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7 de maio de 2023

Diferença entre mediunidade e obsessão

A visão no poço dos mártires por G. Henry Boughton (1833-1905)

Uma questão que pode surgir nos estudos de Espiritismo é sobre a semelhança entre mediunidade e obsessão. Afinal, não são ambas resultado da ação dos Espíritos ? Os conceitos não seriam baseados em um mesmo mecanismo mais fundamental? Não é a mediunidade um estado patológico da mente sobre o qual a obsessão também se explica? Tais questões merecem meditação mais profunda como objetivo de se formular respostas.

Especialistas no assunto reconhecem as dificuldades nesses conceitos. Em seu livro Mediunidade: um ensaio clínico [1], o Dr. Nubor Facure pondera (p. 13):

Doença é uma perturbação no bem-estar físico, psíquico, social e espiritual do indivíduo. Sendo assim, pode-se, como máximo de cuidado ético e respeito ao médium, considerar que certas manifestações clínicas da mediunidade podem ser consideradas como "doença", especialmente naqueles momentos em que sua presença perturba o indivíduo na sua homeostase física e psíquica.

É um ponto de vista que reflete a visão médica: doença é tudo aquilo que pode "perturbar o indivíduo em sua homeostase física e psíquica". 

Entretanto, pode-se argumentar que essa definição leva a se considerar como doença qualquer coisa que perturbe um índivíduo como causa. Assim, alguém abalado em sua saúde com excesso de trabalho, por exemplo, poderia acreditar que trabalho é doença. Portanto, as dificuldades em se lidar com a mediunidade nas suas fases iniciais podem perturbar o indivíduo, sem que isso implique em considerá-la como doença em si.

Segundo Kardec

A palavra "médium" tem uma acepção clara segundo Kardec [2] (Vocabulário Espírita):

MÉDIUM. (do latim, medium, meio, intermediário). Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens.

E a mediunidade é a faculdade dos médiuns. Quanto à obsessão, ela está definida, p. ex., em várias partes das obras de Kardec. Por exemplo em [1], Parágrafo 237 (Capítulo 23, "Da Obsessão")

...a obsessão, isto é, o domínio que alguns Espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. 

Também encontramos definições semelhantes com, p. ex., no Parágrafo 70 (Capítulo 2,  "Escolhos da mediunidade"):

Um dos maiores escolhos da mediunidade é a obsessão, isto é, o domínio que certos Espíritos podem exercer sobre os médiuns, impondo-se-lhes sob nomes apócrifos e impedindo que se comuniquem com outros Espíritos.

Observamos que a interferência entre os dois fenômenos já transparecia a Kardec que estudou a obsessão como uma perturbação ao fenômeno mediúnico.

É importante considerar que a mediunidade se caracteriza como um processo de comunicação. No fenômeno obsessivo (no contexto mediúnico), seu objetivo não é simplesmente comunicar algo, mas agir sobre o médium de maneira a prejudicar a ele e a todos os que dele se servem. Na obsessão, o canal (não só o médium, mas também a linguagem) se transforma em um instrumento para realização de atos em prejuízo ao círculo mediúnico.

Obsessão fora da mediunidade na acepção restrita.

Entretanto, a obsessão também age sobre pessoas que não podemos considerar, em tese, "médiuns". Desde a mais sutil fascinação, até os últimos graus de possessão (conforme as definições que podemos encontrar em [1]), o sujeito obsediado não está na posse completa de suas faculdades cognitivas. Poderíamos caracterizar esse estado de coisas como um fenômeno mediúnico?

Em parte a confusão se deve a distinção entre possíveis significados dados à palavra mediunidade conforme podemos ler em [3] (grifos nossos):

Quando analisamos um texto ou um discurso onde o termo médium aparece, é importante reconhecer em qual desses sentidos está sendo empregado, a fim de se evitarem mal-entendidos e discussões sem fundamento. Assim, por exemplo, a afirmação feita no parágrafo 159 de O Livro dos Médiuns de que “todos [os homens] são quase médiuns” deverá ser entendida apenas na acepção ampla do termo, pois sabemos, pela questão 459 de O Livro dos Espíritos, que todos somos passíveis de receber a influência dos Espíritos, ainda que sob a forma sutil de intuição. Incorreremos em grave equívoco se concluirmos daí que todos somos mais ou menos médiuns no sentido restrito e usual da palavra, ou seja, se julgarmos que todos podemos produzir manifestações ostensivas, tais como a psicofonia, a psicografia, os efeitos físicos etc.

