bem estabelecida, por exemplo, no Capítulo 8 do LE "Da emancipação da alma: o sono e os sonhos" e no Capítulo 7 "Da volta do Espírito à vida corporal: esquecimento do passado". Por exemplo, na questão #410a, Kardec questiona sobre para que serviriam as ideias adquiridas durante o sono (5) que são completamente esquecidas no estado de vigília. A resposta reafirma a existência de uma vida paralela à material que permanece inconsciente propositalmente, sem prejuízo ao aproveitamento dessas ideias:
Algumas vezes essas idéias mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos do que ao mundo corpóreo. Com mais frequência, porém, se o corpo as esquece, o Espírito as retêm, e voltam no momento necessário, como uma inspiração súbita. (grifos nossos)
Certamente é no capítulo que trata das vidas pregressas que o inconsciente - como repositório de lembranças de vidas anteriores - surge de forma clara:
Não temos, é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos, nem do bem ou do mal que fizemos, em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado. E a nossa consciência, que é o desejo que experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, nos concita a resistir àqueles pendores (LE, Cap. 6, final da resposta à questão #393, grifo nosso).
A lembrança fortuita de vidas pregressas e as capacidades instintivas que se manifestam na vida material são fatores que afetam a tomada de decisão do Espírito e que devem ser levados em consideração ao se explicar o funcionamento do estado inconsciente, principalmente sobre quais seriam as causas relevantes que levariam a uma decisão. Para o Espiritismo com Kardec, o estado inconsciente é a própria manifestação da vida do Espírito que pode pensar de maneira diversa no estado de vigília, quando tem "consciência" das coisas a seu redor a lhe afetarem a maneira de pensar. Isso está claramente indicado, por exemplo, em parte da resposta à questão #266 e # 267 sobre a escolha das provas da vida material:
266. Não parece natural que se escolham as provas menos dolorosas? 
Pode parecer-vos a vós; ao Espírito, não. Logo que este se desliga da matéria, cessa toda ilusão e outra passa a ser a sua maneira de pensar. (grifo nosso)
267. Pode o Espírito proceder à escolha de suas provas enquanto encarnado? 
O desejo que então alimenta pode influir na escolha que venha a fazer, dependendo isso da intenção que o anime. Dá-se, porém, que, como Espírito livre, muitas vezes vê as coisas de modo diferente. O Espírito por si só é quem faz a escolha; entretanto, ainda uma vez o dizemos, possível lhe é fazê-la mesmo na vida material, porque há sempre momentos em que o Espírito se torna independente da matéria que lhe serve de habitação. (grifos nossos)
Essa última questão é particularmente importante porque demonstra de forma clara que as decisões do Espírito encarnado se dão de forma inconsciente, como Espírito, ou seja, ele sequer precisa ter consciência (awareness) sobre tais escolhas.  A. Kardec tece um interessante comentário logo após a questão # 266 do qual extraímos o trecho:
A doutrina da liberdade que temos de escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas de modo diverso do nosso. Divisam a meta, que bem diferente é para eles dos gozos fugitivos do mundo. (grifo nosso)
Se viver é fazer escolhas, a primeira decisão que ocorre ao Espírito é sobre o tipo de existência que ele pretende passar em uma nova encarnação na Terra. Para o Espiritismo, entretanto, o livre-arbítrio, que é fundamental para se garantir a responsabilidade do Espírito sobre seus atos, não é uma "graça" concedida sem custo ao Espírito, mas algo que ele deve conquistar:
O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não haveria liberdade, se a escolha fosse determinada por uma causa independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à tentação, outros resistiram. (Resposta à questão #122, grifos nossos)
A necessidade de se escolher as provas e desenvolver seu livre arbítrio justificam assim o estado inconsciente, a perda de memória das vidas anteriores e de sua vida como espírito. O ser integral, quando encarnado, se manifesta em sua psicologia e maneirismos, sua atitude em relação à vida, seus instintos e tendências, sem prejuízo do aproveitamento de suas experiências. Como justificativa para esse estado de coisas, a questão # 370 reafirma o espírito como causa, porém, que a matéria o restringe:
370a. Dever-se-á deduzir daí que a diversidade das aptidões entre os homens deriva unicamente do estado do Espírito? 
O termo unicamente não exprime com toda a exatidão o que ocorre. O princípio dessa diversidade reside nas qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.
Para o Espiritismo, os espíritos são uma fator importante 
a influenciar a decisão do encarnado durante a vigília. Tal influência, 
entretanto, se dá de forma inconsciente. Imagem:"O Sonho da rainha
 Katherine", (Johann Heinrich Füssli, 1741-1825).
Inconsciente e obsessão 

O  inconsciente é um conceito importante para se entender "operacionalmente" como podem os Espíritos influenciar os encarnados.  Quando essa influenciação é negativa - de forma a aumentar o sofrimento do encarnado - fala-se em "obsessão" (LE, questão # 473). A questão #460 parece ser fundamental para se entender a ligação entre o inconsciente e a operação dessa influenciação:
460. De par com os pensamentos que nos são próprios, outros haverá que nos sejam sugeridos? 
Vossa alma é um Espírito que pensa. Não ignorais que muitos pensamentos vos acodem a um tempo sobre o mesmo assunto e, não raro, contrários uns dos outros. Pois bem, no conjunto deles estão sempre de mistura os vossos com os nossos. Daí a incerteza em que vos vedes. É que tendes em vós duas idéias a se combaterem. (grifo nosso)
Ora, não guardamos, de forma geral, nenhuma lembrança ou consciência dessa influência, nem sequer sabemos de onde provêm tais pensamentos. O estado inconsciente representa o momento exato onde opera essa influenciação, que acontece exatamente dessa maneira de forma a reter apenas aquilo que é necessário para fazer avançar nossa capacidade de discernimento entre o certo e o errado (do contrário, não haveria mérito...).

