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21 de dezembro de 2010

Crenças Céticas VIII - Alfred Wegener e a fraude dos continentes flutuantes.

Alfred Wegener.
O "impossível" é geralmente fixado por nossas teorias, não definido pela Natureza. Teorias revolucionárias habitam no inesperado.

(...) À medida que a ortodoxia Darwinista varria a Europa, seu mais brilhante oponente, o embriologista já velhinho Karl Ernst von Baer disse com amarga ironia que toda teoria triunfante passa por três estágios: primeiro ela é descartada como uma inverdade, então é rejeitada como contrária à Religião e, finalmente, é aceita como dogma e todos os cientistas dizem que sempre lhe apreciaram a verdade. Stephen J. Gould ("Ever since Darwin", Penguin books, 1991)

Continentes que flutuam como barcos no oceano? Então, o solo que pisamos não se mostra firme, robusto, desde a criação da Terra? Talvez a imensa maioria das pessoas não saiba, mas o chão que nós pisamos todos os dias, sobre o qual dirigimos nossos carros ou praticamos esportes está em movimento. Quando criança, me divertia ao constatar, olhando os mapas das aulas de geografia, que a costa oriental da América do Sul encaixava-se, como se fosse um quebra-cabeças, com a costa ocidental da África. Na minha falta de compreensão, não achava que isso seria mera coincidência, mas ignorava totalmente como aquilo poderia ter acontecido.

Essa observação infantil talvez não tenha passado em vão aos primeiros cartógrafos que, da mesma forma que eu, não conseguiram imaginar uma causa simples para semelhante “coincidência”.

De qualquer maneira, a ideia de que os continentes flutuam sempre foi considerada uma heresia científica ou, usando termo mais modernos dos céticos, uma "pseudociência". Evidências alinhadas por seu grande proponente, Alfred Wegener (1880-1930), foram completamente desprezadas e ridicularizadas como erros, incongruências de alguém que, não sendo geólogo, jamais poderia se aventurar em tal campo. Avaliar e estudar a saga de Wegener na defesa da teoria dos continentes flutuantes oferece ao estudioso uma oportunidade para compreender a maneira como a ciência é fabricada e as consequências do ceticismo no seu desenvolvimento.

Diz-se que o ceticismo é importante nas ciências. Ele teve um impacto relativamente profundo na história desse herói que foi Wegener. Ninguém melhor que o paleontólogo e biólogo evolucionista S. J. Gould (1941-2002) para nos contar essa estória, que fala tanto das certezas como das dúvidas no processo de fabricação do conhecimento. O texto abaixo (em azul) é uma tradução nossa de trechos do Cap. 10, Continental Drift, de 'Even Since Darwin' (Penguin books, 1991):

Por que tal profunda mudança (no pensamento científico) teria ocorrido em tão curto espaço de tempo, como em uma década? (Referindo-se à mudança na opinião dos cientistas sobre a teoria de Wegener) 
Muitos cientistas sustentam - ou ao menos argumentam opinião para o público - que sua profissão marcha para a verdade sob a orientação de um procedimento infalível chamado 'método científico'. Se isso fosse verdade, minha questão teria fácil resposta. Os fatos, tais como se apresentavam 10 anos atrás, falavam contra o deslocamento dos continentes; desde então, aprendemos mais e revisamos nossa opinião de acordo com tal aprendizado. Argumentarei que tal cenário não pode ser aplicado de forma geral e é profundamente impreciso nesse caso. (...)

Considero essa estória como típica do progresso científico. Novos fatos, colecionados de forma antiga sob a orientação de velhas teorias raramente resultam em qualquer revisão substancial do pensamento. Fatos "não falam por si mesmos"; são interpretados à luz da teoria. O pensamento criativo, tanto nas ciências como nas artes, é o motor da mudança de opinião. A Ciência é uma atividade quintessencialmente humana, não é algo mecânico, uma acumulação robótica de informação objetiva, guiada por leis de lógica para uma interpretação inescapável. 
Duas são as fortes evidências a respeito da deriva dos continentes, que eram 'varridas para baixo do tapete' quando a teoria de Wegener era herética:

1. A glaciação no Paleozóico tardio. Cerca de 240 milhões de anos atrás, geleiras cobriam partes do que é agora a América do Sul, Antártida, Índia, África e Austrália. Se os continentes fossem fixos, tal ocorrência torna difícil explicar certos fatos. (...). Todas essas dificuldades evaporavam se os continentes austrais (incluindo a Índia) estivessem unidos durante o grande período de glaciação, e localizados mais abaixo, cobrindo o polo sul; as geleiras sul americanas moveram-se da África, não de um oceano aberto; a África 'tropical' e a Índia 'Semitropical' estavam próximas do polo sul; o pólo Norte localizava-se no meio de um grande oceano, de forma que geleiras não poderiam ter se produzido no polo norte; 

2. A distribuição de trilobitas cambrianos (artrópodes fósseis que viviam entre 500 a 600 milhões de anos atrás). Os trilobitas cambrianos da Europa e da América do Norte dividiam-se em duas faunas diferentes com uma distribuição bem peculiar nos mapas modernos. Trilobitas da província 'Atlântica' viviam por toda a Europa e em algumas áreas da costa mais oriental da América do Norte - (oriental e não ocidental). Newfoundland e o sudoeste de Massachusetts, por exemplo. Trilobitas da província 'Pacífica' viviam por toda a América e em alguns locais da costa ocidental da Europa - norte da Escócia e o noroeste da Noruega, por exemplo. É muito difícil dar conta dessa distribuição se os dois continentes estivessem distantes 3000 milhas um do outro.  
Mas a deriva dos continentes sugere uma estranha solução. Em épocas Cambrianas, a Europa e a América do Norte estavam separadas: trilobitas atlânticos viviam em águas pela Europa; trilobitas pacíficos em águas na América. Os continentes (agora incluindo sedimentos com trilobitas encrustados) moveram-se um na direção do outro até se juntarem. Mais tarde, se separaram novamente, mas não exatamente ao longo da linha de onde haviam se juntado. Restos espalhados da Europa antiga, contendo trilobitas atlânticos permaneceram na parte mais oriental da América do Norte, enquanto que algumas restos da velha América do Norte ficaram grudados na parte mais ocidental da Europa.


Em apenas alguns segundos, assista milhões 
de anos de deslocamentos nunca antes imaginados pelas gerações anteriores.
Tais exemplos são citados como "provas" da deriva hoje, mas eram sumariamente rejeitados nos anos anteriores, não porque os dados fossem menos completos do que hoje, mas porque ninguém imaginava um mecanismo que fizesse mover os continentes.

(...) Na verdade, a superfície da Terra parece estar dividida em menos de uma dezena de "placas" maiores, limitadas em ambos os lados por zonas de criação e destruição. Os continentes estão congelados entre tais placas movendo-se com elas à medida que o solo oceânico se afasta de zonas de criação. A deriva dos continentes não é mais orgulhosa de si, ela se tornou conseqüência passiva de nossa nova ortodoxia - a tectônica de placas.
Entretanto, até ganhar o status de ortodoxia, a teoria de Wegener sofreu o escárnio e a desconsideração. Ela hoje nos apresenta como um exemplo vivo que se contrapõe  a qualquer tentativa de estabelecer métodos rígidos na pesquisa científica e de que a Natureza não revela tão facilmente seus mais profundos segredos. Considerado como uma fraude, seu proponente não viu em vida sua aceitação pela comunidade científica, mas morreu acreditando nela e que, dentro em breve, todos haveriam de considerá-la seriamente.