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15 de abril de 2011

Crenças Céticas XIII: 'O Porvir e o Nada'.

Wellington Menezes de Oliveira, o assassino do Realengo, explica porque cometeria o seu crime.
Todos somos livres na escolha das nossas crenças; podemos crer em alguma coisa ou em nada crer, mas aqueles que procuram fazer prevalecer no espírito das massas, da juventude principalmente, a negação do futuro, apoiando-se na autoridade do seu saber e no ascendente da sua posição, semeiam na sociedade germens de perturbação e dissolução, incorrendo em grande responsabilidade. (A. Kardec em 'O Céu e o Inferno')

Nossa época apresenta-se como o apogeu da cultura científica e da pobreza filosófica, fruto de doutrinas negativas e niilistas adotadas de forma conveniente após a separação entre o Estado e a Religião estabelecida, que se provou ser remédio mais fulminante do que a própria doença. Por isso, alguns indivíduos, portadores de deficiências ainda mais profundas na compreensão que deve existir entre seres que se reconhecem iguais, tornam-se casos alarmantes a demonstrar conduta de visível decadência em todos os sentidos.

Por que isso aconteçe? Um pouco de reflexão, desde que pautada na visão espírita mais dilatada da razão e da existência dos seres, nos mostra facilmente o motivo.

Em primeiro lugar, é importante enunciar verdades à guiza de princípios: nossa sociedade vive fase de pesadas angústias sociais, fruto do desabamento de suas estruturas éticas e morais. Isso acontece porque, em uma sociedade onde não existe esperança no porvir, na vida futura, não poderá haver nenhuma tipo esperança. 

De uma lado temos a Religião estabelecida que se tornou motivo de riso e deboche, uma vez que as práticas  não correspondem aos princípios pregados. De outro, a intelectualidade que se incumbe hoje de decisões dos Governos e organizações civis, perdida em interpretações apressadas da Ciência, se satisfaz com crenças céticas e pessimistas diante das quais a ética torna-se apenas uma questão de opinião pessoal.

Diante desse quadro, para determinadas mentes enfermiças que, ao nascerem, se reconhecem diante de um mundo cuja razão é desconhecida, o convívio harmonioso se torna uma necessidade. Se o mundo não tem sentido, então ao menos viveremos com algum sentido sendo aceitos e compreendidos por nossos semelhantes.

Mas o que fazem nossos semelhantes? Vivem conforme a imensa maioria, perdidos nesta mesma sociedade cujas crenças exclusivistas determinam gozar ao máximo a existência presente que, afinal, tem como fim último o vazio eterno. 

Nada nos espanta ver então o surgimento de grupos que sistematicamente desprezam, caluniam e atacam outros considerados diferentes ou inferiores. E nada, governo, sociedade ou pessoa alguma poderá detê-los, afinal, como não existe vida futura, inexiste justiça. É em vão que se invoca a justiça dos Governos, muito tempo depois que a oportunidade de uma educação baseada na verdadeira esperança foi perdida. 

Em vão tentarão reformular leis, convencer ou mudar uma sociedade que não vê sentido em nada além. Qual será a diferença entre matar uma mosca e matar seu semelhante? Tal é a questão que se coloca  para quem aprendeu a relativizar seus sentimentos em um mundo sem direção.  

Mais de um século nos separam hoje desde que Allan Kardec escreveu as palavras abaixo  (Em 'O Céu e o Inferno') que se aplicam perfeitamente aos dias que vivemos:
Suponhamos que, por uma circunstância qualquer, todo um povo adquire a certeza de que em oito dias, num mês, ou num ano será aniquilado; que nem um só indivíduo lhe sobreviverá, como de sua existência não sobreviverá nem um só traço: Que fará esse povo condenado, aguardando o extermínio?
Trabalhará pela causa do seu progresso, da sua instrução? Entregar-se-á ao trabalho para viver? Respeitará os direitos, os bens, a vida do seu semelhante? Submeter-se-á a qualquer lei ou autoridade por mais legitima que seja, mesmo a paterna? Haverá para ele, nessa emergência, qualquer dever? 
Certo que não. Pois bem! O que se não dá coletivamente, a doutrina do niilismo realiza todos os dias isoladamente, individualmente.
E se as conseqüências não são desastrosas tanto quanto poderiam ser, é, em primeiro lugar, porque na maioria dos incrédulos há mais jactância que verdadeira incredulidade, mais dúvida que convicção – possuindo eles mais medo do nada do que pretendem aparentar – o qualificativo de espíritos fortes lisonjeia-lhes a vaidade e o amor-próprio; em segundo lugar, porque os incrédulos absolutos se contam por ínfima minoria, e sentem a seu pesar os ascendentes da opinião contrária, mantidos por uma força material.
Torne-se, não obstante, absoluta a incredulidade da maioria, e a sociedade entrará em dissolução. Eis ao que tende a propagação da doutrina niilista. (Grifos nossos)
Kardec explica aqui porque nem todos se dissolvem na falta de ética resultante da crença niilista: não é porque esta explicação seja inapropriada, mas porque a dúvida e a falta de convicção norteia a imensa maioria que, por medo, faz de forma automática o que se aprendeu por imitação a fazer. Seguem hebetados a costumes e modismos, sem nenhum compromisso com o futuro. Kardec previu, entretanto, que haveria um aumento do relaxamento moral, na medida que o niilismo ganhasse força na sociedade. É por isso que hoje vemos, todos os dias, notícias de crimes escabrosos que ocorrem aqui e ali, quando então o medo e a dúvida são substituídos pela violência que sacrifica sem piedade suas vítimas. Também Leon Denis em 'O problema do Ser, do Destino e da Dor' adverte:
Em toda parte a crise existe, inquietante. Sob a superfície brilhante de uma civilização apurada esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito dos interesses e a luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever se tem enfraquecido na consciência popular, a tal ponto que muitos homens já não sabem onde está o dever. A lei do número, isto é, da força cega, domina mais do que nunca. Pérfidos retóricos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a propagar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e sopra o vento de tempestade, eles afastam de si toda a responsabilidade.
(...) A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio de leis. As leis e as instituições nada são sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior.
Em vão alguns pigmeus morais afirmarão que o niilismo de nossa sociedade nada tem a ver com os problemas de polícia. Outros tratarão de culpar o Estado pela falta de segurança e pelo mal estar geral devido a crise econômica. Ainda outros, religiosos dogmáticos apresentarão as portas do inferno eterno aqueles que não se enquadram em suas doutrinas repletas de idéias preconcebidas e interpretações errôneas.

O problema que temos que enfrentar é muito mais profundo e exige tratamento das causas e não ação de paliativos. A certeza na Imortalidade e a noção de uma Justiça Natural preexistente a tudo deverá ser a base para uma nova educação, baseada na aceitação, compreensão e múta estima - calcada em exemplos e não em mera retórica - que deverá ser ministrada a nossos filhos e descendentes a fim de que possamos viver realmente em paz.