De forma resumida, ao se listar que fatores poderiam afetar o inconsciente no momento da tomada de uma decisão, podemos citar:
  • As tendências inatas da alma encarnada, fruto de experiências obtidas em vidas anteriores (inconsciente);
  • Sua experiência presente, resultado de sua encarnação última (consciente ou inconsciente);
  • Suas memórias de vidas anteriores, que reforçam certas tendências em optar por determinadas decisões (inconsciente);
  • Suas memórias da vida atual, acessível diretamente com algum esforço (o chamado "estado presciente", influenciação consciente ou inconsciente);
  • As limitações de seu corpo ou contraparte material que restringem mais ou menos severamente a maneira como as percepções do mundo externo se dão;
  • As influenciações dos Espíritos que reforçam as tendências inatas e sugerem ideais (inconsciente);
O comportamento humano é produto de uma atuação maior ou menor de um desses fatores ou combinações deles. Mas é particularmente nos fenômenos obsessivos mais ou menos severos que o último fator mais se destaca. Por meio do estado inconsciente, pensa e age o encarnado como se estivesse sozinho, mas, de fato, ele não está. Acreditamos, porém, que, mesmo nos casos de subjugação sistemática, o Espírito pelo menos retém consciência de seu livre arbítrio. Esse é, entretanto, assunto para outro post considerando inúmeros detalhes relevantes que exigem minuciosa atenção e consultas a outras referências.

À guisa de conclusão

O inconsciente parece guardar a chave para a essência do espírito encarnado cuja existência integral ocorre em outro "plano". Cremos que as descobertas recentes sobre a operação da mente inconsciente são importantes validações das lições trazidas pelos Espíritos já durante a compilação das respostas do LE e muito antes de Sigmund Freud (6). Para a ciência que investiga esses casos, o inconsciente é um estado de pre-decisão, talvez mais um dentre os inúmeros estados do cérebro entendido como um "hardware" que "roda" um programa. Para o Espiritismo, entretanto, o inconsciente não é meramente um repositório de lembranças ou desejos reprimidos. Ele é a própria manifestação oculta da vida do Espírito em sua jornada evolutiva. As manifestações observáveis do estado inconsciente são importantes evidências (8) dessa vida oculta que, por meio de experimentos, é possível estudar e que têm implicações ainda pouco esclarecidas para a a sociedade. 

Uma das perspectivas abertas pelo Espiritismo é que o encarnado guarda memórias ou consciência plena de suas decisões, mesmo para aquelas que não "subiram" conscientemente durante a vigília. A consciência de tomada de decisão seria uma espécie de "segunda consciência" que reverberaria no campo mental do encarnado, ou tipo de memória reflexa de seu pensamento como Espírito. Essa reverberação é importante para que dela uma memória seja guardada ("eu me lembro de que tomei essa decisão") e auxilie outras tomadas (inconscientes) em contextos semelhantes, até que o processo seja completamente autônomo.

Em outras palavras, a consciência que temos de nossos atos quando encarnados após uma escolha é um mecanismo de "feedback" (realimentação) que reforça o aprendizado durante a existência. Seu papel principal é guardar informação para uso posterior. Outra razão importante para esse funcionamento inconsciente é o da eficiência: a "mente" parece responder melhor a determinadas situações em que ela não tem que "pensar muito" sobre qual seria a melhor solução. Um trabalho interessante recente (3) argumenta que há uma "moral inconsciente"; as decisões "morais" das pessoas são melhores justamente quando elas decidem inconscientemente, o que é outra prova da operação das faculdades do espírito.

Uma vez que é o Espírito, em essência, o responsável pelos seus atos e que as decisões são tomadas mesmo sem consciência ("awareness") imediata - como um feedback de uma operação inconsciente, ele também é o único responsável por elas, sem prejuízo da noção de livre-arbítrio. Na visão espírita, é preciso elucidar a interação espírito-matéria, sobre como se daria a relação entre o espírito e o cérebro ou sistema nervoso sobre o qual ele atua. Enquanto inúmeros pontos obscuros subsistirem, será arriscado negar a responsabilidade do espírito encarnado sobre seus atos e criar, por exemplo, embaraços jurídicos pela negação do livre-arbítrio.

Para se convencer disso, é importante considerar uma visão integral do ser humano e desvendar inúmeros outros mecanismos pouco esclarecidos sobre o funcionamento da mente. Há indícios recentes de que a percepção consciente, quando obstada por doenças ou mal funcionamento do cérebro, não impede a mente de seu funcionamento inconsciente (7). Presentemente debate-se a possibilidade de o inconsciente ser capaz de realizar tudo o que é possível no estado consciente, o que é uma perspectiva promissora diante do ensino espírita sobre a verdadeira vida do espírito.

Retornaremos em um futuro post com mais discussões sobre nossas observações sobre esse importante assunto.

Referências e notas

1. Libet, B., Gleason, C. A., Wright, E. W., & Pearl, D. K. (1983). Time of conscious intention to act in relation to onset of cerebral activity (readiness-potential) the unconscious initiation of a freely voluntary act. Brain, 106(3), 623-642. Outro interessante trabalho de revisão que se destaca pelo equilíbrio é:

Baars, B. (2003). How brain reveals mind neural studies support the fundamental role of conscious experience. Journal of Consciousness Studies, 10(9-10), 100-114.

2. São os conhecidos experimentos com "mensagens subliminares". Ver Custers, R., & Aarts, H. (2010). The unconscious will: How the pursuit of goals operates outside of conscious awareness. Science, 329(5987), 47-50.

3. Ham, J., & van den Bos, K. (2010). On unconscious morality: The effects of unconscious thinking on moral decision making. Social Cognition, 28(1), 74-83.