Dessa forma, a existência de possível generalização semântica do termo mediunidade (a acepção ampla) pode levar a conclusões precipitadas se misturada à concepção mais restrita dada acima por Kardec.

Entretanto, essa distinção no nível da linguagem não resolve o problema que nos preocupa aqui. Ele se liga à provável origem comum que ambos os efeitos (mediunidade e obsessão) podem ter.  É por essa razão que o Dr. Nubor Facure pondera [1] (p. 14, grifos nossos):

As doenças mentais são fragilidades a alma e, por isso, facilitadoras da atuação compartilhada de Espíritos, e escancaram as portas para a obsessão. Esses Espíritos são irmãos nossos comprometidos com a ignorância, quase sempre perturbadores, querelentes e exigents de direitos que cobram do paciente perturbado mentalmente. Esse quadro, extremamente comum, constitui uma associação clínica simbiótica de muita gravidade. Acredito que na esquizofrenia, na bipolaridade e nas paranoias diversas, ocorre uma frequente troca ambivalente entre o orgânico e o espiritual. A associação entre a doença mental e uma perturbação espiritual é, a meu ver, a regra na psicopatologia humana.

No fenômeno obsessivo puro ocorre assim uma simbiose entre os dois mundos que correm paralelos. Nesse fenômeno, não é objetivo principal a comunicação, mas uma influência nociva sobre o Espírito do doente. Uma explicação mais completa sobre os paralelos entre obsessão e mediunidade passa necessariamente por uma teoria neurológica da mediunidade. Algumas sugestões interessantes são dadas por N. Facure na obra que aqui citamos.

Fig. 1 Algumas áreas do cérebro. Segundo o Dr. N. Facure, há uma relação íntima entre o tipo de mediunidade e a área do cérebro do médium provavelmente responsável por sua intermediação. Imagem: Wikipedia.

De forma muito sucinta, na proposta de Facure, existe uma grande dependência do fenômeno mediúnico - principalmente se de efeito intelectual - com o cérebro. Essa dependência é tão grande a ponto de ser talvez possível mapear tipos de mediundidade conforme áreas no cérebro especializadas pela manfestação da consciência. Por exemplo, no chamado "lóbulo frontal" (Fig. 1), vias neurais por onde trafegam as informações destinadas às funções superiores da cognição, a incidência da mediunidade é responsável por fenômenos comunicativos mais elevados (psicografia, psicofonia etc) [4]:

Pelo exposto, podemos compreender que fenômenos como a psicografia, a vidência, a audiência e a fala mediúnica, devem implicar uma participação do córtex do médium já que aqui se situam áreas para a escrita, a visão, a audição e a fala.

Em outras regiões do cérebro - onde estão os circuitos ligados às manifestações mais primitivas e ligadas às sensações - eventual incidência da faculdade pode levar a outros tipos de fenômenos. Por exemplo, o médium sentir as mesmas sensações do Espírito que dele se aproxima. É o que descreve N. Facure com relação ao Tálamo, uma estrutura localizada no chamado "diencéfalo", uma estrutura localizada na base do cérebro [4]:

É possível que muitas das sensações somáticas referidas pelos médiuns, que dizem perceber a aproximação de entidades espirituais, como se estes lhes estivessem tocando o corpo, seja efeito de estímulos talâmicos.

Nesse caso, pela ação do córtex do médium os estímulos espirituais podem ser facilitados ou inibidos pela aceitação ou pela desatenção do médium, bem como por efeito de estados emocionais não disciplinados pelo médium.

Podemos especular que, por não terem carácter comunicativo, tais vias não conscientes podem se manifestar como fenômenos obsessivos. 

Para que o leitor possa fazer uma ideia mais justa do impacto e relevância dessa teoria, consideremos, por exemplo, o que a ciência descreve com as áreas do cérebro responsáveis pela sexualidade [5]:

O comportamento sexual é regulado por estruturas subcorticais, como o hipotálamo, tronco cerebral e medula espinhal, e várias áreas cerebrais corticais que atuam como uma orquestra para ajustar com precisão esse comportamento primitivo, complexo e versátil. No nível central, os sistemas dopaminérgicos e serotoninérgicos parecem desempenhar um papel significativo em vários fatores da resposta sexual, embora os sistemas adrenérgicos, colinérgicos e outros transmissores de neuropeptídeos também possam contribuir.