4. Todas as citações deste post foram extraidas de www.ipeak.com.br .

5. A influência do sono na solução de problemas é bem reportado por: Karmarkar, U. R., Shiv, B., & Spencer, R. (2017). Should you Sleep on it? The Effects of Overnight Sleep on Subjective Preference-based Choice. Journal of Behavioral Decision Making, 30(1), 70-79.

6. Sobre isso se nota que quando Freud nasceu os primeiros manuscritos de "O Livro dos Espíritos" já existiam. Isso não tira de Freud seu pioneirismo na exploração do inconsciente, mesmo porque o "contexto teórico" da Doutrina Espírita é muito diferente da teoria psicológica de Freud.

Entretanto, é preciso ressaltar que o conceito de inconsciente no Espiritismo ainda aguarda melhor apreciação pelos psicólogos no futuro, principalmente com  relação à contribuição das memórias das vidas anteriores, cuja aceitação é infelizmente inconcebível no contexto da teoria Freudiana (ou pelo menos exigiria uma modificação radical na maneira de se entender o ser humano).

7. Um livro interessante com inúmeros relatos da operação do inconsciente quando o cérebro é severamente afetado é Ramachandran, V. S., & Blakeslee, S. (2004). Fantasmas no cérebro. Rio de Janeiro: Record.

8. O leitor pode se certificar que o inconsciente foi aceito pelo mainstream acadêmico ao ler  Koch C. (2011). Probing the Unconscious mind. Cognitive psychology is mapping the capabilities we are unaware we possess. Scientific American. Acessível em:

https://www.scientificamerican.com/article/probing-the-unconscious-mind/

9 de março de 2016

Anomalias possíveis na psicologia de pacientes transplantados


O magnetismo animal pode assim ser definido: 
ação recíproca de dois seres vivos por meio de 
um agente especial chamado fluido magnético. 
(A. Kardec, Instruções práticas 
sobre as manifestações espíritas. 
Vocabulário Espírita. Magnetismo animal.

Todos os objetos que você vê 
emoldurados por substâncias fluídicas 
acham-se fortemente lembrados 
ou visitados  por aqueles que os possuíram. 
(André Luiz, "Nos domínios da mediunidade".)

Quero um coração. Pois cérebros não nos fazem felizes
 e a felicidade é melhor coisa do mundo. 
L. Frank Baum, "O mágico de Oz".


Este texto complementa o artigo "Mudança de personalidades em transplantados cardíacos" que foi publicado no site "O Consolador".
Quase sempre as evidências para a natureza espiritual do ser humano são encontradas em fenômenos invulgares, onde menos se espera. Esse é o caso de reportes sobre mudanças inesperadas de gostos ou "traços" psicológicos em pessoas que receberam órgãos transplantados. Numa época em que se diz que tudo é "gerado pelo cérebro", no mínimo essa anomalia é bastante bizarra a ponto de atrair a rejeição feroz de céticos que dizem ser o fenômeno irreal.

O fenômeno é raro, mas nem por isso pouco notado. Além disso, é mais comum em pacientes que receberam transplantes de coração. Tornou-se famoso o caso de Claire Sylvia (1,2):
No dia 29 de maio de 1988 uma mulher norte-americana chamada Claire Sylvia recebeu um coração transplantado no hospital de Yale, em Connecticut. A ela foi dito apenas que seu doador foi um homem de dezoito anos de idade, residente no Maine (nos Estados Unidos) e que morreu de um acidente de motocicleta. Logo após a operação, Sylvia declarou sentir como se tivesse bebido cerveja, algo que ela nunca teve atração. Mais tarde, passou por uma vontade incontrolável de comer nuggets de frango e uma tendência inesperada de vistar restaurantes da cadeia KFC. Também desenvolveu interesse por pimenta verde, o que, particularmente, ela nunca tinha gostado antes. Começou então a ter sonhos recorrentes, onde aparecia um nome, Tim L, que ela imaginou ser o dono do coração. Com base em uma pista que lhe foi concedida, buscou no obituário e jornais da região do Maine e pôde identificar o jovem cujo coração ela tinha recebido. Seu nome, de fato, era Tim. Depois de visitar a família de Tim, teve confirmado seu gosto por nuggets de frango, pimenta verde e cerveja. (Itálicos nossos).
Outros casos podem ser lidos em (3), registrando-se, inclusive, mudança de orientação sexual (ver caso 5 na ref. (3)). No Brasil, uma novela foi feita explorando o fenômeno (3b).  Obviamente existem muitas explicações céticas para ele (4), desde aquelas que desqualificam esses relatos (com o título odioso de "evidência anedótica"), que o tornam irrelevante pela sua raridade ou que explicam tudo por efeitos de medicação. Segundo esse proposta cética, ainda que existam tais relatos, eles são tão raros que são esperados estatisticamente e seriam frutos de impressões errôneas nos pacientes, ou seja, ocorreram mudanças de gostos etc, mas elas foram erroneamente atribuídas ao transplante (4).

Do ponto de vista puramente materialista, a explicação de tais memórias anômalas é dependente da existência de "memórias celulares", o que é frequentemente adotado pelos que consideram esses relatos (5). Essencialmente: a informação sobre gostos, tendências etc estaria registrada em algum mecanismo celular, dependente ou não da genética, e essa informação seria acessada pelo corpo do paciente transplantado gerando a mudança de comportamento.  

Influência magnética do órgão transplantado ?

Do ponto de vista espírita, não esperamos que tais ocorrências sejam comuns mesmo. Para existirem, provavelmente um conjunto mais extenso de condições deve prevalecer, e não somente um transplante.  Uma delas é uma sensibilidade do receptor ou indivíduo sobre o qual a influência se estabelece. Essa sensibilidade não está distribuída de maneira uniforme e frequente na população.  

Sabe-se que as fontes de influência sobre a personalidade de um Espírito (esteja ele encarnado ou não) são múltiplas e, envolvem, segundo o Espiritismo, um meio de transporte conhecido como fluido. Esse conceito não é o mesmo encontrado em física - o de uma substância sobre a qual não persistem forças de cisalhamento etc - mas tem uma concepção integralmente nova. 

Um fluido é uma substância de natureza "semi-material" que, tanto quanto nos é possível inferir pela literatura espírita, é produzida pelo perispírito (que não existe, alias, desacompanhado de seu espírito) em combinação com fluidos ambientes - ou todas as coisas com as quais o Espírito entra em contato. É através do perispírito que a mente sente o mundo a sua volta:
O perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos. Pelos órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e limitadas à percepção das coisas materiais; pelo sentido espiritual, ou psíquico, elas se generalizam: o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser, tudo o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico. ("A Gênese", Capítulo XIV. Os fluidos II. Parágrafo 22.)
A ação dos fluidos é bastante discutida por A. Kardec nas suas diversas obras e é um componente importante para a teoria espírita da mediunidade, em particular nas suas explicações para a mediunidade curadora. Não são incomuns, durante as incorporações, que médiuns descrevam sensações, impressões e até mesmo lembranças associadas à Entidade comunicante. Essa influenciação se dá por meio dos fluidos da Entidade que atuam sobre o perispírito do médium.

Entende-se assim um fluido espiritual como um elemento intermediário, capaz de transportar características que são tipicamente associadas ao Espírito (gostos, impressões e memórias), porém, por meio de algo que  é localizado no espaço e no tempo e que pode ficar impregnado em coisas materiais, inclusive objetos. As sensações dilatadas do Espírito são assim explicadas de forma independente dos cinco sentidos ordinários, o que permite entender uma grande quantidade de fenômenos psíquicos.

Obsessão ?

 Ação fluídica desse tipo estabelece-se particularmente nas chamadas "obsessões":
Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É daquele fluido que importa desembaraçá-lo. ("A Gênese", Capítulo XIV. Os fluidos II. Parágrafo 45.)
Porém, não há porque sustentar que, depois de um transplante, exista qualquer influência obsessiva do desencarnado doador com o transplantado. Certamente, tal possibilidade existe, mas seria sempre provocada por outros fatores, todos eles comumente associadas aos processos típicos de obsessão, jamais por causa do novo órgão. Se fosse obsessão, por que a mudança seria mais observada com o coração ? Não seria ela ligada a todos os órgãos? 

A explicação que nos parece mais plausível para essas raras mudanças de personalidade com os transplantes estão fundamentadas na impregnação do tecido do órgão com o fluido do desencarnado, fluido esse que pode influenciar o perispírito do transplantado, fazendo surgir nele alguns traços associados à personalidade desencarnada. Não se trata, porém, de uma mudança integral de personalidade, o que exigiria um estado completamente passivo do transplantado. Se isso for possível, sua ocorrência seria bastante transitória e ainda mais rara.

Assim, tudo se passa como em um fenômeno de psicometria (7). Esse termo não pode ser encontrado na obra de A. Kardec, mas seu conceito é anterior a ele (6). Kardec chama de "dupla vista" uma grande variedade de fenômenos psíquicos dentre os quais se inclui a psicometria (6b). Portanto, a raridade das ocorrências de alteração de personalidade em transplantados fica estabelecida sobre uma sensibilidade peculiar, que talvez não seja tão rara como no caso da psicometria clássica, mas que não deixa de se manifestar de forma continuada, por causa da influência do objeto imantado de fluido do desencarnado, em seu novo recipiente. Esse contato é de tal natureza (trata-se da conexão de um órgão vital) que a modificação se estabelece de maneira bastante perceptível pelo transplantado.

Não é difícil imaginar também, para que a intensidade do efeito seja maior, que deva existir uma afinidade entre o fluido impregnado no órgão e o do perispírito do paciente transplantado. Aqui apenas especulamos com base em um paralelo que podemos fazer entre esse fenômeno e o da própria mediunidade, que exige essa afinidade em outra ordem de fenomenologia. 

E por que o coração?
"E, naturalmente, o cérebro não é absolutamente
responsável por qualquer sensação.
A visão correta é que a sede e a fonte
das sensações é a região do coração."
(Aristóteles, 8b)

É crença comum que o principal órgão responsável pela sensibilidade é o cérebro. Em consonância com a tese materialista, tudo é produto do cérebro e o coração é apenas uma bomba de sangue. Porém, mesmo numa descrição puramente material, neurônios (ou células nervosas) não existem exclusivamente no cérebro.

Recentemente descobriu-se que o coração é sede de aproximadamente 40 mil neurônios (8), o que foi chamado "pequeno cérebro do coração". Essa descoberta fez crescer a importância dos relatos de mudanças de personalidade em transplantados cardíacos, como a Ref. 9 mostra, e relembra a explicação Aristotélica da sede das sensações (8b).

O cérebro provavelmente é a interface mais importante, do lado material, para o Espírito, que armazena muitos fluidos a se relacionar com o perispírito e facultar à mente suas sensações. Isso implica, do ponto de vista espírita, que tais fluidos espirituais, capazes de produzir modificações parciais ou completas na personalidade no Espírito sob sua influência, bem como em suas sensações, encontram-se disseminados por todo o corpo, provavelmente mais adensados no sistema nervoso central (11).

Não é verdade, porém que, com o transplante, as conexões neurais preexistentes sejam restabelecidas (10). Isso não acontece, ou seja, os "neurônios cardíacos" do coração transplantado ficam sem função. Uma possível via de compreensão maior desse fenômeno é através de estruturas no corpo espiritual, conforme descritas por vários autores como André Luiz em "Evolução em dois mundos" (12). Portanto, a mudança de personalidade e surgimento de novas sensações (que precisam ser melhor caracterizadas e descritas) abre espaço potencial para a validação da tese da existência de órgãos no perispírito.