Agora, imaginemos que tais circuitos sejam em parte afetados pela mediunidade em certo grau, a ponto de se tornar um fenômeno obsessivo. Se esse é o caso, quantas pessoas no mundo, portadoras de distúrbios sexuais ainda pouco compreendidos (citamos, por exemplo, a Pedofilia mas poderíamos falar em inúmeras parafilias) não poderiam estar de fato sob influência obsessiva ? Quantas, consideradas incuráveis, não poderiam se beneficiar de um tratamento que considerasse os aspectos espirituais envolvidos? 

O assunto assim é de imensa importância para a Humanidade. 

Referências

[1] N. Facure (2014). Mediunidade, um ensaio clínico. Ed. Allan Kardec. Campinas, SP.

[2] A. Kardec (1944).O Livro dos Médiuns. 58a Edição. Ed. FEB. Tradução Guillon Ribeiro.

[3] S.S. Chibeni e C. S. Chibeni. Estudo sobre mediunidade. Reformador de agosto de 1997, pp. 240-43 e 253-55. Federação Espírita Brasileira. Uma versão acessível deste trabalho pode ser lido em: 

[4] N. Facure. Neurofisiologia da mediunidade. Link:

[5] S. Calabrò et al (2019). Neuroanatomy and function of human sexual behavior: A neglected or unknown issue?. Brain and Behavior, v. 9, n. 12, p. e01389. Link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/brb3.1389 


15 de janeiro de 2013

SRT - Tese do Dr. Palmer sobre desobsessão baseado no trabalho de F. Myers


A possibilidade de influenciação espiritual é presentemente rejeitada por terapias ortodoxas que não reconhecem a natureza independente da mente humana de sua contraparte material. Entretanto, isso não impede que o fenômeno esteja vastamente disseminado na população e pode ser considerado como fonte de várias desordens mentais e origem de vários crimes hediondos.

Já em 1861, Allan Kardec redefiniu a obsessão como 'o domínio de alguns Espíritos sobre certas pessoas. Uma influência que nunca é exercida por bons Espíritos, mas sim por aqueles de natureza inferior' (1). Se a personalidade humana tem sua origem em um centro de forças psicológicas conhecidas como 'Espírito' - que é, por si mesmo, totalmente independente da matéria - o fenômeno de obsessão espiritual pode ser bem uma das causas subjacentes a mutas tragédias diárias, embora isso não seja reconhecido dessa forma. Isso acontece porque somente parte da natureza humana morre de fato. A parte mais importante, que contém conhecimento, memória - o Ser em essência - continua a existir, muitas vezes ignorando sua nova condição de vida.

Apenas Espíritos podem se comunicar com Espíritos e o processo de 'comunicação' em si não é limitado aos fenômenos mediúnicos que a literatura espírita descreve tão bem. Há outras formas, desde sutis variações de humor ou aparecimento de personas múltiplas em um corpo único, até o comportamento mais extremo que indica infestação da mente do doente. Esse último caso, conhecido como possessão, foi também bem descrito por Kardec (2) como último grau de obsessão espiritual (3).
Capa da tese do Dr. Palmer.

A ideia de que algum tipo de poder invisível externo possa controlar um humano é bem antiga. O Novo Testamento fala sobre a 'expulsão de demônios' (4). O assunto recebeu um tratamento recente com uma tese do Dr. Terence J. Palmer em 2012. Intitulada "Revised Epistemology for an Understanding of Spirit Release Therapy Developed in accordance with the Conceptual Framework of F. W. H. Myers" (5), ("Uma Epistemologia Revisada para compreensão da Terapia de Liberação de Influências Espirituais de acordo com o Arcabouço Conceitual de F. W. H. Myers"), essa tese foi submetida para o grau PhD na School of Theology and Religious Studies da  Universidade do país de Gales em Bangor, Reino Unido. O trabalho tem treze capítulos que tratam do assunto a partir da perspectiva do eminente cientista Frederic William Henry Myers (1843-1901). Myers é, certamente, uma das mentes mais lúcidas da pesquisa psíquica no Sec. XIX, alguém que sustentou a ideia da sobrevivência seriamente. O que é chamado de 'obsessão' pela literatura espírita do Sec. XIX é chamado de 'spirit attachment' pelo Dr. Palmers e o novo campo de psicoterapia conhecido como SRT - Spirit Release Therapy, algo que podemos traduzir como 'terapia de liberação de influenciação espiritual' como mais uma opção à 'terapia de desobsessão' (ver tese, p. 13, "What is Spirit Release Therapy").