Outra conclusão é que, enquanto o sucesso físico do transplante de um órgão exige condições entre doador e recipiente, para que um "pedaço" ou "traço" da personalidade seja "transplantado", deve existir uma condição de sintonia entre fluidos, assim como algum grau de passividade no transplantado.

Teste seu conhecimento

A partir deste post, apresentamos algumas questões para participação dos leitores, que podem enviar suas respostas pela seção de comentários. Não há prazos nem limites de participação. Nas suas respostas, faça referência  à numeração das questões.

Participe!
  1. De acordo com a tese dos fluidos espirituais: elabore uma explicação ou predição sobre o que se espera com relação à mudança de personalidade de transplantados com a idade do paciente. O fenômeno seria mais comuns em crianças ou adultos?
  2. Imagine o seguinte caso: um paciente que recebeu um transplante de coração vive durante muito tempo com ele, mas vem a falecer por outra causa. Seu coração é então transplantado em outro paciente. Se as condições forem satisfeitas, elabore o que se esperaria com relação à mudança de personalidade: (a) Usando a teoria materialista de "memória celular"; (b) Usando a teoria espírita. (Dica: seria possível a coexistência de traços de duas personalidades no segundo transplantado?)
  3. Elabore uma discussão sobre a validação da tese espírita dos fluidos magnéticos impregnados no órgão doado usando a resposta da questão anterior;
  4. Usando o conhecimento espírita e o comentário (10) abaixo, disserte sobre a via de influência sobre o perispírito em transplantados cardíacos. Quem mecanismos perispirituais poderiam substituir as vias rompidas para o transporte das sensações a partir do coração? 
Referências

1 Sylvia, Claire. A Change of heart: a memoir. New York; Warner Books, 1997. O que descrevemos aqui é um comentário algo hilário, mas que reflete a forma direta que americanos costumam fazer em textos populares.

2 http://galileu.globo.com/edic/102/con_transp1.htm (acesso em janeiro de 2015).

http://www.paulpearsall.com/info/press/3.html (acesso em janeiro de 2015).


4. Em http://bigthink.com/neurobonkers/dont-be-taken-in-by-the-bad-science-of-cell-memory-theory (acesso em janeiro de 2016) encontramos um texto que se opõe (corretamente) às explicações do tipo "memória celular", mas que faz isso negando as evidências. Uma desqualificação mal feita pode ser constatada ao se ler isto:
"Only 6% (three patients) felt their personality had changed due to their new heart — a finding that could clearly be due to either random chance, or the patients misattributing the real cause of any change in their personality. Both of the studies are approximately two decades old, if this is the best evidence for a claim that would have such profound implications for our understanding of the workings of the human body, then I think we can safely assume the theory is bunk." "Tradução: Apenas 6% (três pacientes) sentiram suas personalidades mudar com o novo coração - uma descoberta que pode claramente ser explicada por pura sorte ou pelo paciente atribuir erroneamente ao transplante a causa real da mudança. Ambos estudos têm aproximadamente duas décadas de existência e, se essas são as melhores evidências para uma alegação que teria tamanha implicância no nosso conhecimento do funcionamento do corpo humano, acho que podemos seguramente refutar a teoria.  
5 Pearsall, P., Schwartz, G. E., & Russek, L. G. (2000). Changes in heart transplant recipients that parallel the personalities of their donors. Journal of Near-Death Studies, 20(3), 191-206.  http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10882878

6. Uma descrição recente de psicometria foi feita por Jader Sampaio em http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2013/01/o-que-e-psicometria.html

6b. A "Revue Spirite de janeiro de 1866 traz, por exemplo, a descrição de uma jovem cataléptica da Suábia, com manifestações típicas de psicometria.

7. Dissemos "como em um" e não "exatamente como".  A mudança de gostos com o transplante parece ser algo novo que merece melhores estudos.

8. Armour, J. A. (2007). The little brain on the heart. Cleveland Clinic journal of medicine, 74, S48.

8b. Gross, C. G. (1995). Aristotle on the brain. The Neuroscientist, 1(4), 245-250.

9 . Your Second Brain is in your Heart Neurons. Trust your Gut Feelings. Acesso em janeiro de 2016. http://hubpages.com/education/your-second-brain-is-in-your-heart

10. De fato, em uma explicação para pre-transplantados, a referência da clínica Vanderbilt:


podemos ler
"The transplanted heart fills with blood and pumps as any other normal heart. However, the transplanted heart is "denervated." This means that the nerves from the central nervous system that supplied connections to your other heart do not supply connections to your transplanted heart. These nerves were divided upon removal of your own heart." Tradução: O coração transplantado se preenche de sangue que é bombeado como qualquer outro coração normal. Entretanto, o coração transplantado é "desenervado". Isso significa que os nervos do sistema nervoso central, que fornecem as conexões para o outro coração, não vão fazer o mesmo com o coração transplantado. Esses nervos foram rompidos com a remoção de seu coração original.
O esclarecimento prossegue informando que transplantados cardíacos não sofrem jamais de angina porque as conexões neurais foram, de fato, rompidas. Isso torna suspeitas as explicações de mudança de personalidade com base em "memórias celulares", e caracteriza o fenômeno como de uma natureza bastante diferente, que pensamos pode estar ligada à influência dos fluidos espirituais. 

11. Não se poderia excluir também o fato de transplantes de coração serem bastante comuns (dai porque os relatos de alteração de personalidade são mais comuns com eles). Porém, mais comuns ainda são os de rins e fígado.