Alguns trechos da tese

Um curto resumo da tese pode ser lido na p. 6, "Introduction":
A tese explora a contribuição dada por Frederic Myers a nossa compreensão de uma das mais profundas experiências espirituais: a possessão de um individuo por uma entidade espiritual que  pode ser percebida como benigna ou maligna, criativa ou destrutiva, saudável ou não. A SRT, que explicamos mais completamente abaixo, pode ser usada como método de intervenção para liberar o indivíduo da influência de espíritos doentes que são frequentemente espíritos de desencarnados. Ela é constituída por uma mistura eclética de conceitos e procedimentos seculares e espirituais que são independentes de modelos psiquiátricos tradicionais de cuidados com a saúde mental ou do exorcismo religioso, sendo complementares a eles. A experiência de um terapeuta em SRT, junto com conceitos teóricos e métodos experimentais de Frederic W. H. Myers, dão à possessão e ao exorcismo uma dimensão que métodos e teorias antropológicas, teológicas e médicas anteriores não o fizeram.  
Portanto, o estudo do Dr. Palmer está completamente de acordo com a abordagem espírita de 'desobsessão', que é frequentemente praticada em muitos centros espíritas no Brasil. Por exemplo, a moderna SRT (sempre de acordo com a abordagem de Myers) finalmente rejeita a visão tradicional que confunde o trabalho de desobsessão de Espíritos com qualquer coisa próxima ao "exorcismo":
SRT é fundamentalmente diferente do exorcismo religioso, onde espíritos são tomados como sendo do 'mal' e devem ser expulsos. A abordagem de Willian Baldwin é solidária e terapêutica e em contraste completo com a concepção popular de exorcismo (p. 17, "Difference between SRT and Exorcism").
A referência a W. Baldwin pode ser encontrada abaixo (6). Isso está absolutamente de acordo também com a abordagem de Kardec (7) para a obsessão, uma vez que os Espíritos nada mais são do que as almas dos homens desprovidas de corpos e, portanto, não devem ser confundidos com a visão tradicional de demônios. Com todo o respeito que devemos às crenças tradicionais, a ideia de uma entidade maligna e a noção de demônios provou ser outra má interpretação de textos bíblicos. Esse fato é de importância fundamental para o sucesso dessa terapia no futuro, uma vez que ela abre possibilidades de muitos procedimentos heurísticos para o problema, assim como novas práticas frequentemente dificultadas pela postura tradicional do exorcismo:
Enquanto que a crença enganadora na possessão e no exorcismo resultará sempre em métodos inapropriados de intervenção em serviços de atendimento público ou profissional de saúde, a compreensão alternativa do conceito de possessão por um espírito está de acordo com o arcabouço científico de F. W. H. Myers e resultará em métodos mais apropriados de tratamento (p. 11, "What is Possession and Exorcism? )"
F. W. H. Myers.
Outro fator importante se encontra no extremo oposto da escala de crenças, aquele que refuta a possibilidade de influenciação espiritual, que é a situação presente das terapias ortodoxas. De acordo com o Dr. Palmer, muitos trabalhos de evidência demonstraram os fatos:

Junto com a evidência científica documentada fornecida por primeiros místicos e cientistas como Emmanuel Swedenborg (1758), Allan Kardec (1857), Edgar Cayce (1970), William James (1902), Frederick Myers (1903) e James Hyslop (1919), o Dr Wickland forneceu evidências científicas em apoio à ideia associação com os espíritos como uma realidade que é difícil de ignorar ou refutar (p. 22, "Dissociation and Paranoia")

e

A necessidade de explicações científicas para as experiências subjetivas extraordinárias, tais como múltiplas personalidades e possessão espiritual, tornou-se um beco sem saída pela rejeição da ideia inicial identificada por Carl Wickland e os primeiros pesquisadores, incluindo Frederic Myers, a saber, que o mundo espiritual existe conjuntamente com o mundo físico (p. 27).