12. C. Xavier e W. Vieira. Evolução em Dois Mundos. Uma versão em pdf pode ser encontrada em:
http://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/l17.pdf


4 de outubro de 2015

Esboço de explicação espírita para a paralisia do sono

"Pesadelo" por Johann Heirich Füssli (1741-1825).
Conhecer os efeitos dessa força oculta que nos domina 
e nos subjuga malgrado nosso, não será ter 
a chave de muitos problemas, as explicações 
de uma porção de fatos que passam despercebidos? 
Se esses efeitos podem ser funestos, 
conhecer a causa do mal não é ter um meio de preservar-se contra ele, 
assim como o conhecimento das propriedades da eletricidade 
nos deu o meio de atenuar os desastrosos efeitos do raio? (A. Kardec, Ver 6).

O cenário é o de uma agradável tarde de final de semana. O estado que busco é o de repouso vespertino, quando se espera recuperar do cansaço físico da semana. O sono vem, porém, não da maneira usual. Pouco antes de acordar, começo a perceber tudo a minha volta. Por entre as pálpebras semi fechadas, percebo a decoração conhecida do quarto. Porém, pânico e desespero tomam conta de mim: não consigo levantar. Ouço vozes dos familiares distantes que sabem que estou dormindo. Tento virar a cabeça, mas terrível surpresa! Ela parece feita de chumbo. Tento levantar meu braço sobre meu abdômen, mas ele parece ter se transformado em concreto. Sei que tento virar meu braço ou meu corpo, como se outro corpo tivesse. Quanto tempo permaneço nesse estado? Não sei dizer, mas quando finalmente desperto, por causa que desconheço, sinto-me ajustado novamente ao meu corpo original, o que me traz a sensação de grande alívio. Acabo de passar por uma experiência de paralisia de sono.

Quantas vezes tive essa experiência ? Provavelmente umas três vezes. A chamada "paralisia do sono" é de ocorrência rara na vida de um indivíduo, mas bastante disseminada na população. O relato que fiz de minha experiência pessoal está longe de ser a mais comum. Além da sensação de impotência por não conseguir "se ajustar" ao corpo, há descrições de presenças, percepções anômalas ou figuras intrusivas na cena de quem desesperadamente procura acordar. Os relatos são semelhantes e descrevem uma sensação comum: a de que a personalidade se mantém íntegra, consciente da realidade a sua volta, mas, por alguma razão, não consegue se ajustar ao corpo e acaba percebendo o que parece ser uma mistura entre a "realidade" e "alucinações"...

Alucinações. Relatos de ocorrências anômalas durante a paralisia do sono.

O termo "alucinação" é algo recente. Ele foi criado por J. Étienne Esquirol (1) em 1845. Antes disso, o termo usado para tais ocorrências era "aparição". Chama a atenção que, nas obras de A. Kardec, esse termo é usado na acepção que se tornou dominante, em conjunto com "aparição" que tomou outro significado. Nas ocorrências de paralisia do sono, é comum o uso do termo "alucinações hipnagógicas" e "hipnopômpicas", o que não deve assustar, já que esses termos não servem para "explicar", mas apenas classificar ou designar. O primeiro termo representa alucinações que ocorrem ao adormecer, enquanto que o último designa as que ocorrem ao despertar. Tais nomes foram criados pelo filologista espiritualista F. Meyers.

Antes de esboçar uma explicação espírita para a sensibilidade expandida que ocorre com a paralisia do sono, convém ler alguns relatos. Estes foram retirados dos comentários do site www.nosleeplessnights.com (3, acesso em setembro de 2015), mas outros semelhantes podem ser encontrados na literatura especializada (4):
Margaux de Bokay says: September 22, 2015 at 8:02 am 
Meu nome é Margaux e tive uma experiência de paralisia do sono na noite passada. Mas essa foi algo diferente. Em minhas experiências de paralisia do sono frequentemente me vejo em companhia de uma entidade escura, demônio ou forma maligna. Ela não me mantem paralisada, mas fica me encarando e me olhando mover o corpo ou gritar por ajuda. As vezes me esforço bastante para ter o controle de meu corpo de volta. Tento abrir os olhos para realmente ver a forma ou o rosto dessa entidade, tento tocá-la ou senti-la. E, depois de brigar bastante, convenço-me de que estou no controle de meu corpo, quando finalmente me alivio e a entidade vai embora. (grifos nossos) 
Bailey says: September 17, 2015 at 3:50 am 
Tive essa experiências algumas vezes ao longo de alguns meses. Elas tem acontecido desde que era bem jovem. Provavelmente hoje tive uma das mais assustadora. Estou no terceiro mês de gravidez e me sinto bem cansada na maior parte do tempo. Cochilei um pouco na cama por alguma horas quando, de repente, percebi que não podia me mover, mas podia ouvir um ruído no meu ouvido direito como se uma mulher estivesse  falando tão rápido que não podia entender. O que dizia me soava ruim e a mulher me pareceu do mal. Já que tinha experimentado isso antes, sabia que estava acontecendo de novo, mas era assustador. Acreditei ter aberto os olhos e vi um grupo de sombras sobre o teto ao meu redor. Elas estavam quietas, diferentemente da mulher que falava. Podia sentir minha mão sobre meu abdômen e instantaneamente me assustei ao me lembrar da criança. Tentei manter meus pensamentos em algo positivo. Não sou religiosa, mas comecei a cantar "Jesus me ama". De repente, a mulher parou de falar e disse: "não existe amor" e voltou a balbuciar. Fiquei chocada com a resposta e sai dessa suando bastante e assustada. Gostaria que houvesse um jeito de parar com esses episódios, pois eles me perturbam bastante. (grifos nossos)
 Kevin A says:  September 9, 2015 at 11:29 pm
Tenho experiências como essas desde os nove ou dez anos de idade até hoje. Nem sempre, mas mais frequentemente do que gostaria de ter. Toda vez me encontro deitado, depois de me levantar no meio da noite, e logo percebo que não posso me mover. Isso depende da hora ou do lado da cama em que me encontro. Mas, tem sempre uma figura escura, mais negra do que o escuro do quarto, com uns dois metros de altura, em uma capa escura e com dedos ou unhas bastante longos (não consigo ver os detalhes, de forma que não sei se é dedo ou unha) e seu rosto é ainda mais escuro, sem nada onde se encontre a face, e que então levanta sua mão e aponta para mim. Em outra experiência comecei a rezar a oração do pai nosso e ele rosnou para mim e outra coisa parecida com demônio apareceu bem na frente do meu rosto e ai eu acordei. Em outro episódio concentrei-me em mover meu corpo a muito custo, conseguindo me libertar. Não sei no que acreditar, mas acho que ciência e religião poderiam se unir para criar uma explicação lógica que, espero, não envolva demônios ou espíritos do mal.
(grifos nossos)
Esboço de uma explicação espírita.