Todos os autores citados acima pelo Dr. Palmer fizeram muitas contribuições ao assunto. Entretanto, a ideia da sobrevivência da alma só foi aceita marginalmente por terapeutas hoje em dia, embora a situação pareça mudar no presente (ver p. 31, "Spirit Release Today and the Future"). 

Os treze capítulos da tese são divididos em quatro partes:
  1. Introdução;
  2. Parte I:  Possessão e Exorcismo  - Métodos e Teorias (Capítulos 1 a 4);
  3. Parte II: O arcabouço conceitual de Myers (Capítulos 5 a 9);
  4. Parte III: O arcabouço conceitual de Myers e a ciência moderna (Capítulos 10 a 13).
A tese mostrou que métodos científicos podem ser aplicados ao problema das doenças mentais à luz do princípio de obsessão espiritual (o que, de fato, poderia resultar em uma nova era na Psiquiatria). Isso é feito revisando-se extensivamente a contribuição de Myer que concordamos é de grande importância:  
Provavelmente, o maior desafio para Myers e seus adeptos estava na resistência entrincheirada da ciência convencional as suas descobertas. Myers insistia que não era ideal que cientistas ignorassem ou evitassem questões difíceis tais como aquelas resultantes do sonambulismo ou automatismo só porque eles não acreditassem na realidade do que julgavam ser 'sobrenatural' ou 'oculto'. Os mesmos desafios se apresentam atualmente aos pesquisadores do paranormal. Embora a possessão espiritual possa ser considerada um fenômeno conhecido desde a mais remota antiguidade, ele é julgado como não tendo lugar em um mundo de alta tecnologia. Mas, a tecnologia moderna também contribuiu para o processo de comunicação dos espíritos com o mundo material. Exemplos de pesquisa em transcomunicação instrumental (TCI) e comunicação instrumental de voz (IVC) trazem evidências de que os espíritos usam tecnologia moderna para se comunicar com pesquisadores. (p. 40, "Myers’ Conceptual Framework and Modern Science")
Por que a nova abordagem funciona? Porque os homens tem uma natureza dual e, ao se considerar a possibilidade de interação da mente humana com personalidades desencarnadas, um novo e nunca explorado Universo é revelado. Portanto, a SRT tem fertilidade heurística; ela pode realmente resultar em novos e eficientes tratamentos, enquanto que seu oposto é uma abordagem estéril. Alguns terapeutas modernos finalmente reconheceram que o bem estar e a saúde de seus pacientes são mais importantes do que suas próprias crenças acadêmicas.