Como não existe uma teoria que  permita integrar as percepções da consciência com o recebimento de informação pelo cérebro - embora a existências de muitas propostas conceituais - alucinações não podem ser explicadas, ainda que correlações existam entre o uso de drogas ou inconformidades no sistema nervoso (doenças mentais). Tais correlações não implicam em causação. Mas, nos casos de paralisia do sono não consta que a pessoa esteja sob ação de drogas ou que se apresente mentalmente enferma. Ainda que sua ocorrência afete entre 3% a 6% da população, ela é um evento raro na vida de um indivíduo, constituindo uma ocorrência "incontrolável". De qualquer forma, a maior prova de que as explicações fisiológicas fornecidas são insuficientes é que não é possível controlar nem parar episódios de paralisia do sono. Por outro lado, a simples designação do fenômeno por um termo específico não constitui explicação com já afirmamos antes. 

Entretanto, os relatos de uma "presença maligna" são tão frequentes que clínicos procuraram dar uma explicação. Uma que mistura neurologia e evolucionismo foi proposta por Cheyne (4): 
Argumenta-se que a presença detectada durante a paralisia do sono surge por causa da ativação de um estado de atenção tendencioso e hiper vigilante cuja principal função é resolver ambiguidades inerentes de ameaças de pistas biologicamente relevantes. Dada a inexistência de pistas que eliminem as ambiguidades, entretanto, o sentimento de uma presença persiste como uma experiência prolongada que é tanto misteriosa como ameaçadora. Essa experiência , por sua vez, elabora e integra a alucinação recorrente que frequentemente é tomada como tendo qualidades sobrenaturais ou demoníacas.
No meu ponto de vista, porém, essas são explicações adhoc, uma mistura de elementos linguísticos típicos de algumas abordagens da mente que dão a impressão de explicar por uma adequação de certas teses com a fenomenologia. A explicação acima não está de acordo com relatos de interação do indivíduo paralisado com a entidade e nem com outros que descrevem várias presenças (5) ou mesmo com a minha experiência (não avistei nenhum "misterioso ameaçador" - de fato a maioria das experiências de paralisa do sono não contém essas presenças). Outras explicações em torno da tese da "mente que confabula contra si mesmo", como um mecanismo de auto proteção, podem ser lidas em (7).

Algumas observações dos fatos narrados durante essas experiências são portanto: 
  • Elas ocorrem mais ao despertar (apenas 10% ocorre ao adormecer, ou seja, são "hipnopômpicas");
  • As ocorrências parecem afetar principalmente adultos jovens (4);
  • A paralisia ocorre sem se estar sob efeito de drogas;
  • A paralisia ocorre sem se estar sob o julgo de uma doença mental (há, porém quem clame, ver 4, que distúrbios mentais podem estar relacionados a algumas ocorrências);
  • Algumas experiências descrevem dificuldades de respirar;
  • Os episódios são incontroláveis. Não há como prevê-los ou um método infalível de cessar a paralisia;
  • Impressão de falta de controle do corpo, dai o nome "paralisia". É importante destacar que a consciência está ativa durante o fenômeno - seu estado não é o do sonho - embora se sinta deslocada ou não ligada a seu corpo, que está paralisado. Nas minhas experiências, lembro-me de sentir como que um "elástico" a fazer retornar minha "outra cabeça" para a "verdadeira", que permanecia imóvel;
  • A experiência sempre descreve como cenário o quarto ou lugar onde a pessoa está em repouso.  É a chamada "percepção realística do ambiente" (8). Em outras palavras, a maior parte do que ela vê corresponderia ao que se acredita ser a única "realidade";
  • Alguns relatos (cerca de 1/4 dos casos, ver 4) descrevem quase sempre a presença de uma entidade maligna ou "coisa" que está a observar a pessoa em sua agonia ao tentar retomar o controle de seu corpo;
  • Alguns poucos relatos descrevem experiências fora do corpo completas;
Para o Espiritismo, o cérebro não cria a consciência, sendo, na verdade, uma interface para sua manifestação. Portanto, ainda que se possa encontrar causas fisiológicas associadas à paralisia do sono, sua dinâmica não pode dispensar a natureza dual do ser humano (5). Aqui fazemos referência à tese do grande psicólogo inglês William James (ver "O prisma de James: uma metáfora para entender a fonte verdadeira da consciência humana"), para citar uma referência fora do contexto espírita. Dessa forma, todas as alucinações, como objetos tangíveis apenas à mente, têm sua origem no elemento espiritual, seja do próprio encarnado que a observa (como produto de sua atividade mental) ou de outras fontes de natureza espírita. Algumas narrativas mediúnicas (como o autor André Luiz, por F. Cândido Xavier) também descrevem Espíritos que têm alucinação, implicando que o fenômeno não termina com a morte física, e nem deveria terminar com a morte, pois sua origem está na mente, que não pode ser destruída.
"Aquiles em busca da sombra de Pátroclo". Johann Heirich Füssli  (1803).