No que diz respeito à tecnologia moderna, acrescentamos que o aparecimento do Espiritualismo no Sec. XIX parece ter sido 'preparado' em paralelo com o advento das telecomunicações, e muitos pioneiros da comunicação sem fio eram também estavam interessados na comunicação entre os dois mundos. (ver  BBC documentary "Science and the Seance"). 
O que Sir O. Lodge (1851-1940), N. Tesla (1856-1943) e T. A. Edison (1847-1931) têm em comum? A 'comunicações sem fio' seria uma resposta boa, assim como  ' profundo interesse na comunicação com o mundo espiritual'. Esses benfeitores da humanidade foram também interessados no Espiritualismo.  
O Dr. Palmer sumariza a abordagem de Myers na parte final de sua tese:
  • O ser humano é uma entidade espiritual que possui ou ocupa e usa um corpo físico, com o objetivo de ter as experiências da vida terrestre; 
  • Existe um mundo espiritual não corpóreo;
  • A consciência continua a existir depois da morte do corpo;
  • Os mortos podem sentir que ainda estão vivos, embora tenham deixado seus corpos físicos;
  • Os mortos podem continuar a ensejar novas experiências embora sem o corpo físico; 
  • A vulnerabilidade dos vivos pode atrair espíritos desencarnados ainda ligados à Terra;
  • Entidades espirituais são inconscientemente atraídas pelas frequências vibracionais dos vivos;
  • Sintomas psicóticos podem ser atribuídos à influenciação dos Espíritos; 
  • Chegar-se ao diagnóstico de personalidade múltipla com base na identificação da existência de diferentes personas ocupando o paciente e, ao mesmo tempo, rejeitar a origem externa e espiritual dessas inteligencias pode ser erro. (p. 247, "A Revised Epistemology")
Um pioneiro da  SRT no Brasil,
Dr. Inácio Ferreira (1904-1988).
Tais são, em essência, os princípios de uma revolução no tratamento de muitas desordens mentais. Finalmente, o Dr. Palmer trata da importante questão da validação da SRT:  
O psiquiatra brasileiro Inácio Ferreira inciou o uso do Espiritismo na prática médica no Brasil desde 1930 e escreveu vários livros fornecendo evidências da etiologia espiritual em muitos casos de insanidade mental, assim como da eficácia dos tratamentos espíritas. Alguns de seus livros foram traduzidos do Português para o Espanhol, mas seu trabalho não foi ainda publicado em Inglês. Por outro lado, não há estudos nos países de língua inglesa sobre a eficácia da SRT e é por essa razão que apresentamos essa tese de acordo com a abordagem de Myers. É meu objetivo, depois da aceitação dessa tese, apresentar uma proposta para testar a eficácia do método da SRT em pacientes com esquizofrenia,  por causa da experiência com alucinações auditivas. (p. 249, "Spiritual Aetiology") 
A pesquisa deve assim continuar. Confirmando o valor heurístico da SRT, o Dr. Palmer finalmente pergunta:
Se todas as áreas do comportamento humano podem ser pesquisadas com novos fundamentos epistemológicos, então as possibilidade são infinitas. Por exemplo, quando pessoas cometem crimes hediondos de assassinato em série, estupro ou pedofilia podemos nos colocar essa questão: "São essas pessoas simplesmente más, loucas ou estão possuídas?" Em todas as áreas da saúde emocional, mental ou física, podemos colocar a questão: "Que influencias externas estão em operação aqui?" Essa questão pode ser aplicada igualmente a pessoas que sofrem de distrofia sexual, síndrome de Tourette, depressão, ansiedade, medo ou raiva sem uma causa aparente (p. 252, "On-going Research").
As notícias recentes do assassinato de Newtown, Connecticut mostra o quão urgente é o desenvolvimento de terapias para o tratamento de obsessão ou mesmo para revelar potenciais assassinos que podem estar bem próximos sob a influência de Espíritos ainda ligados à Terra. Ela também traz nova luz sobre a questão da pena de morte simplesmente porque condenar à morte o assassino somente liberará apenas o seu Espírito que ficará livre para se ligar a outra mente criminosa.

Recomendo vivamente uma leitura cuidadosa da tese do Dr. Palmer que certamente representa um trabalho atualizado sobre um tema com grande futuro.

Para mais informações, visite o Blog do Dr. Palmer:
Notas e Referências
  1. Kardec A. O Livro dos Médiuns" , 2a parte, 'Sobre as manifestações dos Espíritos', Cap. XXII, 'Sobre a Obsessão';
  2. Ver questão # 473-480 de "O Livro dos Espíritos" de A. Kardec's;
  3. Kardec pedagogicamente divide em três os níveis de obsessão espiritual : obsessão simples, subjugação e possessão. Ver "O Livro dos Médiuns", Cap. XXIII. Ver também: Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às perniciosas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá ascendência a um Espírito mau. A uma causa física, opõe-se uma força física; a uma causa moral preciso é se contraponha uma força moral. Para preservá-lo das enfermidades, fortifica-se o corpo; para garanti-la contra a obsessão, tem-se que fortalecer a alma; donde, para o obsidiado, a necessidade de trabalhar por se melhorar a si próprio, o que as mais das vezes basta para livrá-lo do obsessor, sem o socorro de terceiros. Necessário se torna este socorro, quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque nesse caso o paciente não raro perde a vontade e o livre-arbítrio. (A. Kardec, "A Gênese", Cap. XIV, "Explicação sobre fatos sobrenaturais", "Obsessão e Possessão")
  4. A palavra 'demônio' significa simplesmente 'espírito' em Grego. Ver por exemplo, Marcos 5 ou Mateus 10:8 e muitas outras passagens; 
  5. Em 2012, a tese pode ser baixada aqui:  http://www.tjpalmer.org/wp-content/uploads/2012/03/BeyondBelief.pdf
  6. W. J. Baldwin (1995), Spirit Releasement Therapy: A Technique Manual, Headline Books.
  7. Questão #477 de "O Livro dos Espíritos";