Do lado espírita, são dois os principais fatores que contribuem para explicar as descrições da paralisia do sono:
  1. A natureza dual do ser humano: a evolução (biológica) em curso nos seres humanos prevê experiências que começam a nos preparar para uma vida desdobrada - entre os dois planos da existência (os sonhos seriam uma delas). Isso significa que as ocorrências de paralisia do sono poderiam ser vistas como ocorrências normais de "treinamento" do Espírito encarnado junto ao seu corpo;
  2. "Os Espíritos estão por toda parte" (6b). É provável que muitos relatos de presenças estranhas - na maioria das vezes ligadas a sensações do mal - sejam realmente provocados por Entidades desencarnadas (o caso de Bailey descrito acima é típico de uma interação com um desencarnado em estado menos feliz); 
Como consequência desses princípios concluímos:
  • Muitos dos que passam pela paralisia do sono afirmam-se agnósticos ou sem crença religiosa (o caso de Bailey citado acima é um). Porém, durante o fenômeno, pedem proteção a Deus de alguma forma. Isso é um indício de que o indivíduo encontra-se em estado desdobrado, quando raciocina como Espírito e não como encarnado;
  • Portanto, a paralisia do sono poderia ser descrita como um fenômeno de "desdobramento incompleto", uma zona limiar entre o início do sono e o estado desperto, quando faculdades típicas do Espírito desencarnado operariam conjuntamente ou de forma perturbada com as faculdades sensoriais de encarnado. Nessa condição a pessoa passa a ver ou interpretar de forma extravagante a presença de Espíritos, que estão sempre a nossa volta.
  • Obsessão: não acreditamos que a paralisia do sono implique na presença de obsessões e nem que ela se descreva como um processo obsessivo. Dificilmente obsessões restringem sua atuação a ocorrências noturnas, quem sofre de obsessão tem seu período de vigília também  alterado;
  • As sensações de audição de algo ou presença "respirando" próxima podem ser atribuídas à falha de associação do Espírito com seu corpo.
Talvez, o fenômeno da paralisia do sono seja a causa das descrições de "íncubos" e "súcubos" tão abundantes na literatura antiga.  Essa tese tem sido explorada em alguns trabalhos (ver 8) e permite descrever alguns mitos culturais (9).

Como mitigar os efeitos de presenças na paralisia do sono

A explicação espírita tem uma vantagem: ela permite deduzir procedimentos que podem, em tese (e há relatos que o corroboram), reduzir o stress da paralisia. Uma vez considerado que se trate de um fenômeno de desdobramento parcial, consideramos que o controle mental e adoção de uma postura positiva com pedidos de proteção - o que envolve necessariamente  a realização de uma prece - pode reduzir drasticamente influências inferiores, ainda que a ocorrência da paralisia não seja eliminada. Como o indivíduo no estado paralisado encontra-se "desperto", ele pode e dever pedir essa proteção. No trecho abaixo, A. Kardec parece ter resumido a questão:   
Ensinam os nossos estudos que o mundo invisível que nos circunda reage constantemente sobre o mundo visível e no-lo mostram como uma das forças da Natureza. Conhecer os efeitos dessa força oculta que nos domina e nos subjuga malgrado nosso, não será ter a chave de muitos problemas, as explicações de uma porção de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos podem ser funestos, conhecer a causa do mal não é ter um meio de preservar-se contra ele, assim como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos deu o meio de atenuar os desastrosos efeitos do raio? Se então sucumbirmos, não nos poderemos queixar senão de nós mesmos, porque a ignorância não nos servirá de desculpa. O perigo está no império que os maus Espíritos exercem sobre as pessoas, o que não é apenas uma coisa funesta do ponto de vista dos erros de princípios que eles podem propagar, como ainda do ponto de vista dos interesses da vida material. (6)
A prece permite desvencilhar-se da influência opressora, reduzir ou mesmo eliminar a atuação de Espíritos mal intencionados, além de servir para fortalecer (predispor positivamente) o Espírito de quem passa pela situação. De um jeito ou de outro, somente teremos uma terapia efetiva de controle da paralisia do sono quando todas as causas (tanto físicas como espirituais) forem plenamente conhecidas. Claramente, a contribuição espírita não poderá ser desprezada. 

Referências

1 - Blom, J. D. (2009). A dictionary of hallucinations. Springer Science & Business Media.

2 - Kardec, A. Ver: "O Livro dos Médiuns", 2a parte, "Das manifestações espíritas", Cap. VI - Das manifestações visuais. "Teoria da alucinação";


4 - Cheyne, J. A. (2001). The Ominous Numinous - Sensed presence and 'other' hallucinations. Journal of Consciousness Studies, 8(5-7), 133-150.

5 - Documentário sobre a paralisia do sono (em inglês) contrapondo explicações do mainstream a dados antropológicos de crenças em Espíritos.
6 - Kardec, A. "Revista Espírita". Julho de 1859. Discurso de encerramento do ano social 1858-1859.

6b - Kardec A. "O Livro dos Médiuns". Primeira Parte - Noções preliminares, Capítulo I - Há Espíritos? 

7 - McNamara P (2011) Sleep Paralysis - when you wake up but can't move. Psychology Today. Disponível em: (acesso outubro de 2015)
8 - Adler, S. R. (2011). Sleep paralysis: Night-mares, nocebos, and the mind-body connection. Rutgers University Press.

9 - Alguns mitos ao redor do mundo que podem ser descritos como eventos de paralisia do sono (ver 8 para mais exemplos): 
  • Em Portugal: A palavra "pesadelo" está ligada a sensação de opressão, de "peso" provocado pela incapacidade de se mover;
  • O fenômeno da opressão fantasma de Hong Kong;
  • O Kanashibari (金縛り) no Japão;
  • Dab Tsog (o demônio opressor) - Hmong;
  • Ogun Oru (guerrilha noturna) em Iorubá (sudoeste da Nigéria);
  • Ga-ui Nool-lim (가위눌림, o pesadelo que pressiona) - Coreias.